Quem venceu a grande discussão
econômica dos anos 90?
Numa ponta, os seguidores do chamado
"consenso de Washington" - que dizia que bastaria a um país
equilibrar suas contas fiscais (ainda que ao custo de destruir sua
infraestrutura e suas políticas sociais), não se importar com os juros e dar
plena liberdade aos fluxos de capitais para o desenvolvimento se impor por si
só.
Na outra ponta, os críticos que
mostravam que capitais especulativos não pavimentam o desenvolvimento a longo
prazo. Pelo contrário, sua volatilidade e seus impactos sobre o câmbio impedem a
consolidação da economia.
No Valor Econômico de quinta-feira
passada, o correspondente do jornal em Washington, Alex Ribeiro, escreve sobre
o livro recém-lançado "Quem Precisa Abrir a Conta de Capitais" - de
John Williamson, o pai do "consenso", junto com Olivier Jeanne e
Arvind Subramanian.
A principal conclusão do livro é a de
que "a livre mobilidade de capitais parece gerar poucos benefícios em
termos de crescimento de longo prazo (...) Pelo contrário, a literatura
econômica mostra que controles de capitais são bons para evitar crises
provocadas por fuga repentina de capitais voláteis".
Subjacentemente, defende a posição de
economistas do FMI e do G-27, de definir normas de conduta para os diversos
países, sobre como utilizar ferramentas de controle de capitais.
Esse tipo de posição tem sido
criticada pelo representante brasileiro no FMI, Paulo Nogueira Batista Jr.
Mas há uma justificativa para essas
"recomendações" - e ela é extraordinariamente vexatória para o
Brasil. Sem um "nihil obstat" do establishment internacional,
autoridades econômicas brasileiras não têm coragem de enfrentar o estabelecido,
mesmo que o estabelecido seja um conjunto de práticas irracionais.
Essa subordinação ao pensamento
financeiro internacional - quando ele defendia o livre fluxo de capitais -
gerou duas tragédias brasileiras, que mataram vinte anos de industrialização no
país: o período Pedro Malan (1994-1999) e o período Antonio Palocci
(2005-2009). Depois, condicionou de forma aguda o pouco corajoso Ministro da
Fazenda Guido Mantega.
Subramanian aponta a enorme timidez
de Mantega, quando decidiu implantar um IOF (Imposto sobre Operações
Financeiras) de apenas 2% sobre ingresso de capitais para aplicação em renda
fixa.A alíquota era ridícula.
O que ele não sabe é que a medida,
mesmo ínfima, suscitou um alarido infernal dos meios de comunicação, alimentado
pela tropa de choque da Selic - Mailsons, Gustavos e Mirians -, acenando com o
fim do mundo, com a volta da inflação e com o fim dos investimentos.
Quando se completa o ciclo,
percebe-se que as análises dos chamados "mercadistas" estavam
erradas; os alertas dos críticos estavam corretos. Câmbio fora do lugar, taxa
Selic de dois dígitos, superávit à base de contingenciamento orçamentário, tudo
isso, hoje em dia, despertaria ironias em qualquer economista de calibre
internacional.
Mas foram os mercadistas que venceram
o jogo. Porque o objetivo final não era o desenvolvimento do país, mas a
consolidação dos novos grupos financeiros. E conseguiram isso sustentando
falsas ideias por quase duas décadas.
Fonte: por luisnassif blog do Nassif