Parece o sonho de qualquer dono
de empresa: o negócio ou produto começa a ser falado pelos consumidores e
veículos de comunicação sem nenhum custo com marketing ou com um investimento bem
pequeno. A marca vai ganhando um destaque de forma espontânea, o que permite o
seu reconhecimento diante o seu público.
O que pode parecer um “sonho”
para alguns, na verdade já é usado por muitas empresas em seu suporte de
divulgação e disseminação de negócio. E não existe apenas uma forma de fazer
isso. Há, ao menos, quatro diferentes estratégias que compõem um cenário
favorável para aqueles que desejam ter espaço sem necessariamente desembolsarem
milhões. Ficou interessado? Então, continue lendo!
1 - A
tal mídia espontânea
Veículos de comunicação tem algo em comum. Eles destacam informações e
notícias que geralmente possuem pelo menos uma dessas três características:
ineditismo, atualidade ou interesse geral. E é nessa hora que as empresas podem
conseguir uma “casquinha” no espaço midiático, digamos, de forma mais natural.
Pode ser através da apresentação
de um produto inovador, um fato inusitado que desperta curiosidade nas pessoas,
uma mudança estratégica da organização que tem impacto em algum setor, e por aí
vai. Inclusive, executivos ou funcionários de empresas, de tanto viverem aquele
mercado, podem virar potenciais especialistas no segmento e representar seu
negócio em entrevistas. Normalmente essas informações são trabalhadas pelas
assessorias de imprensa que divulgam as notícias como sugestões de matérias
jornalísticas.
Esse tipo de estratégia pode
atrair os olhares de mais gente do que esperado, não só o público-alvo, fazendo
com que a marca e o produto sejam expostos numa escala muito maior. Inclusive,
com a internet e a consolidação de novos veículos de comunicação de nicho, essa
aproximação de empresas com a mídia pode ser utilizada cada vez mais com
frequência nas estratégias de negócios.
“A comunicação não é um mero
modismo nas folhas de investimento corporativo, ela ajuda a empresa a crescer,
se desenvolver, ter contato com aqueles de quem ela precisa no mundo a fora e
também no contato com o público interno”, afirma a jornalista Clarice Pereira,
responsável pela agência LINK Portal da Comunicação.
Mas fique alerta: a mídia espontânea pode ser tão boa quanto cruel. Da mesma forma que ela pode destacar produtos interessantes, ela “adora” ressaltar aqueles que sofrem problema. E estar no lado sombrio da força, nesse caso, pode ter certeza, não é tão interessante.
2 -
Fala que eu te escuto
Uma das mais poderosas formas de chegar a novos clientes é através de
novos clientes. Empresas que já entenderam isso, com certeza, possuem um
diferencial competitivo dos concorrentes que não levam isso a sério.
Ela funciona, basicamente,
através de recomendações: quando alguém comenta com outra pessoa que está
satisfeito ou insatisfeito com um produto ou com um serviço que adquiriu.
Afinal, esse comportamento de compartilhar experiência e repartir incertezas é
uma característica marcante do ser humano.
O especialista norte-americano
Andy Sernovitz, que atua há mais de 20 anos com consultorias em marketing
boca-a-boca, relata que não existe setores específicos para a utilização dessa
estratégia, pois ela funciona para qualquer empresa.
“Mas apenas se essas companhias
forem fantásticas e o produto valha a pena ser comentado. Se o seu produto ou
serviço for ruim, pessoas ainda falarão sobre ele, mas não dirão coisas
positivas. Essa é a beleza do boca a boca: os bons profissionais e produtos
vencem e os ruins perdem”, destaca Andy, que também é autor do livro Marketing
boca-a-boca.
E não faltam exemplos no mercado
de como é possível usar o cérebro e não a carteira para despertar comentários
reais dos consumidores, segundo o consultor. “A Zappos, que vende sapatos
on-line, possui um suporte ao cliente incrível. Eles oferecem frete grátis e
permitem que você devolva o produto com até um ano de uso. E se eles não têm o
sapato que o cliente está procurando, eles o direcionam a uma concorrente que
tenha. Já a Southwest Airlines é outra favorita em uma indústria que todos amam
odiar. Eles possuem um orçamento mais baixo, mas ganham milhares de fãs todos
os dias sem gastar. Como? Eles contratam bons profissionais, os tratam com
respeito e incentivam que eles tratem o cliente bem, em ações como cantar
durante as instruções de segurança. Além disso, eles não exploram os
consumidores com tarifas ridículas”, indica Andy Sernovitz.
observação:O mundo
virtual do boca-a-boca
Dentro de segmento boca-a-boca, um espaço que virou a “galinha dos
ovos de ouro” da maioria das empresas do mundo são as redes sociais. A
facilidade de estar em contato direto com o seu público-alvo, além de ter um
alcance sem fronteiras a partir do compartilhamento dos próprios consumidores, nunca
tinha tomado proporções tão gigantes.
A Butter Toffees, uma das
principais marcas do portfólio de balas da Arcor, é um exemplo disso. A empresa
chega a conquistar em média quatro mil fãs por dia no Facebook e, com pouco
mais de sete meses no ar, a fanpage da marca ultrapassou mais de 750 mil
curtidores.
