quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Sete pontos acerca da Líbia


Doravante mesmo os cegos podem ver e compreender o que está em curso na Líbia:

1. O que se passa é uma guerra promovida e desencadeada pela OTAN. Esta verdade acaba por se revelar até mesmo nos órgãos de “informação” burgueses. No La Stampa de 25 de Agosto, Lucia Annunziata escreve: é uma guerra “inteiramente externa, ou seja, feita pelas forças da OTAN”; foi “o sistema ocidental que promoveu a guerra contra Gaddafi”. Uma peça do International Herald Tribune de 24 de Agosto mostra-nos “rebeldes” que se regozijam, mas eles estão comodamente instalados num avião que traz o emblema da OTAN.

2. Trata-se de uma guerra preparada desde há muito tempo. O Sunday Mirror de 20 de Março revelou que “três semanas” antes da resolução da ONU já estavam em ação na Líbia “centenas” de soldados britânicos, enquadrados num dos corpos militares mais refinados e mais temidos do mundo (SAS). Revelações ou admissões análogas podem ser lidas no International Herald Tribune de 31 de Março, a propósito da presença de “pequenos grupos da CIA” e de uma “ampla força ocidental a atuar na sombra”, sempre “antes do desencadeamento das hostilidades a 19 de Março”.

3. Esta guerra nada tem a ver com a proteção dos direitos humanos. No artigo já citado, Lucia Annunziata observa com angústia: “A OTAN que alcançou a vitória não é a mesma entidade que lançou a guerra”. Nesse intervalo de tempo, o Ocidente enfraqueceu-se gravemente com a crise econômica; conseguirá ele manter o controle de um continente que, cada vez mais frequentemente, percebe o apelo das “nações não ocidentais” e em particular da China? Igualmente, este mesmo diário que apresenta o artigo de Annunziata, La Stampa, em 26 de Agosto publica uma manchete a toda a largura da página: “Nova Líbia, desafio Itália-França”. Para aqueles que ainda não tivessem compreendido de que tipo de desafio se trata, o editorial de Paolo Paroni (Duelo finalmente de negócios) esclarece: depois do início da operação bélica, caracterizada pelo frenético ativismo de Sarkozy, “compreendeu-se subitamente que a guerra contra o coronel ia transformar-se num conflito de outro tipo: guerra econômica, com um novo adversário: a Itália obviamente”.

4. Desejada por motivos abjetos, a guerra é conduzida de modo criminoso. Limito-me apenas a alguns pormenores tomados de um diário acima de qualquer suspeita. O International Herald Tribune de 26 de Agosto, num artigo de K. Fahim e R. Gladstone, relata: “Num acampamento no centro de Tripoli foram encontrados os corpos crivados de balas de mais de 30 combatente pró Gaddafi. Pelo menos dois deles estavam atados com algemas de plástico e isto permite pensar que sofreram uma execução. Dentre estes mortos, cinco foram encontrados num hospital de campo; um estava numa ambulância, estendido numa maca e amarrado por um cinturão e tendo ainda uma transfusão intravenosa no braço”.

5. Bárbara como todas as guerras coloniais, a guerra atual contra a Líbia demonstra como o imperialismo se torna cada vez mais bárbaro. No passado, foram inumeráveis as tentativas da CIA de assassinar Fidel Castro, mas estas tentativas eram efetuadas em segredo, com um sentimento de que se não é por vergonha é pelo menos de temer possíveis reações da opinião pública internacional. Hoje, em contrapartida, assassinar Gaddafi ou outros chefes de Estado não apreciados no Ocidente é um direito abertamente proclamado. O Corriere della Sera de 26 de Agosto de 2011 titula triunfalmente: “Caça a Gaddafi e seus filhos, casa por casa”. Enquanto escrevo, os Tornado britânicos, aproveitando também a colaboração e informações fornecidas pela França, são utilizados para bombardear Syrte e exterminar toda a família de Gaddafi.

6. Não menos bárbara do que a guerra foi a campanha de desinformação. Sem o menor sentimento de pudor, a OTAN martelou sistematicamente a mentira segundo a qual suas operações guerreiras não visavam senão a proteção dos civis! E a imprensa, a “livre” imprensa ocidental? Ela, em certo momento, publicou com ostentação a “notícia” segundo a qual Gaddafi enchia seus soldados de viagra de modo a que eles pudessem mais facilmente cometer violações em massa. Como esta “notícia” caiu rapidamente no ridículo, surge então uma outra “nova” segundo a qual os soldados líbios atiram sobre as crianças. Nenhuma prova é fornecida, não se encontra nenhuma referência a datas e lugares determinados, nenhuma remessa a tal ou tal fonte: o importante é criminalizar o inimigo a liquidar.

7. Mussolini, no seu tempo, apresentava a agressão fascista contra a Etiópia como uma campanha para libertar este país da chaga da escravidão; hoje a OTAN apresenta a sua agressão contra a Líbia como uma campanha para a difusão da democracia. No seu tempo Mussolini não cessava de trovejar contra o imperador etíope Hailé Sélassié chamando-o “Negus dos negreiros”; hoje a OTAN exprime seu desprezo por Gaddafi chamando-o “ditador”. Assim como a natureza belicista do imperialismo não muda, também as suas técnicas de manipulação revelam elementos significativos de continuidade.

Para clarificar quem hoje realmente exerce a ditadura a nível planetário, ao invés de citar Marx ou Lénine quero citar Emmanuel Kant. Num texto de 1798 (O conflito das faculdades), ele escreve: “O que é um monarca absoluto? Aquele que, quando comanda: ‘a guerra deve fazer-se’, a guerra seguia-se efetivamente”. Argumentando deste modo, Kant tomava como alvo em particular a Inglaterra do seu tempo, sem se deixar enganar pela forma “liberal” daquele país.

É uma lição de que devemos tirar proveito: os “monarcas absolutos” da nossa época, os tiranos e ditadores planetários da nossa época têm assento em Washington, em Bruxelas e nas mais importantes capitais ocidentais.

Texto de Domenico Losurdo extraído do Correio do Brasil dia 31 de agosto de 2011. Domenico é jornalista.
O original encontra-se em http://domenicolosurdo.blogspot.com/; com a versão em francês em http://www.legrandsoir.info/sept-points-sur-la-libye.html. Também foi reproduzido no portal http://resistir.info/.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Estado Palestino: muitas fronteiras a serem estabelecidas


Em setembro, ao que tudo indica, a Assembleia Geral da ONU preparará o reconhecimento do estado palestino, dentro das chamadas fronteiras da Linha Verde (1967). Os palestinos deram passos políticos internos decisivos, de unificação e de reunião sob a OLP, para obterem esse reconhecimento. A “justiça social”, a “primavera árabe” de longa duração e o movimento internacional dos palestinos comparecem, na atual conjuntura, como miragens desejosas de habitarem um horizonte.

Desde o começo de agosto, milhares, em alguns momentos centenas de milhares de israelenses tomaram as ruas do país lutando por “justiça social”. O protesto foi puxado por uma alta de aproximadamente 50% no valor das moradias (tanto para compra e venda como para locação), em Israel, nos últimos dois anos. Acampados em barracas e pedindo a saída de Netanyahu, trabalhadores, classe média baixa e estudantes fizeram coro com os sem teto, na luta pela construção de moradias públicas, populares e pela diminuição no custo de vida do país.

Dentre os que ocuparam as ruas havia e há – os protestos continuam – os que associam e os que não associam a conjuntura econômica e social de Israel com a ocupação dos territórios palestinos. Em meio a uma das maiores manifestações de rua da história de Israel, na segunda semana de agosto, havia moradores de assentamentos ilegais, para onde escoa boa parte dos recursos orçamentários do estado, além do orçamento da defesa.

Reduzir ou cortar o orçamento para os assentamentos ilegais e nos gastos militares e reinvestir os fundos públicos no estado de bem estar social, atualmente parasitado por uma elite neoliberal estão no centro da agenda dos manifestantes. A associação do mal estar, causados pelo desemprego, pelos baixos salários e pelo alto custo de vida com o preço econômico da ocupação militar e territorial dos palestinos, no entanto, não parece comparecer sequer na agenda da chamada social democracia israelense, hoje representada pelo Partido Trabalhista, que tem entre suas lideranças mais promissoras um quadro parlamentar para quem os assentamentos não são um problema correlato à crise econômica e social que tem levado milhares às ruas do país [Ler: Líder trabalhista não vê assentamentos como crime].

Em setembro, ao que tudo indica, a Assembleia Geral da ONU preparará o reconhecimento do estado palestino, dentro das chamadas fronteiras da Linha Verde (1967). [Ler: Embaixador de Israel na ONU: não há como interditar reconhecimento de Estado palestino] . Os palestinos deram passos políticos internos decisivos, de unificação e de reunião sob a OLP, para obterem esse reconhecimento. Enfrentam uma grave crise econômica e não está nem de perto claro qual será o destino dos milhões de refugiados palestinos na proposta de acordo encabeçada por Abbas [Ler: Professor adverte sobre riscos para refugiados palestinos].

Na prática, é possível que a declaração da ONU não leve a grandes mudanças e, pior, que Israel a utilize para recuperar o status quo [Ler: Os planos da direita israelense para "restaurar o status quo"]. Assim, o país seguirá utilizando o expediente retórico e político de se dizer sem interlocutor, seguirá desrespeitando as decisões e recomendações da comunidade internacional e perseverará na construção de assentamentos, preferencialmente para comunidades ultra ortodoxas, em territórios palestinos, estabelecendo como que um cinturão de fanáticos religiosos e de elementos de uma direita bélica e paranoide, cercando a Israel legal, em nome de um delírio expansionista, eventualmente com um temerário e assombroso fundamento religioso [Ler: Novos assentamentos: Israel não precisa de um "lebensraum"].

As vozes críticas, isto é, que estabelecem as conexões e não lidam com os fatos a despeito de sua história são poucas e de certa idade. Talvez esse seja um dos elementos mais melancólicos para quem é de esquerda e sabe o que Israel significou para gerações de militantes antirracistas, antimilitaristas, socialistas e humanistas liberais, no pós Segunda Guerra. Há também ex-diplomatas israelenses nos EUA que defendem a viabilidade do retorno à Linha Verde, além da pequena esquerda israelense.

A decisão pelo recuo de Israel ao seu status legal, conforme aos ditames das Nações Unidas e na iminência do reconhecimento do estado palestino conta ainda com outros complicadores. Se essa possibilidade é real, no sentido de que é algo mais forte do que apenas um preceito inteligível e mensurável - em termos de compensações financeiras, rearranjos urbanísticos e no âmbito dos serviços públicos -, ela também depende do estado das coisas no mundo árabe.

E o fato é que os palestinos que lideram a proposta, quer dizer, os grandes grupos políticos da palestina (Fatah, Hamas e AlMubadara, respectivamente) não contam com aliados certos e firmes dentre as lideranças dos países Árabes. O Irã já disse que Israel deve ser varrido do mapa, o governo sírio, que vem aplicando mão de ferro para esmagar os protestos por democracia no seu país chegou a bombardear um campo de refugiados palestino ; o Egito, com a escalada de violência no sul de Israel e frente ao que se tornou o Sinai, depois da queda de Mubarak, não está em posição de garantir grande apoio, mesmo que o faça. O Iraque não existe, pelo menos por um bom tempo, como um país soberano. Quer dizer, a Liga Árabe apoia, como um todo, a causa palestina, mas quando se observa de perto, vê-se que esse apoio é menos decisivo e homogêneo do que poderia ser, coisa que, a despeito da primavera árabe, não configura novidade alguma. O Líbano apoia, mas o Hezbollah já disse que os palestinos não devem abrir mão nem de um grão de areia.

