domingo, 31 de março de 2013

Pesquisa da ENEF revela que educação financeira faz diferença na vida dos jovens


Pesquisa divulgada em 2010  pelo Banco Mundial durante o workshop “Avaliação de Impacto do Projeto Educação Financeira nas Escolas em 2010”, realizado no Rio de Janeiro, revela que o ensino de educação financeira nas escolas afeta positivamente o conhecimento sobre a economia e o comportamento dos jovens brasileiros.

A análise identificou mudanças significativas não apenas nos estudantes entrevistados, como também em seus familiares: os pais se tornaram mais propensas a incluir os filhos na tomada de decisão financeira familiar e discutir assuntos relacionados a dinheiro e orçamento doméstico.

As conclusões vieram de um estudo que ouviu quase 27 mil estudantes do ensino médio de 900 escolas públicas do Brasil, todos participantes da primeira fase do programa piloto de educação financeira da ENEF (Estratégia Nacional de Educação Financeira) – uma iniciativa da qual a BM&FBOVESPA é uma das principais patrocinadoras.

A pesquisa, que envolveu escolas dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Tocantins, Distrito Federal e Minas Gerais, foi realizada em duas fases. Na primeira, em agosto do ano passado, os jovens e seus pais responderam a um questionário com cerca de 150 perguntas  a fim de mensurar a percepção de conhecimento e atitudes em relação ao dinheiro.

Ficou constatado, por exemplo, que 63,1% dos entrevistados costumam direcionar seus recursos com a compra de roupas, seguido por: lazer (45,7%), lanches (37,1%), alimentação (23,4%) e transporte (18,8%). Ainda na esfera do consumo, o levantamento informou que apenas 61% negociam a forma de pagamento, e 35% dos estudantes não pesquisam modelos ou marcas semelhantes antes de comprar. Os hábitos de poupança também foram avaliados: somente 15,7% costumam guardar dinheiro para projetos futuros.

A segunda etapa do projeto consistiu em introduzir, nas escolas participantes, conceitos de educação financeira a partir de aulas ministradas pelos professores que exploraram situações econômicas ligadas ao cotidiano dos alunos. Contudo, para que existisse uma base de comparação, apenas metade dos jovens recebeu as atividades da ENEF e o material didático correspondente. Quatro meses após esse treinamento, o impacto dos resultados do projeto piloto nas escolas ficou comprovado.

Quando o estudo comparou os dois grupos, descobriu que os alunos que receberam conceitos financeiros desenvolveram mais habilidades para entender contextos econômicos, como a análise do orçamento familiar, por exemplo.

O entendimento sobre o que era inflação, que antes era compreendido por 33% dos entrevistados, atingiu 36% dos alunos que tiveram as aulas da ENEF. “Apesar de as diferenças não serem acentuadas, estamos felizes pelos resultados, pois o Brasil foi o País onde mais se constatou o impacto da educação financeira se comparado com os demais países que passaram por esse mesmo teste”, afirmou Rogelio Marchetti, especialista sênior do Banco Mundial.

O estudo apontou também que estudantes do sexo feminino conseguiram obter um maior nível de alfabetização financeira, assim como alunos com melhor condição socioeconômica e com pais que atuam no setor formal da economia. Por outro lado, os níveis de conhecimento nesse tema ficaram menores em alunos que repetiram, pelo menos, um ano escolar e cujas famílias pertencem a grupos de baixa renda.

No workshop, estiveram presentes o diretor de Desenvolvimento e Fomento da BM&FBOVESPA, José Antonio Gragnani; a presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Maria Helena Santana; o diretor do Banco Mundial (BIRD) para o Brasil, Makhtar Diopp; além de representantes do Banco Central, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) e Ministério da Educação.

Mais informações sobre o ENEF podem ser encontradas no sitewww.vidaedinheiro.com.br.

 Fonte: Gerência de Imprensa - BM&FBOVESPA S.A. - Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros www.bmfbovespa.com.br/imprensa

sábado, 30 de março de 2013

Estímulos e provocações para empreendedores


Texto de Renato Bernhoeft,
Empreender é uma iniciativa, ou até uma arte, que não está necessariamente, vinculada ou dependente, das condições do meio em que ela ocorre. Existem muitos casos de empreendimentos muito bem sucedidos que surgiram em períodos de crise e recessão – tanto econômica como social -, da mesma forma que tantos outros foram criados em momentos de bonança ou euforia econômica.

O que os estudos ainda continuam mostrando é que a maioria dos empreendedores surge nas camadas mais desfavorecidas da sociedade. Ou seja, é bem mais raro o espírito, e até a iniciativa empreendedora, entre os membros da classe média ou entre famílias mais abonadas, com herdeiros que já nascem com uma vida muito mais cheia de facilidades. Sem a necessidade, ou estímulo, para conquistar algo pelos seus próprios meios ou determinação.

Especialmente se considerarmos que uma das características marcantes de quem empreende é descobrir, ou transformar, em oportunidades, situações ou necessidades onde a grande maioria apenas enxerga problemas.

Apesar de iniciativas e estímulos valiosos, como os oferecidos por entidades  tipo Endeavor, Sebrae, Senac, Sesi e algumas instituições de ensino profissionalizante, existem duas fontes permanentes de desestímulo ao espírito empreendedor.

Refiro-me a própria família, que de forma bastante convencional, e com base na própria história profissional dos pais e avós, tende a orientar seus descendentes para a idéia exclusiva do emprego formal. Seja ele público ou privado, mas sempre com a doce ilusão da segurança que uma carteira profissional assinada, ou a estabilidade de funcionário público, possam proporcionar.

A outra instituição que continua preparando, quase que exclusivamente para o emprego, é a própria escola, e o mundo acadêmico de uma forma geral. Reforçam, de uma maneira muito enfática, a necessidade de um detalhado planejamento prévio – desconsiderando a importância da iniciativa e intuição –  a tal ponto que a maioria das tentativas não ultrapassa os limites do papel.

Muitos sonhos, aspirações e planos já morrem no nascedouro. E não necessariamente pela escassez de recursos financeiros, mas pela falta de estímulos e autoconfiança.

Entre empreendedores podemos caracterizar dois tipos. Que embora tenham como ponto de partida algumas características em comum, ambos necessitam de tratamento e orientação que considere algumas diferenças significativas.

Refiro-me em primeiro lugar ao “lobo solitário”. Ou seja, aquela pessoa que tem ambições muito próprias, individualista e que sonha em ser “dono” do seu negócio.

Esta pessoa necessita desenvolver sistemas de auto-motivação permanente, além de também exercer uma liderança participativa, motivadora e de forte reconhecimento com sua equipe. Por menor que ela possa ser no início. E também necessita criar formas de relacionamento com fornecedores e clientes na busca de uma fidelidade que deve ser correspondida – mutuamente - em várias dimensões.

Deve tomar muito cuidado, para um adequado processo de crescimento, em não criar uma estrutura que se torne dependente da sua figura, carisma ou processo decisório. Muitos empreendedores deste tipo tendem a ser centralizadores, o que pode dificultar a formação de equipes com suficiente autonomia e grau de iniciativa.

Já quando falamos de empreendedores, que iniciam seu projeto em grupo, a principal preocupação no início deve ser a de fixar um Acordo ou Protocolo. O mesmo visa estabelecer, de forma bastante participativa, amplamente discutido e aceito por todos envolvidos, um conjunto de direitos e obrigações de tudo aquilo que envolve seu relacionamento como sócios, além do papel de gestores do negócio.

Importa saber que, na qualidade de sócios deve existir uma clara confiança para que os riscos e conquistas possam ser claramente compartilhados. Independentemente da proporção de cada um na sociedade. Já na qualidade de gestores suas atribuições, autonomia e relação hierárquica devem também estar fixadas e aceitas por todos. Tanto entre os mesmos como na relação com seus colaboradores.

Vale ressaltar que, da mesma forma como devem ser discutidos os resultados do negócio, é da maior importância que os sócios se mantenham atentos em avaliar, permanentemente, sua relação.

É bom lembrar que 70% dos negócios que desaparecem no Brasil, têm como causa principal conflitos societários – ou familiares – não resolvidos.

Este artigo visa estimular o surgimento de empreendedores em um mercado cada vez com maiores oportunidades. E para quem busca uma alternativa diferente ao emprego formal. É apenas mais uma provocação.

