Em dez anos, algumas mudanças
econômicas colocaram o Brasil num patamar evolutivo. Muitos brasileiros, antes
considerados de baixa renda, conseguiram acesso ao crédito através de empregos
formais que contribuíram para o aumento da renda familiar. Essa rede de
mudanças permitiu a este cidadão dar boas vindas a um estilo de vida mais
consumista. Os sonhos são hoje possíveis de serem concretizados.
O que esse brasileiro percebeu é
que pode tornar a sua vida mais confortável através de bens de consumo que
podem ser adquiridos de imediato sem torrar todo seu orçamento. O crédito
possibilitou essa virada e consolidou o que chamamos de Nova Classe Média
Brasileira.
Também conhecida por Classe C, a
Nova Classe Média (NCM) representa a maioria de consumidores em todas as categorias de consumo:
móveis e eletrodomésticos, alimentação e bebidas, roupas e calçados, entre
outros.
O acesso a serviços também tem a liderança
deste novo consumidor, que pode agora ser visto em ambientes nunca antes
frequentados, como nos saguões dos aeroportos, shoppings, cinemas e academias.
E essa presença impactante de consumidores com códigos diferentes contribuiu
não apenas para movimentar a economia do país, mas para gerar incômodo da
antiga classe média (Classes A e B) que viu seu espaço, antes exclusivo,
invadido por uma superpopulação que antes “não existia” na prática.
Além do preconceito causado pelo
aumento do número de pessoas em lugares antes restritos, a elite também
demonstra preconceito em relação às diferenças cognitivas existentes entre as
classes sociais.
Realizamos uma pesquisa online no
segundo trimestre de 2011 que comprova isto: 55,3% da elite afirmou que deveria
haver produtos diferenciados para ricos e pobres e 48,4% acredita que a
qualidade dos serviços piorou com o maior acesso a população.
E esta mesma fatia social que
repudia a chegada da classe C é aquela que está à frente das grandes empresas e
agências de publicidade, o que torna mais difícil ainda atingir este público,
pois para isto é preciso ter humildade e quebrar esta barreira.
Os empresários precisam enxergar
que há tempos a classe C deixou de ser um nicho de mercado e olhar pra ela com
outros olhos, até porque ela representa 53,9% da população brasileira. São 104
milhões de consumidores ignorados, sendo que os próprios comerciais de tevê são
destinados para o público A/B.
O grande erro é achar que a Nova
Classe Média deseja ser como a elite. Esse cara deseja sim melhorar de vida,
mas não se espelha no rico, que considera perdulário, e sim no vizinho, que
acabou de comprar um carro, por exemplo.
Outro equívoco é querer empurrar
produto baratinho e vagabundo para este consumidor.
A Nova Classe Média valoriza cada
vez mais a qualidade dos produtos que consome e não se importa de pagar um
pouco a mais para garantir isto. É um mercado que trabalha muito bem com a
relação de custo benefício, até porque, na hora de lavar a roupa suja, o que
conta não é o preço do sabão em pó, mas a sua eficácia e durabilidade, e isso a
dona de casa da Classe C sabe muito bem.
Estes aspectos comportamentais
fazem toda a diferença para elaborar estratégias acertadas de negócios, e por
isso acredito que é preciso descer do pedestal e entrar em contato com a
realidade desse público, que nós aqui do instituto Data Popular chamamos de
Brasil de Verdade.
*Renato Meirelles, novo colunista
do site de CartaCapital, é sócio-Diretor do Data Popular, que completou em 2011
dez anos em pesquisa e consultoria nas classes C, D e E. Comunicólogo com MBA
em gestão de negócios pela ESPM, foi colaborador do livro Varejo para Baixa
Renda, publicado pela Fundação Getúlio Vargas e
autor do livro Um jeito fácil de levar a vida – O Guia para Enfrentar
Situações Novas Sem Medo, publicado pela editora Saraiva. É colunista de
diversas revistas e editor do site brasildeverdade.com.
*No Data Popular, conduziu mais de
200 estudos sobre o comportamento do consumidor de baixa renda no Brasil,
desenvolvendo projetos de pesquisa, posicionamento de marca e inovação para
empresas como: C&A, Itaú, P&G, Gol, Positivo Informática, Rede
Globo, Rede Record, Banco Ibi, Living
Construtora, Pernambucanas, Casas Bahia, portal Terra, Febraban, Sadia, Camargo Corrêa, entre outros.
Por Marco Antonio L. da Carta Capital
Fonte: blog luisnassif, Renato
Meirelles