Não é muito difícil constatar a
distância entre o discurso de analistas de bancos de investimentos globais
sobre a situação da economia brasileira e as ações concretas, no Brasil, das
casas financeiras. A conversa é a de que o Brasil saiu de moda para os
investidores, que estão agora se voltando para o México. As ações efetivas
mostram atividade febril no País, não só em fusões e aquisições, mas também na
implantação de novos negócios no mercado brasileiro.
Dois argumentos recorrentes
aparecem nas avaliações públicas de que o Brasil saiu do foco dos investidores.
O primeiro é o baixo crescimento do momento. O outro é o estilo
intervencionista do governo Dilma Rousseff. No miolo da análise, projeções
comparativas do esperado desempenho favorável da economia mexicana ante
hipóteses mais pessimistas para o Brasil, nos próximos dez anos.
Faz parte do conjunto teórico que
dá adeus ao suposto outrora “queridinho” dos investidores, além desses itens
mais insistentemente apontados, uma avaliação negativa da considerada excessiva
dependência da economia brasileira aos humores da economia chinesa. A
expectativa de uma desaceleração mais forte na China leva ao raciocínio de que
o Brasil poderá enfrentar problemas no setor externo, com o previsível recuo
nas cotações internacionais de commodities, segmento em que o País, exportador
de primeira grandeza, colheu até agora importantes e robustos resultados.
É verdade que aumentou o grau de
intervenção na economia brasileiro e, ao mesmo tempo, cresceu também o nível de
protecionismo. Também é verdade que o aumento dos custos de produção industrial
na China ajudou a tornar mais competitivas as exportações mexicanas de
manufaturados, enquanto a perspectiva de queda nas cotações de commodities, sem
dúvida, afeta, negativamente, o setor externo brasileiro. Em favor do México
também é anotada a recuperação ainda fraca e lenta, mas visível, de setores da
economia americana, vizinha e principal parceira dos mexicanos, para o bem e
para o mal.
Tem só um probleminha nisso tudo.
Os condutores das nuvens de gafanhotos financeiros, que zanzam pelos mercados à
procura de ganhos gordos e com poucos riscos, se “esquecem” de incluir em suas
análises alguns novos e cruciais elementos, mais recentemente introduzidos na
economia brasileira. Caso da desvalorização cambial, do corte da taxa básica de
juros a níveis reais muito mais próximos dos praticados nos demais mercados e
dos controles de capitais por meio do Imposto de Operações Financeiras.
Com esses novos elementos, as
aplicações típicas de mercado financeiro, no Brasil, perderam, é óbvio, muito
das vantagens antes oferecidas a capitais externos. A bolsa de valores fica
mais volátil e o fluxo de recursos de fora para a renda fixa se retrai. O
mesmo, porém, não se pode dizer dos investimentos no setor produtivo, no qual
alguns desses novos elementos, ao contrário, operam como evidentes fatores de
atração. Com a moeda local mais desvalorizada, os ativos em reais ficam mais baratos
e, com juros menores, o custo do capital, captado internamente, também se
reduz.
No fim das contas, o número de
fusões e aquisições, com participação de capital externo, em 2012, é recorde.
De janeiro a agosto, já foram fechados negócios que representam 25% a mais do
que o movimento de todo o ano anterior e o precedente. E é quase o dobro do
número de negócios efetivados há seis anos. A indústria voltada para o mercado
interno e o consumo de massas, ao lado dos serviços, continua exercendo atração
merecida dos investidores em ativos reais.
Entre fatos e versões, o que na
realidade ocorre, no momento, é uma explosão de investimentos estrangeiros
diretos (IED), no Brasil. Com todas as adversidades listadas pelos oráculos das
casas de investimento globais – aqueles mesmos que, na grande maioria, são
craques em prever o passado, errar as projeções do futuro e permanecer
perplexos com os acontecimentos do presente –, o volume de IED estimado para
ingressar em 2012, em torno de US$ 60 bilhões, não dá sinais de que será
diferente do que aportou em 2011 e, provavelmente, do que virá em 2013.
O Brasil continua, assim, nos
primeiros postos da lista dos destinos preferenciais dos capitais externos,
entre as economias emergentes. Deixar de ser o “queridinho” dos investimentos
mais especulativos, nessas circunstâncias, é um bom negócio.
Texto de José Paulo Kupfer - Do Estadão