"... Infelizmente, a massa de partidos é uma sonegação da própria democracia e
um aspecto demasiado negativo que encerra as alianças políticas..."
Aprovada a Lei da Ficha Limpa, embora o TSE permita o registro de
candidatos com nebuloso passado, fato é que as alianças entre partidos forram a
realidade de predatismo e parasitismo, isto é, de um interesse visando, única e
exclusivamente, o palco das eleições, e não ao elemento indispensável
relacionado ao eleitor.
A forma de eleição precisa ser alterada e os velhos candidatos se impõem
sem qualquer consulta popular, assim nascem de cima para baixo, ao contrário de
outros países, nos quais, mesmo sem partido político, pode qualquer um se
habilitar até à Presidência da República.
Infelizmente, a massa de partidos é uma sonegação da própria democracia
e um aspecto demasiado negativo que encerra as alianças políticas.
Aproximando-se o pleito Municipal deste ano, o que assistimos são os
casamentos, separações divórcios político-partidário, mas sem conteúdo
ideológico algum, exceto objetivo precípuo de conquistar o poder, custe o que
custar.
Esse famigerado panorama é visto pelo eleitor, que não demonstra força
para reagir, a não ser pelo próprio voto, cujo princípio obrigatório deveria
ser transformado em facultativo.
As agremiações partidárias são inúmeras e é fundamental que recoloquem
nos trilhos seus predicados éticos e morais, de há muito varridos e esquecidos
da política nacional.
Devemos, no máximo, migrar as forças políticas para seis partidos que
representem os anseios dos eleitores e também, gradualmente, criar a forma de
representação proporcional, de acordo com o tamanho dos estados e das comunas.
Em geral, o projeto político hoje confunde aos eleitores e mostra o
avanço de forças antagônicas e destrutivas.
A base fundamental deve estar enraizada no emblemático elemento da carta
política e não, ao contrário, no fator subjetivo de interesses transitórios de
candidatos e alianças.
Não há vocação alguma para que partidos sejam aliados uns dos outros, a
não ser em tempos de campanha eleitoral, palanque e conquista de cargos.
A coabitação, muito comum em países desenvolvidos, em nações emergentes
revela-se fonte de corrupção, troca de favores e espúrios comprometimentos, que
abalam a confiança e credibilidade da classe política.
De vez em vez cogitam de cassações para demonstrar à sociedade que o
Parlamento trabalha com seriedade, mas nada executam, na prática, que possam
retirar os malsinados efeitos do retardo da almejada reforma
político-partidária.
Partidos nanicos e sem representação alguma não podem ser fonte de
renda, de aluguel, ou de meros conchavos para ganho de espaço no horário
gratuito da televisão.
A visão também abrange as cortes eleitorais, pois a desaprovação das
contas é medida que deveria conduzir às sanções correspondentes, e não somente
às multas ou a possibilidade de registros de candidaturas.
As sobras de campanhas deveriam receber atenção e a investigação sobre
os resíduos e suas destinações, muitas vezes reciclados em outros ambientes
menos nobres da política brasileira.
O quadro desenhado da política nacional, depois de longa vida da
Constituição Federal, impulsiona ao mecanismo de reforma e sugere a perspectiva
de uma falta de representação dos eleitores, os quais amargam duplo prejuízo,
de uma tributação exagerada e uma corrupção desmesurada.
O crescimento do Brasil e o desenvolvimento da Nação passam, necessária
e imprescindivelmente, pelo corte dos partidos e dos políticos, muitas
prefeituras não arrecadam sequer para o pagamento do funcionalismo, e hoje
convivemos com mais de 5000 Municípios sem qualquer ordem lógica e racional.
A metamorfose somente depende da força da sociedade, da união da
população e da descrença generalizada em torno da classe política, uma vez que
o funcionamento precário das instituições do País leva, irremediavelmente, aos
conflitos sociais, que se espalham, a latere, em todos os setores.
E antes de tudo, a nobre classe política precisa se conscientizar que é
fundamental um aprendizado, conhecimento mínimo e a formação de uma cultura
para que o mandato seja fonte soberana do povo, e não cooptação de favores
escusos em detrimento do fortalecimento da democracia.
Por Carlos Henrique Abrão - desembargador no Tribunal de Justiça de São
Paulo
Fonte: brasil247