Por Renato Bernhoeft - Fonte: www.administradores

sexta-feira, 29 de março de 2013

O injusto


Texto de Davis Sena Filho 

O injusto vai contra a ordem do que é sensato, porque não pondera, do que é social, porque não é solidário, do que é humano, porque não é humanista
O injusto é ingrato e egocêntrico; e a injustiça é a mãe de todos os conflitos. Sem justiça não há paz. O injusto não pondera, não percebe e não observa as ações e a conduta daquele com o qual convive em seu lar ou fora dele, mesmo se este ente for generoso ou tolerante e até mesmo, se o for o caso, avesso ao confronto pessoal ou em sociedade.
O injusto, além de ser ingrato, não gosta de ninguém, e demonstra parte de sua face até então escondida em suas entranhas e dessa forma dá publicidade ao outro lado de sua personalidade, que, quando em conflito, em um momento demoníaco, suas palavras brotam como lava a sair da boca de um vulcão, sem, contudo, preocupar-se com o outro, que naquele momento se torna alvo de sua ira, do seu ódio e da sua falta de compreensão sobre aqueles que estão ao seu lado.
O injusto vai contra a ordem do que é sensato, porque não pondera, do que é social, porque não é solidário, do que é humano, porque não é humanista. Ele detesta discernir sobre realidades e fatos, porque se recusa, terminantemente, a pensar nele, nas suas falhas, nos seus erros e nas suas injustiças. Afinal, ele é injusto; e se for se autoanalisar é capaz de se considerar injustiçado. E o egocêntrico sempre acha que tem razão e que nunca erra ou errará, o que, indubitavelmente, favorece muito a geração de conflitos — desentendimentos.
Ele é egoísta, o que o torna egocêntrico, porque tem o ego centrado em sua personalidade, em seu caráter, e a ser assim não consegue compreender o que é justo do que é injusto, porque, por ser injusto, somente ele sente dor, somente ele é injustiçado e somente ele não é compreendido, em todas as questões relativas à sua vida, porque sempre, em qualquer hipótese, o injusto se considera vítima e nunca vitima seu semelhante. Jamais ele pensa que fez o papel de algoz, porque os outros que são ruins, incompreensíveis e cruéis.
O pensador francês Jean-Paul Sartre afirmou: "o inferno são os outros"! Jamais o injusto, dentro de sua redoma de lógica doentia e bipolar, assumirá tal realidade tão bem esclarecida por Sartre.
Por incrível que pareça, um dos sentimentos do injusto é se sentir injustiçado, e, para isso, ele finge a dor que não sente, por se tratar de um ator. Seu espírito está contaminado pelo ódio e pelo desprezo às pessoas. Ele não gosta de ninguém, mas disfarça a falsidade intrínseca ao seu caráter com gentilezas e maneirismos tão superficiais quanto a uma casca de ferida.
O injusto nunca se sente à vontade em sociedade e no lar e por isso faz pouco dos outros, agride a consciência, a inteligência e a noção do que é correto ou errado, no que é relativo a uma convivência fraternal e respeitosa entre as pessoas. Ele não sabe o que é respeito e muito menos o que é fraternidade. Por ser assim e por se considerar socialmente superior se torna nocivo àqueles que convivem com ele, que dependem dele ou que são subordinados no âmbito do seu trabalho, da sua profissão.
O injusto comete injustiça também com as pessoas que estão ao seu lado, que o protegem, que o amparam e o ajudam. Ele é tão mesquinho de sentimentos e autoritário, e por isto injusto, que erra quando está por cima ou quando está por baixo. Nada importa ao injusto, porque, para ele, até mesmo sem ter plena consciência dessa razão, o universo é o centro do seu ego. Por isso, a dificuldade de se analisar, de ponderar, de discernir, de compreender e de reconhecer suas falhas, seus equívocos e suas injustiças.
Portanto, quem se sente injustiçado pelo injusto não tem como fazê-lo entender, porque ele não erra, e, se não erra, não tem como ele conhecer o sentimento da humildade para pedir perdão e, conseqüentemente, reconciliar-se com o ofendido, com o injustiçado. O injusto é a própria patologia. Quando se olha no espelho, enxerga a imagem da perversidade, que, às vezes, ele detesta, até a reconhece, mas seu instinto, sua essência e seu caráter não conseguem se livrar de tal aspecto no que tange à vilania.
Para o injusto detestar, desprezar, desrespeitar alguém não foi e não é necessário que este ente humano tenha feito mal a ele. O injusto se torna seu inimigo e o insulta porque, dentro de sua lógica, a insanidade se torna normalidade, e por isso ele não tem sentimento de culpa, de modéstia, de perdão ou humildade.
O injusto não serve, somente quer ser servido, e, se servir ou fazer qualquer favorzinho, sente-se explorado, porque está acostumado a receber e nunca dar, bem como, na primeira oportunidade que tiver, joga na cara e cobra o favor que fez. O injusto detesta a oração de São Francisco de Assis, que ensina que "é dando que se recebe" e que "é perdoando que se é perdoado". Isto está fora de cogitação.
O injusto quando entra em conflito te acusa, inverte situações, fatos e verdades, tergiversa sobre as realidades e faz seu oponente sofrer, ainda mais quando o ofendido tem a plena consciência que está a ser subestimado, desconsiderado e injustiçado. É terrível.
O injusto, mais cedo ou mais tarde, torna-se, irremediavelmente, cruel. É que ele tem mania de perseguição. Acredita, piamente, que todo mundo quer ofendê-lo, cobrá-lo e prejudicá-lo. Desconfiado, pensa que todas as pessoas são mal intencionadas, e, dessa forma, não mede conseqüências quando utiliza as palavras e efetiva as ações, e por isso causa dor às pessoas, sentimento de insatisfação e até mesmo de revolta.
Quando um pai ou uma mãe; um juiz ou um presidente; um policial ou um professor ou qualquer cidadão cometem injustiças termina a paz e começa a guerra. Sem justiça não há paz. Sem justiça não há diálogo e nem perdão. O Injusto torna normal o que é pecado; não sente culpa pela injustiça — o pecado cometido. Esta conduta é tão natural e intrínseca ao seu caráter, que de tanto cometer o mesmo pecado, nunca se arrepende, pois considera o que fez ou o que pensa fazer absolutamente normal.
O injusto é a iniquidade em pessoa, a ferocidade como sua voz e a perversidade como essência de sua ação social e moral. A ferramenta do injusto é a injustiça — a mãe da discórdia, da vilania, do sofrimento, e, consequentemente, da ausência de paz. É isso aí.
Fonte: brasil247.com.br - Texto de Davis Sena Filho 

terça-feira, 26 de março de 2013

O que será das multinacionais na “desglobalização”?


Já se começa a falar em “desglobalização”, onde a ideia de estado-nação começa a ganhar força. E, então, eu me pergunto: como ficarão as organizações, com suas estruturas matriciais? Vocês devem estar se perguntando: e eu, latino-americano, como fico, neste contexto?
Podemos encarar dois caminhos bastante distintos, porém igualmente viáveis: no afã de se protegerem, as multinacionais, com problemas sérios em suas casas matrizes, vão centralizar ainda mais o poder em seus países de origem e nas filiais ficarão as posições mais de execução e menos estratégicas e, cada vez, menos seniores.
Dentro desse contexto, você ou qualquer profissional que trabalhe nas filiais em outros países, terá que se reinventar para conquistar seu “lugar ao sol”. Isso é ruim? Não. É ótimo!  Vai tirá-lo da zona de conforto, colocá-o em movimento e principalmente vai capacitá-lo ainda mais.
Outro caminho seria a partir de estruturas matriciais, tão cheias de superposições e controles excessivos, chegando a um nível de estresse tamanho e levando a resultados catastróficos que levassem os acionistas a exigir mudanças rápidas nessas estruturas.
Nesse caso, como sempre acontece nos ciclos dentro das organizações, ter-se-ia a volta de estruturas – menos verticais, mais horizontais – com as filiais em outros países mais soberanas, ou seja, haveria mais respeito a diferenças culturais dos países.  Voltar-se-ia, então, para uma administração menos centralizada e, em todos os países, as posições se tornariam ainda mais estratégicas. Para você ou para todos os profissionais e também para as empresas locais, um mar de oportunidade e de crescimento.
Dentro desses cenários, o que gostaria de deixar como mensagem é que em qualquer situação nós devemos ter o papel de protagonistas, sempre perguntando: “O que eu não estou fazendo e que, começando a fazer, tendo a viabilizar os resultados que quero?”; “O que EU posso fazer para garantir o meu sucesso em relação à minha carreira e/ou à minha vida?”. Só dessa maneira, tomando as rédeas da sua vida, terá sucesso, independentemente do cenário atual.
Texto de Irene Azevedo- Colaboradora do Blog do Monster, diretora de negócios da consultoria LHH|DBM e professora de gestão de pessoas na BBS Business School.
 Fonte: www.administradores.com, 26 de março de 2013

domingo, 24 de março de 2013

Solução de dois Estados com Israel e Palestinos passa por reavaliação

A "solução de dois Estados" para o duradouro conflito entre israelenses e palestinos é o objetivo declarado de seus líderes e de muitos políticos e diplomatas internacionais.

