A educação é a mola do desenvolvimento econômico, cultural e social, e
o principal requisito para a formação de uma sociedade mais justa. Essa é a
cantilena que se repete de norte a sul do Brasil, entoada nos ouvidos de
estudantes, professores e representantes políticos da população, mas sem ser
bem assimilada.
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é de aproximadamente US$ 2,3
trilhões, alçando o país, no segundo trimestre de 2012, ao posto de sétima
maior economia do planeta. Mas o investimento em educação entre 2000 e 2009,
embora tenha aumentado 149%, está longe do recomendado pela Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Segundo números do órgão, o Brasil investe US$ 1,6 mil por aluno no
ensino pré-primário, US$ 2,4 mil no ensino primário e US$ 2,2 mil no ensino
secundário. O recomendado é de, respectivamente, US$ 6,6 mil, US$ 7,7 mil e US$
9,3 mil. Isso nos deixa na retaguarda em um ranking de mais de 30 países - uma
contradição evidente para a sétima economia global. Atualmente são investidos
5,1% do PIB em educação, número que deve ser elevado para 10% de forma
gradativa, de acordo com o novo Plano Nacional da Educação (PNE).
O Censo Escolar de 2010 aponta que 85,4% dos 51,5 milhões de alunos da
educação básica estudam na rede pública de ensino. Apenas 7,5 milhões estudam
em instituições de ensino privadas, e aqui surge um outro dilema: como garantir
que a educação, um direito constitucional básico, seja um negócio rentável, que
permita ao seu gestor obter lucro e revertê-lo em modernização, estrutura,
novos métodos pedagógicos e professores e funcionários bem qualificados?
Uma unidade pulsante da sociedade
"Educação como negócio não é um tema tão fácil quando colocado
dessa maneira", afirma Henrique Tichauer, diretor de marketing da Pearson
no Brasil, empresa que comanda o Sistema COC de Ensino e a Pueri Domus, dentre
outros serviços do ramo. "Na realidade todo negócio de sucesso precisa ter
pessoas apaixonadas pelo que fazem, para que entendam e consigam transmitir a
mensagem certa, envolver o cliente. A diferença é que se apaixonar por educação
é mais fácil, todos querem ser agentes de mudança no mundo", compara.
Essa visão coloca a educação e a administração em uma mesma encruzilhada:
ambas podem ser combinadas com o objetivo de mudar não apenas o mundo, mas a
vida de muitas pessoas. Sem uma gestão eficiente, sem estratégias e
planejamentos típicos de uma empresa capitalista, uma escola ou grupo
educacional - seja público ou privado - não passa de um grande prejuízo
financeiro e social.
Para Tichauer, existem pelo menos dois aspectos que distinguem uma
empresa do ramo da educação:
1. O ciclo só se completa quando um aluno ou aluna realmente aprendeu
o conteúdo, as habilidades e competências que ensinamos pelos professores,
nossos parceiros nesse processo. Não basta entregar, é necessário ter certeza
de que a oferta de produto e serviço foi recebida, entendida e incorporada à
vida das pessoas.
2. A educação é um processo contínuo e de ciclo longo e amplo. Quando
temos a oportunidade de beneficiar crianças nos seus primeiros anos do Ensino
Infantil, assumimos com elas e com seus familiares um ciclo que pode se
estender por toda a vida. Se pensarmos somente na fase escolar do Ensino Infantil
ao Ensino Médio são 17 anos, sem contar o estudo universitário e o aprendizado
de idiomas, por exemplo, que podem não ter idade para acabar.
Além de impactar décadas das vidas de vários alunos, outras pessoas
estão diretamente envolvidas no processo: famílias, colaboradores, professores
e até moradores das regiões circunvizinhas ao estabelecimento escolar -
incluindo potenciais clientes. "A escola é uma unidade pulsante da
sociedade", diz Karamuh Martins, professor e diretor do Colégio Motiva
Ambiental, de João Pessoa (PB). Segundo ele, a implementação de uma empresa
desse ramo tem reflexos até no trânsito e toda a infraestrutura urbana local.
"Apesar disso tudo, a escola precisa acontecer", declara. Confira a
entrevista no vídeo abaixo.
Educação para formar mão de obra
Um dos maiores temores do segmento da Construção Civil brasileira é o
apagão de mão de obra durante os próximos anos. O crescimento da demanda por
imóveis dentro e fora dos grandes centros comerciais, a necessidade de erguer
estádios e aeroportos em dois anos e a manutenção de toda essa infraestrutura
requer pessoal qualificado para trabalhar. Uma categoria especial de trabalhadores:
nem formandos das escolas superiores de engenharia nem operários que contam
apenas com a própria experiência, mas técnicos em diversas áreas da construção,
desde instaladores hidráulicos até especialistas em acabamento.
Não é um problema simples. Uma sondagem da Confederação Nacional da
Indústria (CNI) aponta que 89% das empresas da Construção Civil sofrem com a
falta de trabalhadores qualificados para os canteiros de obras. Destas, 94% têm
sérias dificuldades em encontrar profissionais básicos, como pedreiros e
serventes. Isso equivale a dizer que o apagão de mão de obra não é um cenário
do futuro, já está acontecendo.
