Para vencer a inflação em 2013 e
garantir poder de compra, teremos que conhecer e praticar novas formas de
investimento. Tenho insistido nesse ponto e a razão é óbvia: juros em patamares
historicamente baixos (aplicações conservadoras rendendo menos) e inflação fora
do centro da meta significam rentabilidade real cada vez menor.
Tomemos, por exemplo, a caderneta
de poupança como uma referência. Seu rendimento foi menor que a inflação
oficial (IPCA) de setembro a dezembro do ano passado. Segundo calculou o jornal
Valor Econômico, quem investiu R$ 1 mil na poupança em 31 de junho de 2012,
fechou o ano com poder de compra equivalente a R$ 996,40.
Diante deste cenário desafiador,
é de se supor que os investidores estejam preocupados e dispostos a conhecer
aplicações mais rentáveis. Preocupados, tenho certeza de que estão, mas daí a
decidir por uma realocação de seu patrimônio é uma longa estrada.
A decisão de migrar passa por
alguns aspectos enraizados em nossa cultura de investimentos e no funcionamento
do sistema financeiro como um todo. Cito alguns destes quesitos abaixo:
1. A busca por liquidez imediata
Dizer ao cliente que seu dinheiro precisa ficar “travado” em
determinada aplicação por períodos que vão de 30 dias a dois anos não é uma
tarefa fácil. O brasileiro é desconfiado e dinheiro trancado em instituições
financeiras significa risco de confisco, abuso ou mesmo perigo de simplesmente
desaparecer.
Os receios ao investir são
válidos e têm razão de existir (basta lembrar de nossa história recente), mas é
hora de investir no momento presente. Isso significa parar de pensar em
dinheiro com medo de problemas, mas investir de forma inteligente apesar do medo.
Ou seja, fazendo um correto e eficiente gerenciamento de risco (diversificando,
garantindo uma reserva de emergência, sendo mais arrojado e por ai vai).
2. Investimento com (boa) rentabilidade
garantida (sem custos, nem impostos)
A caderneta de poupança não é algo que existe apenas no Brasil, uma
aberração, como algumas pessoas gostam de apontar, mas ela tem um forte impacto
na cultura de investimentos criada e mantida nos lares brasileiros. Sua
facilidade e comodidade são vantagens inexistentes em outras aplicações e isso
serviu para criar laços fortes e duradouros.
Além da poupança, investimentos
em fundos de renda fixa renderam bastante (dois dígitos) durante muitos anos e
sempre foram largamente divulgados e ofertados pelos grandes bancos. E o brasileiro
decidiu-se corretamente, afinal de contas não havia sentido arriscar-se por ai
se os retornos eram tão bons nos produtos conservadores.
3. Oferta de produtos e concentração bancária
Aqui as opiniões costumam divergir bastante, já que muitos acreditam
que a concorrência bancária no Brasil é “feroz”, enquanto outros defendem que
há muito “jogo de compadres”. A minha preocupação aqui não vem do fato de
termos menos de dez bancos realmente grandes e com a vasta maioria dos
correntistas, mas do fato de que a maioria deles nem sempre oferece produtos de
investimento adequados ao perfil de seus clientes.
O fato é que por uma série de
fatores, tais como ignorância do próprio investidor, necessidade de cumprir
metas por parte dos gerentes, imposição dos bancos e características dos
produtos (taxas altas, aportes altos para investir etc.), nem sempre temos
acesso ao produto adequado ao nosso perfil. O resultado costuma ser um
investimento mal feito, muitas vezes apressado e sem muita análise.
4. Baixa renda e, consequentemente, baixa
capacidade de poupança
Não tem jeito, quando a gente ganha pouco fica difícil destinar alguma
coisa para os investimentos. Apesar da discussão em torno do “ganha pouco” ser
subjetiva e interessante (ora, é sempre possível economizar e investir, ainda
que bem pouco), a realidade da maioria dos brasileiros é de renda crescente,
mas com média ainda muito baixa.
Dessa forma, separar uma parcela
da renda para investir não se torna uma prioridade. Para complicar ainda mais,
quem consegue fazer esse sacrifício dificilmente encontra produtos de
investimento interessantes para suas pequenas quantias poupadas – a decisão
quase sempre é colocar na caderneta de poupança.
Falta educação financeira?
Eu diria que sim, a educação financeira é um ponto crucial para
uniformizar o acesso à informação e aos detalhes relacionados à melhores e mais
interessantes modalidades de investimento. No entanto, ela não é a única
solução, ou aquela que fará a maior diferença.
Lidar melhor com as finanças não
é uma ação que possui métodos e passos que todos podem reproduzir. Não há um
manual, um guia, mas sim experiências compartilhadas e boas práticas. Arrisco-me a dizer que a formação
de um investidor mais consciente é um processo que contempla:
Cidadania. O relacionamento entre
familiares e o bom senso para com os outros e a formação de patrimônio dão o
tom nos lares onde há equilíbrio e prioridades bem definidas. Não custa lembrar
que aprendemos muito mais pelo exemplo que pelas palavras. Ou seja, precisamos
melhorar muito a nossa relação com as pessoas, sociedade e governos;
Boa formação. É preciso saber se
comunicar, seja para que uma boa negociação seja conduzida, ou para que um
contrato possa ser analisado com mais cautela e cuidado. Algumas contas simples
também precisarão ser feitas para o orçamento e na hora de decidir onde colocar
o dinheiro. Ou seja, precisamos ter educação de qualidade, investir em
aprendizado contínuo e de mais leitura;
Disciplina. Eu sempre abordo a
zona de conforto e nossa acomodação quando falo de finanças, então serei mais
uma vez repetitivo. Não se prenda na falsa sensação de que a força de vontade o
levará mais longe e que a iniciativa abrirá portas e apresentará melhores
oportunidades. Tais comportamentos são apenas fugas e artimanhas usadas para
justificar o que deveríamos realmente fazer: insistir. O esforço continuado, em
doses pequenas (mas frequentes), é o que nos leva ao que desejamos.
Você é o que interessa!
Trabalhar nossas qualidades
pessoais tem um peso muito grande nas decisões financeiras que tomamos, embora
isso não pareça lógico. O propósito deste texto foi colocar você, caro leitor e
investidor, diante da necessidade de rever seus conceitos sobre investimento,
mas primeiro olhando para o que você considera saber sobre o tema.
Em outras palavras, esqueça, pelo
menos no começo, a tendência de buscar informações sobre o “melhor
investimento” ou onde conseguirá “mais rentabilidade”. Comece analisando suas
decisões de investimento tomadas até hoje, observando seu perfil (arrisca,
prefere terceirizar seus investimentos, gosta de números e contas etc.) e só
então passe para as alternativas.
A partir daí fará sentido
analisar opções como Tesouro Direto, fundos multimercado, Letras de Crédito
Imobiliário (LCI), Debêntures, fundos de ações, investimento direto em ações
via home broker, previdência privada, etc.
O artigo talvez motive-o a migrar
parte de seus investimentos ou a simplesmente começar a investir. Faça isso
depois de definir objetivos e relacionar seu estilo de vida com as aplicações
disponíveis, mas a partir de agora considerando que os juros caíram e a
inflação anda assustando.
Por Conrado Navarro – dinheirama.com
– R7