A ideia prevê um acordo que resulte na criação de um Estado palestino independente incluindo Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental, vivendo em paz com o vizinho Israel.

A ONU, a Liga Árabe, a União Europeia, a Rússia e os EUA frequentemente reafirmam seu compromisso com o conceito, e o presidente americano, Barack Obama, fez o mesmo durante sua visita a Jerusalém e Ramallah nesta semana.

Mas muitos especialistas, além de cidadãos israelenses e palestinos, acreditam que a solução de dois Estados deve ser abandonada ou, ao menos, reavaliada - já que, passados 20 anos desde os Acordos de Oslo (que estabeleceram o objetivo de dois Estados), não há sinal de concretização desse projeto.

A construção de barreiras israelenses dentro e ao redor da Cisjordânia e a expansão de assentamentos judaicos em terra ocupada (sob a ótica da lei internacional) inviabilizam a criação de um Estado palestino.
Particularmente na esquerda e na extrema direita israelenses, bem como entre ativistas palestinos, crescem as conversas em torno de uma solução que envolveria apenas um Estado.

'Inviável'
Sob forte pressão dos EUA, o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, fez um discurso em 2009 em que se comprometeu com "um Estado palestino desmilitarizado". Um ano depois, diálogos israelo-palestinos foram reavivados, mas rapidamente chegaram a um impasse, com o fim de um congelamento parcial dos assentamentos judaicos.

Recentemente, o governo de Netanyahu anunciou planos de construir milhares de novas casas nesses assentamentos, inclusive na sensível zona "E1", o que separaria Jerusalém Oriental da Cisjordânia. Se isso se concretizar, até sob os olhos da ONU seria "um golpe quase fatal" à possibilidade de dois Estados.

Avi Shlaim, historiador britânico-israelense, é conhecido por dizer que Netanyahu "é como um homem que, enquanto negocia a divisão da pizza, continua comendo-a".

"Sempre fui um defensor da solução de dois Estados, mas chegamos a um ponto em que não é mais uma solução viável", diz ele. "Agora defendo a solução de um Estado, não como a escolha número um, mas como uma solução diante das ações de Israel."

Recentemente, mais esquerdistas israelenses e intelectuais palestinos começaram a fazer a defesa ideológica de um Estado binacional que dê cidadania e direitos iguais a todos os moradores de territórios israelenses e palestinos.

Até direitistas como o ex-presidente do Parlamento Reuven Rivlin, que pertence ao partido de Netanyahu (Likud), dizem preferir essa solução à partilha do território israelense.

Debate interno
No ano passado, o ex-premiê da Autoridade Palestina Ahmed Qurei, um dos arquitetos dos Acordos de Oslo, disse que os palestinos precisam começar seu próprio debate.

"Apesar dos aspectos negativos e de todas as diferenças, não devemos descartar a solução de um Estado", disse ele em um artigo. "Isso deve ser debatido internamente e colocado em referendo, antes de ser colocado na mesa de negociação."

Cientes de que a solução de um Estado limitaria a identidade judaica de Israel, autoridades palestinas frustradas com o impasse na negociação atual propõem abandonar a ideia de um Estado próprio. Mas o presidente palestino, Mahmoud Abbas, diz que há o perigo de que se forme "um Estado semelhante ao (do) apartheid (África do Sul)".

O argumento é de que palestinos muçulmanos e cristãos, com sua população crescente, serão rapidamente mais numerosos que os judeus israelenses. Se Israel elevar apenas o status dos cidadãos judeus, poderia se criar um Estado segregacionista. Alguns dizem que isso já está em curso.

'Três Estados'
 Em novembro passado, o conflito na Faixa de Gaza colocou outra ideia em ciruclação: a separação dos territórios palestinos, na "solução de três Estados".

Alguns analistas israelenses creem que, com o grupo Hamas (que não reconhece Israel) governando Gaza, esse território deveria ser estabilizado e tratado como um Estado separado da Cisjordânia, onde a Autoridade Palestina tem o controle das áreas palestinas. O general Giora Eiland, ex-conselheiro de segurança nacional de Israel, propôs que, para isso, o país mude sua política e inicie um diálogo com o Hamas.

Mas há quem diga que o Egito - cujo presidente é membro da Irmandade Muçulmana, que tem elos ideológicos com o Hamas - deveria abrir suas fronteiras com Gaza e assumir responsabilidade pelo território.

Ao mesmo tempo, existe rejeição à ideia, defendida pela direita israelense, de que países árabes vizinhos acolham os palestinos (dando status de Estado apenas para Israel, Jordânia e Egito, que já têm tratados de paz assinados entre si).

"Os palestinos nunca vão se dissolver em outra entidade ou identidade", justifica Mahdi Abdul Hadi, da Sociedade Acadêmica Palestina de Estudos Internacionais.

Mudanças na ONU
No ano passado, as tensões israelo-palestinas aumentaram com a aprovação, na ONU, do status de Estado observador não-membro dado aos palestinos. Isso permitiu que o termo "Estado da Palestina" seja usado em documentos da ONU e abre espaço para que a ocupação de terras palestinas por Israel possa ser questionada em cortes internacionais.

Mas, em termos objetivos, um Estado soberano palestino continua distante da realidade.

Uma pesquisa de opinião de novembro passado indica que o número de palestinos que apoiam a solução de dois Estados se mantém estável em 51%. Mas o apoio por uma solução binacional cresceu para 27%, cinco pontos percentuais a mais que no ano anterior.

Há sérias dúvidas em ambos os lados quanto a se Obama, atualmente em visita à região, seria capaz de trazer qualquer avanço ao diálogo bilateral. Além disso, os próprios líderes locais estão divididos, e as turbulências em curso no Oriente Médio só fazem aumentar a incerteza na região.

Enquanto isso, o conflito continua a crescer e não pode ser ignorado.

Fonte: BBC Brasil – GeoPolítica  Brasil http://brasilnicolaci.blogspot.com.br/

sábado, 23 de março de 2013

Marketing sem custos: isso é possível?

Não só é viável, como é muito comum. E existem ao menos quatro maneiras para as empresas fazerem isso. Inclusive, fique atento! Se você ainda não implementou algumas dessas estratégias, pode estar perdendo clientes em potencial.

Parece o sonho de qualquer dono de empresa: o negócio ou produto começa a ser falado pelos consumidores e veículos de comunicação sem nenhum custo com marketing ou com um investimento bem pequeno. A marca vai ganhando um destaque de forma espontânea, o que permite o seu reconhecimento diante o seu público.

O que pode parecer um “sonho” para alguns, na verdade já é usado por muitas empresas em seu suporte de divulgação e disseminação de negócio. E não existe apenas uma forma de fazer isso. Há, ao menos, quatro diferentes estratégias que compõem um cenário favorável para aqueles que desejam ter espaço sem necessariamente desembolsarem milhões. Ficou interessado? Então, continue lendo!

1 - A tal mídia espontânea
Veículos de comunicação tem algo em comum. Eles destacam informações e notícias que geralmente possuem pelo menos uma dessas três características: ineditismo, atualidade ou interesse geral. E é nessa hora que as empresas podem conseguir uma “casquinha” no espaço midiático, digamos, de forma mais natural.

