Por Fábio Zugman -
Deixe-me dizer logo de
cara: a maior parte desses livros considerados “Finanças Pessoais” não passa de
auto-ajuda equivocada. Quanto mais popular a ideia, mais gente viu a
oportunidade de escrever e dar conselhos sobre ações, opções, etc. sem ter um
bom domínio do tema. Pior, sem experiência e risco suficiente investido ali.
O que quero dizer com
isso? Comprei minhas primeiras ações quando a Vale abriu seu capital. Com o
tempo, montei uma carteira e abandonei a passividade que costumamos ter com
nosso dinheiro.
Eu poderia dizer que,
financeiramente, isso é bom e assim por diante, mas esse não é o ponto. Aliás,
um ponto que passa despercebido nessa onda de “fique rico sozinho” que vemos
nas livrarias: investir de forma ativa me tornou um melhor administrador.
Quando você sai da
caderneta de poupança e compra Letras do Tesouro, quando abandona um fundo que
o administrador decide por você e passa a colocar o dinheiro em suas escolhas,
está aprendendo a fazer análises, a tomar decisões e a se responsabilizar por
elas.
Uma coisa é você ler uma
análise (ou um livro) de alguém dizendo que o investimento XYZ é bom. Outra é
você colocar o próprio dinheiro. O benefício não ocorre só quando você acerta e
ganha mais dinheiro.
Perder dinheiro assumindo responsabilidade
pelas próprias decisões é uma bela lição. O famosos investidor Ken Fisher chama
o mercado financeiro de “O Grande Humilhador”. E isso é bom. Se todas as
pessoas com dicas certeiras para ficar ricas seguissem o que pregam, com o
tempo muitas delas seriam humilhadas pelo mercado, e nada melhor que um pouco
de humildade para esse tipo de arrogância.
Investir constrói
caráter. Como assim? Lembro quando comecei a vender as ações que tinha da
Petrobras. Me perguntaram, do outro lado da linha, se eu realmente tinha
certeza, já que todas as corretoras recomendavam a empresa. Sim. Eu achava que
o governo e a empresa não estavam sendo justos com pequenos acionistas como eu.
Vendi, as ações subiram
mais um pouco (um período que me deixou meio triste por ter errado), mas então
veio a conclusão: as ações despencaram. Uma coisa é dizer que alguma política é
errônea. Outra é colocar o próprio dinheiro na linha de fogo com base na sua
opinião.
E é isso que falta aos
tais gurus de auto-ajuda financeira. Assumir responsabilidade pode não te
deixar mais rico. Mas se você acha que a economia vai mal e continuar comprando
ações, há um problema em sua postura. Se você diz que as empresas no Brasil dão
lucros absurdos mas não compra ações, também está sendo contraditório. Fazer
discursos é fácil, difícil é assumir responsabilidade pelos resultados disso.
No início do ano passado
eu estava passando na Avenida Paulista quando vi uma turma daquelas que gostam
de protestar: megafones, bandeiras e toda a panafernália usual. Lembro que
gritavam contra os lucros dos bancos, o capitalismo, FMI e sei lá mais o quê.
Após o protesto, foram todos em fila tomar um sorvete no McDonalds. Troquei de
celular e infelizmente acho que a foto se perdeu, mas fiquei pensando na
contradição: não só a ação da Itaúsa, controladora do Itaú na época custava
menos de R$10,00, como o pessoal na fila não via a inconsistência entre seus
discursos e atos. Se os bancos davam tanto dinheiro, porque não ficar sócio
deles, baratinho?
Costumo dizer que o mundo
dos investimentos é a melhor aula que você pode ter sobre administração. Você
aprende a analisar, formar opiniões e melhor, assumir uma postura de “faça o
que eu digo e faça o que eu faço”. É muito fácil dar opiniões, análises,
inventar modelos sem se comprometer com o resultado (aliás, esse é o meu maior
problema com a maioria dos que se dizem “consultores” - dão opinião mas não
assumem risco nenhum, mas isso fica para outro texto).
Por isso, pegue aquele
dinheiro que está estacionado em um fundo daqueles que você não sabe o que tem
dentro, ou daquele curso que você está pensando em fazer, ou de qualquer canto,
e comece a assumir responsabilidade por sua vida financeira. Talvez você tenha
lucro, talvez não. Mas o aprendizado provavelmente será mais valioso que
qualquer porcentagem em um extrato.
Por Fábio Zugman - Fonte: www.administradores.com.br em 22 de fevereiro de 2013