Pode até parecer esdrúxula, mas é nesse bojo que ouso fazer uma analogia entre a atual campanha à Presidência da República e a de 1945, pois ambas guardam alguns traços peculiares entre si.
Em 1945 Getúlio Vargas, detentor de popularidade que nenhum político brasileiro obtivera até então, apoiou o candidato do Partido Social Democrático a sua vaga. O nome deste candidato, Eurico Gaspar Dutra.
Dutra era general do Exercito e um sujeito tacanho, fleumático, provinciano, débil, néscio e desprovido de qualquer carisma. Seria não fosse o poderoso cabo eleitoral, um candidato fraco.
Pela oposição aglutinava-se em torno da União Democrática Nacional parte da intelectualidade brasileira de centro e direita, além de setores do mais fino conservadorismo tupiniquim. Grandes latifundiários e empresários, profissionais liberais e as viúvas da “República do Café com Leite”. Todos ciceroneando o Brigadeiro Eduardo Gomes, presidenciável da UDN.
Eduardo Gomes era o inverso de Dutra. Herói nacional, um dos sobreviventes do “18 do Forte”, simpático, carismático, católico fervoroso e ainda por cima ‘boa pinta’ – solteiro, conquistou o voto de muitas mulheres graças ao porte garboso.
Eduardo Gomes era tido e havido como franco favorito.
Todavia a popularidade de Getúlio, sobretudo entre as classes mais baixas, levou Dutra à vitória com 55% dos votos válidos, enquanto o Brigadeiro teve apenas 35%.
Claro que qualquer analogia ente o Brasil de 1945 e o de hoje, entre Getúlio e Lula ou entre Dutra e Dilma é forçar a barra. Porém, as forças que envergam as candidaturas – Serra de um lado, Dilma de outro – a popularidade de Lula e, o mais importante, a identificação que o povo brasileiro tem para com ele, me levam a crer que, embora os cenários sejam diversos, há também espaço para muitas semelhanças.
Dilma está muito mais preparada para eventualmente assumir a Presidência da República do que Dutra estava em 1945. O país hoje conta – dento daquilo que Mcpherson chama de democracia formal – com instituições bem mais sólidas e preparadas que àquelas relegadas pelo Estado Novo.
Já nas semelhanças, Dilma representa a continuidade como Dutra representava – dum modelo de nacional desenvolvimentismo adaptado para a conjuntura do século XXI. Já Serra representa as elites atadas aos interesses internacionais de uma ordem (neoliberal) que ruiu em todo o planeta – assim como Eduardo Gomes representava um Brasil amarrado ao passado meramente exportador de matérias primas, não por acaso Roberto Campos era um dos intelectuais preferidos da UDN.
A identificação do trabalhador brasileiro para com o Presidente Lula poderá levar Dilma Rousseff, a mulher de confiança de Lula desde a crise do ‘mensalão’, a uma vitória sobre as forças políticas atadas a um Brasil que jamais serviu aos trabalhadores.
Texto de Hudson Luiz Vilas Boas com adaptações