quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Crise da Grécia - Ditadura dos mercados! mesmo!



A crise dos países europeus atingiu um nível tal de profundidade e irracionalismo que os governantes da União Européia parecem dispostos a confirmar uma acusação de seus inimigos — a de que pretendem submeter o Velho Continente à ”ditadura dos mercados”.

Em julho do ano passado, escrevi aqui uma nota sobre a Grécia com o seguinte titulo: “Governo alemão quer colonias?”
(http://colunas.revistaepoca.globo.com/paulomoreiraleite/2011/07/27/governo-alemao-quer-colonias/)

Sete meses se passaram. O primeiro ministro grego que pensou em fazer um referendo sobre a austeridade foi expulso do cargo e substituído por um tecnocrata de confiança dos mercados.

A União Européia aprovou um programa de austeridade pesadíssimo para um país que já se encontra há três anos em recessão. O salário mínimo será cortado em 20%. Quinze mil empregos públicos serão suprimidos. As aposentadorias vão ser reduzidas. Todos esses sacrifícios serão realizados para que a Grécia receba um emprestimo no valor de 130 bilhões de euros — que será usado para pagar suas dívidas com os credores europeus.

Claro que você já leu por aí aqueles artigos de sempre para dizer que não há jeito mesmo e que o melhor para os gregos é conformar-se com o pacote e ir em frente. O pequeno detalhe é que o calendário eleitoral marca eleições para breve e os governos europeus querem afastar qualquer risco do eleitorado votar contra o pacote de sacrifícios.

Já começou a circular uma sugestão que equivale a uma pequeno golpe de Estado. Adiar as eleições.

É um gesto tão descarado que Wolfgang Münchau escreve no Financial Times que se chegou a um ponto em que o exito do progama de austeridade deixou de ser “compatível com a democracia.”
Münchau explica: “O ministro Wolfgang Shäuble quer prevenir uma escolha democrática “errada”. Similar é a sugestão de que as eleições aconteçam, mas uma grande coalizão permaneça no poder, independentemente do resultado.”

Sua conclusão:”A zona do euro quer impor sua escolha de governo à Grécia, no que a
transformaria em sua primeira colônia.”

“Uma coisa é os credores interferirem no gerenciamento de políticas de um país
beneficiário. Outra é dizer a ele para suspender eleições. Na própria Alemanha,
isso seria inconstitucional.”

“A chanceler alemã, Angela Merkel, certamente não quer ser vista com uma arma
na mão.”

“É uma estratégia de suicídio assistido, uma tática extremamente perigosa.”

Concordo com Münchau mas cabe registrar que a ideia do governo alemão é coerente com a política que a União Européia tem realizado até aqui. No fim do ano passado a sugestão de referendo foi combatida com um ambiente de terrorismo financeiro, até que o primeiro-ministro George Papandreou não só desistiu da ideia mas renunciou ao posto.

A sugestão colonial do ministro das Finanças não é de hoje. Ela é reveladora das prioridades reais que governam a Europa. É um insulto à Constituição e aos direitos de qualquer população.

Não deixa de ser sintomático, porém, que se tenha anunciado uma escolha: entre a democracia e os mercados, os governantes preferem os mercados.

Fonte: Por Paulo Moreira Leite http://colunas.revistaepoca.globo.com