Ao norte, na fronteira com o Líbano, e ao sul, na fronteira com o Egito, há focos de tensão a partir dos quais pode haver escalada de violência. O governo de Netanyahu, que tem um ser como Avigdor Lieberman como ministro de Relações Exteriores, enfrenta insatisfação interna e se prepara para setembro com expedientes demagógicos e manobras legais que secundarizam explicitamente o conceito de Israel como democracia [Ler: Israel está oficialmente abrindo mão da democracia?]. E o embaixador estadunidense em Israel já avisou que os EUA vetarão a proposta palestina, do jeito que ela está.

O ato fundacional de um estado pode não ser um ato em si mesmo legítimo, enraizado em costumes ou derivado de uma longa história. Disso não se segue que estados só se originem à força, obviamente. Mas se segue que sem o estabelecimento de uma lei originária, de um fundamento normativo, presente e positivo, não há garantia, no limite, da existência mesma do próprio estado. É por isso que, neste momento, a fundação de Israel aparece revisitada em boa parte das análises críticas sobre o estado das coisas no país [Ler: Para que haja paz, Israel precisa reconhecer dor palestina).

Porque o seu ato fundador parece sempre em aberto, não concluso, enquanto o debate sobre as fronteiras permanecer como fator de desentendimento, violação de direitos e opressão.

O território é um dos requisitos, segundo a doutrina do direito internacional público, para todo e qualquer reconhecimento de um estado. O povo, a história e, contemporaneamente, a democracia, são outros requisitos, além da língua. O que ata a fundação do Estado de Israel à fundação do Estado Palestino nunca esteve tão próximo e nunca foi tão equivalente, em termos de fragilidade política. Os palestinos, pode-se objetar, são obviamente muito mais frágeis e militarmente desqualificados frente às Forças de Defesa de Israel. É verdade; mas também é verdade que Israel enfrenta crises mais profundas e enfraquecedoras do que os palestinos. Para Israel a crise é social, é governamental, está na oposição, na relativa distância do seu aliado de primeira hora (os EUA), atualmente imerso na própria e difícil agenda e na sua falta de autoridade moral.

Tudo se passa como se, finalmente, os acontecimentos tenham tornado a íntima e necessariamente íntima vinculação entre palestinos e israelenses auto evidente. A hipótese remota de que o estado palestino e o estado israelense coadunem um modo de existir pacífico, em acordo com a comunidade internacional e com relativo financiamento de bem estar para os seus povos (inclusive os hoje refugiados), a cada requisito elementar preenchido – mesmo como hipótese remota -, parece mais utópica e ingênua. A “justiça social”, a “primavera árabe” de longa duração e o movimento internacional dos palestinos comparecem, na atual conjuntura, como miragens desejosas de habitarem um horizonte. Caso esse horizonte se apresente, afinal, como um só, então pode ser que algo concreto seja reconhecido, e então se tenha uma alternativa, como defendeu o professor e historiador Tony Judt, que defendeu a retomada da tese da esquerda socialista europeia e israelense, nos anos 60 (em sua maior parte, judia) de um estado republicano, laico, único, binacional.

Para uma miragem ou outra, muitas fronteiras, além de território, terão de ser estabelecidas.

Fonte: Carta Maior

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A história do Iraque se repetirá na Líbia?


A natureza imprevisível da guerra na Líbia implica que as palavras raramente sobrevivam ao momento em que são escritas. O que Kadafi deverá estar pensando agora? Com sua visão enviesada e astuta do mundo líbio, ele poderia sobreviver para prosseguir um conflito civil-tribal e assim consumir os novos amigos líbios do Ocidente no pântano da guerra de guerrilhas e debilitar pouco a pouco a credibilidade do novo poder.

Condenados sempre a travar a guerra passada, voltamos a cometer o mesmo velho pecado na Líbia. Muammar Kadafi desaparece logo depois de prometer lutar até a morte? Não é a mesma coisa que fez Saddam Hussein? Quando Hussein desapareceu e as tropas estadunidenses sofreram suas primeiras baixas ante à insurgência iraquiana, em 2003, foi nos dito – pela boca do pró-cônsul estadunidense Paul Brenner, dos generais, dos diplomatas e dos decadentes especialistas da televisão – que os combatentes da resistência eram fanáticos, desesperados que não se davam conta de que a guerra havia terminado.

E se Kadafi e seu filho sabichão seguem em fuga – e se a violência não termina – quanto tempo vai levar para que outra vez nos apresentem aos desesperados que não entenderam que os rapazes de Bengasi estão no poder agora e que a guerra terminou? De fato, não menos do que 15 minutos – literalmente – depois de ter escrito as palavras acima (às 14 horas de quarta-feira), um repórter da Sky News reinventou a palavra “fanáticos” para definir os homens de Kadafi.

Inútil dizer que tudo é para o bem no melhor dos mundos possíveis, no que diz respeito ao Ocidente. Ninguém descarta o exército líbio e ninguém proscreve os kadafistas de um papel futuro no país. Ninguém cometerá os mesmos erros que cometemos no Iraque. E não há tropas em terra.

Nenhum zumbi encerrado em uma zona verde ocidental, cercada por muralhas, tenta dirigir o futuro da Líbia. “É assunto dos líbios” tornou-se o refrão de toda manifestação do Departamento de Estado/Escritório de Política Exterior/Quai d’Orsay. “Nós não temos nada a ver com isso”.

Mas, desde logo, a presença massiva de diplomatas ocidentais, representantes de magnatas do petróleo, mercenários ocidentais de altos salários e obscuros militares britânicos e francês – todos simulando ser conselheiros e não participantes – conforma a Zona Verde de Bengasi.

Pode ser que não estejam (ainda) rodeados de muralhas, mas o fato é que eles governam por meio dos distintos heróis e pilantras locais que se estabeleceram como senhores políticos. Podemos passar por cima do assassinato de seu próprio comandante – por alguma razão, ninguém menciona mais o nome de Abdul Fatá Yunes, apesar de ele ter sido liquidado há apenas um mês em Bengasi -, mas eles só podem sobreviver se permanecerem com o cordão umbilical preso ao Ocidente.

Esta guerra, é preciso dizer, não é a mesma que nossa perversa invasão do Iraque. A captura de Saddam só levou a resistência a multiplicar os ataques contra as forças ocidentais porque aqueles que, até então, se recusavam a participar da insurgência por medo de que os EUA voltassem a colocar Saddam no governo, perderam essas inibições. Na verdade, a prisão de Kadafi, junto com a de Saif, precipitaria sem dúvida o final da resistência dos seguidores do ditador. O verdadeiro temor do Ocidente neste momento – ainda que isso possa mudar à noite ou amanhã – é a possibilidade de que o autor do Livro Verde tenha conseguido chegar até Sirte, onde a lealdade tribal pode ser mais forte que o medo de uma força líbia respaldada pela OTAN.

Sirte – onde Kadafi, no início de sua ditadura, converteu os campos de petróleo da região no primeiro dividendo internacional para os investidores logo depois de sua revolução de 1969 – não é Tikrit. É a sede da primeira grande conferência da União Africana, a escassos 30 quilômetros da cidade natal de Kadafi: uma cidade e uma região que receberam enormes benefícios de seu governo de 41 anos. Strabo, o geógrafo grego, escreveu que os pontos dos assentamentos no deserto, ao sul de Sirte, converteram a Líbia em uma pele de leopardo. Kadafi deve ter gostado dessa metáfora.
Quase dois mil anos depois, Sirte era o ponto de união entre as colônias italianas de Tripolitania e Cirenaica.

Em Sirte os rebeldes foram derrotados pelas forças leais a Kadafi na guerra de seis meses travada este ano. Sem dúvida, teremos que mudar essas ridículas etiquetas: os que apoiam o pró-Ocidente Conselho Nacional de Transição terão que ser chamados de leais e os rebeldes partidários de Kadafi se tornarão os terroristas que poderão atacar a nossa amiga nova administração líbia. Seja como for, Sirte, cujos habitantes se supõe estejam negociando agora com os inimigos de Kadafi, poderia rapidamente aparecer entre as cidades mais interessantes da Líbia.

O que Kadafi deverá estar pensando agora? Acreditamos que está desesperado, mas, será que está mesmo? No passado, escolhemos muitos adjetivos para qualificá-lo: irascível, demente, perturbado, magnético, incansável, obstinado, estranho, estadista (Jack Straw descreveu-o assim), críptico, exótico, louco, idiossincrático e – em datas mais recentes – tirano, assassino e selvagem. Mas com sua visão enviesada e astuta do mundo líbio, Kadafi poderia sobreviver – para prosseguir um conflito civil-tribal e assim consumir os novos amigos líbios do Ocidente no pântano da guerra de guerrilhas – e debilitar pouco a pouco a credibilidade do novo poder do governo de transição.

A natureza imprevisível da guerra na Líbia implica que as palavras raramente sobrevivam ao momento em que são escritas. Talvez Kadafi esteja escondido em um túnel debaixo do hotel Rixos ou esteja relaxando em uma das casas de campo de Robert Mugabe. Duvido. Enquanto isso, a ninguém ocorre travar a guerra anterior a esta.

Fonte: Carta Maior

domingo, 28 de agosto de 2011

Carta às esquerdas

Não ponho em causa que haja um futuro para as esquerdas mas o seu futuro não vai ser uma continuação linear do seu passado. Definir o que têm em comum equivale a responder à pergunta: o que é a esquerda? A esquerda é um conjunto de posições políticas que partilham o ideal de que os humanos têm todos o mesmo valor, e são o valor mais alto. Esse ideal é posto em causa sempre que há relações sociais de poder desigual, isto é, de dominação. Neste caso, alguns indivíduos ou grupos satisfazem algumas das suas necessidades, transformando outros indivíduos ou grupos em meios para os seus fins. O capitalismo não é a única fonte de dominação mas é uma fonte importante.

Os diferentes entendimentos deste ideal levaram a diferentes clivagens. As principais resultaram de respostas opostas às seguintes perguntas. Poderá o capitalismo ser reformado de modo a melhorar a sorte dos dominados, ou tal só é possível para além do capitalismo? A luta social deve ser conduzida por uma classe (a classe operária) ou por diferentes classes ou grupos sociais? Deve ser conduzida dentro das instituições democráticas ou fora delas? O Estado é, ele próprio, uma relação de dominação, ou pode ser mobilizado para combater as relações de dominação?

As respostas opostas as estas perguntas estiveram na origem de violentas clivagens. Em nome da esquerda cometeram-se atrocidades contra a esquerda; mas, no seu conjunto, as esquerdas dominaram o século XX (apesar do nazismo, do fascismo e do colonialismo) e o mundo tornou-se mais livre e mais igual graças a elas. Este curto século de todas as esquerdas terminou com a queda do Muro de Berlim. Os últimos trinta anos foram, por um lado, uma gestão de ruínas e de inércias e, por outro, a emergência de novas lutas contra a dominação, com outros atores e linguagens que as esquerdas não puderam entender.

Entretanto, livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua vocação anti-social. Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas para evitar a barbárie. Como recomeçar? Pela aceitação das seguintes ideias.

Primeiro, o mundo diversificou-se e a diversidade instalou-se no interior de cada país. A compreensão do mundo é muito mais ampla que a compreensão ocidental do mundo; não há internacionalismo sem interculturalismo.

Segundo, o capitalismo concebe a democracia como um instrumento de acumulação; se for preciso, ele a reduz à irrelevância e, se encontrar outro instrumento mais eficiente, dispensa-a (o caso da China). A defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas.

Terceiro, o capitalismo é amoral e não entende o conceito de dignidade humana; a defesa desta é uma luta contra o capitalismo e nunca com o capitalismo (no capitalismo, mesmo as esmolas só existem como relações públicas).

