Texto de Marcos Hashimoto
7 dicas de como despertar o lado empreendedor nas suas crianças, por
meio de atividades simples, criativas, diferentes, sejam filhos, alunos,
sobrinhos ou netos…
A maioria das características empreendedoras não diz respeito a
negócios e sim a comportamentos típicos de quem detém este perfil e as escolas
não estão preparadas para desenvolver estas competências.
Acredito que a maioria dos meus leitores já deve ter lido muito sobre
competências empreendedoras a ponto de saber que elas não são inatas, mas podem
ser desenvolvidas ao longo da nossa vida. Também já podem imaginar que as
competências empreendedoras não são exclusivas para quem vai montar um negócio
próprio, mas cada vez mais valorizadas em todas as circunstâncias, seja na vida
pessoal ou profissional (cada dia cresce o número de anúncios de empresas
buscando jovens com perfil empreendedor).
Isso não é novidade e é até esperado, uma vez que pessoas com perfil
empreendedor promovem mudanças positivas, se arriscam a fazer coisas
diferentes, são hábeis em identificar oportunidades, tomam iniciativas por
conta própria, são auto-dirigidas, sabem construir boas redes de
relacionamento, procuram inovar em tudo que fazem e não se sujeitam às regras e
à pura burocracia.
Poucos talvez saibam que, embora algumas competências empreendedoras
possam ser aprendidas em cursos e vivenciando algumas experiências, outras são
tipicamente formadas ainda na infância.
Não estou falando aqui da clássica imagem da criança que ganha uns
trocados vendendo limonada na porta de casa, um ícone tipicamente americano. A
seguir eu dou algumas dicas de como despertar o lado empreendedor nas suas
crianças, sejam filhos, alunos, sobrinhos ou netos, por meio de atividades
simples, criativas, diferentes e que podem ser envolventes e ricas:
1.
Para despertar
o interesse pela novidade:
Vá com as crianças a um supermercado e diga que eles podem
experimentar qualquer coisa que nunca tinham provado antes. Cada um pode trazer
uma coisa diferente para colocar no carrinho. Eles se divertem pelas gôndolas e
trazem guloseimas com novos sabores. Nesta fase eles tomam gosto pela
experimentação. O preço deste aprendizado é que eles vão experimentar algumas
coisas e não vão gostar, levando a um desperdício de dinheiro, pois jogam tudo
fora. Depois que eles gostarem da brincadeira é a vez de colocar uma regra a
mais.
Agora eles não podem mais jogar
fora o que compraram. Se não gostaram, tem que comer até o fim ou a brincadeira
para. Eles até reclamam na hora de engolir, mas não querem parar de brincar, já
virou um passatempo que quebra a chatice de ir ao supermercado. Assim, aprendem
a ser mais criteriosos na hora da escolha. Lêem o rótulo, pensam e aprendem a
usar a informação para reduzir o risco da escolha errada e assim acabam criando
o hábito de experimentar o diferente. Mas lembre-se, você não pode começar a
brincadeira já colocando a penalidade ou eles não entram no jogo. Primeiro eles
têm que gostar da brincadeira para só depois impor uma restrição para
aprenderem o valor do risco.
2.
Para
identificar oportunidades:
A melhor forma de aprender a identificar oportunidades é prestando
atenção às coisas ao seu redor. Boas oportunidades estão em todo lugar e
acontecem a qualquer momento. A maioria não percebe porque não está atenta.
Para ajudar as crianças a ficarem mais atentas a brincadeira consiste em fazer
perguntas sobre percepção do ambiente. Ótimo para passar o tempo em locais
públicos como restaurantes ou filas de espera, encontre um detalhe do ambiente
e desafie-os a encontrar, coisas simples do tipo ‘onde tem uma vela’, ‘onde
está escrito ‘fumar’’ ou ‘encontre uma criança com cabelos encaracolados’.
Com o tempo, eles se acostumam a entrar em qualquer ambiente e logo
prestar atenção em todos os detalhes do ambiente. Uma variável desta
brincadeira, em ambientes que eles já conhecem bem como a sua casa, é
separá-los, mudar algum detalhe de lugar e chamá-los de volta, desafiando-os a
descobrir o que você mudou.
3.
Para avaliar
riscos:
Pais são normalmente avessos à exposição dos filhos a qualquer tipo de
risco. Professores e babás são menos tolerantes ainda, pois são responsáveis
pela segurança das crianças. Isso faz com que involuntariamente criemos nossas
crianças em ‘bolhas de segurança’ que não permitem que elas vivam algumas
experiências enriquecedoras.
Correr um risco, desde que moderado, avaliado e controlado, sempre
traz um aprendizado. O importante aqui é que os pais se perguntem: ‘Se algo der
errado, o aprendizado decorrente do erro vai compensar o prejuízo?’ Em muitas
situações você pode expô-los a um risco no qual eles sentem a adrenalina, mas
você tem o controle.
Uma vez, levando eles para a escola, eu falei que iria dirigir
seguindo as orientações deles. Eles é que iriam dizer em qual rua virar e qual
caminho seguir para chegar à escola. No começo eles adoraram ter o controle da
situação, mas acabamos nos perdendo e eles ficaram muito nervosos. Claro que eu
sabia o caminho certo e acabei chegando a tempo na escola, mas eles nunca se
esqueceram da experiência. Tentamos mais três vezes depois, mas só na quarta
eles acertaram o caminho. E celebraram muito!
4.
Para quebrar
regras:
Esta é a mais difícil e não pode ser aplicada em qualquer idade. No
começo eles precisam entender porque existem regras e como elas nos ajudam a
viver de forma civilizada e ordenada. Porém, depois que isso é assimilado, eles
precisam entender que existe um mundo fora do quadrado e que nem todas as
regras fazem sentido ou são necessárias.
