quinta-feira, 17 de maio de 2012

A lição da Grécia



Tratados como europeus de segunda classe, os gregos deram uma lição de democracia. Mais fortes do que governos e instituições estrangeiras que tentaram transformar o país numa colônia, os gregos foram às urnas e recusaram a oferta de comprometer seu futuro e o das próximas gerações para manter o bônus dos grandes bancos e o luxo dos amigos.

Deram um “não” à austeridade.  Mandaram para casa políticos que se submeteram aos banqueiros e, meses atrás, deram um golpe na democracia ao impedir o país de fazer um plebiscito sobre o pacote econômico do Goldman Sachs, do governo de Angela Merkel e do FMI.

As eleições poderiam ter sido antecipadas já naquele tempo mas evitou-se a acorrida às urnas na esperança de diminuir a indignação.

A situação política do país confirma uma velha lição, atribuída a Abraham Lincoln, o político que aboliu a escravidão nos Estados Unidos: é até possível enganar algumas pessoas por muito tempo e também é possível enganar todas por algum tempo – mas não é possível enganar todo mundo por todo tempo.

A maioria dos analistas acredita que a Grécia pode deixar a zona do euro e os mercados já vivem um ambiente de alarme em função disso.

Parece provável. É o preço pela arrogância de quem imaginou que seria possível aplicar uma política econômica medieval sem provocar a reação da população.

Depois de invadir o país com seus créditos baratos e mercadorias capazes de destruir a já frágil produção local, os governos europeus queriam convencer a Grécia a sacrificar-se sem levar nada em troca — nem agora nem amanhã.

A reação veio na primeira oportunidade, num dos países mais pobres do Velho Mundo, habitado por cidadãos que, preconceituosamente, foram chamados de aproveitadores e preguiçosos.

Num continente onde oito (ou já foram nove?) governos foram derrubados depois da crise, o caso grego é um recorde. O novo governo caiu antes de ser formado.

A reação grega é um exemplo do que pode ocorrer na Europa, caso a política de austeridade seja mantida, como deseja o governo alemão, o Goldman Sachs e todos aqueles amigos de sempre.