Quarto, a experiência do mundo mostra que há imensas realidades não capitalistas, guiadas pela reciprocidade e pelo cooperativismo, à espera de serem valorizadas como o futuro dentro do presente.

Quinto, o século passado revelou que a relação dos humanos com a natureza é uma relação de dominação contra a qual há que lutar; o crescimento económico não é infinito.

Sexto, a propriedade privada só é um bem social se for uma entre várias formas de propriedade e se todas forem protegidas; há bens comuns da humanidade (como a água e o ar).

Sétimo, o curto século das esquerdas foi suficiente para criar um espírito igualitário entre os humanos que sobressai em todos os inquéritos; este é um patrimônio das esquerdas que estas têm vindo a dilapidar.

Oitavo, o capitalismo precisa de outras formas de dominação para florescer, do racismo ao sexismo e à guerra e todas devem ser combatidas.

Nono, o Estado é um animal estranho, meio anjo meio monstro, mas, sem ele, muitos outros monstros andariam à solta, insaciáveis à cata de anjos indefesos. Melhor Estado, sempre; menos Estado, nunca.

Com estas ideias, vão continuar a ser várias as esquerdas, mas já não é provável que se matem umas às outras e é possível que se unam para travar a barbárie que se aproxima.

Texto de Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).

Fonte:O escrevinhador - http://www.rodrigovianna.com.br

Salários dos políticos - Hitler trabalhava de graça


A leitura de “Hitler,” a colossal biografia de Ian Kershaw, contém ensinamentos importantes para os observadores da vida pública de qualquer país.

Ajuda a ter uma idéia do valor relativo de verdades que parecem definitivas e essenciais.Uma delas diz respeito aos salários de quem está na vida pública.

Desde que se tornou chanceler da Alemanha, em 1933, Adolf Hitler sempre viveu de suas rendas pessoas, obtidas com a venda de livros, donativos de empresários e verbas do Partido Nazista. Jamais cobrou um centavo do contribuinte. Ninguém vai achar que isso fazia de Hitler um político melhor, evidentemente.

Sempre de olho em lances de publicidade positiva como instrumento de governo, Hitler sabia que essa postura só iria ajudar a criar uma imagem simpática junto aos eleitores.

Impossível deixar de pensar nisso diante do debate sobre os salários e mordomias de nossos políticos e da alta burocracia do serviço público.

É certo que muitos recebem salários vergonhosos num país com a renda tão mal distribuída. É inaceitável que funcionários recebam salários mais altos do que a Constituição permite. Até hoje não entendo como algumas pessoas conseguem fazer isso. Ninguém tem medo de assinar um contracheque desses?

Convém fazer algumas ponderações, contudo.

Num país com imensas desigualdades, ocorrem dois fenômenos paralelos e inevitáveis, tanto no Estado como na iniciativa privada. Os salários baixos são muito baixos. Já os salários altos são, relativamente, muito altos. Falta classe média, como se sabe.

Outra verdade é que nos cargos mais altos, a iniciativa privada costuma superar, de longe, os salários pagos pelo Estado. Vem daí a dificuldade histórica para se contratar funcionários para os escalões superiores do governo.

A postura de quem acredita que dirigentes da administração pública devem necessariamente receber um salário mais baixo do que se paga no mercado reflete uma visão deformada do serviço público.

Este raciocínio nos leva a duas hipóteses. Ou a iniciativa privada comete desperdício com o pagamento de seus empregados, o que parece improvável como norma, ou o Estado estará sempre condenado a oferecer serviços de pior qualidade.

O debate sobre vencimentos no serviço público é necessário e precisa ser feito com realismo. Mas o risco de se enganar com simplificações é sempre grande, como demonstra o exemplo de Adolf Hitler.

Texto original de PAULO MOREIRA LEITE
Fonte:epocaglobo.com

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Pagar R$ 3 bi no amorzinho? Não dá

A discussão sobre financiamento de campanhas eleitorais ganha importancia especial por suas relações com a corrupção política.

Os argumentos de quem defende a manutenção do atual sistema de financiamento, que assegura a empresas privadas o direito de pagar pelos palanques de milhares de candidatos, o que lhes permite tentar cobrar favores e privilégios mais tarde, parecem pouco consistentes para alimentar uma discussão séria.

A base do argumento é assustar o eleitor com a ideia de que, caso o Congresso venha a aprovar o sistema de financiamento público exclusivo, as eleições serão pagas com o dinheiro de impostos. Fica subentendido que, se as novas regras forem aprovadas, os impostos podem subir.

Ninguém gosta das mordidas do Leão, é claro. Não se fez, ainda, um cálculo preciso sobre as despesas que teriam de ser cobertas.

Mas deve-se reconhecer que mesmo neste caso o financiamento público seria melhor. Seria mais barato e o dinheiro público estaria mais protegido contra ações delinquentes.

Na realidade, o cidadão comum já paga integralmente pelo custo das campanhas eleitorais. Apenas não se admite disso.

Isso porque o custo da generosidade das contribuições privadas é repassada para a população em superfaturamento, tráfico de influencia, serviços desnecessários e verbas desviadas. É um sistema caríssimo e ruim para o país. Mas muito eficiente para duas partes do negócio.

Os políticos, que querem construir máquinas milionárias de arrecadação capazes de acumular poder e muitas vezes separam uma fatia para seu enriquecimento, colhem benefícios imensos.

Empresas e personalidades interessadas em privatizar o poder de Estado também saem ganhando.

O eleitor é sacrificado. Pois os votos deixam de ter peso igual na urna, como determina a boa regra democrática. Alguns valem muito mais, não é mesmo?

Todos nós temos nossas preferencias políticas. Com um pouco de boa vontade, até seríamos capazes de dar um dinheiro para ajudar nossos candidatos a defender nossas idéias. Mas não custa cair na real e verificar o que está em jogo.

As ultimas eleições custaram R$ 3,2 bilhões só na contabilidade oficial. Isso porque, ao contrário do que acontece nos países onde há financiamento publico, cujo total é definido no orçamento, aqui não há limites para gastos nem receitas.

O partido arrecada tudo o que consegue e as empresas gastam aquilo que consideram adequado para seus negócios. É um investimento pesado e terá de ser cobrado, após a vitória. Não há amorzinho ideologico que pague uma conta dessas.

Texto de Paulo Moreira Leite
Fonte: http://colunas.epoca.globo.com

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Lições da luta contra a corrupção


Algumas verdades neste processo.

1- A mais importante é que não podemos pensar a corrupção como um aspecto externo de nosso sistema político. Ela está em seu interior, é parte do ar que nossos políticos — de todos os partidos — respiram. Não há político sem tesoureiro, não há tesoureiro sem caixa 2 e não há caixa 2 sem dinheiro sujo — seja fruto de sonegação fiscal, de pagamento de propina, da troca de favores prestados e assim por diante.

2- Outra lição importante é que boa parte das denúncias de corrupção tenta apresentar a luta política por idéias e interesses mais amplos como uma simples encenação sem sentido e sem impacto na economia e na vida da sociedade. Não é assim. Esta visão procura despolitizar a política.

3- Nosso sistema produz políticos semelhantes no sistema de financiar suas campanhas, mas que são diferentes nas propostas e projetos para o país. Tentar nivelar todos pelo mesmo termômetro equivale a prestar um desfavor à democracia.

4- Na semana em que se comemora os 50 anos da renuncia de Janio Quadros, convém recordar que o político que iniciou a carreira brandindo uma vassoura para limpar a corrupção foi enterrado por conta da empreiteira Andrade Gutierrez. Isso ajuda a sublinhar que, por trás da ambição de viver sob costumes honestos e aceitáveis parea todos, a denuncia da corrupção também se presta a manipulação política de um anseio justo.

5- Hoje em dia ocorre o seguinte: você denuncia a corrupção quando lhe convém, esconde quando interessa. Em geral nada faz de concreto para reduzí-la porque um dia pode vir a beneficiar-se dela, seja pelo financiamento de esquemas políticos, seja até pelo enriquecimento pessoal.

6- A existe a convicção de que a única forma de reduzir o grau de corrupção da política de um país é pelo corte de seu principal estímulo, que é a possibilidade de privatizar o poder de Estado. O problema central no Brasil não é falta de educação formal do povo. Nem que “nossos políticos” sejam mais condenáveis do que os outros. O problema é que nós não temos meios para defender a democracia diante dos grandes interesses econômicos que interferem indevidamente no jogo político. Este é o problema.

7- A corrupção pode ou não enriquecer políticos. Pode lhes dar aviões e mansões, passeios pela Europa, automóveis do ano ou mesadas permanentes até o fim da vida. Alguns corruptos vão se tornar milionários no meio do caminho. Outros vão apenas administrar um dinheiro que não lhes pertence e usá-lo para defender seus projetos. Mas a corrupção só existe porque permite o acesso privilegiado ao poder de Estado. Dessa forma, é um instrumento que sabota e prejudica a democracia, regime onde o poder soberano se encontra no voto, instrumento que em teoria está ao alcance de todos e faz de ricos e pobres, homens e mulheres, inteiramente iguais diante da urna.

8- No Brasil de hoje, a corrupção se faz com uma cobertura perfeita, que são as contribuições privadas de campanha. A lei autoriza que uma pessoa dê dinheiro a um candidato ao qual irá cobrar favores depois da eleição. O dinheiro privado das campanhas abre uma porta para quem paga mais — e isso é considerado não apenas legal, mas legítimo.É quase impossível tomar qualquer providência séria contra a corrupção sem uma mudança desta legislação que, na prática, oferece mais poder a quem paga mais. A força do poder econômico questiona o fundamento número 1 das democracias,que é a igualdade de oportunidade entre os candidatos.

Para refletir
Pela legislação atual, temos uma disputa injusta entre forças políticas, que sempre irá levar um político em desvantagem no mundo legal a procurar compensações ilegais para competir em melhores condições pelo voto. Por isso o financiamento público de campanha seria um meio de diminuir a corrupção. Permite um controle maior, uma prestação de contas mais séria e é mais transparente. Recursos públicos são distribuídos de acordo com o desempenho eleitoral de cada legenda, o que parece muito razoável, ainda que imperfeito.

O eleitor que diz que não quer que o dinheiro publico vá para os políticos está sendo ingênuo, pois o "dinheiro privado" nada mais é do que o dinheiro público desviado pela corrupção em obras, serviços e receitas públicos. O rastro das verbas que saem dos cofres dos financiadores de campanha, hoje, sempre aponta, mesmo que seja por caminhos mais sinuosos, para o bolso da população, que paga por obras superfaturadas, tráfico de influência e assim por diante.

Seria absurdo, é claro, cruzar os braços até que ocorra uma mudança legal. A punição dos responsáveis é um fator poderoso para dissuadir os candidatos a delinquentes. É por isso que mesmo países que tem um sistema de campanhas semelhante ao nosso, exibem um grau de corrupção aparentemente mais tolerável.

Mas não vamos nos iludir. Sempre que a lei institucionalizar uma disputa desigual entre candidatos, permitindo que o poder econômico seja o árbitro da competição, os menos favorecidos por qualquer razão irão atrás de recursos para alimentar suas fileiras. Isso acontece porque não estamos falando de dinheiro nem de ética. Estamos falando de poder.

Texto original de PAULO MOREIRA LEITE , http://colunas.epoca.globo.com de 23/08/2011

sábado, 20 de agosto de 2011

O pacto administrativo de Dilma

Para entender os últimos passos de Dilma Rousseff - reunindo-se com governadores tucanos e com o ex-presidente FHC.

Alguns jornais imaginam que ela esteja se apeoximando da oposição como reação ao suposto esfacelamento de sua base de apoio.

Vamos com calma.