Pode ser através da apresentação de um produto inovador, um fato inusitado que desperta curiosidade nas pessoas, uma mudança estratégica da organização que tem impacto em algum setor, e por aí vai. Inclusive, executivos ou funcionários de empresas, de tanto viverem aquele mercado, podem virar potenciais especialistas no segmento e representar seu negócio em entrevistas. Normalmente essas informações são trabalhadas pelas assessorias de imprensa que divulgam as notícias como sugestões de matérias jornalísticas.

Esse tipo de estratégia pode atrair os olhares de mais gente do que esperado, não só o público-alvo, fazendo com que a marca e o produto sejam expostos numa escala muito maior. Inclusive, com a internet e a consolidação de novos veículos de comunicação de nicho, essa aproximação de empresas com a mídia pode ser utilizada cada vez mais com frequência nas estratégias de negócios.

“A comunicação não é um mero modismo nas folhas de investimento corporativo, ela ajuda a empresa a crescer, se desenvolver, ter contato com aqueles de quem ela precisa no mundo a fora e também no contato com o público interno”, afirma a jornalista Clarice Pereira, responsável pela agência LINK Portal da Comunicação.

Mas fique alerta: a mídia espontânea pode ser tão boa quanto cruel. Da mesma forma que ela pode destacar produtos interessantes, ela “adora” ressaltar aqueles que sofrem problema. E estar no lado sombrio da força, nesse caso, pode ter certeza, não é tão interessante.

2 - Fala que eu te escuto
Uma das mais poderosas formas de chegar a novos clientes é através de novos clientes. Empresas que já entenderam isso, com certeza, possuem um diferencial competitivo dos concorrentes que não levam isso a sério.

Ela funciona, basicamente, através de recomendações: quando alguém comenta com outra pessoa que está satisfeito ou insatisfeito com um produto ou com um serviço que adquiriu. Afinal, esse comportamento de compartilhar experiência e repartir incertezas é uma característica marcante do ser humano.

O especialista norte-americano Andy Sernovitz, que atua há mais de 20 anos com consultorias em marketing boca-a-boca, relata que não existe setores específicos para a utilização dessa estratégia, pois ela funciona para qualquer empresa.

“Mas apenas se essas companhias forem fantásticas e o produto valha a pena ser comentado. Se o seu produto ou serviço for ruim, pessoas ainda falarão sobre ele, mas não dirão coisas positivas. Essa é a beleza do boca a boca: os bons profissionais e produtos vencem e os ruins perdem”, destaca Andy, que também é autor do livro Marketing boca-a-boca. 

E não faltam exemplos no mercado de como é possível usar o cérebro e não a carteira para despertar comentários reais dos consumidores, segundo o consultor. “A Zappos, que vende sapatos on-line, possui um suporte ao cliente incrível. Eles oferecem frete grátis e permitem que você devolva o produto com até um ano de uso. E se eles não têm o sapato que o cliente está procurando, eles o direcionam a uma concorrente que tenha. Já a Southwest Airlines é outra favorita em uma indústria que todos amam odiar. Eles possuem um orçamento mais baixo, mas ganham milhares de fãs todos os dias sem gastar. Como? Eles contratam bons profissionais, os tratam com respeito e incentivam que eles tratem o cliente bem, em ações como cantar durante as instruções de segurança. Além disso, eles não exploram os consumidores com tarifas ridículas”, indica Andy Sernovitz.

observação:O mundo virtual do boca-a-boca
Dentro de segmento boca-a-boca, um espaço que virou a “galinha dos ovos de ouro” da maioria das empresas do mundo são as redes sociais. A facilidade de estar em contato direto com o seu público-alvo, além de ter um alcance sem fronteiras a partir do compartilhamento dos próprios consumidores, nunca tinha tomado proporções tão gigantes. 

A Butter Toffees, uma das principais marcas do portfólio de balas da Arcor, é um exemplo disso. A empresa chega a conquistar em média quatro mil fãs por dia no Facebook e, com pouco mais de sete meses no ar, a fanpage da marca ultrapassou mais de 750 mil curtidores.

“Temos realmente muitas participações espontâneas declarando amor à marca diariamente. Mas, pra isso, é preciso uma estratégia bem completa que envolve um plano de mídia muito bem executado, cuidado diariamente para atingir exatamente esse público e que conversa diretamente com nosso conteúdo”, destaca Vitor Elman, diretor de arte da Cappuccino Digital, agência responsável pela rede social da Butter Toffees.

Para Vitor, o mais importante nas postagens está na forma como se fala com o internauta. “São frases, enquetes e, principalmente, imagens bem trabalhadas que expressem todo esse sentimento em volta de momentos das nossas vidas que acabam tocando fundo e fazendo com que a gente se identifique, interaja e queira mostrar para os amigos. Esse é o nosso diferencial, trocar as tradicionais métricas de impressões, por expressões, engajamento”, explica o diretor de arte da Cappuccino Digital.


3 - A la Che Guevara
Marketing de Guerrilha é um tema, de certa forma, frequente na revista Administradores. Virou seção fixa na editoria de Curiosidade (pág. 58) e foi a reportagem de capa na edição de Maio de 2011 (Você não viu? Então pode ler – depois de terminar essa matéria).

No entanto, se você ainda assim não está familiarizado sobre o tema, aí vai uma definição: “O marketing de guerrilha tem como objetivo fazer a marca ser falada. Enquanto a publicidade faz uma campanha tradicional para ser assistida, o marketing de guerrilha cria uma história inusitada para ser contada, falada e compartilhada”, destaca Wagner Martins, sócio e diretor de planejamento da Espalhe, principal agência do país nesse segmento.

E na Guerrilha o que vale é a criatividade. Seja ela uma intervenção urbana - utilizando postes, faixas e calçadas -, seja através do corpo a corpo, quando atores e modelos abordam o público promovendo a interação com a marca, seja na própria internet ou, sério mesmo, seja o que a imaginação permitir. 

“Em 2011, a Espalhe criou o case que divulgou a volta do Halls Uva Verde, que tinha saído do mercado em 2010 mas, por conta de uma grande movimentação de fãs nas redes sociais, a Kraft Foods decidiu relançar o produto. Através de uma ação inusitada, transformamos os principais fãs e engajadores para a volta do drops em bustos produzidos com a matéria-prima do próprio Halls Uva Verde”, conta Wagner Martins .


Outro exemplo, mas usando as redes sociais, foi a ação para Guaraná Antarctica em comemoração aos cinco milhões de fãs na fanpage da marca. O número, atingido em junho de 2012, foi comemorado pela marca com um jogo entre a Seleção de Guaraná Antarctica e a Costa Rica. O time da marca foi selecionado por Mano Menezes, ex-técnico da seleção brasileira, através de vídeos enviados por jovens de todo o Brasil. “A ação ‘Seleção Amigos do Guaraná Antarctica’ foi a primeira seleção a ser escalada pelo Facebook”, relata o sócio da Espalhe.

A estratégia, porém, não é bem aceita por todos, principalmente em grandes eventos. Nas Olimpíadas, por exemplo, para garantir a exposição limpa dos patrocinadores oficiais, o governo chinês e, recentemente o de Londres, prepararam uma ação de guerra contra a guerrilha, criando um livro de regras sobre Marketing na Olimpíada. Na China, 100.000 policiais, guardas-civis e voluntários ficaram responsáveis pela fiscalização de violações ao direito dos patrocinadores.

4 - Incentivos fiscais
Poucas empresas sabem, mas o fomento à cultura, ao audiovisual e ao esporte pode contribuir significativamente para a imagem e a lembrança da sua marca. E tem um detalhe: elas podem sair de graças se utilizadas às leis de incentivo.

A Lei Rouanet, por exemplo, possibilita que cidadãos (pessoa física) e empresas (pessoa jurídica) apliquem parte do Imposto de Renda devido em ações culturais. Assim, além de ter benefícios fiscais sobre o valor do incentivo, esses apoiadores fortalecem iniciativas culturais que não se enquadram em programas do Ministério da Cultura.

Desse modo, o investimento em cultura pode ser visto como uma oportunidade para as empresas participarem do processo de incremento dos valores culturais da sociedade e, principalmente, a possibilidade de construir uma imagem forte e bem posicionada para o consumidor.

“Sempre que uma companhia se associa a uma iniciativa bacana – seja arte ou esporte – tendemos a olhar para ela com novas lentes: ‘Puxa, que legal, a empresa XYZ bancou esta ação’. Essa frase não tem preço e é difícil de mensurar. Quando o seu cliente enxerga sua organização com essa admiração, não há orçamento publicitário que cause benefício comparável”, indica João Ribeiro, que atua na área de Comunicação Integrada Organizacional.

