Economia fraca e ajustes salariais generosos
Em 2012, a economia brasileira cresceu apenas 0,9% e a inflação medida
pelo INPC foi de 6,2%, mas houve reajustes salariais reais em 94,6% das 704
negociações realizadas entre empresas e trabalhadores, segundo pesquisa do
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). É
uma contradição - em tese, uma economia em queda não deveria ser acompanhada de
salários em alta -, e não há uma explicação isolada para o fato.
O porcentual de reajustes
salariais que superou o INPC foi o mais elevado em 17 anos. Na média, a
correção superou a inflação em 1,96%, mas em 4,4% dos acordos o ganho real foi
superior a 5%. Em mais de 62% os reajustes reais oscilaram entre 1% e 3%.
Na indústria, o resultado foi
ainda mais paradoxal, pois o produto do setor caiu 2,5%, enquanto os reajustes
reais foram registrados em 97,5% das negociações e atingiram, em média, 2,04%.
Na construção civil, o aumento real médio foi de 3,17%.
Do ponto de vista dos trabalhadores,
há motivos para comemorar. E, em alguns setores, onde o comportamento das
atividades foi satisfatório, os reajustes não causam surpresa - caso da área
automobilística.
Cabe, porém, buscar outras razões
para os reajustes, a começar da escassez de mão de obra de qualidade, agravada
pela fragilidade da educação formal e a introdução de novos processos
produtivos, com tecnologia avançada. É notória a falta de profissionais de
exatas, como engenheiros.
Outra é a mudança na composição
do Produto Interno Bruto (PIB), cada vez mais dependente do setor de serviços,
influenciado pela melhor distribuição de renda e a ascensão de dezenas de
milhões de pessoas à classe média. A mobilidade social em curso desafia as
empresas e a oferta de mão de obra. Além disso, muitos profissionais dão
preferência a trabalhar no Estado e nas estatais, onde a remuneração é elevada
e a estabilidade é a regra. O crescimento do aparelho do Estado estimula essa
tendência.
Também parece crescer o número de
trabalhadores formais que se transformam em pequenos empresários, uma questão
ainda em estudos no âmbito do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Salários reais em alta deverão
significar um aumento do peso do trabalho na renda nacional e impulsionar o
consumo, contribuindo para a atividade econômica. Esses são fatos positivos,
mas alguns técnicos enfatizaram que os reajustes reais foram estimulados pela
inflação e o salário mínimo. Ocorre que a inflação é doença para a maioria da
população.
Fonte: Brasil 247