A gestão de Dilma na Casa Civil - especialmente na condução do PAC - foi marcada pela consolidação do pacto federativo. Considerava-se - com razão - ser impossível administrar obras por todo o país sem a parceria com estados e municípios. Foi um pactgo que funcionou bem porque compartilhava-se inclusive os frutos políticos de cada inauguração.

E funcionava porque não havia privilégios partidários na alocação de recursos. Prefeitura ou estado com um projeto consistente entrava em cada programa.

Tome-se o caso do Minha Casa, Minha Vida, em que as próprias prefeituras definiam por elas próprias as empreiteiras a atuar em sua cidade.

Enquanto a velha mídia declarava guerra, no Brasil administrativo consolidava-se um modelo fundamentalmente cooperativo.

Nas eleições de 2006 julguei que a fase dos templários na política (senadores, incendiários em geral) seria substituída pela era dos Estadistas - governos de Estado empenhados em consolidar o pacto federativo. E dizia claramente que seria a maneira de José Serra consolidar sua imagem. Obviamente faltou grandeza política para que ele percebesse o novo momento.

Agora reedita-se o pacto tendo um conjunto de governadores civilizados, incluindo Alckmin, Anastasia, mais os governadores aliados.

Com essa aproximação, além de azeitar a gestão de projetos - o que será bom para todas as partes envolvidas e especialmente para o país - Dilma tenta esvaziar os incendiários, restritos a José Serra (cada vez mais isolado em seu próprio partido) e alguns órgãos de imprensa.

Foi imprudente quando trabalhou de forma precipitada as denúncias da mídia, quando se afastou de sua base.

Mas nada que não possa ser corrigido com o tempo.

Texto de Nassif www.advivo.com.b

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Como entender a Rússia de hoje


Quem tem a cabeça no século XX e ainda pensa ideologicamente nunca vai entender a Rússia de hoje. O poder hoje no país é exercido e disputado por grupos políticos que defendem interesses econômicos e não estão interessados nas velhas divisões marxistas de classe. O que esses grupos mais querem, além de acumular altos lucros, é dinamizar a economia da Rússia para afastar da população mais carente certa nostalgia dos tempos soviéticos, quando, acredita-se, o país crescia mais devido à competição com os Estados Unidos, motivada pela Guerra Fria.

Hoje, em Moscou, o que mais preocupa as autoridades é o futuro daquela que é a maior cidade da Europa, com mais de 10 milhões de habitantes. O prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin, e o governador da região de Moscou, Boris Gromov, andam às voltas com planos que prevêem a construção de um distrito financeiro internacional no distrito Oeste da cidade. Um desses projetos estabelece uma expansão de 144 mil hectares de terras na periferia de Moscou nos próximos 20 anos.

De acordo com esse plano de expansão dos limites da cidade, que está hoje nas mesas de Sobyanin e Gromov e do presidente Dimitri Medvedev, Moscou cresceria 2,4 vezes, cobrindo uma área de 251 mil hectares, em vez dos 107 mil atuais. Mas, mesmo sem o plano, a cidade já cresce a um ritmo intenso, pois onde quer que se vá vê-se prédios em construção tanto para fins residenciais como comerciais. Até porque mais e mais gente vem se instalando em áreas periféricas de Moscou, embora a maioria procure e encontre emprego no centro da cidade.

Duas áreas estão na mira dos planejadores: o distrito de Rublyovo-Arkhangeskoye, no Oeste da cidade, o lugar favorito da nova classe média alta, e Varshavskoye Shosse e Kievskoye Shosse, no Sudoeste. São áreas menos povoadas. Mas Rublyovo-Arkhangeskoye aparece como o lugar mais viável para se tornar esse centro financeiro internacional projetado para Moscou. Segundo os planos, deverá abrigar pelo menos dois milhões de moradores e oferecer emprego para pelo menos 10% da força trabalhadora de Moscou.

Financiar o projeto é o que mais preocupa as autoridades, mas, seja como for, boa parte do financiamento deve sair dos cofres do governo. Para tanto, pensa-se que o governo pode vender os escritórios que hoje ocupa no centro de Moscou, nos arredores da Praça Vermelha, onde está o Kremlin, com o objetivo de torná-los hotéis de três, quatro ou cinco estrelas.

O problema é que, segundo os especialistas, Moscou dispõe da pior infraestrutura entre as grandes cidades dos países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). De qualquer modo, a área de Rublyovo-Arkhangeskoye já oferece conexões com o centro de Moscou, embora o metrô moscovita seja muito antigo, se comparado, por exemplo, com o de São Paulo. É barulhento e extremamente abafado nos dias de verão. Além disso, precisa passar por reformas urgentes, já que, em muitas estações, as escadas rolantes não funcionam e as sinalizações em russo transformam o turista em barata tonta. Sem contar que, em algumas estações, as catracas são bem antigas.

Para se tornar uma capital turística com um centro financeiro internacional, Moscou precisa também domar a ânsia desenfreada por dinheiro de seus motoristas de táxi. Não há turista que não saia do aeroporto Domododevo com má impressão dos taxistas. Este articulista, em seu primeiro dia de Moscou, teve de pagar 500 rublos (30 reais) por uma corrida de menos de cinco minutos, que, no Brasil, não sairia por mais de 7 reais, da estação de metrô Yugo-Zapadnaya ao Hotel Astrus, na Leninskiy Prospect.

Pior ocorreu com um casal de franceses que se perdeu de seu grupo de viagem e ficou um bom tempo no aeroporto Domododevo sem saber o que fazer. Sem nenhum contato na cidade, sem reserva em hotel e sem falar uma palavra de russo, o casal passou pela pior experiência que Moscou pode oferecer: caiu nas mãos da máfia de taxistas.

Depois de 14 horas no aeroporto tentando obter informações, os franceses conseguiram dormir num hotel nas proximidades do Domododevo. Mas para levá-los do aeroporto ao hotel o taxista cobrou-lhes 5 mil rublos (321 reais). E, quando o francês recusou-se a pagar, teve de entrar em luta corporal com o taxista, o que lhe valeu escoriações e arranhões nos braços. A situação dos franceses só melhorou no dia seguinte quando eles conheceram, no balcão da Air Moldova, no aeroporto, o jornalista Olaf Koens, que fala francês. Koens contou a triste história do casal francês numa crônica publicada na edição de 15-18 de julho de 2011 do The Moscow News (pág. 15).

De qualquer modo, se os franceses soubessem falar pelo menos inglês, talvez tivessem tido melhor sorte. Tanto no aeroporto Domododevo como nas principais estações de trem de Moscou - são nove -, há postos de informação com atendentes que falam inglês. Basta dizer o destino a que se pretende ir para que a atendente informe antecipadamente o valor da viagem e chame um taxista autorizado. De preferência, deve-se pedir à atendente que escreva num papel o valor em rublos da viagem. Depois, é só exibi-lo ao taxista. É melhor tomar essa precaução porque pegar um táxi na rua é correr o risco de sofrer um constrangimento igual ao que passou o casal de franceses.

Até porque, em função de dificuldades financeiras, há muitas pessoas que usam o próprio automóvel como táxi. E não trabalham com taxímetro, cobrando de acordo com a cara do freguês. Em dias de calor, é comum ver-se taxistas trabalhando muito à vontade: de bermudas e chinelos. Muitos, inclusive, dispensam o uso do cinto de segurança. E, ao que parece, não correm riscos de sofrer multa por isso.

Olhando sob uma perspectiva macro para a Rússia pós-soviética, percebe-se que o país ainda carrega um pesado fardo histórico deixado pelo antigo regime - burocracia, corrupção e fragilidade das instituições, além de certa vulnerabilidade econômica. Além disso, há quem veja na era Putin-Medvedev um retrocesso em relação às reformas liberais empreendidas por Boris Yeltsin a partir de julho de 1991, quando o presidente assinou a lei de privatização de moradias, garantindo a propriedade àqueles que já moravam no mesmo apartamento desde os anos 70.

De início, houve uma explosão nos preços dos imóveis e muita especulação. Máfias atuaram nesse mercado, forçando muitos moradores desfavorecidos a deixar suas casas. Mas a situação hoje parece normalizada, ainda que os prédios de apartamentos residenciais de áreas mais próximas ao centro Moscou, que foram construídos dentro de áreas verdes, mostrem-se, na maioria, em situação crítica, exibindo janelas em condições precárias. Sem contar o espetáculo um tanto deprimente dos fios que passam de um prédio para outro.

Na época stalinista, os locais e prédios mais próximos do centro de Moscou eram os de maior prestígio e mais valorizados, mas hoje já não é assim. Casas que mais parecem pequenos castelos começaram a ser levantadas em locais mais distantes do centro, inclusive, em áreas próximas do aeroporto Domodedovo.

Hoje, quem manda na Rússia são alguns oligarcas-burocratas que se deram bem com as reformas de Yeltsin: dominam os negócios privados com o beneplácito do poder público. Há cada vez maior conexão entre a esfera dos negócios privados e a esfera política. Em outras palavras: há uma interpenetração cada vez mais intensa entre o capital e o Estado. Aqueles que usufruem desses negócios, geralmente, são os proprietários dos carrões modernos que se vêem estacionados nas avenidas do centro de Moscou. O partido Rússia Unida (Yedinaya Rossiya), que domina o Parlamento, tem apoiado algumas intervenções do Estado sobre a economia.

O que se discute hoje nas ruas é a iniciativa do primeiro-ministro Vladimir Putin, que foi presidente de 2000 a 2008, de articular a formação de um bloco de livre comércio entre Rússia, Belarus e Cazaquistão, que muitos já começam a chamar de "mini-União Soviética". Desde o dia 1º de julho, já não há maiores exigências alfandegárias nas fronteiras entre esses países: os cidadãos ainda têm de exibir seus passaportes, mas já não pagam taxas aduaneiras para passar com mercadorias.

Desde janeiro, trabalhadores e empresas de serviços podem atuar indiferentemente nos três países. Mas no Cazaquistão e em Belarus já surgiram protestos contra essa zona de livre comércio: os preços da gasolina são diferentes nos três países e começou a haver uma entrada excessiva de carros de segunda mão.

Há planos para a formação de uma União Econômica Euroasiática, que poderia começar a funcionar no início de 2013. Seria, na verdade, uma restauração do antigo espaço soviético, mas dentro de moldes capitalistas. Não está em discussão a restauração da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), mas maior inter-relação entre as nações do antigo bloco.

O Cazaquistão, por exemplo, dispõe de três milhões de metros cúbicos de reservas de gás, a que a Rússia poderia ter maior acesso, desde que desse uma contrapartida, permitindo que os empresários daquele país colocassem seus produtos no seu mercado interno. Como o país tem crescido nos últimos anos, a popularidade de Putin continua em alta e não será difícil que venha a suceder Medvedev na presidência. Nesse caso, a formação desse bloco estaria assegurada.

Fonte: Pravda e blog GeoPlítica

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Novas universidades e institutos federais vão abrir 850 mil vagas


A abertura de 250 mil vagas de ingresso nas universidades federais e de 600 mil matrículas nos institutos federais de educação, ciência e tecnologia, em 2014, é um dos resultados que a presidenta da República, Dilma Rousseff, espera alcançar com a terceira fase da expansão universitária e profissional, anunciada nesta terça-feira, 16.
O acesso à educação e ao conhecimento, segundo a presidenta, deve ser maciço, inclusivo e sistemático, para que jovens e trabalhadores possam dele se beneficiar em todos os recantos do país. O esforço do governo federal, na sua visão, busca superar décadas de atraso e preparar a nação para o futuro.

“Em dois anos, só a Petrobrás vai gerar uma demanda de 230 mil técnicos em petróleo e gás”, explicou Dilma. Mas o Brasil, avisou, também precisa de quadros preparados para atender setores internacionais de alta tecnologia que estão aqui chegando.

