Professor da Universidade de Harvard e da Boston School of Medicine,
Gardner balançou as bases da Educação ao defender um método novo e ousado para
medir o grau de inteligência nas pessoas. Seus mais de vinte livros e centenas
de artigos vêm, ao longo de décadas, influenciando acadêmicos e educadores de
todo o mundo. E ele não quer parar...
Os critérios para determinar se alguém é inteligente mudaram radicalmente
nos últimos 20 anos. E um dos responsáveis por essa transformação, sem sombra
de dúvida, foi o psicólogo americano Howard Gardner. Ele desafiou a sabedoria
convencional sobre a compreensão da inteligência humana ao concluir que a mente
é composta de múltiplas capacidades independentes entre si, ao invés de apenas
uma. Para Gardner, a inteligência não pode ser medida só pelo raciocínio
lógico-matemático, geralmente o mais valorizado na escola.
Porém, seus estudos vão além. Gardner também desenvolveu uma tese
daquilo que chama de "Cinco mentes para o futuro", ao demarcar os
tipos de competências que são necessárias para alcançar o sucesso pessoal e
profissional no século 21. Ele promove, ainda, o grupo de pesquisa Good Work
Project, com atuação pelo mundo, que defende o comportamento ético e a melhora
na autoestima profissional. O psicólogo conversou com a Administradores sobre o
seu trabalho realizado desde meados de 1980, e também sobre os novos caminhos
da sociedade para a educação e para o trabalho.
Em sua teoria das Inteligências Múltiplas, você
destaca que cada pessoa possui uma mistura singular de vários tipos de
inteligência. Mas como exatamente funciona esse processo?
Todos os seres humanos possuem oito ou nove
inteligências principais - linguística, lógica,
musical, espacial, corporal, interpessoal, intrapessoal e naturalista. Além
disso, existe a possibilidade de possuirmos uma inteligência existencial - a
inteligência de refletimos sobre grandes questões.
No entanto, duas pessoas não possuem exatamente o mesmo perfil de
inteligências - nem mesmo gêmeos idênticos. Isso acontece porque nós temos
experiências e motivações diferentes, e não queremos ser como os outros.
Conhecidas essas diferenças, educadores e pessoas de negócios têm uma
escolha. Cada um de nós pode tentar fazer o mesmo, ou podemos celebrar as
diferenças e tentar ajudar indivíduos a encontrarem seu próprio nicho, de
acordo com seus potenciais e interesses.
Se pensarmos nos administradores pelo mundo e nos
tipos de inteligência que descreve, quais seriam as inteligências mais
necessárias para saber administrar? Por quê?
Isso depende da natureza do trabalho. Se você
trabalha em algum tipo de organização artística (museus ou moda), você lida com
inteligências diferentes das quais lidaria se trabalhasse em uma companhia
manufatureira, financeira ou tecnológica. É claro que o papel que você exerce
na organização também importa. Se você trabalha com cálculo e orçamento, a
inteligência lógica é importante. Caso a pessoa trabalhe na área de recursos
humanos, as inteligências pessoais se tornam mais relevantes. Já para quem
pretende atuar com comunicação, a inteligência linguística é crucial.
É claro que cada gestor precisa ser capaz de trabalhar com diferentes
indivíduos e, neste caso, ambas as inteligências - a interpessoal (compreender
os outros) e a intrapessoal (compreender a si mesmo) são vitais.
Você tem
uma análise bem crítica sobre os testes padronizados e os famosos testes de QI.
Qual seria o motivo?
Há 100 anos, os testes de QI tinham o objetivo de
predizer quem melhor se encaixaria em um determinado tipo de escola. Eles fazem
isso muito bem, mas eu tenho um preditor muito melhor - a performance no último
ano de escola. O problema com testes de QI é que eles fazem um trabalho
racional de análise das inteligências linguística e lógica, mas não testam as
outras inteligências que, inclusive, são muito importantes para o trabalho no
século 21.
Quanto a testes padronizados, o que realmente contesto são as respostas
curtas e opções de múltipla escolha, que primeiramente observam o conhecimento
factual. A vida não consiste em testes de múltipla escolha - você precisa
decidir o que é importante e como lidar com isso. Usar padrões é muito bom, mas
padrões precisam ser apropriados às tarefas imediatas.
Agora com computadores, podemos olhar diretamente para as performances,
através de simulações diretas das capacidades que são necessárias. Essa é uma
maneira muito melhor de avaliar competências que um teste de múltipla escolha.
Além disso, não existe mais a necessidade de memorizar fatos. Eles podem
ser rapidamente obtidos em computadores pessoais e smartphones. Precisamos de
pessoas para entender como aqueles fatos são apurados - os métodos que são
usados por diferentes disciplinas e diferentes profissões... e que se alega não
terem nenhum mérito.
Você acredita que a educação ao longo do tempo vem
sofrendo problemas pela maioria das escolas tratarem todos os alunos da mesma
maneira?
Sim, mas quando você tem aulas extensas e
professores que não são versáteis, isso é inevitável. No passado, apenas um
grupo tinha educação individual - os muito ricos, que podiam contratar tutores.
Agora, vivemos pela primeira vez na história da humanidade um tempo em que
educação individual pode ser amplamente distribuída, através dos computadores.
Se existem dez maneiras de se aprender álgebra, ou como consertar uma máquina,
ou como dar sentido a uma guerra civil, todas essas respostas podem ser obtidas
on-line ou por aprendizado a distância. A perspectiva é muito animadora!
Analisando os países emergentes, como o Brasil
poderia melhorar a educação nas escolas para potencializar as habilidades e os
tipos de inteligências dos nossos alunos?
