Por incrível que pareça,
ambientes informais, um simples almoço e até uma cervejinha podem ser mais
eficientes na hora de fechar um negócio, ter grandes ideias e, claro,
desenvolver seu networking
Quando Aline Pinheiro terminou de
correr o Circuito das Estações Adidas, no Rio de Janeiro, jamais poderia
imaginar que, momentos depois, iniciaria um contato que culminaria em um grande
negócio para a empresa que trabalha. "Depois que terminei a prova fui para
a tenda que oferece massagem e lanchinho para os competidores. Lá, comecei a
conversar com uma pessoa chave da agência O2 Comunicação. Em meio ao nosso papo
informal, descobrimos o que cada uma fazia profissionalmente e percebemos que
as duas empresas podiam fechar uma parceria", conta Aline, que é
coordenadora de engenharia e tecnologia da Radix. A partir desse contato, a
ideia da parceria evoluiu ao ponto da agência O2 e a Radix fecharem
efetivamente o negócio.
O que até parece ser um caso
inusitado de fechamento de negócio, na verdade, é bem mais comum de acontecer
do que muitos imaginam. Uma considerável gama de negociações, estratégias
empresariais e criação de novas ideias acontecem, graças e especialmente, a um
ambiente fora dos escritórios. Inclusive têm pessoas que preferem trabalhar
apenas desse jeito. "Atualmente, eu só fecho negócios em ambientes bem
informais. Hoje mesmo fechei com três empresas diferentes fora do
escritório", contou a executiva paulistana Yara Rocca. Ela, jornalista e
coordenadora da assessoria de comunicação que leva o seu nome - Yara Rocca
Comunicação - acredita que ambientes assim proporcionam mais descontração e
leveza ao trabalho. "Eu prefiro trabalhar assim. Apesar de ter um
escritório, acredito que fora da empresa as pessoas ficam mais abertas e quebra
toda aquela rigidez que o mundo corporativo proporciona naturalmente",
afirma.
E Yara já adotou o seu
"escritório informal" preferido: a área da piscina do seu edifício.
"O meu prédio tem uma área de lazer muito gostosa e, justamente, perto da
piscina tem um cantinho que possui uma tomada com wi-fi que dá para ligar a
internet e tudo mais. Foi lá que me reuni com os clientes e fechei as três
negociações para os novos trabalhos", conta a empresária.
Até um mosteiro já serviu como
ambiente para fechar um negócio. Em julho de 2011, a Asyst International,
empresa brasileira de service desk, realizou uma fusão com a Rhealeza, do mesmo
setor de TI. O contrato foi assinado no Mosteiro de São Bento, em São Paulo,
instituição religiosa que possui mais de 400 anos de história. "Perto de
concluirmos a negociação, eu tive um sonho que dizia para assinar o contrato dentro
do mosteiro de São Bento. Acabei levando essa proposta para os envolvidos,
tendo o aval de todos", destaca o presidente da empresa Francisco
Blagevitch. De acordo com Francisco, a escolha do mosteiro foi importante por
um bom motivo: "a assinatura no local simbolizou a longevidade e o
respeito, duas características marcantes do mosteiro e que era o pensamento
comum de todos os envolvidos nessa negociação".
A troca do cartãozinho
Quem já foi em alguma feira de negócios já deve ter observado pessoas
distribuindo enlouquecidamente seus cartões corporativos. Muitos, inclusive,
parecem até entregadores de panfletos de sinais de trânsito – apenas um
desconcertante "bom dia", a entrega do cartão e passam para seu
próximo alvo. Mas calma se você pensou em imitar essa estratégia: o resultado
da jornada é, geralmente, menos eficiente do que um simples cafezinho ou um
almoço com um grupo reduzido de pessoas.
