Texto de José Augusto
Um dos
aspectos extremamente relevantes da Administração é a chamada administração do
pensamento. De acordo com o que observou Tim Gallwey, considerado um dos pais
do coaching, e que começou sua carreira como treinador de tênis, todo tenista
tem dois adversários: o adversário externo e o adversário interno. E sempre que
alguém perde o jogo interno, não importa quão competente possa ser, também
acaba perdendo o jogo externo.
Para que
possamos compreender melhor como se forma o adversário interno, que todos nós
temos por sinal, basta registrar que desde de crianças, para cada frase
positiva, costumamos ouvir, pelo menos, dez frases negativas a nosso respeito,
a respeito dos outros e do mundo. E estas frases negativas acabam sendo
instaladas na nossa mente, como se fossem vírus num computador.
São as
chamadas "palavras assassinas internalizadas", e se constituem em
programas, ordens e comandos para o nosso cérebro, que passa a funcionar de
acordo com elas. E isto faz com que seja muito mais difícil tratar com as
dificuldades, adversidades, desafios e oportunidades que encontramos, pois
acabam influenciado expressivamente os nossos pensamentos, emoções e ações e,
consequentemente, os resultados que conseguimos na vida.
Tudo começa
pelo pensamento, ou como já dizia Buda, há mais de dois mil anos: "tudo o
que somos é resultado do que pensamos". Portanto, se você quiser
administrar sua vida, comece pela administração dos seus pensamentos. O fato é
que os nossos pensamentos influenciam não somente os resultados que obtemos,
mas também nossos batimentos cardíacos, pressão arterial, neurotransmissores e
hormônios que são ativados e, como decorrência, o nosso sistema imunológico e
saúde. Ou como já dizia um ditado popular: "quando a cabeça não pensa, o
corpo padece".
Assim sendo,
a questão das palavras assassinas é de importância fundamental, e devemos ter
consciência não só de suas consequências, mas também de como as internalizamos
e de como tratar com elas.
Para
começar, nada melhor do que apreender por contraste, ou seja, com o que os
estímulos positivos podem fazer por uma pessoa. E o exemplo de Jack Welch,
considerado o executivo do século XX, pode ser muito elucidativo. Quando
criança, Welch era gago e sua mãe, ao invés de dizer coisas negativas a
respeito de sua gagueira, ou deixá-lo ansioso, resignificou e disse que a
gagueira era sinal de que ele era muito inteligente, pensava muito rápido e as
palavras não podiam acompanhar o seu pensamento. Ou seja, ele não era gago, mas
um pessoa muito inteligente, que pensava rápido. E este, e muitos outros
estímulos e lições que recebeu de sua mãe, foram extremamente importantes na
sua vida e carreira profissional, pois lhe deram grande confiaça, autoestima e
paixão por vencer. É por isto que Welch relata que a morte de sua mãe foi uma
das dores mais profundas que sentiu em toda sua existência.
Já os
estímulos negativos e frases assassinas, podem até gerar depressão e aquilo que
é conhecido como desamparo adquirido, ou seja, a mais completa falta de
esperança, e ainda o chamado temor antecipatório, isto é, medo do futuro.
Vejamos alguns exemplos de frases assassinas que foram ditas ao longo
da história:
·
Em 1878, a Western Union rejeitou os direitos sobre a
patente do telefone com a seguinte declaração: "Que uso a empresa poderia
fazer desse brinquedo elétrico?"
·
Em 1899, Charles H. Duell, comissário do U.S. Office of
Patents, num relatório para o presidente McKinley – argumentando que o Patents
Office deveria ser abolido: "Tudo o que podia ser inventado já foi
inventado."
·
"Quem, diabos, quer ouvir atores falando!", foi o
que disse Harry Warner, presidente da Warner Brothers (1927).
·
Em 1945, Vannevar Bush, um assessor presidencial, avisou:
"A bomba atômica nunca vai explodir, e estou falando com um expert em
explosivos".
·
"Os grupos com guitarras estão acabando". Decca
Records, ao dispensar os Beatles (1962).
·
"Não existe razão para que qualquer indivíduo tenha um
computador em casa". Fabricante de computadores (1977).