Está esperando o quê?
Agora que você está terminando de ler esta matéria e viu algumas formas para intensificar o marketing em sua empresa sem gastar muito dinheiro, que tal colocar a mão na massa? As coisas só acontecem para quem sabe aproveitar as oportunidades, transformando-as em ferramentas de negócio e promoção participativa e interativa no mundo dos negócios, esteja on-line ou não. 

Por Fábio Bandeira de Mello, Revista Administradores, 18 de março de 2013

sexta-feira, 22 de março de 2013

Estadão insinua que o Povo Brasileiro É burro

Num editorial irônico, jornal comandado por Francisco Mesquita Neto parece não se conformar com a alta popularidade da presidente Dilma Rousseff e indaga até onde chegaria o contentamento se o governo fosse tão bom como a população acredita que está sendo; publicação dos Mesquita lamenta que a população não tenha informações (como as do Estadão) para temperar seu otimismo em relação ao futuro.
Se Dilma é popular, o povo deve estar errado. Essa é a linha de um editorial do Estado de S. Paulo desta quinta-feira, que lamenta a alta popularidade da presidente. Leia abaixo:

Dilma está com tudo - O Estado de S.Paulo dia 21 de março de 2013


O consumidor brasileiro, em geral, não quer saber quanto desembolsará ao todo na compra de um produto em parcelas a perder de vista. Preocupa-se apenas em saber se a prestação mensal cabe no seu bolso. Esse mesmo cidadão, com toda a certeza, não sabe, e, se sabe, pouco se lhe dá, que ele é quem pagará futuramente pelas bondades do governo sem lastro na realidade econômica. Por exemplo, a desoneração tarifária que fez baixar a conta de luz - tida como uma das razões do crescimento da popularidade da presidente Dilma Rousseff. Mas é assim que o mundo funciona.

Na última pesquisa encomendada ao Ibope pela Confederação Nacional da Indústria, realizada pouco depois de ela anunciar, em rede nacional de rádio e de TV, a redução do preço da eletricidade e, adiante, o corte de impostos sobre os produtos da cesta básica, a avaliação positiva do governo chegou a 63%, ante 62% em dezembro. A aprovação pessoal de Dilma - do "seu jeito de governar" - passou de 78% para 79%; a confiança no seu desempenho, de 73% para 75%. Dada a margem de erro de 2 pontos porcentuais da sondagem, um economista diria, talvez, que o prestígio da presidente se mantém estável, com viés de alta.

O conjunto dos dados, no entanto, demonstra que essa é uma conclusão insatisfatória. Vistos em perspectiva, os números deixam claro que, nos últimos 12 meses pelo menos, se consolidou a tendência favorável a Dilma na opinião popular. Eis por que o possível candidato tucano ao Planalto em 2014, senador Aécio Neves, saiu-se com um disparate ao dizer que os resultados da pesquisa traduzem um "sentimento momentâneo". A menos que usasse o termo momento à maneira dos físicos (momentum), como sinônimo de impulso, aceleração.

Dilma pode comemorar outra proeza - ter ultrapassado o seu patrono Lula pela primeira vez, embora por margem mínima. Vinte por cento dos entrevistados, ante 19% no levantamento anterior, consideram o seu governo melhor que o dele. O contingente que discorda caiu de 21% para 18%, e os que não veem diferença entre ambos são hoje 61%, um aumento de 2 pontos porcentuais. No mesmo período do primeiro mandato de Lula, em março de 2005 portanto, apenas 39% julgavam "ótimo" ou "bom" o seu governo, 41% assinavam a alternativa "regular" e 17% o reprovavam. No boletim de Dilma, as notas são 63%, 29% e 7%.

Ao mesmo tempo, a distribuição do apoio a Dilma por classe de renda, nível de escolaridade, local de residência e região geográfica se torna mais parecida com o padrão lulista de popularidade. Entre os entrevistados com renda familiar de até um salário mínimo, por exemplo, a aprovação da presidente passou de 68% para 70%. Já na faixa de 5 a 10 salários, caiu de 66% para 61%. Ela ficou mais popular no interior e nas periferias urbanas do que nas capitais. No Sul, a avaliação positiva caiu de 62% para 60%. No Nordeste, a sua aprovação pessoal alcança 85% - a mais favorável de todas as estatísticas para Dilma e uma inquietante notícia para as aspirações presidenciais do governador pernambucano Eduardo Campos.

Seria uma simplificação atribuir os resultados da sondagem à exposição intensiva da presidente na mídia de massa, trazendo boas-novas às mancheias e varrendo para debaixo do tapete os graves desacertos do governo. Os baixos índices de desemprego, os ganhos reais de renda - ainda não neutralizados pela alta dos preços -, a ênfase do Planalto nas políticas distributivas e, quem diria, a imagem simpática que Dilma aprendeu a transmitir se combinam para fortalecer o endosso a ela. Em toda parte, as pessoas aplaudem ou condenam os governantes comparando a situação em que vivem com a em que viviam e que podem creditar (ou debitar) ao governo de turno.

Além disso, porque não dispõe de informações que a faça temperar o seu otimismo - ou porque descrê daquelas que lhe são desconfortáveis - a maioria dos brasileiros tende a supor que o futuro será a continuação do presente, bastando manter o atual governo. A natural prevalência na mídia da provedora de benesses aumenta a sensação de contentamento. Até onde chegará esse contentamento se o governo Dilma chegar a ser tão ótimo quanto a população acredita que está sendo?

Fonte: brasil247.com.br

Estadão agora sugere arrocho salarial

Na edição de ontem, 21 de março,  o jornal Estado de S. Paulo, comandado por Francisco Mesquita Neto, contestou a alta popularidade da presidente Dilma . Nesta sexta, o jornal prega o arrocho salarial como forma de combate à inflação. Leia abaixo:

Economia fraca e ajustes salariais generosos
Em 2012, a economia brasileira cresceu apenas 0,9% e a inflação medida pelo INPC foi de 6,2%, mas houve reajustes salariais reais em 94,6% das 704 negociações realizadas entre empresas e trabalhadores, segundo pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). É uma contradição - em tese, uma economia em queda não deveria ser acompanhada de salários em alta -, e não há uma explicação isolada para o fato.

O porcentual de reajustes salariais que superou o INPC foi o mais elevado em 17 anos. Na média, a correção superou a inflação em 1,96%, mas em 4,4% dos acordos o ganho real foi superior a 5%. Em mais de 62% os reajustes reais oscilaram entre 1% e 3%.

Na indústria, o resultado foi ainda mais paradoxal, pois o produto do setor caiu 2,5%, enquanto os reajustes reais foram registrados em 97,5% das negociações e atingiram, em média, 2,04%. Na construção civil, o aumento real médio foi de 3,17%.

Do ponto de vista dos trabalhadores, há motivos para comemorar. E, em alguns setores, onde o comportamento das atividades foi satisfatório, os reajustes não causam surpresa - caso da área automobilística.

Cabe, porém, buscar outras razões para os reajustes, a começar da escassez de mão de obra de qualidade, agravada pela fragilidade da educação formal e a introdução de novos processos produtivos, com tecnologia avançada. É notória a falta de profissionais de exatas, como engenheiros.

Outra é a mudança na composição do Produto Interno Bruto (PIB), cada vez mais dependente do setor de serviços, influenciado pela melhor distribuição de renda e a ascensão de dezenas de milhões de pessoas à classe média. A mobilidade social em curso desafia as empresas e a oferta de mão de obra. Além disso, muitos profissionais dão preferência a trabalhar no Estado e nas estatais, onde a remuneração é elevada e a estabilidade é a regra. O crescimento do aparelho do Estado estimula essa tendência.

Também parece crescer o número de trabalhadores formais que se transformam em pequenos empresários, uma questão ainda em estudos no âmbito do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Salários reais em alta deverão significar um aumento do peso do trabalho na renda nacional e impulsionar o consumo, contribuindo para a atividade econômica. Esses são fatos positivos, mas alguns técnicos enfatizaram que os reajustes reais foram estimulados pela inflação e o salário mínimo. Ocorre que a inflação é doença para a maioria da população.

