Ele começou aos 12 anos vendendo
coxinha de porta em porta. Hoje, Francis Maris Cruz é o presidente de uma das
maiores redes de revendas de automóveis e motos do país. O Grupo Cometa, só em
2011, alcançou a venda de mais de 40 mil motocicletas.
No entanto, o que realmente chama
atenção no executivo não é a sua ascensão na carreira, mas sim, os diferentes
ingredientes que trouxe para a administração da empresa e ajudaram a se
consolidar no mercado. Todos os 1.200 funcionários, por exemplo, que leem um
livro por mês – e entregam uma resenha – recebem o 14° salário no fim do ano.
Além disso, implementou um
projeto audacioso chamado de Universidade Cometa. Nele, oferece um MBA em
Gestão de Concessionárias aos seus funcionários. Há também bibliotecas em todas
as lojas do Grupo e diversos projetos sociais que vão desde o plantio de
árvores frutíferas na casa das famílias carentes, alfabetização de adultos a
sessões de filmes para crianças moradoras de cidades em que o cinema mais
próximo ultrapassa mil quilômetros.
"A ideia não é dar o peixe,
mas sim, ensinar a pescar. Esse é o nosso lema", ressalta Francis, que
também foi eleito o próximo prefeito da cidade de Cáceres (MT). O
Administradores.com conversou com o executivo para entender melhor todo esse modelo
de gestão diferenciado do Grupo Cometa. Leia, abaixo, a entrevista.
Sua história começou aos 12 anos vendendo
coxinha. Como foi essa trajetória até chegar ao presidente do Grupo Cometa?
Meu pai era motorista de
caminhão, mas chegou uma época em que o dono do caminhão vendeu o transporte e
ele ficou desempregado. Então, minha mãe começou a fazer coxinhas e salgadinhos
para meus irmãos e eu vendermos na rua. Nessa época, começou nosso trabalho
como vendedor de porta em porta. Com isso, as coisas foram melhorando e a
família acabou comprando um bar.
Em 1970 mudamos para outra
cidade. Quando chegamos lá, o carro quebrou e faltavam peças. Acabou surgindo a
ideia de abrir uma autopeças. Então, sem experiência nenhuma, a família
embarcou com a cara, a coragem e a loucura. No início não vendia nada, foi
difícil e acabamos vendendo roupas nessa época também para ir sobrevivendo.
Até que a autopeças foi
melhorando e 1984 conseguimos ter 10 lojas nesse setor. Na época, a gente tinha
um consórcio para um fusca e eu acabei trocando ele por uma moto. Minha mãe
tinha achando um absurdo. "Como você troca um carro 0 km por uma moto?
Você que é visto como um cara que saber fazer negócios". Isso de alguma
forma despertou o meu interesse e acabei mandando uma correspondência para a
Honda, para abrirmos uma concessionária aqui na cidade. No primeiro momento não
deu certo, só depois de muito tempo conseguimos abrir a primeira loja. O
negócio foi dando certo, fomos crescendo e consolidando o negócio na região. Hoje,
temos 11 revendas Honda, três Volkswagen e duas revendas Hyundai, além de
propriedades rurais.
Você tem uma iniciativa com livros bastante
peculiar com seus funcionários, que envolve um 14º salário. Você pode nos
explicar como funciona e como surgiu essa ideia?
Toda vez que você tem uma
deficiência, você procura suprir de uma maneira. Em nosso caso, tínhamos uma
deficiência em achar pessoas com nível superior, pessoas já formadas. Diante
disso, precisávamos capacitar nossos funcionários. Então, além deles
participarem de todos os cursos, treinamentos, congressos, nós fizemos esse
projeto dos livros. Instituímos que todo o colaborador deveria ler um livro por
mês e entregar um resumo.
Então, a loja atingindo as metas,
o funcionário recebe o 14º salário e até o 15º salário. O detalhe é que para o
funcionário receber, ele tem que ter ler os 12 livros e entregar os resumos.
Isso é uma maneira de incentivá-los para que leiam e estejam sempre se
atualizando. É uma formação pessoal e profissional muito boa que tem dado
ótimos resultados. Isso ajudou os nossos colaboradores a crescerem muito. Só
para você ter uma ideia, 99% dos nossos gerentes começaram de baixo, são prata
da casa, e foram desenvolvendo suas habilidades.