E isto é apenas uma pequena mostra de frases, cuja principal
característica é a de condenar antes de compreender, ou seja, o julgamento
precipitado. Mas não precisamos ir muito longe, pois todo dia, continuamos
ouvindo muitas frases assassinas, tais como:
·
Desculpe, mas isso é uma droga
·
O último que apareceu com essa ideia não está mais aqui
·
Não se mexe em time que está ganhando
·
A gente nunca fez nada igual a isso
·
Não vai vender
·
Isto não é nenhuma novidade e só vai criar problemas
E com
certeza, você pode acrescentar inúmeros outros exemplos. E como tratar esta
questão extremamente relevante, que em última instância importa na
administração dos nossos próprios pensamentos? Algumas coisas, entre elas as
seguintes:
O que pessoas que
foram grandes criadores e inventores fizeram para conviver e superar
Akio Morita,
por exemplo, que foi o criador e presidente da Sony, depois de ter idealizado o
"walkman", constatou que os técnicos da empresa não mostraram nenhum
entusiasmo pela ideia e não queriam implementá-la, apelando para as desculpas
números 4 e 5. Morita não gostou da dúvida e resolveu implementar a ideia assim
mesmo, dizendo: "desisto da presidência se não vendermos 100 mil aparelhos
até o final do ano". E o "walkman" acabou se tornando um grande
sucesso mundial.
Ter consciência da
existência das frases assassinas internalizadas
Assim, é
útil recorrer a John Whitmore, um famoso coach: "Eu só posso controlar
aquilo de que tenho consciência. Aquilo de que não tenho consciência me
controla. A consciêcia me fortalece". Portanto, devemos ter consciência
não só das frases assassinas que nos são ditas, mas também de como funiconam na
nossa mente e de suas consequências.
Saber como tratar
com o jogo interno
E para
abordar com a questão, nada melhor do que a história de um velho índio, que ao
descrever seus conflitos internos disse:
"Dentro
de mim existem dois cachorros, um deles é cruel e mau. O outro é muito bom e
dócil e eles estão sempre brigando". Quando então lhe perguntaram qual dos
cachorros ganharia a briga, o sábio índio parou, refletiu e respondeu:
"Aquele que eu alimentar".
Ou seja, nós
temos diálogos internos que nos ajudam e nos levam para o sucesso, mas também
aqueles que levam para a derrota e para o fracasso, e são os denominados
sabotadores internos. Portanto, é essencial saber o que focar e não alimentar
os diálogos internos negativos. Mas isto não significa negar a realidade.
Assim, se houver formigas no seu jardim, de nada adianta ficar repetindo frases
do tipo "pensamento positivo", tais como: "meu jardim é lindo,
meu jardim é lindo", pois o máximo que você vai obter será um lindo
formigueiro.
Saber entrar em
estados mentais e emocionais ricos de recursos
Existem
algumas técnicas, mas uma delas é conhecida por resignificação. É o exemplo da
história de três operários que estavam fazendo uma mesma obra e quando lhes
perguntaram o que estava fazendo, responderam respectivamente: estou assentando
pedras; estou fazendo uma escada; estou construindo uma catedral. Assim sendo
encontrar significados positivos para as coisas da vida é fundamental e, acima
de tudo, funciona. E foi o que a mãe de Jack Welch fez. Ele não era gago, mas
uma pessoa muito inteligente e que pensava muito rápido.
A prática da
meditação pode ajudar
Eu
particularmente, aprecio a "atenção plena", conforme a proposta do
médico americano Jon Kabat-Zinn, professor da Universidade de Massachusetts.
A oração da
sabedoria
"Dai-me
força, coragem e competência para mudar o que pode ser mudado. Paciência para
aceitar o que não pode ser mudado. E sabedoria para distinguir uma coisa da
outra".
Assim sendo,
sabedoria, lucidez e discernimento são fundamentais. Sem elas, o resto é o
resto. Afinal, e em última instância, tudo o que somos na vida são consequências
de nossas decisões e escolhas. Mas é sempre bom ter presente que a verdadeira
decisão importa em ação e é ai que também entram as palavras assassinas que
fazem as pessoas procrastinarem. Portanto, é preciso sair do círculo vicioso
para entrar no círculo virtuoso e isto só se faz com a administração dos
próprios pensamentos.
Texto de José Augusto - Fonte:www.administradores.com.br