Enxergando essa rachadura no mercado de trabalho como uma
oportunidade, o empresário Sidney Bezerra fundou uma escola especializada em
prover mão de obra especializada para a Construção Civil, a Concretta.
O público-alvo: pessoas que já estão no mercado ou querem ingressar,
com escolaridade a partir do ensino fundamental. "Muitas pessoas nesse
mercado nunca entraram numa escola, então a gente tenta aplicar, além das
disciplinas técnicas, noções básicas de cidadania e sustentabilidade, por
exemplo", destaca.
Para atrair esses alunos, não é suficiente permanecer encastelado no
escritório planejando estratégias e esperando que os clientes apareçam. É
preciso ir a campo. "Trabalhamos com duas áreas principais, que são a
comercial e a pedagógica. Na primeira, procuramos ir até a casa do potencial
aluno, mostrar a realidade e como a educação profissionalizante pode fazer a
diferença na sua qualidade de vida, ganhar mais dinheiro mesmo", explica.
"O aluno quer sair trabalhando, por isso fazemos essa ponte entre mercado
de trabalho e escola. em alguns casos nós ajudamos na recolocação do
profissional", relata o empresário.
O modelo de negócios: expansão através de franquias. Criar uma
estrutura administrativa e financeira que permita a abertura de filiais pode
ser um processo lento e demorado, portanto atrair parceiros e estabelecer uma
relação onde todos ganham foi a alternativa encontrada pelo empresário. A
Concretta já vendeu 10 franquias e está negociando outras 8 em vários estados
brasileiros. "Nós enviamos o plano de negócios ao interessado e mostramos
que é rentável", afirma.
Ensino a distância: uma modalidade promissora
Os números do ensino a distância no Brasil crescem a passos largos. Em
2005, eram 1,2 milhão de alunos, segundo a Associação Brasileira de Educação a
Distância (Abed). Este ano, o Censo EAD.Br apontou que 3,5 milhões de alunos
aderiram à modalidade em 1.424 instituições de ensino listadas pela Abed. A
maior parte dos cursos estão categorizados como "livres", geralmente
de atualização ou aperfeiçoamento pessoal e profissional. Lembrando que cursos
livres não precisam ser autorizados pelo MEC para funcionar, e, ao final, devem
entregar um certificado ao aluno - nunca diploma.
Usar a tecnologia em favor da educação é uma saída que pode não apenas
atrair o interesse do aluno, que não precisará se deslocar para uma unidade
física, mas também solucionar o problema da acessibilidade e economizar gastos
com expansão. Um curso transmitido de um estúdio em São Paulo pode ser
assistido por um aluno de Rio Branco, que por sua vez pode interagir com outro
de Recife.
A InteraSat se especializou em oferecer cursos a distância e semipresenciais
para concursos, OAB, Enem e outros processos seletivos ou de admissão,
totalizando 16 áreas. A estratégia para atrair alunos foi diversificar a oferta
de cursos, criando a Interasat Multicursos. "Isso também gera uma
fidelização com a marca", acredita Flávio Janones, diretor de Marketing.
"Um aluno que começa na escola fazendo um curso de capacitação em
informática, passa por cursos de idiomas, pelo ENEM, por um preparatório para
OAB e depois ainda pode fazer uma pós-graduação", diz.
Para focar no core business, a parte de tecnologia ficou a cargo de
uma parceria com a DottaTec. Como uma parte dos cursos é semipresencial, uma
vez que requerem atividades práticas em laboratório, o modelo de franquias
também foi adotado. "Cada unidade funciona, basicamente, com dois
recepcionistas e o gestor. O custo fixo é muito baixo. Cada franqueado possui
exclusividade territorial (para cidades até 200 mil habitantes), desta forma
não ocorre uma concorrência interna entre os franqueados. Com este modelo de
negócios flexivel é possível a abertura de unidades em cidades de até 10 mil
habitantes", explica Janones.
Quer começar? Confira quatro dicas para abrir
uma empresa na área de educação
- Uma escola, mesmo privada, é uma concessão pública e precisa de uma
autorização especial dos órgãos competentes. No caso de escolas de base, são os
Conselhos Estaduais de Educação quem fornecem as autorizações
- Em escolas de base, o aluno não é o cliente, e sim os pais ou
responsáveis legais pelo aluno. Portanto, é mais um público para estabelecer
relações
- Educar é uma função social e o seu produto final sempre são pessoas.
"Uma empresa de educação não pode perder nunca o referencial de que está
trabalhando em um processo de formação de seres humanos", lembra Karamuh
- Uma escola vai fazer parte da vida de uma pessoa. As primeiras
amizades, paqueras e relações sociais dos alunos são estabelecidas na escola. O
administrador deve ter isso em mente durante todas as decisões.
Por Agatha Justino, Eber Freitas, Fábio Bandeira, Mayara Chaves e
Simão Mairins, www.administradores.com.br