A terceira etapa da expansão da educação superior compreende a criação de quatro universidades federais que serão instaladas no Pará, no Ceará e na Bahia e a abertura de 47 câmpus universitários. Desses câmpus, 20 serão instalados até 2012 e os outros 27, até 2014. Já a expansão da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica terá 208 novas unidades, distribuídas em municípios dos 26 estados e no Distrito Federal.

Para executar o programa, o governo federal vai investir cerca de R$ 7 milhões por unidade de educação profissional e R$ 14 milhões no caso de câmpus universitário. Segundo o ministro da Educação, Fernando Haddad, esse é o valor mínimo para iniciar as atividades.

De acordo com Haddad, as novas universidades, os câmpus e as unidades de educação profissional que começam a ser construídos no governo de Dilma Rousseff atendem critérios técnicos de reparação de uma injustiça histórica de muitas décadas, que isolou populações do acesso à educação e ao conhecimento.

“A terceira fase da expansão universaliza o atendimento aos Territórios da Cidadania”, explicou, “que são áreas de concentração populacional com pouco acesso aos bens mais necessários.”

Segundo Haddad, dos 120 territórios da cidadania, 117 serão atendidos agora. Os três restantes, que têm população menor, serão incluídos na próxima etapa. O G 100, grupo que reúne 103 cidades com mais de 80 mil habitantes e menos de R$ 1 mil de investimento per capita por ano, também será beneficiário da expansão. Segundo o ministro, 83 cidades do G 100 estão incluídas. “Promover a educação, a saúde, a cultura, somando esforços de diversos ministérios, foi o caminho escolhido pelo governo federal para erradicar a pobreza.”

Critérios – Para definir o número de câmpus universitários e de escolas de educação profissional por estado, o governo federal orientou-se por uma série de critérios, entre os quais estão os baixos índices de desenvolvimento da educação básica (Ideb) e a porcentagem de jovens de 14 a 18 anos nas séries finais do ensino fundamental. Na escolha dos municípios a serem contemplados, considerou a universalização do atendimento aos territórios da cidadania, a alta porcentagem de extrema pobreza, municípios ou microrregiões com população acima de 50 mil habitantes e os municípios com arranjos produtivos locais (Apl).

MEC Assessoria de Imprensa

terça-feira, 16 de agosto de 2011

O Brasil Central é a China brasileira para os próximos anos", diz consultoria

Atualmente, o Brasil Central responde por 35% da produção nacional de alimentos e por 18% das exportações do País, porém, sofre com a ausência de modais eficientes de transporte para o escoamento da produção até os portos, o que faz com que os produtores gastem três vezes mais com transporte da safra que os produtores do Meio-Oeste americano.

"Apesar da importância dessa região, é lamentável perceber que a infraestrutura que pensamos para o Centro-Oeste até 2020 não vai acontecer e as federações de agricultura têm que estar unidas para cobrar uma resposta do Governo Federal para melhorar esse cenário. Essa região é um novo Pré-Sal brasileiro", disse Paulo Rabelo de Castro.

RISCOS DO AGRONEGÓCIOS
Durante o evento, o diretor de Commodities da BM&F Bovespa, Ivan Wedekin, alertou os produtores que "a agricultura não é uma ilha, mas é cercada de riscos por todos aos lados. Riscos de contratos, que ainda são muito verbais; riscos de crédito, que ainda são burocráticos para liberação e tem juros altos; e riscos de preços", enumerou. Ele apontou, como saída para esses riscos, que o produtor se previna comprando seguros de preços e informou que a Bolsa está trabalhando para criação de uma indústria de contratos para formalizar os negócios do agronegócio.

CANA-DE-AÇÚCAR
O presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Marcos Sawaya Jank, foi outro convidado do evento. Ele relatou que a indústria da cana-de-açúcar está em plena expansão no Centro-Oeste e contou que os industriais do setor estão focados em ampliar sua participação no mercado mundial. Para isso, foram abertos escritórios da Unica na Europa e nos Estados para promover a imagem do etanol, além de uma campanha em emissoras americanas mostrando que o álcool de cana-de-açúcar não polui o meio ambiente e tem custo menor do que a gasolina. "Até o momento, já temos 43 usinas brasileiras registradas para oferecer álcool para a Califórnia, estado americano que tem o dobro de carros do Brasil", frisou.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Nove mandamentos para ação política na atualidade

I – Não comprarás os Representantes do Povo
Enquanto não tivermos financiamento público das campanhas políticas,prevalecerão os interesses econômicos de curto prazo, os desastres ambientais e a corrupção. Os agentes políticos são assediados, ora por empresários, ora por outros políticos para participarem das falcatruas.


II – Não Ganharás Dinheiro público estatal de forma ilícita
Não se apropriar ilicitamente de dinheiro público/estatal através de recebimentos ilegais e indevidos dos entes públicos, não praticar a pequena e nem a grande corrupção no dinheiro público, não usar a infraestrutura pública/estatal para enriquecimento e favores a outros, para cobrança futura desse favor


III – Não Farás Contas erradas
As contas públicas têm de refletir os objetivos que visamos, temos de evoluir para uma contabilidade integrada dos resultados efetivos dos nossos esforços, e particularmente da alocação de recursos financeiros, em função de um desenvolvimento que não seja apenas economicamente viável, mas também socialmente justo e ambientalmente sustentável, além disso, devemos exigir total transparência das contas públicas dos níveis: municipal, estadual.


IV – Não Tributarás Boas Iniciativas
A filosofia do imposto, de quem se cobra, e a quem se aloca, precisa ser revista. Uma política tributária equilibrada na cobrança, e reorientada na aplicação dos recursos, constitui um dos instrumentos fundamentais de que dispomos, sobretudo porque pode ser promovida por mecanismos democráticos. O eixo central não está na redução dos impostos, e sim na cobrança socialmente mais justa e na alocação mais produtiva em termos sociais e ambientais.
O poder redistributivo do Estado é grande, tanto pelas políticas que executa – por exemplo, as políticas de saúde, lazer, saneamento e outras infra-estruturas sociais que melhoram o nível de consumo coletivo – como pelas que pode fomentar, como opções energéticas, inclusão digital e assim por diante.


V – Não Reduzirás o Próximo à Miséria
Algumas coisas não podem faltar a ninguém. A pobreza crítica é o drama maior, tanto pelo sofrimento que causa em si, como pela articulação com os dramas ambientais, o não acesso ao conhecimento, a deformação do perfil de produção que se desinteressa das necessidades dos que não têm capacidade aquisitiva.


VI – Não Privarás Ninguém do Direito de Ganhar o seu Pão
Universalizar a garantia do emprego é viável. Toda pessoa que queira ganhar o pão da sua família deve poder ter acesso ao trabalho. Num planeta onde há um mundo de coisas a fazer, inclusive para resgatar o meio ambiente, é absurdo o número de pessoas sem acesso a formas organizadas de produzir e gerar renda.
A dimensão de geração de emprego de todas as iniciativas econômicas tem de se tornar central. Assegurar a contribuição produtiva de todos, ao mesmo tempo em que se aumenta gradualmente o salário mínimo e se reduz a jornada, leva simplesmente a uma prosperidade mais democrática.


VII – Não Viverás para o Dinheiro
A mudança de comportamento, de estilo de vida, não constitui um sacrifício, e sim um resgate do bom senso que possa ter uma política que envolva também uma mudança de comportamento individual e da cultura do consumo.
Grande parte da mudança do comportamento individual depende de ações públicas: as pessoas não deixarão o carro em casa (ou deixarão de tê-lo) se não houver transporte público, não farão reciclagem se não houver sistemas adequados de coleta. Precisamos de uma política pública de mudança do comportamento individual.


VIII – Não Privarás o Próximo do Direito ao Conhecimento
Travar o acesso ao conhecimento e às tecnologias sustentáveis não faz o mínimo sentido. A participação efetiva das populações nos processos de desenvolvimento sustentável envolve um denso sistema de acesso público e gratuito à informação necessária. A inclusão digital generalizada é um destravador potente do conjunto do processo de mudança que hoje se torna indispensável.


IX – Não Controlarás a Palavra do Próximo
Democratizar a comunicação tornou-se essencial. A comunicação é uma das áreas que mais explodiu em termos de peso relativo nas transformações da sociedade.
A indústria da comunicação, com sua fantástica concentração internacional e nacional - e a sua crescente interação entre os dois níveis - gerou uma máquina de fabricar estilos de vida, um consumismo obsessivo que reforça o elitismo, as desigualdades, o desperdício de recursos como símbolo de sucesso.


Texto baseado no artigo de Ladislau Dowbor do blog:amigosdopresidenteLula

domingo, 14 de agosto de 2011

Alemanha relembra 50 anos do Muro de Berlim


A Alemanha comemorou, sábado - 13 de agosto, os 50 anos desde a construção do Muro de Berlim, quando o lado leste (comunista) fechou suas fronteiras, dividindo a cidade em dois durante 28 anos e partindo famílias ao meio.

A cerimônia em memória desse marco começou com a leitura dos nomes de 136 berlinenses que morreram tentando cruzar o muro.

O presidente alemão, Christian Wulff, disse que o muro é agora parte da história, e que o país está estabelecido em segurança como uma nação unificada.

A construção da barreira remete aos primeiros anos da Guerra Fria, quando Berlim Ocidental era o caminho escolhido por milhares de berlinenses orientais para fugir rumo à democracia do oeste.

Em resposta, autoridades da Alemanha Oriental construíram, na noite de 13 de agosto de 1961, uma muralha que rodeava totalmente o lado ocidental da cidade.

Pelas três décadas seguintes, Berlim se tornou um ponto de ebulição da Guerra Fria.
E, apesar de a barreira ter sido derrubada em 1989, é considerada até hoje um símbolo de divisões econômicas na Alemanha.

Veja mais informações acessando:
http://www.dw-world.de/dw/0,,12345,00.html?maca=bra-rubrik-google-adwords

sábado, 13 de agosto de 2011

Obama - EUA; O pior acordo do mundo


Governar para os ricos e esquecer-se dos mais pobres e da classe média era a acusação de Obama contra Bush e trilha sonora de seus empolgados discursos. Agora, tornou-se o veneno que o presidente Democrata bebe em uma taça e oferece em brinde ao povo americano.

A política dos Estados Unidos sofreu um profundo abalo. As consequências do malfadado acordo da dívida norte-americana ainda estão por vir, mas o fantasma da grande crise de 2008 e 2009 voltou a assombrar. Há sinais tétricos que, para alguns analistas, são o prenúncio de uma grande tempestade global.

O pior acordo do mundo é também o pior acordo para o mundo. Recessão, inflação, desemprego, quebradeiras. Mas é na política onde moram as maiores ameaças de choro e ranger de dentes.

Em 2008, havia retornado uma sensação que não era sentida desde 1929: a de que a economia americana não é nada previsível nem plenamente confiável. O rebaixamento feito por uma conhecida agência de risco é um efeito retardado. As agências começam a soar o alarme três anos depois do cadeado ter sido arrombado.

A crise que se abre a partir de agora derrama um outro ingrediente: os EUA não inspiram confiança em sua tão propalada estabilidade política. Enquanto se olha para as bolsas de valores e para as notas das agências, o elefante do movimento ultraconservador “Tea Party” voa sobre a cabeça de todos sem que muitos tenham ainda dado conta de seu peso.