Fonte: Brasil 247

quarta-feira, 20 de março de 2013

Consequências indesejadas fazem China repensar política do filho único

O debate foi retomado no início deste ano depois que a população economicamente ativa caiu pela primeira vez na história, além de problemas estatísticos, política do filho único tem aumentado egoísmo dos chineses
Instituída em 1979, a política do filho único estabeleceu severas multas para os casais chineses que não cumprissem a lei. A legislação, que não é válida para membros de minorias étnicas ou descendentes de casais que sejam filhos únicos, abarca 63% das províncias do país e gerou consequências inesperadas e indesejadas, como o predomínio de homens adultos.
Segundo o documento do Bureau Nacional de Estatística chinês, apesar de o número de nascimentos ter crescido 0,17% em 2012, na comparação com o ano anterior e chegando a 16,35 milhões de novos chineses, a população em idade para trabalhar teve um declínio de 0,6%, o que significa 3,54 milhões de trabalhadores a menos no país. Ma Jingfang, estatístico e colaborador do Bureau, disse à mídia local que a China precisa de um novo plano “apropriado e científico para suas leis de planejamento familiar”.
O ministro responsável pela Comissão Nacional de Planejamento Familiar, Wang Xia, fez um pronunciamento em janeiro dizendo que não haverá mudanças no controle de natalidade, que, estima-se, evitou o nascimento de 400 milhões de chineses. O debate, porém, anda acirrado entre os defensores do fim da política e Pequim. “Se continuarmos assim, não teremos mais pagadores de impostos, trabalhadores ou gente para cuidar dos velhos”, reflete o demógrafo Gu Baocheng, da Universidade do Povo, de Pequim.
“Há que se considerar também a ineficiência da mão de obra no país. Se você vai a um restaurante relativamente grande, há muitas meninas cujo trabalho é apenas cumprimentar o freguês ao entrar. E muitos homens e mulheres se aposentam cerca de cinco anos antes da idade indicada nos regulamentos. Isso não é também um desperdício de mão de obra?”, questiona a socióloga Gui Xiehua, da Universidade do Povo.

Pequenos Imperadores
Há um entendimento comum de que a geração pós-1980, como é chamada na China, é responsável por uma população de crianças mimadas e egoístas, máxima que deu origem ao termo “pequenos imperadores”, como são chamados esses jovens.

Para testar a realidade do conceito, um grupo de pesquisadores australianos conduziu um estudo com 421 adultos, metade deles nascidos antes da política do filho único, e a outra metade nascida após 1979. Através de testes de personalidade, entrevistas e desafios econômicos, os resultados mostram que adultos nascidos pós-1980 são mais egoístas, menos confiáveis, possuem menor habilidade social e comunicativa e são menos dispostos a tomar iniciativas que veem como arriscadas.
“Não acho que o egoísmo dos jovens chineses seja relacionado apenas à politica do filho único. Há muita gente que tem irmãos e é egoísta. É preciso também avaliar, no caso da China, o ambiente econômico em que essas crianças nasceram”, diz Xie Guihua. A socióloga acrescenta que a característica também pode não ser definitiva, visto que o governo e a mídia chinesa mantêm um discurso mais comunitário em detrimento do individualismo. “Essas pessoas podem mudar ao crescer e se adaptar à sociedade”.

Discrepância entre gêneros
É também decorrente da política do filho único a disparidade entre homens e mulheres na China. Com um sistema social e de previdência quase inexistente, a sociedade chinesa organizou-se sob um sistema em que os filhos cuidam dos pais na velhice. Assim, cada filho tem a pressão econômica de prover para seus pais quando adultos.

No caso das mulheres, que casam e se tornam parte da família do esposo, a obrigação aumenta, visto que ela é responsável pelos seus sogros, além dos próprios pais. Esse sistema causou o aborto de milhares de bebês do sexo feminino, especialmente nas zonas rurais, e, somado à política de filho único, levou a China a ser um país velho e masculino. Em 2020, haverá na China 37 milhões de homens solteiros, sem mulheres com quem casar.
“A falta de apoio na velhice é, para mim, a pior consequência da política. Os jovens chineses acabam tendo os pais como um fardo”, avalia Xie Guihua. A pressão econômica aumenta na medida em que o mercado de trabalho está saturado e muitos jovens graduados não conseguem empregos. Há ainda o crescimento da poupança feita pela sociedade, que esfria o mercado interno. “Antes de pensarmos no fim da política, deveríamos rever nosso sistema de previdência social e saúde”, sugere a especialista. No maior asilo da capital, há uma lista de espera de 100 anos para um leito.
Opera Mundi publica com exclusividade os textos do blog "Por dentro dos Brics", em que quatro jornalistas brasileiros trazem as novidades dos países emergentes direto de Rússia, Índia, China e África do Sul. Confira mais em www.osbrics.com e @osbrics no Twitter
Por Fernanda Morena/Opera Mundi

segunda-feira, 18 de março de 2013

Como Despertar o lado Empreendedor nas Crianças


Texto de Marcos Hashimoto

7 dicas de como despertar o lado empreendedor nas suas crianças, por meio de atividades simples, criativas, diferentes, sejam filhos, alunos, sobrinhos ou netos…

A maioria das características empreendedoras não diz respeito a negócios e sim a comportamentos típicos de quem detém este perfil e as escolas não estão preparadas para desenvolver estas competências.

Acredito que a maioria dos meus leitores já deve ter lido muito sobre competências empreendedoras a ponto de saber que elas não são inatas, mas podem ser desenvolvidas ao longo da nossa vida. Também já podem imaginar que as competências empreendedoras não são exclusivas para quem vai montar um negócio próprio, mas cada vez mais valorizadas em todas as circunstâncias, seja na vida pessoal ou profissional (cada dia cresce o número de anúncios de empresas buscando jovens com perfil empreendedor).

Isso não é novidade e é até esperado, uma vez que pessoas com perfil empreendedor promovem mudanças positivas, se arriscam a fazer coisas diferentes, são hábeis em identificar oportunidades, tomam iniciativas por conta própria, são auto-dirigidas, sabem construir boas redes de relacionamento, procuram inovar em tudo que fazem e não se sujeitam às regras e à pura burocracia.

Poucos talvez saibam que, embora algumas competências empreendedoras possam ser aprendidas em cursos e vivenciando algumas experiências, outras são tipicamente formadas ainda na infância.

Não estou falando aqui da clássica imagem da criança que ganha uns trocados vendendo limonada na porta de casa, um ícone tipicamente americano. A seguir eu dou algumas dicas de como despertar o lado empreendedor nas suas crianças, sejam filhos, alunos, sobrinhos ou netos, por meio de atividades simples, criativas, diferentes e que podem ser envolventes e ricas:

1. Para despertar o interesse pela novidade:
Vá com as crianças a um supermercado e diga que eles podem experimentar qualquer coisa que nunca tinham provado antes. Cada um pode trazer uma coisa diferente para colocar no carrinho. Eles se divertem pelas gôndolas e trazem guloseimas com novos sabores. Nesta fase eles tomam gosto pela experimentação. O preço deste aprendizado é que eles vão experimentar algumas coisas e não vão gostar, levando a um desperdício de dinheiro, pois jogam tudo fora. Depois que eles gostarem da brincadeira é a vez de colocar uma regra a mais.

 Agora eles não podem mais jogar fora o que compraram. Se não gostaram, tem que comer até o fim ou a brincadeira para. Eles até reclamam na hora de engolir, mas não querem parar de brincar, já virou um passatempo que quebra a chatice de ir ao supermercado. Assim, aprendem a ser mais criteriosos na hora da escolha. Lêem o rótulo, pensam e aprendem a usar a informação para reduzir o risco da escolha errada e assim acabam criando o hábito de experimentar o diferente. Mas lembre-se, você não pode começar a brincadeira já colocando a penalidade ou eles não entram no jogo. Primeiro eles têm que gostar da brincadeira para só depois impor uma restrição para aprenderem o valor do risco.

2. Para identificar oportunidades:
A melhor forma de aprender a identificar oportunidades é prestando atenção às coisas ao seu redor. Boas oportunidades estão em todo lugar e acontecem a qualquer momento. A maioria não percebe porque não está atenta. Para ajudar as crianças a ficarem mais atentas a brincadeira consiste em fazer perguntas sobre percepção do ambiente. Ótimo para passar o tempo em locais públicos como restaurantes ou filas de espera, encontre um detalhe do ambiente e desafie-os a encontrar, coisas simples do tipo ‘onde tem uma vela’, ‘onde está escrito ‘fumar’’ ou ‘encontre uma criança com cabelos encaracolados’.

