9 de
setembro - Dia do Administrador – quarenta e sete anos de existência legal da
profissão. Uma data marcante, um convite à reflexão, ao balanço, à revisão, ao
debate de rumos e de perspectivas. Nada se constrói, inclusive uma profissão,
sem uma atitude séria e profunda de repensar constantemente a sua natureza, a
sua fisionomia, o seu papel, a sua contribuição ao País. Por isso, mais do que
louvações vazias e discursos ribombantes, esta data estimula os administradores
brasileiros à discussão do futuro desta profissão que acreditamos ser a
profissão do futuro – mas que só o será se souber se afirmar poderosamente no
presente.
Historicamente, a profissão nasceu no momento em que, no bojo
das transformações provocadas pela Revolução de 30, esgotava-se o velho estado
de bacharéis a serviço de um poder controlado pelas elites agrárias. A
industrialização e a modernização da máquina estatal e dos serviços públicos
pediam especialistas nas técnicas de gestão das organizações. Surgiu então o
DASP e, com ele, a função de técnico de administração no serviço público.
Surgindo como necessidade, a profissão deu uma contribuição relevante ao
processo então em curso. Mas, como todo processo social, o impulso acabou se
esgotando por absorção e entrando no impasse com a profissão limitada quase que
só ao serviço público.
A saída verdadeira seria a colocação das técnicas de
administração a serviço de um desenvolvimento econômico realmente nacional,
sobretudo a indústria, que começava a crescer. E foi o que aconteceu: o impulso
seguinte que a profissão encontrou foi o boom da entrada de capital estrangeiro
no Brasil, na segunda metade da década de 50, e a conseqüente necessidade de
formação de administradores para tais empresas e empreendimentos. O fenômeno se
aprofundou sobremaneira com a fase do milagre, ainda no regime militar, quando
se generalizaram as faculdades de administração no País, atendendo aos reclamos
do surto de crescimento, mas centrando na formação de especialistas voltados
apenas para a realidade das multinacionais e das grandes empresas, inclusive
estatais.
A profunda crise econômica produzida pelos graves erros da
política predominante nos anos das badaladas décadas perdidas, devastando com a
economia, o tecido social e as situações estabelecidas, veio esgotar também
essa fase, colocando a profissão em um novo impasse. Toda a crise, no entanto,
constitui uma oportunidade de crescimento. Foi um excelente momento de a
profissão se repensar e repensar todo o seu papel. Foi mais uma virada de
mudança e de afirmação profissional.
Não podemos agora continuar sendo a profissão de um futuro que
nunca chega. Para que nossa profissão justifique sua existência e assegure o
seu futuro, precisa tornar-se a profissão que contribua para transformar a
realidade dos tempos presentes.
E o presente é o profundo impasse que o País enfrenta produzido
pela crise global de 2008, que coloca em nível de exposição dramática a
fragilidade pungente de nossa capacidade de gestão dos recursos de
infra-estrutura em geral.
Esta situação limitante de crise, que atravanca o processo de
alavancagem do País, está a exigir soluções concretas e saídas próprias para
todos os setores da vida nacional, inclusive, e principalmente, dos
administradores. É nesse quadro que se jogam os destinos do administrador: só
nos afirmaremos se formos capazes de responder aos desafios que a realidade
presente nos coloca e a contribuição que ela nos exige.
Nenhum País hoje desenvolvido prescindiu dessa virada de gestão
de suas organizações para atingir um estágio superior: ninguém consegue saltar
o gap sem desenvolver modelos próprios de administração, voltados para sua
realidade específica e trilhando caminhos originais. Foi assim com os Estados
Unidos de Ford e Taylor, a Inglaterra de Owen, a Rússia de Stakhanov, a França
de Fayol e, mais recentemente, o Japão do Kaizen e dos CCQ's. É assim também na
cópia de gestão dos países asiáticos emergentes. E assim também terá que ser
com o Brasil, que não pode ficar apenas copiando o que dá certo no exterior
porque está formulado para a realidade própria de outros Países, que não é a
nossa.
"É a hora de
elaborar um modelo de administração brasileiro"
A crise atual, obrigando a nação e a nossa profissão a
repensarem seus caminhos é o momento de ouro para os administradores: é a hora
de produzirmos o nosso Ford, Taylor, Owen, Fourier, Stakhanov, Fayol e as
nossas teorias brasileiras de gestão, teorias b, de Brasil. É a hora de
elaborar um modelo de administração brasileiro, macunaímico, verde-amarelo,
zedasilvesco, que responda aos nossos problemas e encontre as nossas saídas. É
a hora de reconhecer e sistematizar a cultura organizacional própria do Brasil.
É a hora de encontrar os caminhos específicos que podem tornar o futuro
presente. Este é o desafio que se coloca para os administradores no dia de
hoje.
"Nenhuma profissão
se afirma se não cumprir seu papel social"
É da resposta a esse desafio que dependem os destinos de nossa
profissão. Nenhuma profissão se afirma se não cumprir seu papel social. E papel
social é algo concreto, que se define a cada momento do processo de
desenvolvimento histórico. Hoje, o exercício do papel social do Administrador
encontra seu lado decisivo na contribuição da profissão à formulação de um novo
modelo de gestão para o País concreto, que, mais do que nunca, demanda por uma
administração pública e privada competente, ágil e dinâmica.