A ideia prevê um acordo que
resulte na criação de um Estado palestino independente incluindo Cisjordânia,
Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental, vivendo em paz com o vizinho Israel.
A ONU, a Liga Árabe, a União
Europeia, a Rússia e os EUA frequentemente reafirmam seu compromisso com o
conceito, e o presidente americano, Barack Obama, fez o mesmo durante sua
visita a Jerusalém e Ramallah nesta semana.
Mas muitos especialistas, além de
cidadãos israelenses e palestinos, acreditam que a solução de dois Estados deve
ser abandonada ou, ao menos, reavaliada - já que, passados 20 anos desde os
Acordos de Oslo (que estabeleceram o objetivo de dois Estados), não há sinal de
concretização desse projeto.
A construção de barreiras
israelenses dentro e ao redor da Cisjordânia e a expansão de assentamentos
judaicos em terra ocupada (sob a ótica da lei internacional) inviabilizam a
criação de um Estado palestino.
Particularmente na esquerda e na
extrema direita israelenses, bem como entre ativistas palestinos, crescem as
conversas em torno de uma solução que envolveria apenas um Estado.
'Inviável'
Sob forte pressão dos EUA, o premiê israelense, Binyamin Netanyahu,
fez um discurso em 2009 em que se comprometeu com "um Estado palestino
desmilitarizado". Um ano depois, diálogos israelo-palestinos foram
reavivados, mas rapidamente chegaram a um impasse, com o fim de um congelamento
parcial dos assentamentos judaicos.
Recentemente, o governo de
Netanyahu anunciou planos de construir milhares de novas casas nesses
assentamentos, inclusive na sensível zona "E1", o que separaria
Jerusalém Oriental da Cisjordânia. Se isso se concretizar, até sob
os olhos da ONU seria "um golpe quase fatal" à possibilidade de dois
Estados.
Avi Shlaim, historiador
britânico-israelense, é conhecido por dizer que Netanyahu "é como um homem
que, enquanto negocia a divisão da pizza, continua comendo-a".
"Sempre fui um defensor da
solução de dois Estados, mas chegamos a um ponto em que não é mais uma solução
viável", diz ele. "Agora defendo a solução de um Estado, não como a
escolha número um, mas como uma solução diante das ações de Israel."
Recentemente, mais esquerdistas
israelenses e intelectuais palestinos começaram a fazer a defesa ideológica de
um Estado binacional que dê cidadania e direitos iguais a todos os moradores de
territórios israelenses e palestinos.
Até direitistas como o
ex-presidente do Parlamento Reuven Rivlin, que pertence ao partido de Netanyahu
(Likud), dizem preferir essa solução à partilha do território israelense.
Debate
interno
No ano passado, o ex-premiê da Autoridade Palestina Ahmed Qurei, um
dos arquitetos dos Acordos de Oslo, disse que os palestinos precisam começar
seu próprio debate.
"Apesar dos aspectos
negativos e de todas as diferenças, não devemos descartar a solução de um
Estado", disse ele em um artigo. "Isso deve ser debatido internamente
e colocado em referendo, antes de ser colocado na mesa de negociação."
Cientes de que a solução de um
Estado limitaria a identidade judaica de Israel, autoridades palestinas
frustradas com o impasse na negociação atual propõem abandonar a ideia de um
Estado próprio. Mas o presidente palestino,
Mahmoud Abbas, diz que há o perigo de que se forme "um Estado semelhante
ao (do) apartheid (África do Sul)".
O argumento é de que palestinos
muçulmanos e cristãos, com sua população crescente, serão rapidamente mais
numerosos que os judeus israelenses. Se Israel elevar apenas o status dos
cidadãos judeus, poderia se criar um Estado segregacionista. Alguns dizem que
isso já está em curso.
'Três
Estados'
Em novembro passado, o conflito
na Faixa de Gaza colocou outra ideia em ciruclação: a separação dos territórios
palestinos, na "solução de três Estados".
Alguns analistas israelenses
creem que, com o grupo Hamas (que não reconhece Israel) governando Gaza, esse
território deveria ser estabilizado e tratado como um Estado separado da
Cisjordânia, onde a Autoridade Palestina tem o controle das áreas palestinas. O general Giora Eiland,
ex-conselheiro de segurança nacional de Israel, propôs que, para isso, o país
mude sua política e inicie um diálogo com o Hamas.
Mas há quem diga que o Egito -
cujo presidente é membro da Irmandade Muçulmana, que tem elos ideológicos com o
Hamas - deveria abrir suas fronteiras com Gaza e assumir responsabilidade pelo
território.
Ao mesmo tempo, existe rejeição à
ideia, defendida pela direita israelense, de que países árabes vizinhos acolham
os palestinos (dando status de Estado apenas para Israel, Jordânia e Egito, que
já têm tratados de paz assinados entre si).
"Os palestinos nunca vão se
dissolver em outra entidade ou identidade", justifica Mahdi Abdul Hadi, da
Sociedade Acadêmica Palestina de Estudos Internacionais.
Mudanças
na ONU
No ano passado, as tensões israelo-palestinas aumentaram com a
aprovação, na ONU, do status de Estado observador não-membro dado aos
palestinos. Isso permitiu que o termo
"Estado da Palestina" seja usado em documentos da ONU e abre espaço
para que a ocupação de terras palestinas por Israel possa ser questionada em
cortes internacionais.
Mas, em termos objetivos, um
Estado soberano palestino continua distante da realidade.
Uma pesquisa de opinião de
novembro passado indica que o número de palestinos que apoiam a solução de dois
Estados se mantém estável em 51%. Mas o apoio por uma solução binacional
cresceu para 27%, cinco pontos percentuais a mais que no ano anterior.
Há sérias dúvidas em ambos os
lados quanto a se Obama, atualmente em visita à região, seria capaz de trazer
qualquer avanço ao diálogo bilateral. Além disso, os próprios líderes locais
estão divididos, e as turbulências em curso no Oriente Médio só fazem aumentar
a incerteza na região.
Enquanto isso, o conflito
continua a crescer e não pode ser ignorado.
Fonte: BBC Brasil – GeoPolítica Brasil http://brasilnicolaci.blogspot.com.br/