Há um tempo
foi criado um debate, através de um grupo no LinkedIn, sobre "qual seria o
maior obstáculo à inovação?". Em um mês, as respostas somaram quase 400. A
primeira coisa que constato, então, tamanha adesão ao tema, é a aceitação quase
unânime de que inovar é difícil.
OK, fácil não
é. Mas uma inovação não pode ser tão difícil a ponto de ser evitada, sobretudo
quando visualizamos que ela pode valer à pena. Aliás, será que umas das
dificuldades em inovar não é justamente a incapacidade de assegurar o seu
sucesso antes de ele acontecer?
Voltemos à
discussão do LinkedIn: Entre as respostas, quase todas em apenas em uma
palavra, 16 mencionavam o medo como maior obstáculo, e umas 20 tinham o
componente medo embutido, como aversão ao risco, preconceito, conservadorismo,
etc. Passividade, inércia, indiferença e similares vieram logo depois, seguidos
pelas questões mais práticas, como falta de tempo, dinheiro, planejamento ou
excesso de burocracia.
Desprezando
as respostas incompreensíveis ou bizarras, ficamos com uma saraivada de
questões de cunho comportamental até chegarmos aos obstáculos concretos. E a
comunidade em questão nem é de psicólogos, mas sim de profissionais que atuam
com inovação!
Mas a questão
do medo ter sido citada em primeiro lugar faz sentido: o novo, por definição é
desconhecido, e o ser humano é programado para reagir mal ao que não conhece.
Programado mesmo: há uma parte do nosso cérebro, não a toa chamada de cérebro
reptiliano, que é igualzinha a dos animais. E o que os animais fazem diante do
desconhecido? Fogem ou atacam. O que fazem os humanos diante de uma proposta de
inovação? Fogem ("isso não é prioridade da empresa", "não tive
tempo para cuidar disso" etc.) ou atacam ("que ideia maluca!",
"de onde vamos tirar o dinheiro para isso?"...).
Então, aqui
vai a primeira dica para quem quer disseminar uma inovação: não deixe seu
interlocutor desconfortável, sem entender direito do que se trata, pois aí ele
"solta os bichos". Leve-o a um patamar menos primitivo, seja pelo
lado emocional, apelando para a empatia ou pelo racional, apelando para os
benefícios da inovação em questão.
Isto é válido
para a apresentação de uma inovação para chefes e colegas, assim como para o
texto que um profissional de comunicação irá fazer para apresentar um produto
inovador.
Agora, uma
coisa é o medo instintivo, outra, completamente diferente, é a dificuldade em
administrar riscos. Pois é, em se tratando de inovação, risco zero não existe,
mas existem formas de minimizar ou reverter riscos potenciais de uma ideia.
Criei uma
fórmula bastante simples para dar uma visão das consequências negativas que uma
ideia pode gerar. Basta listar todos os problemas potenciais e depois analisar
como cada um deles pode ser evitado, revertido ou compensado. Se a maioria
deles não tiver solução, aí sim, pode-se pensar em desistir, mas abandonar uma
ideia antes disso pode ser um grande desperdício.
Passemos
então para as questões mais palpáveis: por exemplo, a falta de tempo.
Poderíamos alegar que, no caso de um profissional de comunicação, o tempo que
ele leva para fazer um texto inovador não é muito maior do que um "Control
C, Control V" de seu arquivo mental. E gerar ideias, por si só, nem sempre
toma tempo, pois elas podem surgir em momentos de não trabalho, como no banho,
na prática de esportes e assim por diante.
Na verdade, o
tempo que se precisa para inovar acontece antes e depois da grande ideia: é
preciso tempo para absorver inputs sobre um produto ou serviço, captar as
tendências do mercado, as necessidades dos clientes. E não apenas tempo. Para
alimentar nossas mentes, para que elas gerem as futuras ideias, é preciso um
estado de relaxamento, nada de culpa por não estar "trabalhando de
fato".
É preciso também
tempo para formatar e vender ideias realmente inovadoras: tudo o que for
diferente do esperado irá demandar exposições, explicações e, por que não,
protótipos.
O Google tem
uma proposta interessante para seus profissionais: a chamada estratégia do 70/20/10.
Explicando: 70% do tempo deve ser dedicado aos principais produtos da empresa,
20% do tempo aos serviços secundários e os 10% restantes são para a inovação.
Se 10% for
muito, pode-se tentar 5 ou 2%. O importante é que algum tempo seja dedicado de
fato, por inteiro, ao processo de inovação.
Falemos de
outro recurso precioso: o vil metal. Precisamos de dinheiro para projetos,
protótipos, até para convencer pessoas sobre os benefícios de uma inovação.
Mas, será que não dá para ser criativo e reduzir os custos de implantação de
uma inovação? Afinal, uma boa ideia muitas vezes se sobressai pela
simplicidade.
Enquanto eu
escrevia este artigo, mais três pessoas deram seus palpites no LinkedIn sobre
as dificuldades para se inovar. Ninguém inovou na resposta. Até porque falar
sobre como certas coisas atrapalham nossas vidas é fácil demais.
Dizem que
inovar é difícil. Concordo. Mas nada que umas pitadas de criatividade
associadas à determinação não resolva...
Por Gisela Kassoy - Especialista em Criatividade,
Inovação, Adoção de Mudanças e Programas de Ideias. Atua com consultoria,
seminários, palestras e facilitação de grupos de ideias. Realizou trabalhos em
quase todo o país e nos EUA, Europa e América Latina.
Fonte: WWW.admisnitradores.com.br