O importante é não desrespeitar as leis ou os princípios éticos. Fora
isso, se algo não faz sentido, pode e deve ser questionado. Na fase da
adolescência se pode dar vazão ao espírito rebelde que se instala entre eles,
dando foco e atenção aos seus questionamentos.
Uma brincadeira que faço com eles é, durante uma conversa sobre um
determinado assunto de interesse deles, antecipar que vou falar uma grande
besteira, mas eles não vão saber qual nem quando vou falar. Continuamos a
conversa e, no final, eu pergunto qual foi a grande besteira que eu falei. Eles
devem adivinhar e geralmente acertam. Com o tempo eu começo a praticar isso sem
avisar antes e só falo depois que eu falei uma besteira. Se eles aprenderam a
prestar atenção, vão identificar logo.
Com isso vão alimentando o seu espírito crítico, não aceitando mais
passivamente tudo o que ouvem ou lêem. Hoje, mesmo que eu não fale nenhuma
besteira, eles duvidam de algumas coisas que falo, e até conseguem me provar
que eu falei uma coisa errada mesmo! Este é o lado ruim da história, ruim para
nós, mas ótimo para a vida deles.
5.
Para ser
criativo:
Criatividade é o alimento da inovação. Somos tão condicionados a
buscar a concordância e a aceitação pública que acabamos nos esquecendo do que
nos torna diferentes e únicos. Todos querem ser iguais e os diferentes são
discriminados por não se encaixarem nos padrões de ‘conformidade’ impostos pela
sociedade.
Existem várias brincadeiras para estimular a criatividade e elas são
mais efetivas quanto mais jovens forem as crianças, pois menos amarras possuem
ainda. Uma que gostava de fazer quando eles eram pequenos era o passatempo
preferido nas viagens de carro. Um de nós conta uma história e, no meio dela,
interrompemos para que o outro continue e dê um novo rumo. Assim, vamos alternando,
passando de uma para outra, até que alguém a termine e é claro que ela termina
totalmente diferente de como foi iniciada.
Outra coisa que eles se divertiam era pegar histórias conhecidas e
invertê-las totalmente, dando novas características aos personagens, mudando o
roteiro ou imaginando novos finais inusitados e divertidos.
6.
Para exercitar
a autonomia:
Muitas vezes achamos que nossos filhos não estão maduros o suficiente
para assumirem algumas responsabilidades. Puro preconceito nosso, eles são mais
espertos do que imaginamos. Assumir a responsabilidade de alguma coisa é
importantíssimo para a formação deles.
O exemplo clássico é ter um animal de estimação. O bichinho vai morrer
se ele não cuidar, mas a responsabilidade acaba sendo tão grande que, no final
das contas, nós é que acabamos alimentando e cuidando.
Entre uns 10 e 12 anos, uma brincadeira simples é dar a eles a
liberdade de programarem o que fazer em família no domingo. A liberdade é total
e os pais vão cumprir tudo o que eles definirem. Eles ficam muito entusiasmados
e no começo acabam se excedendo, ou com muitas atividades, ou com coisas que
nem todos vão curtir.
Com o tempo, eles vão aprendendo a escolher melhor as atividades, a se
planejar para tudo dar certo, a ouvir o que as pessoas querem e a arcar com as
consequências quando não acontece o que eles previram. O exercício da liberdade
é uma droga viciante, da qual, uma vez experimentada, não se pode mais viver
sem. Por isso, o aprendizado seguinte é exercer a liberdade, mas com
responsabilidade.
7.
Para ter
iniciativa:
As crianças têm iniciativas natural e espontaneamente. Tudo o que
precisamos fazer é apoiá-las e incentivá-las. Podem ser coisas simples, como
começar um blog ou receber os amigos para assistir um filme. Podem ser coisas
maiores, como organizar um mutirão de ação social ou montar uma banda.
O importante é sempre dar o primeiro passo, pois a empolgação cresce
na mesma medida que o envolvimento na atividade. Não critique e nem reprima,
pelo menos no começo. Se algo pode dar errado, alerte, aconselhe, mas não
insista. Se for alguma coisa que não vá gerar muito impacto e pode ser
contornado, deixe acontecer e dar errado, até estas experiências são válidas e
úteis para o aprendizado.
Pesquisas indicam que os pais exercem grande influência na formação de
algumas características empreendedoras. Um vídeo que retrata bem isso é
comercializado pela Siamar e se chama ‘Lemonade Stories’. Produzido pela Babson
College, conta a história de 7 empreendedores como Richard Branson (Grupo
Virgin) e Arthur Blank (Home Depot) e como suas mães os influenciaram.
Como podem ver, há várias coisas que podemos fazer com as crianças,
algumas podem dar trabalho, mas é recompensador ver os resultados, ver como
eles crescem espertos, ativos, maduros.
Sempre que possível, tente dar um aspecto lúdico à atividade, uma
brincadeira, um jogo, um desafio. Vai ser mais divertido e eles se envolvem
mais. Tome um cuidado especial em não forçar a barra. Apesar de alguns
aprendizados requererem um esforço não natural, somos diferentes uns dos
outros. Se uma pessoa é naturalmente tímida e introvertida, não a force a se
expor em público. O tiro pode sair pela culatra.
Alguns comportamentos são condicionados e podem ser modificados, mas
traços de personalidade não. Eu mesmo procuro praticar isso o tempo todo com
meus três filhos. Não sei se eles vão montar seu próprio negócio no futuro, mas
tenho certeza que estarão mais bem preparados para enfrentar o mundo do que
muito de seus amiguinhos.
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Empreendedorismo por Marcos Hashimoto