“Temos realmente muitas
participações espontâneas declarando amor à marca diariamente. Mas, pra isso, é
preciso uma estratégia bem completa que envolve um plano de mídia muito bem
executado, cuidado diariamente para atingir exatamente esse público e que
conversa diretamente com nosso conteúdo”, destaca Vitor Elman, diretor de arte
da Cappuccino Digital, agência responsável pela rede social da Butter Toffees.
Para Vitor, o mais importante nas
postagens está na forma como se fala com o internauta. “São frases, enquetes e,
principalmente, imagens bem trabalhadas que expressem todo esse sentimento em
volta de momentos das nossas vidas que acabam tocando fundo e fazendo com que a
gente se identifique, interaja e queira mostrar para os amigos. Esse é o nosso
diferencial, trocar as tradicionais métricas de impressões, por expressões,
engajamento”, explica o diretor de arte da Cappuccino Digital.
3 - A
la Che Guevara
Marketing de Guerrilha é um tema, de certa forma, frequente na revista
Administradores. Virou seção fixa na editoria de Curiosidade (pág. 58) e foi a
reportagem de capa na edição de Maio de 2011 (Você não viu? Então pode ler –
depois de terminar essa matéria).
No entanto, se você ainda assim
não está familiarizado sobre o tema, aí vai uma definição: “O marketing de
guerrilha tem como objetivo fazer a marca ser falada. Enquanto a publicidade
faz uma campanha tradicional para ser assistida, o marketing de guerrilha cria
uma história inusitada para ser contada, falada e compartilhada”, destaca
Wagner Martins, sócio e diretor de planejamento da Espalhe, principal agência
do país nesse segmento.
E na Guerrilha o que vale é a
criatividade. Seja ela uma intervenção urbana - utilizando postes, faixas e
calçadas -, seja através do corpo a corpo, quando atores e modelos abordam o
público promovendo a interação com a marca, seja na própria internet ou, sério
mesmo, seja o que a imaginação permitir.
“Em 2011, a Espalhe criou o case
que divulgou a volta do Halls Uva Verde, que tinha saído do mercado em 2010
mas, por conta de uma grande movimentação de fãs nas redes sociais, a Kraft
Foods decidiu relançar o produto. Através de uma ação inusitada, transformamos
os principais fãs e engajadores para a volta do drops em bustos produzidos com
a matéria-prima do próprio Halls Uva Verde”, conta Wagner Martins .
Outro exemplo, mas usando as
redes sociais, foi a ação para Guaraná Antarctica em comemoração aos cinco
milhões de fãs na fanpage da marca. O número, atingido em junho de 2012, foi
comemorado pela marca com um jogo entre a Seleção de Guaraná Antarctica e a
Costa Rica. O time da marca foi selecionado por Mano Menezes, ex-técnico da
seleção brasileira, através de vídeos enviados por jovens de todo o Brasil. “A
ação ‘Seleção Amigos do Guaraná Antarctica’ foi a primeira seleção a ser
escalada pelo Facebook”, relata o sócio da Espalhe.
A estratégia, porém, não é bem
aceita por todos, principalmente em grandes eventos. Nas Olimpíadas, por
exemplo, para garantir a exposição limpa dos patrocinadores oficiais, o governo
chinês e, recentemente o de Londres, prepararam uma ação de guerra contra a
guerrilha, criando um livro de regras sobre Marketing na Olimpíada. Na China,
100.000 policiais, guardas-civis e voluntários ficaram responsáveis pela
fiscalização de violações ao direito dos patrocinadores.
4 -
Incentivos fiscais
Poucas empresas sabem, mas o fomento à cultura, ao audiovisual e ao
esporte pode contribuir significativamente para a imagem e a lembrança da sua
marca. E tem um detalhe: elas podem sair de graças se utilizadas às leis de
incentivo.
A Lei Rouanet, por exemplo,
possibilita que cidadãos (pessoa física) e empresas (pessoa jurídica) apliquem
parte do Imposto de Renda devido em ações culturais. Assim, além de ter
benefícios fiscais sobre o valor do incentivo, esses apoiadores fortalecem
iniciativas culturais que não se enquadram em programas do Ministério da
Cultura.
Desse modo, o investimento em
cultura pode ser visto como uma oportunidade para as empresas participarem do
processo de incremento dos valores culturais da sociedade e, principalmente, a
possibilidade de construir uma imagem forte e bem posicionada para o
consumidor.
“Sempre que uma companhia se
associa a uma iniciativa bacana – seja arte ou esporte – tendemos a olhar para
ela com novas lentes: ‘Puxa, que legal, a empresa XYZ bancou esta ação’. Essa
frase não tem preço e é difícil de mensurar. Quando o seu cliente enxerga sua
organização com essa admiração, não há orçamento publicitário que cause
benefício comparável”, indica João Ribeiro, que atua na área de Comunicação
Integrada Organizacional.
Está
esperando o quê?
Agora que você está terminando de ler esta matéria e viu algumas
formas para intensificar o marketing em sua empresa sem gastar muito dinheiro,
que tal colocar a mão na massa? As coisas só acontecem para quem sabe
aproveitar as oportunidades, transformando-as em ferramentas de negócio e
promoção participativa e interativa no mundo dos negócios, esteja on-line ou
não.
Por Fábio Bandeira de Mello,
Revista Administradores, 18 de março de 2013