O processo político adquiriu uma nova dimensão a partir do desenlace da negociação patrocinada por um presidente que se deixou fazer refém de uma minoria e não sabe como enfrentar suas ameaças. Guardadas as devidas proporções, Obama assinou seu Tratado de Versalhes. Assim como os comandantes alemães tentaram vender a ideia de que a humilhação de Versalhes era uma vitória de todos os que queriam o fim da I Guerra, custasse o que custou, Obama posa como satisfeito com o acordo que espantou o risco de “default”. Todavia, da forma como se livrou do calote, o presidente conjurou outros pesadelos.

O plano de contingência de Obama tinha algumas alternativas tradicionais, como a de simplesmente emitir mais dinheiro para pagar a dívida, uma solução precária, pois traria um elevado risco inflacionário. Entre a inflação e a recessão, Obama preferiu a segunda, com o desemprego como âncora.

A saída mais ousada seria invocar a décima quarta emenda da Constituição dos Estados Unidos como justificativa para aumentar o teto da dívida por decreto, sem pedir autorização ao Congresso. Obama descartou a opção alegando que seus advogados o haviam desaconselhado. É a demonstração cabal de que não percebeu o momento que está vivendo e não teve a postura de outros presidentes que, diante de conjunturas críticas agudas, tomaram decisões ousadas que levaram à reinterpretação das leis pela própria Suprema Corte daquele país. Também parece que não entendeu que a Presidência da República é algo importante demais para ser um assunto restrito a advogados.

Obama menos ainda parece ter entendido que o jogo partidário mudou com a entrada em cena do movimento “Tea Party”, cujas marcas registradas são a intolerância, o preconceito e a xenofobia. Seus representantes políticos são agressivos, armados e perigosos. Suas expressões de velhos vícios políticos aparecem embaladas sob a roupagem de uma defesa das “tradições americanas”.

O movimento controla uma parcela do Partido Republicano, mas tem demonstrado base social suficiente para desmoralizar iniciativas bipartidárias. Em situações que por lá são classificadas como de “governo dividido” (quando o presidente da República é de um partido, mas o Congresso tem maioria opositora), as soluções surgiam de acordos para se encontrar um meio termo. Com o avanço do “Tea Party”, parece que a brincadeira acabou.

Obama não considerou o “default” como uma possibilidade; o “Tea Party”, sim. O que isso quer dizer? Enquanto os ultraconservadores cogitaram levar o país ao calote, mantiveram a ofensiva e colocaram o presidente nas cordas, golpeando-o sem dó nem piedade. Ao recusar a hipótese como igualmente válida, Obama abriu a guarda. Antecipou sua posição de que qualquer coisa seria melhor que o calote.

Dias depois do acordo, já não se tinha tanta certeza. Descortinou-se um pessimismo absoluto em relação à possibilidade de recuperação da economia e melhoria das contas do setor público. Os EUA estão em dependência estrutural de déficits públicos elevados. No momento em que mais precisa injetar recursos na economia, sofre um dos mais pesados cortes de gastos de sua história.

Por que o calote não era de fato uma alternativa para Obama? A rigor, porque, nos EUA, trata-se de uma heresia em termos de receituário econômico. Mas há uma razão mais concreta. Fosse o calote uma opção, colocaria Obama diante do mesmo dilema: cobrar a conta dos ricos ou dos mais pobres? Numa situação de “default”, o presidente teria que decidir sobre uma diretriz essencial: qual a prioridade de gastos, com menos dinheiro que o necessário para custear todas as suas obrigações? Pagar juros da dívida e gastos de guerra? Ou destinar recursos para programas sociais e para financiar gastos da classe média? Adivinhe qual seria a escolha.

Erro crasso de avaliação é Obama achar que o acordo lhe permite uma reserva de combustível suficiente para se reabastecer nas próximas eleições. É como jogar o carro em ponto morto diante de uma ladeira. Pensa que poderá culpar os ultraconservadores pelos problemas que dobrarão de tamanho, a partir de agora. Sua plataforma de 2008, guardada como viola no saco, seria a mesma da próxima campanha.

Mas nem mesmo os Democratas estão convencidos disso. Metade de seus deputados votou contra o acordo. A outra metade votou a favor para garantir a aprovação. Os parlamentares que não marcaram posição contrária declararam-se publicamente constrangidos por aceitar uma situação que mostra que o governo optou pelos mais ricos e rifou os mais pobres.

Governar para os ricos e esquecer-se dos mais pobres e da classe média era a acusação de Obama contra Bush e trilha sonora de seus empolgados discursos. Agora, tornou-se o veneno que o presidente Democrata bebe em uma taça e oferece em brinde ao povo americano.

Texto de Antonio Lassance é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professor de Ciência Política. As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente opiniões do Instituto.

Fonte: Correio do Brasil

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Os Estados Unidos em decadência ?


A supremacia do poder corporativo sobre a política e a sociedade nos EUA chegou ao grau de que as formações políticas, que nesta etapa apenas se parecem com os partidos tradicionais, estão muito mais à direita da população nos principais temas em debate. Para o povo, a principal preocupação interna é o desemprego. Mas, para as instituições financeiras, a principal preocupação é o déficit. Ao triturar os restos da democracia política, as instituições financeiras estão lançando as bases para fazer avançar ainda mais este processo letal, enquanto suas vítimas parecem dispostas a sofrer em silêncio.

É um tema comum que os Estados Unidos, que há apenas alguns anos era visto como um colosso que percorreria o mundo com um poder sem paralelo e um atrativo sem igual (...) estão em decadência, enfrentando atualmente a perspectiva de uma deterioração definitiva, assinala Giacomo Chiozza, no número atual de Political Science Quaterly.

A crença neste tema, efetivamente, está muito difundida. Em com certa razão, se bem que seja o caso de fazer algumas precisões. Para começar, a decadência tem sido constante desde o ponto culminante do poderio dos EUA, logo após a Segunda Guerra Mundial, e o notável triunfalismo dos anos 90, depois da Guerra do Golfo, foi basicamente um autoengano.

Outro temam comum, ao menos entre aqueles que não ficaram cegos deliberadamente, é que a decadência dos EUA, em grande medida, é auto-inflingida. A ópera bufa que vimos este verão em Washington, que desgostou o país e deixou o mundo perplexo, pode não ter comparação nos anais da democracia parlamentar. O espetáculo inclusive está chegando a assustar aos patrocinadores desta paródia. Agora, preocupa ao poder corporativo que os extremistas que ajudou a por no Congresso de fato derrubem o edifício do qual depende sua própria riqueza e seus privilégios, o poderoso estado-babá que atende a seus interesses.

A supremacia do poder corporativo sobre a política e a sociedade – basicamente financeira – chegou ao grau de que as formações políticas, que nesta etapa apenas se parecem com os partidos tradicionais, estão muito mais à direita da população nos principais temas em debate.
Para o povo, a principal preocupação interna é o desemprego. Nas circunstâncias atuais, esta crise pode ser superada só mediante um significativo estímulo do governo, muito mais além do que foi o mais recente, que apenas fez coincidir a deterioração no gasto estatal e local, ainda que essa iniciativa tão limitada provavelmente tenha salvado milhões de empregos.

Mas, para as instituições financeiras, a principal preocupação é o déficit. Assim, só o déficit está em discussão. Uma grande maioria da população está a favor de abordar o problema do déficit taxando os muito ricos (72%, com 27% contra), segundo uma pesquisa do The Washington Post e da ABC News. Fazer cortes nos programas de atenção médica conta com a oposição de uma esmagadora maioria (69% no caso do Medicaid, 78% no caso do Medicare). O resultado provável, porém, é o oposto.

O Programa sobre Atitudes de Política Internacional (PIPA) investigou como a população eliminaria o déficit. Steven Kull, diretor do PIPA, afirma: É evidente que, tanto o governo como a Câmara (de Representantes) dirigida pelos republicanos, estão fora de sintonia com os valores e as prioridades da população no que diz respeito ao orçamento.

A pesquisa ilustra a profunda divisão: a maior diferença no gasto é que o povo apoia cortes profundos no gasto militar, enquanto que o governo e a Câmara de Representantes propõem aumentos modestos. O povo também defende aumentar o gasto na capacitação para o trabalho, na educação e no combate à poluição em maior medida que o governo ou a Câmara.

O acordo final – ou, mais precisamente, a capitulação ante à extrema direita – é o oposto em todos os sentidos, e quase com toda certeza provocará um crescimento mais lento e danos de longo prazo para todos, menos para os ricos e as corporações, que gozam de benefícios sem precedentes.

Nem sequer se discutiu que o déficit poderia ser eliminado se, como demonstrou o economista Dean Baker, se substituísse o sistema disfuncional de atenção médica privada dos EUA por um semelhante ao de outras sociedades industrializadas, que tem a metade do custo per capita e obtém resultados médicos equivalentes ou melhores.

As instituições financeiras e as grandes companhias farmacêuticas são demasiado poderosas para que sequer se analisem tais opções, ainda que a ideia dificilmente pareça utópica. Fora da agenda por razões similares também se encontram outras opções economicamente sensatas, como a do imposto às pequenas transações financeiras.

Entretanto, Wall Street recebe regularmente generosos presentes. O Comitê de Atribuições da Câmara de Representantes cortou o orçamento da Comissão de Títulos e Bolsa, a principal barreira contra a fraude financeira. E é pouco provável que sobreviva intacta a Agência de Proteção ao Consumidor.

O Congresso brande outras armas em sua batalha contra as gerações futuras. Apoiada pela oposição republicana à proteção ambiental, a importante companhia de eletricidade American Eletric Power arquivou o principal esforço do país para captar o dióxido de carbono de uma planta atualmente impulsionada por carvão, o que significou um forte golpe às campanhas para reduzir as emissões causadoras do aquecimento global, informou o The New York Times.

Esses golpes auto-aplicados, ainda que sejam cada vez mais potentes, não são uma inovação recente. Datam dos anos 70, quando a política econômica nacional sofreu importantes transformações, que puseram fim ao que se costuma chamar de “época de ouro” do capitalismo de Estado.

Dois importantes elementos desse processo foram a financeirização (o deslocamento das preferências de investimento, da produção industrial para as finanças, os seguros e os bens imobiliários) e a externalização da produção. O triunfo ideológico das doutrinas de livre mercado, muito seletivo como sempre, desferiu mais alguns golpes, que se traduziram em desregulação, regras de administração corporativa que condicionavam as enormes recompensas aos diretores gerais com os benefícios de curto prazo e outras decisões políticas similares.

A concentração resultante da riqueza produz maior poder político, acelerando um círculo vicioso que aportou uma riqueza extraordinária para 1% da população, basicamente diretores gerais de grandes corporações, gerentes de fundos de garantia e similares, enquanto que a maioria das receitas reais praticamente estancou.

Ao mesmo tempo, o custo das eleições disparou para as nuvens, fazendo com que os dois partidos tivessem que escavar mais fundo os bolsos das corporações. O que restava de democracia política foi solapado ainda mais quando ambos partidos recorreram ao leilão de postos diretivos no Congresso, como apontou o economista Thomas Ferguson, no The Financial Times.

Os principais partidos políticos adotaram uma prática das grandes empresas varejistas, como Walmart, Best Buy e Target, escreve Ferguson. Caso único nas legislaturas do mundo desenvolvido, os partidos estadunidenses no Congresso colocam preço em postos chave no processo legislativo. Os legisladores que conseguem mais fundos ao partido são os que indicam os nomes para esses postos.

O resultado, segundo Ferguson, é que os debates se baseiam fortemente na repetição interminável de um punhado de consignas, aprovadas pelos blocos de investidores e grupos de interesse nacionais, dos quais depende a obtenção de recursos. E o país que se dane.