Muitos especialistas em recursos
humanos apontam que o contato informal pode ser uma excelente oportunidade para
conhecer mais as pessoas, estreitar laços e ampliar o famoso network. E
engana-se quem acha que é necessário falar de negócios. "O assunto pode
ser sobre o evento, um restaurante ou coisas informais", afirma a
empresária e especialista em gestão Fádua Sleiman. De acordo com a consultora,
"as pessoas quando não estão sob pressão costumam conversar de forma mais
à vontade".
E até almoçar de novo foi a saída
que o diretor comercial Bruno Lins encontrou para estreitar os laços em uma de
suas viagens. "Tinha acabado de almoçar quando encontrei um parceiro em
potencial. Ele me chamou para comer e não pensei duas vezes: almocei de novo.
Foi ótimo para nos conhecermos melhor. O resultado desse contato próximo gerou
até negociações posteriores", comenta com orgulho.
Que tal uma cervejinha?
Se uma comunicação informal com pessoas desconhecidas pode ser útil,
essa forma de contato mais despretensiosa, dentro das empresas, pode funcionar
ainda melhor. O próprio happy hour da sexta-feira depois do expediente pode
ajudar no ambiente diário da organização, pois se cria um clima de maior
camaradagem entre os profissionais. "É importante que as empresas promovam
e incentivem esses encontros. Não precisa ser grande, pode ser um café da manhã
no trabalho mesmo", declara Fádua Sleiman.
No entanto, como não poderia
deixar de ser, os excessos são sempre perigosos. "As pessoas não podem
exceder na bebida, na comida. O momento é descontraído, mas é sóbrio. As
pessoas que vão estar ali irão encontrá-lo no dia seguinte. Dividir a conta,
não beber demais. Etiqueta do happy hour", indica a especialista.
Aproveitar os momentos, sejam
eles os mais casuais, para se conectar com outras pessoas e construir relações
é um das teses seguidas e difundidas também por Nicholas Boothman, consultor em
comunicação humana e autor do best-seller americano Faça todo mundo gostar de
você em 90 segundos. Em seu livro, Nicholas relata que o segredo do sucesso
está, principalmente, na comunicação – em interagir.
"Ninguém faz nada sozinho, e
hoje, mais do que nunca, quem não consegue se relacionar com eficiência perde a
chance de aumentar seu círculo de amigos, de ser aprovado em uma entrevista, de
concretizar uma venda, de melhorar na profissão, de aproveitar oportunidades e
até de encontrar o amor da sua vida", define.
E é nesse ponto que existe uma
espécie de "tempero" que muitos profissionais envolvidos no mundo
corporativo esquecem de utilizar em suas rotinas recheadas de negociações: o
toque mais humano.
3 dicas de amigo:
Saia do virtual; encontre as pessoas
A internet e as redes sociais
têm sido excelentes ferramentas para reunir as pessoas. Nele, você pode criar,
por exemplo, uma grande rede de "amigos" no Facebook e de
"contatos" no LinkedIn. Claro que isso é muito positivo, mas cuidado
para não ficar bitolado em frente ao computador e perder um mundo de oportunidades
na vida real. O encontro tête-a-tête traz uma experiência muito mais completa
do que pela internet.
Nunca almoce sozinho
Uma simples refeição com um colega ou com um contato profissional em
potencial pode gerar mais frutos do que você imagina. Nele você pode
compartilhar experiências, opiniões, insights, dicas e se aproximar do outro. A
conversa é um modo significativo de estabelecer um relacionamento e tecer
vínculos de amizade e de trabalho.
Não fale apenas, saiba ouvir
Muitas pessoas se empolgam em uma conversa e a transformam em um
verdadeiro monólogo. É nessas horas que se deve tomar cuidado para não virar o
"chato". Existem dois modos igualmente importantes em um bate papo:
falar e ouvir. É na troca de informações que as pessoas encontram suas afinidades
e interesses comuns. Mas se ainda tiver com dificuldade em fazer isso,
lembre-se que fazer perguntas é o melhor conectivo para manter um diálogo.
Por Fábio Bandeira de Mello,
Revista Administradores