Texto de Renato Bernhoeft,
Empreender é uma iniciativa, ou
até uma arte, que não está necessariamente, vinculada ou dependente, das
condições do meio em que ela ocorre. Existem muitos casos de empreendimentos
muito bem sucedidos que surgiram em períodos de crise e recessão – tanto
econômica como social -, da mesma forma que tantos outros foram criados em
momentos de bonança ou euforia econômica.
O que os estudos ainda continuam
mostrando é que a maioria dos empreendedores surge nas camadas mais
desfavorecidas da sociedade. Ou seja, é bem mais raro o espírito, e até a
iniciativa empreendedora, entre os membros da classe média ou entre famílias
mais abonadas, com herdeiros que já nascem com uma vida muito mais cheia de
facilidades. Sem a necessidade, ou estímulo, para conquistar algo pelos seus
próprios meios ou determinação.
Especialmente se considerarmos
que uma das características marcantes de quem empreende é descobrir, ou
transformar, em oportunidades, situações ou necessidades onde a grande maioria
apenas enxerga problemas.
Apesar de iniciativas e estímulos
valiosos, como os oferecidos por entidades
tipo Endeavor, Sebrae, Senac, Sesi e algumas instituições de ensino
profissionalizante, existem duas fontes permanentes de desestímulo ao espírito
empreendedor.
Refiro-me a própria família, que
de forma bastante convencional, e com base na própria história profissional dos
pais e avós, tende a orientar seus descendentes para a idéia exclusiva do
emprego formal. Seja ele público ou privado, mas sempre com a doce ilusão da
segurança que uma carteira profissional assinada, ou a estabilidade de
funcionário público, possam proporcionar.
A outra instituição que continua
preparando, quase que exclusivamente para o emprego, é a própria escola, e o
mundo acadêmico de uma forma geral. Reforçam, de uma maneira muito enfática, a
necessidade de um detalhado planejamento prévio – desconsiderando a importância
da iniciativa e intuição – a tal ponto
que a maioria das tentativas não ultrapassa os limites do papel.
Muitos sonhos, aspirações e
planos já morrem no nascedouro. E não necessariamente pela escassez de recursos
financeiros, mas pela falta de estímulos e autoconfiança.
Entre empreendedores podemos
caracterizar dois tipos. Que embora tenham como ponto de partida algumas
características em comum, ambos necessitam de tratamento e orientação que
considere algumas diferenças significativas.
Refiro-me em primeiro lugar ao
“lobo solitário”. Ou seja, aquela pessoa que tem ambições muito próprias,
individualista e que sonha em ser “dono” do seu negócio.
Esta pessoa necessita desenvolver
sistemas de auto-motivação permanente, além de também exercer uma liderança
participativa, motivadora e de forte reconhecimento com sua equipe. Por menor
que ela possa ser no início. E também necessita criar formas de relacionamento
com fornecedores e clientes na busca de uma fidelidade que deve ser
correspondida – mutuamente - em várias dimensões.
Deve tomar muito cuidado, para um
adequado processo de crescimento, em não criar uma estrutura que se torne
dependente da sua figura, carisma ou processo decisório. Muitos empreendedores
deste tipo tendem a ser centralizadores, o que pode dificultar a formação de
equipes com suficiente autonomia e grau de iniciativa.
Já quando falamos de
empreendedores, que iniciam seu projeto em grupo, a principal preocupação no
início deve ser a de fixar um Acordo ou Protocolo. O mesmo visa estabelecer, de
forma bastante participativa, amplamente discutido e aceito por todos
envolvidos, um conjunto de direitos e obrigações de tudo aquilo que envolve seu
relacionamento como sócios, além do papel de gestores do negócio.
Importa saber que, na qualidade
de sócios deve existir uma clara confiança para que os riscos e conquistas
possam ser claramente compartilhados. Independentemente da proporção de cada um
na sociedade. Já na qualidade de gestores suas atribuições, autonomia e relação
hierárquica devem também estar fixadas e aceitas por todos. Tanto entre os
mesmos como na relação com seus colaboradores.
Vale ressaltar que, da mesma
forma como devem ser discutidos os resultados do negócio, é da maior
importância que os sócios se mantenham atentos em avaliar, permanentemente, sua
relação.
É bom lembrar que 70% dos
negócios que desaparecem no Brasil, têm como causa principal conflitos
societários – ou familiares – não resolvidos.
Este artigo visa estimular o surgimento de
empreendedores em um mercado cada vez com maiores oportunidades. E para quem
busca uma alternativa diferente ao emprego formal. É apenas mais uma
provocação.
Por Renato Bernhoeft - Fonte:
www.administradores