Texto de Wellington
Moreira
Você já deve ter escutado alguém dizer: o ótimo é inimigo do bom. Eu
mesmo utilizei esta expressão várias vezes para lembrar que o perfeccionismo
pode levar alguém a procrastinar aquilo que precisa ser feito só porque ainda
não conseguiu atingir o nível de performance que estabeleceu para si. Ou pior
ainda, conduzi-lo a um estado de paralisia por focar os esforços em coisas sem
importância. Mas, como a vida é cheia de dilemas, num rápido jogo de palavras,
também é coerente afirmar: o bom é inimigo do ótimo.
O consultor
americano Jim Collins, em sua obra Empresas Feitas para Vencer, lembra: “Não
temos ótimas escolas, principalmente porque temos boas escolas. Poucas pessoas
levam vidas ótimas, em grande parte porque é fácil construir uma vida boa... E
a grande maioria das empresas jamais se torna excelente só porque já é bastante
boa – e é este seu principal problema”.
Quando
alguém se satisfaz com a situação razoável que vive – seja no trabalho ou em
qualquer outro campo da sua existência – um quadro de acomodação se instala ao
redor convidando-o à mediocridade e retira qualquer chance de que esta pessoa
alcance a excelência. Chamo isto de “espírito maomeno”. Nem ótimo, nem ruim,
simplesmente mais ou menos. Como é caso daqueles alunos que podem tirar nota
dez graças ao seu potencial, mas pensam: “Sete já dá para passar. Então, pra
quê ralar mais?”.
Aliás, a
ambição é fator-chave para quem alcança o ápice em qualquer campo de atuação.
Você não comete heresia alguma quando afirma ter objetivos audaciosos e luta
por eles. Pelo contrário. Só não confunda ganância com ambição, pois enquanto
esta o faz superar seus limites com determinação, aquela o leva a querer tudo
para si.
Também cabe
destacar que cada vez mais pessoas com potencial de sobra acabam ficando pelo
caminho por se tornarem arrogantes e egocêntricas. Ou seja, gente que vê suas
pequenas vitórias iniciais como épicas e cuja vaidade lhes impede de continuarem
a aprender. A síndrome do “esse cara sou eu”.
E não pense
que estou me referindo apenas àqueles que ocupam cargos de gestão. Como muitos
bons trabalhadores passaram a receber assédio de outras empresas, é comum que
conservem baixos temores em relação ao futuro, sejam tentados a reproduzir mais
do mesmo e ainda se mantenham pouco receptivos a cobranças. É por isto que
ninguém mais se surpreende com a diarista doméstica que diz: “Dona, se não
estiver gostando, pode me mandar embora”.
Quando este
tipo de pensamento se torna coletivo adquire um nome – pacto de mediocridade –
e não pense que tal fenômeno se instala em grupos que deliberadamente escolhem
cumprir as responsabilidades de modo superficial. Nós o plantamos nas
organizações ao concordarmos que as pessoas façam seu trabalho pela metade e
fingirmos que nada está acontecendo ou que é aceitável tirar um sete.
Em mercados
nos quais não há concorrentes de peso também é possível que uma companhia com
atributos de excelência possa se acomodar, tornando-se medíocre com o passar do
tempo. É o caso de quem deixa de lançar novos produtos no mercado por saber que
os outros igualmente não inovarão nos próximos meses, daí aparece um competidor
de classe mundial e fim da história. Logo, é muito melhor atuar em mercados com
players de valor, afinal eles fazem a sua empresa evoluir forçosamente.
Concordo que
temos de celebrar cada conquista obtida, mas não é saudável deixar que a
acomodação e o sentimento de dever cumprido se instalem no início ou meio de
uma longa caminhada. As pessoas e empresas ótimas só alcançam o patamar de
excelência porque conseguem se manter insatisfeitas e crentes de que ainda
podem fazer muito melhor, mesmo quando atingem o cume desejado. Se não fosse
assim, ainda estaríamos andando de charrete, comunicando via telex e utilizando
o mimeógrafo.
Fonte: www.administradores.com.br