É uma iniciativa direcionada para todos os
funcionários?
Sim. Para todos. Cada loja tem
uma biblioteca de 200 a 300 livros disponíveis para uso comum, o que torna uma
oportunidade intelectual para o crescimento de cada um.
Qual é a média de adesão dos funcionários
com essa iniciativa?
A média de leitura é muito alta,
aproximadamente 95% dos funcionários. Enfim, temos uma confraternização, onde
celebramos os aniversariantes do mês. E nesses momentos, fazemos o sorteio de
10 colaboradores para comentarem sobre o seu livro e dizer o que acharam.
Inclusive, há muitos colaboradores que, mesmo não sendo sorteados, pedem para
falar sobre o livro que leram.
Outra ação que chamou bastante atenção foi
a Universidade Cometa. Vocês fizeram um MBA em Gestão para seus funcionários?
A cada trimestre eles têm uma
matéria e aí os funcionários vão recebendo um suporte daquilo que vem no dia a
dia do trabalho. É um MBA de formação de administradores de concessionárias. Eu
fui dar uma palestra recente em Curitiba e todo mundo reclamando que não
encontra funcionário capacitado no mercado e que não acha para contratar. E me
perguntaram como fazemos isso já que estamos sempre abrindo novas lojas em
expansão. E a resposta é: nós formamos. Nós investimos pesado na formação
deles, e é o que nos tem dado tranquilidade, pois às vezes o funcionário recebe
propostas até maiores do que pagamos, mas ele prefere permanecer.
Fora isso, há também projetos
socioambientais como o incentivo a plantar árvores e cinema. Você pode nos
contar mais detalhes sobre esses projetos que fazem?
Temos o projeto Cometa Educação,
aonde o professor vai à casa do aluno e dá aula. É uma parceria com a UNEC e os
alunos de Pedagogia. Tem o Cometa Fortificar, que é um projeto ecológico de
plantio de árvores, onde plantamos árvores frutíferas na casa das famílias
carentes.
Tem ainda o Cine Cometa, onde
levamos os alunos de escolas municipais e estaduais para assistir filmes em
nossos auditórios. Depois da sessão, eles fazer um trabalho em grupo sobre as
mensagens principais do filme para que ampliem sua percepção. É servido até
pipoca, refrigerante, enfim, para que aconteça o aspecto lúdico do cinema.
Temos o Cometa Solidariedade que
é de doação de motocicletas para entidades. Enfim, temos vários projetos, como
a Inclusão Digital, o Cometa Redação que, de alguma maneira, vem colaborando
para o crescimento da comunidade. A ideia não é dar o peixe, mas sim, ensinar a
pescar. Esse é o nosso lema.
Notamos que existe uma
preocupação muito grande com os colaboradores. Poderíamos dizer que essa é o
segredo de sucesso de grandes empresas, pelo menos o seu? Dar uma grande
atenção aos funcionários...
Sem sombra de dúvida. Você não
consegue desenvolver um sonho sozinho. É preciso que você tenha pessoas, que
estejam ao seu lado e que acreditem. Aquelas que estejam dispostas a lutar
junto com você. É isso o que faz o sucesso do Projeto Cometa. O tripé
colaboradores, ética e clientes bem atendidos está permitindo abrirmos novas
lojas e crescermos.
Você conhece bem como administrar uma
empresa privada e acabou de ser eleito prefeito na cidade de Cáceres. O que
você acredita que dá para extrair da administração privada para aplicar na
administração publica?
Eu pretendo levar esse sistema de
gestão e valorização que nós temos para administração pública. A ideia é que
eles se motivem e trabalhem com afinco, para que também sejam reconhecidos pela
sociedade como bons prestadores de serviço. É acabar com aquela imagem que todo
funcionário público que é vagabundo e não trabalha. Nós precisamos mudar essa
imagem. É isso que vou propor na prefeitura: que os servidores trabalhem com
empenho no atendimento da população para que tenhamos um resultado satisfatório
e consigamos fazer uma boa administração.
Por Fábio Bandeira de Mello,
www.administradores.com