A Rússia é um exemplo de uma aproximação geopolítica profunda e tipicamente continental.
No séc. XIII, os russos sofreram o domínio do Império Mongol de Genghis Khan, que durou cerca de 250 anos e deixou marcas profundas na sua psicologia como nação, explicando em grande parte a sua xenofobia, a sua política externa agressiva, e a histórica aceitação da tirania interna.
No séc. XVII, a Rússia iniciou a sua expansão para Leste e para Sul, iniciando uma longa contenda com os Impérios Britânico e Otomano.
A Rússia sonhava abrir para si todo o Extremo Oriente, com os seus recursos e mercados, antes das outras potências o conseguirem. Esse objectivo estratégico englobava a construção do maior caminho‑de‑ferro jamais visto, o Trans‑Siberiano, de Moscovo a Vladivostok, capaz de competir em tempo com a hegemonia da Grã‑Bretanha no tráfego marítimo de mercadorias e matérias ‑primas.
A derrota russa na guerra russo‑japonesa (1904‑1905), quando o Trans‑Siberiano não estava ainda concluído, foi um contributo marcante para o declínio da dinastia Romanov e para a Revolução bolchevique de 1917, em plena 1.ª Guerra Mundial.
No início do séc. XX, criou raízes o Eurasianismo, uma visão geopolítica que defendia que a vasta região que a Rússia ocupava, apesar de situada entre dois continentes – Europa e Ásia – era um continente em si mesmo, denominado Eurásia. A “guerra‑fria” trouxe consigo a paralisia da reflexão estratégica e a “geopolítica ideológica”, em que toda a ciência se tornou marxista‑leninista, nela se inserindo o pensamento de Estalin, a “doutrina Brezhnev” e o Gulag.
Uma das poucas excepções a esta situação foram os Generais Shtemenko e Ogarkov, que tentaram alertar para os perigos geoestratégicos deste vazio. Porém, a indústria e a gestão soviéticas não pareciam estar à altura de fazer face ao rápido desenvolvimento da tecnologia ocidental de armamentos de nova geração.
A ideologia do Eurasianismo foi retomada após o colapso da URSS por Alexander Dugin, como contraponto ao “Atlantismo” ocidental e ao “wahabismo” islâmico, e está patente em muitas posições assumidas por Putin.
As grandes “linhas de força” da actual geopolítica russa relacionam‑se com a gestão dos recursos energéticos fósseis existentes no seu território e na “vizinhança próxima” do Cáucaso, Mar Negro e Ásia Central, fundamentais para recuperar a economia russa e repôr a Rússia como grande potência na cena internacional – jogando com eles como “armas estratégicas” – conter o avanço da influência dos EUA e da OTAN na Europa Oriental, apesar de apoiar o Ocidente no combate ao terrorismo internacional e ao extremismo islâmico.
Fonte:Tenente‑General PilAv Eduardo Eugénio Silvestre dos Santos - http://www.revistamilitar.pt