Antes do crack de 2007, do qual foram responsáveis em grande medida, as instituições financeiras posteriores à época de ouro tinham obtido um surpreendente poder econômico, multiplicando por mais de três sua participação nos lucros corporativos. Depois do crack, numerosos economistas começaram a investigar sua função em termos puramente econômicos. Robert Solow, prêmio Nobel de Economia, concluiu que seu efeito poderia ser negativo. Seu êxito aporta muito pouco ou nada à eficiência da economia real, enquanto seus desastres transferem a riqueza dos contribuintes ricos para o setor financeiro.

Ao triturar os restos da democracia política, as instituições financeiras estão lançando as bases para fazer avançar ainda mais este processo letal...enquanto suas vítimas parecem dispostas a sofrer em silêncio.

texto de Noam Chomsky - Professor emérito de lingüística e filosofía do Instituto Tecnológico de Massachusetts. Seu livro mais recente é 9-11: Tenth Anniversary.

Fonte: site GeoPolitica do Brasil - Carta Maior

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Gastadores e farsantes


Existe um ponto falso na discussão economica americana. Os políticos conservadores gostam de se apresentar como cidadãos austeros, que defendem o dinheiro do contribuinte e evitam o desperdício. É uma forma de acusar os adversários de irresponsáveis e populistas, interessados em cortejar o eleitorado com favores do Estado.

O problema é que os supostos campeões da austeridade não conseguem sequer cumprir o ponto número 1 de seu discurso — a promessa de economizar dinheiro público. Na prática, foram eles que deram a principal contribuição para elevação do déficit americano.

O retrospecto mostra isso. Veja o levantamento. Em 1981, quando o republicano Ronald Reagan recebeu o governo do democrata Jimmy Carter, o déficit era de 1 trilhão de dólares. Reagan fez uma campanha de denúncia contra os gastos, atacou as despesas com a Previdencia — pouco depois, o mesmo discurso chegaria ao Brasil — mas no fim de seu governo conseguiu elevar o défict em US$ 1,9 trilhão.

Ou seja: desde 1776 os EUA acumulou um déficit de US$ 1 trilhão. Em oito anos de governo Reagan, subiu em US$ 1,9 trilhão.

Mas não foi só. Em quatro anos de mandato o também republicano George Bush pai elevou o défict em US$ 1,5 trilhão. Em oito anos Bill Clinton elevou em US$ 1,4 trilhão. Em tres anos Barack Obama acumulou US$ 2,4 trilhões.

Na relação de presidentes gastadores, George Bush filho deixou um recorde histórico — e por isso merece uma atenção à parte. Sua contribuição para o déficit americano foi de US$ 6,4 trilhões. Bush filho gastou muitas vezes mais do que seus antecessores. Seu custo final é igual a 400% dos gastos de seu próprio pai. Quem conhece a tumultuada convivência entre ambos até teria o direito de perguntar: tantas despesas seriam expressão trilionária de um imenso complexo de Édipo?

Uma forma simples de examinar esses números é acusar os republicanos americanos do mais conhecido dos pecados políticos — o costume de pregar uma coisa e fazer seu oposto. Este pecado é verdadeiro, obviamente.

Mas há uma lição a ser apreendida com essa hipocrisia. Ela demonstra que a decisão de gastar — ou não — jamais representa uma escolha em si, mas é expressão de determinadas políticas e de determinados interesses. As despesas de toda administração estão sempre subordinadas a suas opções. Não há governo de contadores.

Observação: Qualquer semelhança com o Brasil é mera coincidência, veja os números dos 8 anos de FHC e 8 anos de Lula no tocante ao déficit público, você terá uma boa surpresa, em termos de endividamento FHC "gastou" bem mais que o Lula.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Londres vive terceiro dia de choques entre jovens e policiais


Confrontos entre a polícia e manifestantes entraram no terceiro dia em Londres e atingiram o bairro de Hackney, que possui umas das maiores taxas de criminalidade do Reino Unido.

Nesta segunda-feira, jovens lançaram bombas contra a polícia no leste da capital londrina e jogaram latas de lixo e carrinhos de supermercado na direção dos oficiais. Os policiais empurraram os manifestantes com escudos, conforme tentavam isolar uma área ao redor da estação Hackney Central.

Os confrontos ocorrem paralelamente ao encontro entre representantes da polícia e a ministra do Interior britânica, Theresa May, que encurtou uma viagem de férias para a reunião desta segunda-feira.

De acordo com a rede de televisão britânica BBC, os distúrbios se desencadearam depois de a polícia ter efetuado alguns registros na rua, o que causou a reação de um grupo de encapuzados que passou a enfrentar os agentes lançando pedras e garrafas.

As imagens aéreas da Rua Mare, uma das vias principais do bairro de Hackney, mostravam como os manifestantes utilizavam pedaços de madeira para quebrar vitrines e janelas de alguns ônibus. Uma unidade policial antidistúrbios confrontava o grupo, enquanto três helicópteros das forças de segurança sobrevoavam a região. Alguns manifestantes invadiram lojas, aparentemente para buscar objetos que pudessem jogar nos policiais.

As revoltas que explodiram na noite de sábado no bairro de Tottenham, subúrbio de Londres, começaram a se espalharam para outras regiões de Londres na noite de domingo, que também foi marcada por saques e violência em ruas da cidade. Policiais sofreram ataques, e lojas foram saqueadas e destruídas em vários pontos do norte de Londres, além de Brixton, no sul, e de Oxford Circus, no centro turístico da capital britânica. Nas duas noites de violência, 35 policiais ficaram feridos. Segundo a Associated Press, que cita autoridades britânicas, 215 foram detidos desde sábado.

A Scotland Yard (Polícia Metropolitana de Londres) disse que os incidentes começaram após um protesto pela morte de Mark Duggan, um jovem negro de 29 anos. Duggan foi morto por policiais na quinta-feira, em Tottenham, depois de ser abordado em um táxi por uma unidade que investiga crimes com armas de fogo no bairro. O jovem teria sido morto em um suposto tiroteio que também teria ferido um policial.

A assistente social Michelle Jackson, de 43 anos, disse à BBC que muitos ficaram descontentes em Tottenham, um bairro que abriga muitos imigrantes, depois que a polícia começou a dar declarações sobre Mark Duggan à imprensa, mas sem fornecer qualquer tipo de informações para a família do jovem morto.

"Eu conheço o homem que foi morto, ele era um sujeito muito bacana, e eles estão fazendo parecer como se fosse uma espécie de gangster envolvido em armas e em coisas desse tipo", afirmou Michelle. Segundo ela, a polícia não sabe lidar com os jovens negros de Tottenham, e muitas pessoas de diversas nacionalidades e etnias se juntaram ao tumulto de sábado.

Tumulto
Os manifestantes se reuniram para exigir respostas da polícia. Por volta das 20h de sábado (16h em Brasília), um tumulto começou e a polícia foi acionada. Alguns manifestantes jogaram bombas caseiras contra a polícia e alguns prédios. Um ônibus de dois andares, um supermercado, uma loja de carpetes e outros prédios foram incendiados.

Em seguida, a violência começou a se espalhar para bairros vizinhos e depois para outras áreas da cidade. Veículos da polícia foram atacados e grupos de dezenas de jovens saquearam e incendiaram lojas.

"Eles destruíram a (casa de apostas) William Hill, colocaram fogo em latas de lixo. Vi uma (loja de celulares) Vodafone saqueada, uma (loja de calçados) Footlocker saqueada e incendiada, vi um (supermercado) Marks & Spencer atacado", relatou o jornalista da BBC Paraic O'Brien, que estava em Brixton.

Jornalistas também disseram ter visto jovens lançando pedras e garrafas contra a polícia e até usando extintores de incêndio para impedir a aproximação dos policiais, enquanto eles saqueavam lojas. O repórter Andy Moore, da BBC, testemunhou as duas noites de violência e disse que elas tinham motivações bem diferentes. "O que pode ter sido iniciado em Tottenham por jovens ressentidos com o que eles viam como perseguição policial se tornou algo de natureza bem diferente. Na noite passada, havia uma impressão de que os saques, a violência e a desordem em Londres estavam sendo coordenados nos sites de mídia social", disse ele.

No domingo, a Scotland Yard prometeu uma "grande investigação" sobre o tumulto. Segundo a polícia, os investigadores vão colher o depoimento de testemunhas e averiguar as imagens das câmeras de circuito fechado.

A comandante da polícia, Christine Jones, afirmou que os policiais estão "chocados" com os "absurdos níveis de violência". "Não vamos tolerar essa violência deplorável. A investigação continua para levar esses criminosos à Justiça", disse Christine.

Partes de Tottenham, onde os tumultos começaram, ainda estão isoladas para que policiais e especialistas forenses examinem o local dos confrontos. Até o momento, 16 pessoas já foram indiciadas por crimes como roubo, violência e posse de arma.

Um porta-voz do primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse que a violência em Tottenham é "inaceitável". O vice-prefeito de Londres, Kit Malthouse, disse que não consegue imaginar qualquer desculpa para o que aconteceu. "É totalmente revoltante ver isso nas ruas de Londres. Nós faremos todo o possível para evitar que isso se repita", disse. "Entendo que haja impaciência das pessoas [com a investigação sobre o caso Duggan], mas essas investigações demoram."

Internet
O parlamentar David Lammy, de Tottenham, disse que a revolta foi "planejada no Twitter" e condenou a orquestração. Apesar da denúncia, há pouca prova de uma orquestração nos textos publicados no site, que são públicos.

Em seguida aos distúrbios em Tottenham, vários usuários de BlackBerry disseram ter recebido mensagens sugerindo quais deveriam ser os próximos alvo de ataques. A empresa Research in Motion, que faz os celulares Blackberry, emitiram comunicado dizendo que trabalhão com as autoridades, na tentativa de identificar quem estava incitando à violência.

A empresa afirmou que, assim como outras de telecomunicação, cumpre com as leis que permitem às forças de segurança ter acesso a mensagens privadas, quando elas têm ligação com crimes.

O que preocupa os investigadores agora é mais a quantidade de pessoas que receberam mensagens, mais do que com as mensagens enviadas.

Chris Greer, especialista em sociologia e criminologia da London City University, disse à BBC que smartphones teriam ajudado os envolvidos, mas não a ponto de persuadir quem estava relutante a se juntar aos distúrbios. "Não acho que tenha tido qualquer impacto na motivação para protestar, em primeiro lugar", disse ele. "Mas uma vez que pessoas se mobilizam e decidem tomar as ruas fica certamente muito mais fácil se comunicar".

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Imprensa israelense vê “novo país” após protestos


O protesto social em Israel, que mobilizou no sábado mais de 300.000 manifestantes, não tem precedentes no país e representa um grande desafio para o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, afirma a imprensa israelense.

“Um novo país”, “Israel está nas ruas”, destaca na primeira página o Yediot Aharonot, principal jornal do país.

“Netanyahu e seus ministros não poderão ignorar este grito, porque expressa uma força que ameaça sua permanência no poder”, afirma o colunista Nahoum Barnea.

“Me parece que esta é a maior manifestação de desconfiança já organizada nas ruas de Tel Aviv”, escreveu Sima Kadmon, analista político da publicação.

“O povo levantou”, afirma o jornal Maariv, que tem na primeira página uma foto das ruas lotadas.

“Nem esquerda, nem direita, nem centro, nem marginais. É o povo de Israel que está descontente com a vida aqui, com o sistema injusto que permite a uma minoria seguir na farra às custas das massas esmagadas”, criticou Ben Caspit em um editorial.

O jornal de esquerda Haaretz também exibe na primeira página fotos das ruas de Tel Aviv lotadas.

Gideon Levy escreveu que um “regime que permanece impávido ante uma manifestação gigantesca está destinado a cair”.

O protesto de sábado exigiu “justiça social” no país.