Com o tempo, eles se acostumam a entrar em qualquer ambiente e logo prestar atenção em todos os detalhes do ambiente. Uma variável desta brincadeira, em ambientes que eles já conhecem bem como a sua casa, é separá-los, mudar algum detalhe de lugar e chamá-los de volta, desafiando-os a descobrir o que você mudou.

3. Para avaliar riscos:
Pais são normalmente avessos à exposição dos filhos a qualquer tipo de risco. Professores e babás são menos tolerantes ainda, pois são responsáveis pela segurança das crianças. Isso faz com que involuntariamente criemos nossas crianças em ‘bolhas de segurança’ que não permitem que elas vivam algumas experiências enriquecedoras.

Correr um risco, desde que moderado, avaliado e controlado, sempre traz um aprendizado. O importante aqui é que os pais se perguntem: ‘Se algo der errado, o aprendizado decorrente do erro vai compensar o prejuízo?’ Em muitas situações você pode expô-los a um risco no qual eles sentem a adrenalina, mas você tem o controle.
Uma vez, levando eles para a escola, eu falei que iria dirigir seguindo as orientações deles. Eles é que iriam dizer em qual rua virar e qual caminho seguir para chegar à escola. No começo eles adoraram ter o controle da situação, mas acabamos nos perdendo e eles ficaram muito nervosos. Claro que eu sabia o caminho certo e acabei chegando a tempo na escola, mas eles nunca se esqueceram da experiência. Tentamos mais três vezes depois, mas só na quarta eles acertaram o caminho. E celebraram muito!

4. Para quebrar regras:
Esta é a mais difícil e não pode ser aplicada em qualquer idade. No começo eles precisam entender porque existem regras e como elas nos ajudam a viver de forma civilizada e ordenada. Porém, depois que isso é assimilado, eles precisam entender que existe um mundo fora do quadrado e que nem todas as regras fazem sentido ou são necessárias.

O importante é não desrespeitar as leis ou os princípios éticos. Fora isso, se algo não faz sentido, pode e deve ser questionado. Na fase da adolescência se pode dar vazão ao espírito rebelde que se instala entre eles, dando foco e atenção aos seus questionamentos.

Uma brincadeira que faço com eles é, durante uma conversa sobre um determinado assunto de interesse deles, antecipar que vou falar uma grande besteira, mas eles não vão saber qual nem quando vou falar. Continuamos a conversa e, no final, eu pergunto qual foi a grande besteira que eu falei. Eles devem adivinhar e geralmente acertam. Com o tempo eu começo a praticar isso sem avisar antes e só falo depois que eu falei uma besteira. Se eles aprenderam a prestar atenção, vão identificar logo.

Com isso vão alimentando o seu espírito crítico, não aceitando mais passivamente tudo o que ouvem ou lêem. Hoje, mesmo que eu não fale nenhuma besteira, eles duvidam de algumas coisas que falo, e até conseguem me provar que eu falei uma coisa errada mesmo! Este é o lado ruim da história, ruim para nós, mas ótimo para a vida deles.

5. Para ser criativo:
Criatividade é o alimento da inovação. Somos tão condicionados a buscar a concordância e a aceitação pública que acabamos nos esquecendo do que nos torna diferentes e únicos. Todos querem ser iguais e os diferentes são discriminados por não se encaixarem nos padrões de ‘conformidade’ impostos pela sociedade.

Existem várias brincadeiras para estimular a criatividade e elas são mais efetivas quanto mais jovens forem as crianças, pois menos amarras possuem ainda. Uma que gostava de fazer quando eles eram pequenos era o passatempo preferido nas viagens de carro. Um de nós conta uma história e, no meio dela, interrompemos para que o outro continue e dê um novo rumo. Assim, vamos alternando, passando de uma para outra, até que alguém a termine e é claro que ela termina totalmente diferente de como foi iniciada.

Outra coisa que eles se divertiam era pegar histórias conhecidas e invertê-las totalmente, dando novas características aos personagens, mudando o roteiro ou imaginando novos finais inusitados e divertidos.
6. Para exercitar a autonomia:
Muitas vezes achamos que nossos filhos não estão maduros o suficiente para assumirem algumas responsabilidades. Puro preconceito nosso, eles são mais espertos do que imaginamos. Assumir a responsabilidade de alguma coisa é importantíssimo para a formação deles.

O exemplo clássico é ter um animal de estimação. O bichinho vai morrer se ele não cuidar, mas a responsabilidade acaba sendo tão grande que, no final das contas, nós é que acabamos alimentando e cuidando.

Entre uns 10 e 12 anos, uma brincadeira simples é dar a eles a liberdade de programarem o que fazer em família no domingo. A liberdade é total e os pais vão cumprir tudo o que eles definirem. Eles ficam muito entusiasmados e no começo acabam se excedendo, ou com muitas atividades, ou com coisas que nem todos vão curtir.

Com o tempo, eles vão aprendendo a escolher melhor as atividades, a se planejar para tudo dar certo, a ouvir o que as pessoas querem e a arcar com as consequências quando não acontece o que eles previram. O exercício da liberdade é uma droga viciante, da qual, uma vez experimentada, não se pode mais viver sem. Por isso, o aprendizado seguinte é exercer a liberdade, mas com responsabilidade.

7. Para ter iniciativa:
As crianças têm iniciativas natural e espontaneamente. Tudo o que precisamos fazer é apoiá-las e incentivá-las. Podem ser coisas simples, como começar um blog ou receber os amigos para assistir um filme. Podem ser coisas maiores, como organizar um mutirão de ação social ou montar uma banda.

O importante é sempre dar o primeiro passo, pois a empolgação cresce na mesma medida que o envolvimento na atividade. Não critique e nem reprima, pelo menos no começo. Se algo pode dar errado, alerte, aconselhe, mas não insista. Se for alguma coisa que não vá gerar muito impacto e pode ser contornado, deixe acontecer e dar errado, até estas experiências são válidas e úteis para o aprendizado.

Pesquisas indicam que os pais exercem grande influência na formação de algumas características empreendedoras. Um vídeo que retrata bem isso é comercializado pela Siamar e se chama ‘Lemonade Stories’. Produzido pela Babson College, conta a história de 7 empreendedores como Richard Branson (Grupo Virgin) e Arthur Blank (Home Depot) e como suas mães os influenciaram.

Como podem ver, há várias coisas que podemos fazer com as crianças, algumas podem dar trabalho, mas é recompensador ver os resultados, ver como eles crescem espertos, ativos, maduros.

Sempre que possível, tente dar um aspecto lúdico à atividade, uma brincadeira, um jogo, um desafio. Vai ser mais divertido e eles se envolvem mais. Tome um cuidado especial em não forçar a barra. Apesar de alguns aprendizados requererem um esforço não natural, somos diferentes uns dos outros. Se uma pessoa é naturalmente tímida e introvertida, não a force a se expor em público. O tiro pode sair pela culatra.

Alguns comportamentos são condicionados e podem ser modificados, mas traços de personalidade não. Eu mesmo procuro praticar isso o tempo todo com meus três filhos. Não sei se eles vão montar seu próprio negócio no futuro, mas tenho certeza que estarão mais bem preparados para enfrentar o mundo do que muito de seus amiguinhos.

Postado em Coaching Empreendedorismo por Marcos Hashimoto

domingo, 17 de março de 2013

Passada a dor, Ricardo Boechat abre o jogo

Na entrevista que concedeu  esta semana ao NaTelinha, do UOL, o ex-colunista, agora à frente do Jornal da Band, conta um pouco da carreira e de como foi ceifado da Globo em 2001, de forma bastante dolorosa.

Em jogo, a liberdade de pensamento e expressão, o que é proibido hoje ao jornalista que trabalha no maior conglomerado de comunicação do país e um dos maiores do mundo. E desafio algum colega em público a dizer que esta afirmação não seja verdade. Derrubar quem não pensa da mesma forma que o patrão é o modus operandi adotado.