A teoria das inteligências múltiplas recomenda dois
passos: individuação e pluralização. Individuação significa que devemos ensinar
a cada indivíduo de modo que ele possa aprender facilmente, e avaliar esta
pessoa de maneiras que sejam cômodas. Pluralização significa que devemos
ensinar assuntos importantes de mais de uma maneira. Se você pode lecionar um
assunto de diferentes modos, você recebe duas recompensas importantes:
1) você alcança mais estudantes, porque alguns aprendem melhor através
de histórias, outros por meio da lógica, ou trabalhos artísticos, ou esquemas;
2) você tem uma demonstração do que significa compreender bem alguma coisa. Se
você compreende bem qualquer assunto ou ofício, você pode apresentá-lo de
diferentes maneiras.
Nós temos uma vasta experiência em treinar a mente disciplinada, muito
menor que nas mentes sintética ou ética. E então aqueles países que podem
buscar esses tipos de mentes com êxito terão uma grande vantagem. Muito do que
é errado nos Estados Unidos, e em países influenciados pelos Estados Unidos, é
que estamos preparando nossos jovens para os séculos 19 ou 20.
Você também desenvolveu a tese das "Cinco
mentes para o futuro", na qual ressalta como essenciais para o século 21 a
mente sintética, disciplinada, criativa, respeitosa e ética. Quais foram as
razões que o levaram a escolher essas cinco abordagens como fundamentais?
Em meu trabalho com inteligências, eu operei como
um pesquisador, tentei definir as inteligências humanas essenciais. Quando
recomendo cinco mentes para o futuro, estou agindo como um diplomata. Não
existe nada mágico sobre as cinco mentes. Eu poderia ter escrito sobre a 'mente
tecnológica' ou 'a mente digital' ou 'a mente intercultural'. Escrevi sobre
mentes que considerei importantes e acredito que contribuí para coisas
importantes.
Mas qual delas é a mais importante?
Acredito que todas elas são necessárias, mas a
respeitosa e a ética são as mais importantes. Se não tivermos respeito pelos
indivíduos, particularmente aqueles aparentemente diferentes de nossas
famílias, e se não nos comportarmos de um modo ético, o planeta que conhecemos
não existirá. As pessoas no Brasil têm a imensa vantagem de viver em uma
cultura muito diversa. Isso é muito mais difícil para pessoas que vivem em uma
cultura mais homogênea, como na área agrária da China, ou Escandinávia.
Quanto às outras três mentes, existem mais opções: algumas pessoas serão
peritas sintéticas e algumas pessoas serão criativas/empresariais. Mas todas as
pessoas precisam ter habilidade em alguma área, e esse é o aspecto onde a mente
disciplinada se torna crucial.
Ainda sobre as cinco mentes, você poderia nos
apontar pessoas que seriam excelentes exemplos por possuírem com desenvoltura
uma dessas mentes?
Existem exemplos em abundância de indivíduos com
mentes disciplinadas - bons estudiosos, artistas, profissionais. Como um grande
sintético, menciono o biólogo Charles Darwin. Na era contemporânea, dois
grandes biólogos sintéticos são E. O. Wilson e Stephen Jay Gould, ambos colegas
em Harvard.
Eu escrevi um livro chamado "Criando Mentes", sobre sete
grandes criadores da era moderna: o físico Albert Einstein, o poeta T. S.
Eliot, o pintor Pablo Picasso, o músico Igor Stravinsky, o psicanalista Sigmund
Freud, a dançarina Martha Graham, e o líder religioso-político Mahatma Gandhi.
O presidente Barack Obama exemplifica uma mente respeitosa, enquanto o
presidente Abraham Lincoln tinha uma mente ética. Desculpem-me por esses
exemplos não incluírem indivíduos do Brasil, pois tive que mencionar pessoas
que conheço bem.
Quais são seus próximos passos em relação a
pesquisas? No momento, está trabalhando alguma nova pesquisa que poderia nos
contar?
Meu trabalho atual representa um esforço em dar
condições ao meu país e a outras localidades. Nos últimos cinquenta anos, os
mercados também se tornaram poderosos em demasia nos Estados Unidos e acabaram
trazendo uma situação em que a maioria da população é impulsionada pelo medo,
de um lado, ou pela ganância, por outro. Então, colegas e eu temos tentado
promover o bom trabalho, ou seja, o trabalho que é excelente, engajado e ético.
Além disso, pregamos a boa cidadania, sendo ela, que consta em membros
que conhecem as leis e regulamentos de uma sociedade, preocupam-se com eles e
tentam fazer o que é certo para uma convivência mais plena. Nós também estamos
empreendendo esforços para aumentar a incidência do bom trabalho nos Estados
Unidos. Você pode aprender mais sobre esse projeto visitando os sites goodworkproject.org e hgoodworktoolkit.org.
Fonte:Por Fábio Bandeira de Mello, Revista Administradores
musical, espacial, corporal, interpessoal, intrapessoal e naturalista. Além disso, existe a possibilidade de possuirmos uma inteligência existencial - a inteligência de refletimos sobre grandes questões.
Além disso, pregamos a boa cidadania, sendo ela, que consta em membros
que conhecem as leis e regulamentos de uma sociedade, preocupam-se com eles e
tentam fazer o que é certo para uma convivência mais plena. Nós também estamos
empreendendo esforços para aumentar a incidência do bom trabalho nos Estados
Unidos. Você pode aprender mais sobre esse projeto visitando os sites goodworkproject.org e hgoodworktoolkit.org.
Fonte:Por Fábio Bandeira de Mello, Revista Administradores