Na coluna dessa semana, a leitora
Jaqueline Rodrigues nos pergunta: "Como me manter atualizada neste mundo
tão dinâmico?"Antes, preciso contar que sempre gostei muito de estudar
sobre inovação e criatividade (o que me levou a escrever dois livros sobre o
assunto). Eu era o tipo de jovem nerd que se ouvia na escola que os romanos
tinham dominado o mundo, ia estudar quais avanços e tecnologias permitiram que
eles fizessem isso (a resposta rápida, aliás, é a organização e treinamento dos
exércitos somados ao uso de estradas para transporte de pessoas e alimentos).
Então, gostaria de começar
respondendo sua pergunta da seguinte forma: não se desespere. Em todas as eras,
todas as gerações sentiram que seu mundo estava mudando. Imagine o que era, por
exemplo, numa época em que a maioria das pessoas nascia e morria sem nunca ter
saído do mesmo local, ouvir falar da descoberta de continentes inteiros feitas
por embarcações gigantes. Cada inovação trouxe a sensação de que o mundo estava
mudando rapidamente para os habitantes de sua época. Das bússolas e mapas que
permitiram que esses barcos se distanciassem da costa e navegassem oceanos, ao
motor a vapor que tornou as viagens mais rápidas e seguras... Imagine o
assombro das pessoas que viram o primeiro avião, que escutaram a voz ser
transmitida de um lugar para o outro através do rádio... O que não faltam na
história humana são descrições de como o mundo está mudando cada vez mais
rápido.
Em nossa era, temos nossas
próprias inovações. Quando as pessoas falam em como o mundo está mudando
costumam se referir às tecnologias de informação. Se você tem um smartphone,
você tem no seu bolso mais poder de processamento que os computadores que
estavam no foguete que levou o homem à lua. Quando olhamos para um setor que
está mudando rapidamente e impacta nossas vidas, como é o caso da internet,
nossa tendência é esquecer o tanto de coisas que permanecem mais ou menos
iguais à nossa volta. Apesar de alguns avanços, por exemplo, a tecnologia do
uso de carros para transporte urbanos continua mais ou menos a mesma desde o
seu início. Apesar de inovações como motores híbridos e elétricos, a maioria de
nós continua usando motores de combustão que funcionam mais ou menos da mesma
forma que seu projeto original. Continuamos comprando carros para nos levar de
um canto a outro. Os engarrafamentos cada vez maiores nas cidades do mundo
inteiro são prova de que, apesar de uma ou outra boa idéia, ainda não existe
uma inovação realmente efetiva na área de transporte urbano.
Imagem: Thinkstock
O primeiro ponto, então, é
colocar as coisas em perspectiva: o mundo sempre estará mudando em algumas
áreas. Por outro lado, sempre permanecerá mais estável em outras. Afinal,
continuamos usando gravatas em algumas ocasiões sociais – seja lá para que elas
servirem.
Essa perspectiva histórica serve
para diminuir um pouco a ansiedade que vejo tomar conta de muitos
profissionais. Tenha calma. Por mais que as coisas mudem, outras pessoas já
passaram por isso. Todas as gerações têm seus desafios e suas rápidas mudanças.
Do ponto de vista individual, a
questão então é: "como lidar com o mundo à nossa volta?". Eu não
gosto muito de falar de "teoria versus prática". Então vamos colocar
a questão como um equilíbrio entre um "aprendizado clássico" e
"aprendizado técnico".
O aprendizado clássico inclui
aquelas matérias "tradicionais", que existem mais ou menos desde que
o mundo é mundo: línguas, matemática, história, filosofia... Nenhum
profissional será penalizado por ter um bom domínio de sua língua nativa, conhecer
a "língua" da matemática ou estudar outros campos mais amplos do
conhecimento. Pelo contrário, esse tipo de conhecimento é o que costumamos usar
para dizer ou julgar se alguém é "culto" ou não. A obtenção de um
aprendizado clássico lhe abrirá novas portas que vão desde novas formas de
pensar, se expressar e se comunicar até um melhor entendimento de fenômenos e
questões do dia a dia: um bom domínio de matemática pode lhe dar o pensamento
abstrato ideal para entender uma nova ferramenta assim que ela é lançada no
mercado, enquanto uma perspectiva histórica pode lhe trazer lições de cunho
pessoal e organizacional de onde pessoas venceram e falharam no passado, te
ajudando a criar novas estratégias para lidar com seus concorrentes, por
exemplo.
O outro lado é o conhecimento
técnico: o conjunto de ferramentas que lhe ajudarão a exercer a profissão que
escolheu de forma cada vez melhor. Cada profissão tem os seus desafios. Mas se
pararmos para pensar, se soubermos o que realmente queremos, é possível sim se
manter atualizado na área que escolhemos.
A questão, Jaqueline, é não se
desesperar e escolher bem aonde investir seu tempo. Eu diria que é preciso
sempre buscar uma melhoria do lado dos "clássicos", lendo, estudando
algum campo científico de seu interesse, fazendo alguma arte e assim por
diante. Por outro lado, é preciso saber escolher para onde olhar quando falamos
em conhecimento técnico. Cansei de encontrar profissionais com dois ou três
MBAs em temas parecidos que, quando questionados porque estudaram a mesma coisa
diversas vezes seguidas, não conseguiram elaborar uma resposta.
Procure identificar o
conhecimento e ferramentas mais importantes para seu momento profissional e não
se esqueça de cultivar sua mente como um todo de vez em quando. Apesar de que
daqui a cem anos nossos netos provavelmente vão olhar para nós e se perguntar
como vivíamos em um tempo tão lento, aposto que essas duas atitudes continuarão
sendo um bom conselho.
Fonte: Por Fábio Zugman -
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