Outro exemplo conhecido é o de Franklin Martins, mas há muitos que a "googlesfera" e blogosfera bem conhecem. Faço das palavras do Boechat as minhas, mas como editor destaquei da entrevista apenas os trechos que considerei mais importantes:

NaTelinha - Você não fez faculdade e nem terminou o segundo grau. Principalmente por conta disso, algum dia você imaginou chegar aonde chegou?
Ricardo Boechat - Então, eu não fiz jornalismo como um projeto pré-elaborado. Eu fiz jornalismo como poderia ter feito outras coisas. Tanto que eu tentei formação em atividades completamente diferentes, como ser vendedor de material de escritório, mas isso eu estou falando de uma fase da vida em que eu tinha 16 anos.

Por volta dos 17, meu objetivo era muito específico, muito focado, que era independência suficiente pra poder pagar minhas continhas, tomar meu chopp, ir ao cinema com minha namorada e tal.

Essas coisas que os jovens que não tem mesada têm que conseguir por conta própria pra poder fazer o básico ou atender às demandas da adolescência, que apesar de serem relativamente baratas, são muitas. É isso, mas a minha ansiedade era mesmo trabalhar, quem sabe morar sozinho mesmo.

NT - E como o jornalismo entrou nessa história?
RB - Foi meio que por acidente. Eu já tinha parado de estudar, estava de saco cheio da escola, estava vendendo livros. Na verdade minha mãe e meu pai vendiam livros e eu pegava material de propaganda de algumas coleções mais baratas, mais simples, mais geral, e procurava pais de amigos de escola.

Então eu ia à casa deles e tentava vender uma coleção ou outra e ganhava um trocadinho nessa atividade. Até que um dia o pai de uma amiga minha reclamou que eu estava dedicando o meu tempo a uma atividade que não correspondia às minhas vocações naturais, que ele enxergava, mas eu não. Eu gostava de escrever, escrevia com relativa facilidade, e tinha algumas características que o pai dessa minha amiga gostava muito. Ele me disse que eu precisava trabalhar em algo que eu precisasse escrever e tal. Ele era do departamento comercial do “Diário de Notícias” e se chamava Kleber Savoia. O Kleber disse para eu ir à redação do jornal falar com o chefe de reportagem.
Eu já tinha feito um curso para tentar duas ou três vagas no “Jornal do Brasil”, mas não consegui. Não só porque o JB estava a léguas de distância da minha capacidade àquela altura, como também a própria idade não me permitiria ficar com alguma das vagas. Enfim, ele me arrumou essa apresentação e o chefe de reportagem do jornal disse "’fica aí então anotando essas coisas". Fui ficando.

NT - Você não imaginaria nunca chegar aonde chegou?
RB - Não, o máximo que me imaginei foi ganhar uma grana para pagar as minhas coisas.

NT - Hoje, você está na televisão, em horário nobre, também faz rádio e tem coluna em revista. Sente-se realizado profissionalmente?
RB - Sem dúvida. Às vezes quando eu paro pra pensar, eu acho que o destino me deu mais do que eu fiz por merecer. Eu sempre trabalhei demais, sempre fui obcecado por trabalho, mas tenho que reconhecer que a vida me deu bastante coisa. Não tive formação, nunca remei a favor da corrente, tomei uma porrada no auge de minha carreira, mas estou no mercado, ganho bem. Sou realizado sim.

NT - Você acabou de falar de uma “porrada” que tomou da vida. Então, você saiu da Globo de uma maneira turbulenta. Guarda mágoas das Organizações Globo?
RB - Hoje mais não... Cara, se eu te perguntasse se você tem raiva daquele “meio-fio” que você arrebentou o dedão do pé, você responderia o quê? Que ficou puto, na hora. Que você ficou doído, que você sofreu durante algum tempo até que cicatrizasse.

Claro que aquilo me machucou absurdamente, me feriu, me ofendeu, me indignou, revoltou e conseguiu alguns anos de rancor. Claro que sim. Era meu ambiente, minha casa, meus amigos, minha vida. Tem certos momentos que eu paro pra dizer o seguinte: se eu não tivesse passado por aquilo, o que eu estaria fazendo hoje na Globo? Provavelmente eu estaria fazendo a coluna que eu sempre fiz em “O Globo” e teria uma função no “Bom Dia Brasil”, talvez como colunista ou talvez dando uma bicada num programa qualquer da Globo News.

Certamente eu não estaria fazendo rádio, certamente eu não faria o que mais me realiza, mais me dar prazer, que é o rádio. Muito certamente, aliás, sou absolutamente convicto que eu não teria a liberdade que eu tenho na Band.

NT - Aceitaria voltar pra lá, caso fosse feita uma proposta?
RB - A troco de quê? A Globo não tem culhão pra me dar a liberdade que a Band me dá. Eles não respeitam a liberdade de ninguém, aliás, eles respeitam até certo nível de liberdade. Ou melhor, ninguém abusa tanto de liberdade assim, tipo ‘vamos ver até aonde vai mesmo?’. Por isso que eu dificilmente toleraria isso. Seria uma “encheção” de saco tremenda. Dificilmente eu faria o que faço, lá, e ganharia o que ganho aqui.

NT - Você já sofreu ameaças por conta do jornalismo?
RB - Veja só, o que é ameaça pra você? Porrada, tiro, faca, coça? Eu nunca levei. Processos já aconteceram sim, hoje (ontem) mesmo levei três. Processos tenho dezenas, talvez mais de uma centena ao longo da carreira. Mas isso eu não vejo como ameaça.
Agora é importante dizer o seguinte. O “Jornal do Brasil” e o Grupo Bandeirantes sempre se responsabilizaram pela defesa e por todas as consequências resultantes do exercício da liberdade na profissão. Tenho que citar também o jornal "O Globo", pois a casa dos Marinho, nesse aspecto (e em outros, diga-se), sempre foi impecável, comigo e com outros jornalistas na mesma situação.

NT - O que você acha do atual jornalismo praticado pelas emissoras de rádio e televisão atualmente no Brasil?
RB - Acho melhor do que de outrora. Estamos enfrentando uma concorrência mais numerosa, mais ampla, mais pulverizada, as pessoas estão cada vez mais se tornando jornalistas...

NT - Tem mais fontes de informação...
RB - Eu acho que elas próprias mais testemunham do que veem notícia. Eu tenho repetido o seguinte: o que caracteriza o jornalista predominantemente na história? Ele era apropriador da notícia testemunhada por terceiros, ou seja, um apurador de relatos.

O Repórter Esso tinha um bordão muito legal, que era “o seu Repórter Esso, testemunha ocular da história”. Na verdade o Repórter Esso nunca foi testemunha de coisa nenhuma, ele estava lá na redação. É curioso isso. Repórteres e jornalistas não são testemunhas oculares.

Com exceção dos correspondentes de guerras, que evidentemente estão lá testemunhando coisas no primeiro plano. Mas, normalmente o que somos nós no nosso cotidiano? Nós vamos atrás das testemunhas, dos fatos. Daqueles que viveram o fato em primeira pessoa. O jornalista não está dentro do avião que caiu ou do tsunami que passou por ali. Ele vai de encontro às pessoas pra capturar informações, levá-las para as redações, e, com pesquisas, coloca tudo no ar.

NT - Então é falsa a marca de que o jornalista é testemunha ocular da história...
RB - Completamente falsa. Nós não somos testemunhas oculares de coisa nenhuma. O que está acontecendo é que as testemunhas que alimentavam os jornalistas estão elas próprias trabalhando com os novos meios de comunicação, com ajuda de celulares que têm internet, máquinas filmadoras etc.

Então essa figura de jornalista que fica na redação esperando que a testemunha ocular da história entregue o ouro para que ele apareça na televisão engravatado e parecendo um gênio da informação, está condenada. E é ótimo que esteja.

NT - Por quê?
RB - Porque isso significa que 7 bilhões de pessoas serão jornalistas e trabalharão com a informação primária, difundirão a informação. Tem riscos? Muitos. Mas é melhor ter 7 bilhões de pessoas com informações do que 7 ou 70 tentando manipular 7 bilhões de pessoas.

Então o jornalismo hoje em dia percebe essa concorrência, apesar de esse não ser o nome correto, por não ter esse propósito, mas ele percebe essa avassaladora presença da informação circulando nas mãos de todo mundo. Isso obriga o jornalista a criar os seus diferenciais, impor-se pela qualidade, pela coerência e seriedade.

Fonte: blog DoLaDoDeLá - http://maureliomello.blogspot.com.br