Mas agora começam a se tornar
cada vez mais fortes os indícios de que o polêmico jargão cibernético está
sendo superado pelos conteúdos distribuídos por usuários, ou UDC – user
distributed content), ainda mais enigmáticos e muito mais importantes,
especialmente para a sobrevivência da imprensa.
Os conteúdos gerados por usuários
(UGC) formam a base do material publicado por internautas no Facebook, blogs,
páginas web pessoais, Twitter, chats, fóruns e nos comentários postados em
sites de jornais, revistas, páginas de avaliação e recomendação, só para citar
as mais conhecidas. Os UGC são um dilema para os jornalistas e uma obsessão
para o marketing.
Um dilema porque até agora não há
um consenso entre os jornalistas sobre como lidar com o material enviado por
leitores, ouvintes, telespectadores e internautas. Há fortes resistências
provocadas por incertezas quanto à confiabilidade, exatidão e padrões de
qualidade informativa. O marketing está mais avançado na normatização no uso
das informações e dados fornecidos por usuários da Web.
Uma pesquisa feita pelo professor
finlandês Mikko Villi junto a jornalistas em seu país, mostrou que a frequência
dos UGC se estabilizou a partir de 2010 e pouco evoluiu em matéria de
coprodução de notícias entre usuários e profissionais. A produção colaborativa
ficou longe dos prognósticos otimistas feitos por alguns autores como o
norte-americano Henry Jenkins, e cresceu apenas na quantidade de fotografias e
vídeos enviados pelo público.
A mesma pesquisa trouxe uma
surpresa para Villi. Metade dos entrevistados se mostrou mais preocupada com o
uso dado pelos leitores às notícias publicadas do que com a produção
colaborativa. O modus operandi dos conteúdos distribuídos por usuários (UDC)
foi considerado chave como radar para identificar tendências e preocupações,
bem como um indicador da fidelização dos leitores.
O pesquisador finlandês sugere
que a imprensa e os jornalistas passem a dedicar uma atenção às audiências no
mínimo igual à dada à produção de notícias. A recomendação abre para os
profissionais uma nova área de trabalho, pois até agora, a preocupação quase
exclusiva dos jornalistas era publicar. O que acontecia depois era problema dos
marqueteiros e distribuidores.
Embora os dados da realidade
ainda sejam escassos devido à falta de pesquisas, a sugestão de Villi faz
sentido por conta de uma observação quase óbvia. A principal habilidade do
jornalista é selecionar e editar notícias. A maior vantagem do usuário é saber
como, quando e para quem distribuir as notícias publicadas na imprensa. Logo,
as duas partes só terão a ganhar se integrarem as suas capacidades.
Mas para que isso aconteça é
necessário que os jornalistas deixem de considerar o público como uma massa
passiva e uniforme para encará-lo como um conjunto proativo e segmentado em centenas
de microcomunidades de interesses e necessidades. Por razões igualmente óbvias,
é impossível ao público chegar a um consenso sobre como impor uma política de
colaboração à imprensa e aos jornalistas.
O que os estrategistas da
imprensa chamam de público, na verdade é um conjunto de microrredes aglutinadas
em torno de microinteresses. No atual cenário de competição feroz por
audiência, sobrevive quem conseguir captar o interesse e fidelizar estas
microrredes, com informações e notícias que atendam a suas necessidades e
desejos. Para que isso aconteça é indispensável conhecer estes micropúblicos.
Daí a necessidade de passar a se preocupar em como os usuários distribuem
informações e notícias.
O finlandês Villi e vários outros
pesquisadores acadêmicos afirmam que o consumo de informações está deixando,
cada vez mais, de ser um ato individual para se transformar numa experiência
coletiva compartilhada. A prova dessa tendência está no compartilhamento e
recomendação de notícias entre grupos de pessoas em redes como Facebook e
Google +. A exemplo de milhares de outros usuários da internet, o meu cardápio
diário de notícias é formado majoritariamente por recomendações de amigos e de
sites nos quais confio.
A esmagadora maioria das notícias
recomendadas foi publicada pela imprensa convencional, o que mostra a sua
relevância na produção de notícias. Mas todo o esforço para produzir e
distribuir uma notícia resultaria inútil se ela não for referenciada por alguém
ou alguma organização da confiança do usuário. É aí que entra o processo que
ganhou o nome de curadoria social de notícias, uma novidade incorporada pela
internet ao processo de produção de notícias.
Texto de Carlos Castilho - do
Observatório da Imprensa – Por Nilva de Souza – blog do Nassif