Fonte: AFP

domingo, 7 de agosto de 2011

É preciso muito mais para formar cidadãos mais politizados


A universalização do acesso à escola e o aumento da escolaridade média do brasileiro nos últimos anos não levaram à formação de cidadãos mais politizados. Essa é a conclusão de uma tese apresentada ano passado na Universidade de São Paulo (USP) pelo doutor em ciência política e pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole, Rogério Schlegel. A baixa qualidade do ensino é apontada por Schlegel como a responsável por essa situação. "... Quando você aumenta a escolaridade das pessoas não quer dizer que isso vai se reverter em mais participação...",explica o pesquisador.

Décadas de pesquisas disseminaram a tese de que quanto mais escolarizado um povo mais engajados e politizados são seus cidadãos. A sua dissertação rompe com isso?
Sim. Constatei que, no caso brasileiro, o efeito esperado, que chamo de perspectiva convencional, não se confirmou. São 50 anos de pesquisas mostrando que os mais escolarizados tendem a ser mais mobilizados, ativos politicamente, mais democratas. Acontece que há, entre aspas, um defeito de fabricação nessa teoria. Essas análises ficaram concentradas em um ponto no tempo. Ou seja, quando você analisava se num determinado momento os mais escolarizados eram mais engajados, a resposta era sempre sim. A partir disso, concluiu-se que o aumento da escolaridade média formaria automaticamente uma massa de cidadão mais democrata e engajada. O que minha tese mostra é que, no caso brasileiro, não é assim. Quando você aumenta a escolaridade das pessoas não quer dizer que automaticamente vai se reverter em mais participação e mais apoio à democracia.

Por quê?
Digo que a educação não é panaceia em que você tem esse efeito linear automático. Temos que desmistificar a educação. O impacto político dela é limitado. É forte, mas limitado. No caso brasileiro, um ingrediente que mina e faz com que aquela expectativa tradicional não se realize é a baixa qualidade da educação. Muitos estudos já constataram que a expansão espetacular da rede de ensino brasileiro veio acompanhada de uma queda na qualidade do sistema educacional. Minha tese indica que isso teve um impacto no efeito político da educação.

Como concluiu isso?
Comparei pesquisas de opinião de 1989 a 2006 para identificar quanto cada nível de escolaridade estatisticamente agregou em termos de comportamento político. Constatei o seguinte: quem tinha grau de escolaridade acima do superior incompleto em 1989 tinha 3,6 vezes a chance de declarar que tinha muito interesse em política, comparado a alguém com diploma do ensino fundamental. Em 2006, (essa relação) era de 1,6. É o que chamo de retorno político decrescente da educação.

O que o senhor considera um cidadão engajado?
Não estou falando em formar pessoas para serem políticos. Estou falando da participação mais cotidiana que se traduz em hábitos simples, como discutir política com amigos, participar de ONGs, associações de moradores ou religiosas, abaixo-assinado... O ideal é que todo o tempo as pessoas participem, fiscalizando desde a escola do seu filho até o trabalho das autoridades. Isso é ser um cidadão engajado. Agora, o comportamento político depende de outros fatores.

Quais?
A educação tem o seu papel e ele não é desprezível. A minha tese de maneira alguma quer jogar fora 50 anos de pesquisas. O que ela sugere é que, sozinha, a educação não resolve tudo. Tem coisas que o sistema político tem que fazer, como aumentar as possibilidades de participação. A Constituição de 1988 criou vários mecanismos de participação e eles têm florescido. O Congresso tem um papel a cumprir. Minha pesquisa mostra que os partidos tinham um conceito muito melhor em 1989 do que hoje.

O senhor diz que sua tese serve de alerta para os governantes. Que alerta é esse?
Vejo que a gente está perdendo uma oportunidade sensacional. Estamos tendo uma baita inclusão na escola, mas estamos desperdiçando todo o potencial disso. Você imagina que são gerações de brasileiros que vão deixar de aproveitar esse potencial para aumentar seu interesse em política, a sua participação em eleições, o seu engajamento. Minha tese mostra que a nossa política pública merece uma nota baixa no quesito formação do cidadão.

Fonte: Silvia Amorim, O Globo. Extraído do blog do Noblat

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Pacote nacionalista e protecionista solidifica aliança Dilma - indústria


Com o mundo à beira de uma nova fase da crise financeira mundial iniciada em 2008, momento que tem como símbolo máximo a crise da dívida dos Estados Unidos, a presidenta Dilma Rousseff lançou nesta terça-feira (02/08) um pacote de medidas em defesa da indústria nacional no qual explicita uma aliança com o setor para que o mercado interno continue sendo o motor do crescimento.

O pacote reduz impostos, oferece crédito público mais barato para financiar investimentos e inovação das empresas, dificulta certos tipos de importação e assegura que fornecedores brasileiros tenham preferência em compras do governo, entre outras coisas.

O objetivo principal do pacote, batizado de Brasil Maior, é evitar que o dólar barato – efeito quase inevitável, na avaliação do governo, da nova etapa da crise mundial – quebre empresas brasileiras exportadoras e aquelas que concorrem com importados no país. A dificuldade dos dois segmentos poderia gerar demissão de trabalhadores e desaceleração da economia, o que o governo tenta evitar.

“Estamos iniciando uma cruzada em defesa da indústria brasileira diante de um mercado internacional com uma competição, na grande maioria das vezes, desleal e predatória”, disse Dilma, no discurso de lançamento do pacote. “A insensatez pode ter sido evitada, mas a instabilidade produzida lá fora vai continuar”, completou.

“Insensatez” foi a palavra mais usada nos últimos por Dilma e pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para se referir à crise da dívida dos Estados Unidos. A negociação entre o presidente Barack Obama e seus inimigos republicanos arrastaou-se até a véspera do prazo a partir do qual poderia haver um calote, justamente nesta terça-feira (02/08).

Segundo Carta Maior apurou, Dilma exigiu de seus ministros que fechassem o pacote a tempo de ser lançado no máximo até o dia D da dívida norte-americana. A presidenta entende que assim será mais fácil defender um pacote protecionista de adversários de visão mais liberal. Não por acaso, ela começou o discurso dizendo justamente que o dia 2 de agosto pode ter um “significado especial” no Brasil e no mundo.

O discurso de Dilma encerrou uma sequência de falas de ministros e de um empresário em que o tom nacionalista e protecionista foi marcante.

Primeiro orador do evento, Guido Mantega foi o mais enfático. Usou palavras fortes e frases de efeito, ao apresentar o pacote a uma platéia formada por industriais e políticos – sindicalistas optaram por boicotar o lançamento, por discordarem do processo de elaboração do plano e de uma das medidas, a desoneração da folha de salário para alguns setores.

Segundo Mantega, o mundo “está em crise” e vive um “ambiente extremamente adverso”, caracterizado por “concorrência predatória” nas exportações e por “mercados de manufatura [que] subiram”. “Temos que ter a perspectiva de que [a situaçào] não vai melhorar”, afirmou o ministro. “O mercado brasileiro precisa ser usufruído pela indústria brasileira e não pelos aventureiros que vêm de fora.”

O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, não ficou atrás. Parafraseando o slogan do governo Dilma (“País rico é país sem pobreza”) disse que “país desenvolvido é país que tem indústria” e que o governo vai estimular o setor. “É obrigação do Estado brasileiro defender o mercado local e a indústria local”, declarou.

Único orador do setor privado a falar, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, foi só elogios. Disse que, “num momento simbólico”, o pacote “reafirma o papel da indústria no desenvolvimento da economia e prioriza competitvidade e inovação na estratégia da política industrial.”

“A indústria nacional tem em mim uma aliada”, afirmou Dilma Rousseff. “Nós não acreditamos que o desenvolvimento possa abrir mão da indústria e se dedicar prioritariamente a construir uma economia de serviços”, completou.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que calcula o tamanho da economia, o setor industrial respondeu, no ano, por 24% do chamado produto interno bruto. Já o setor de serviços, onde estão os bancos, por exemplo, ficou com 58%.

Ao encerrar o discurso, Dilma recorreu a um dos símbolos do pensamento nacionalista e desenvolvimentista do Brasil, o economista Celso Furtado, morto há sete anos. Citou-o para dizer que “nossa economia já não é comandada de fora, de fora para dentro” e que “nós somos senhores do nosso próprio destino”.


Dilma prioriza negociar pacote com empresas e se afasta de centrais

O governo priorizou a negociação com o empresariado ao preparar o pacote de apoio à indústria nacional lançado nesta terça-feira (02/08). Foi por esta razão que as centrais sindicais resolveram boicotar o evento, e não só por divergência pontual (desoneração da folha de salário das empresas) dentro de um plano que, no todo, elas aprovam.

Os sindicalistas temem que a preferência do diálogo com empresários seja um estilo permanente da presidenta Dilma Rousseff, diferentemente do que ocorria com Luiz Inácio Lula da Silva, quando as centrais tinham mais poder para influenciar decisões.

Responsável pelo contato cotidiano do Planalto com movimentos sociais, o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, sabe do incômodo que começa a crescer entre os sindicalistas e tentou acalmar os ânimos numa reunião nesta segunda-feira (01/08).

Ao lado de quatro ministros (Fazenda, Ciência e Tecnologia, Desenvolvimento e Previdência Social), Carvalho apresentou as linhas gerais do pacote e garantiu que defender o emprego dos trabalhadores era uma das grandes preocupações do governo com o programa “Brasil Maior”.

Mas, segundo relato de participantes ouvidos por Carta Maior, quando o assunto “desoneração da folha” surgiu, monopolizou a conversa e foi usado pelos sindicalistas para manifestar uma contrariedade mais ampla (a preferência dada à negociação com os empresários).

“Nós não queremos ser chamados para ouvir, queremos falar também”, resume o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique da Silva Santos.

Para os sindicalistas, quando deixa de chamá-los para negociar, o governo tira deles a oportunidade de usar propostas de interesse patronal, como era o caso da desoneração da folha, para arrancar concessão pró-trabalhadores. Por exemplo, o compromisso dos empresários de que o alívio fiscal da desoneração da folha seria revertido necessariamente em novos empregos, não só em lucro.

No pacote lançado nesta terça-feira (02/08), o governo jogou para o faturamento a incidência de tributo destinado à Previdência até hoje cobrado sobre a folha de salário. A nova regra entrará em vigor no ano que vem e valerá para quatro setores (têxtil, calçadista, moveleiro e de tecologia da informação). Na prática, os quatro vão pagar menos impostos.

Se a experiência der certo, o governo pretende estender a mudança para outros ramos. As centrais temem que a Previdência perca receita e esta nova realidade alimente propostas privatistas no futuro. O governo diz que vai bancar qualquer diferença.

Segundo Carta Maior apurou, a relativa distância que a presidenta e alguns auxiliares têm mantido das centrais sindicais, neste início de mandato, causa uma certa preocupação em setores do Planalto. Para estes setores, Dilma não deveria deixar prosperar a ideia de que gosta mais de agir como gerente e de conversar com empresários.

Também segundo Carta Maior apurou, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) já percebeu que está com mais acesso a áreas do governo e, por isso, tem tentado explorar esse canal para defender poições de interesse patronal. Mais do que recorrer ao Congresso Nacional, inclusive. Segundo um assessor da CNI, nunca a entidade direcionou tanto suas energias ao diálogo com o poder Executivo quanto agora.

Sabendo da insatisfação e do boicote dos sindicalistas ao evento, a presidenta fez questão de citar os "trabalhadores" várias vezes no discurso de lançamento do programa Brasil Maior. Ao todo, foram sete vezes.

Dilma disse, por exemplo, que o pacote não "desrepeita os direitos dos trabalhadores", que eles "podem ter certeza de que o governo está do lado deles" e que as medidas interessam "sobretudo aos trabalhadores brasileiros."

Fonte: Carta Maior