terça-feira, 31 de janeiro de 2012

E se a ONU não achar armas nucleares no Irã?

O desembarque de inspetores da ONU em Teerã, onde irão investigar as pesquisas nucleares do país, coloca uma pergunta política: o que vai acontecer com a diplomacia dos Estados Unidos, União Europeia e Israel se não surgirem provas de que o Irã prepara sua bomba atômica?

Este é um problema sério.

A maioria dos serviços de inteligência do Ocidente, inclusive dos EUA, considera que apesar de seus avanços recentes, as pesquisas nucleares do Irã ainda tem alguns anos pela frente antes de deixar o país em condições de produzir armas atômicas. O único país que enxerga avanços maiores é seu rival regional, Israel. Não surpreende. A diplomacia israelense tem interesse em manter o Irã numa permanente defensiva.

Atribuidos com um grau cada vez maior de certeza ao serivço secreto israelense, atentados contra cientistas iranianos são uma forma óbvia de elevar a tensão. Claro que, diante de uma avaliação desfavorável, é sempre possível lançar uma campanha de denúncias e insinuações contra a ONU, como George W. Bush ao tentar justificar a guerra contra o Iraque.

Ainda assim, uma avaliação da Agência Internacional de Energia Atômica não é coisa que se derrube na gritaria. Até porque o mundo não vive, hoje, o ambiente de assombro e perplexidade gerado pelos ataques de 11 de setembro, que contribuiram para diminuir o espírito critico de muitas consciências, favorecendo a mentira e a manipulação.

Se essa visão do programa iraniano for confirmada, ficará mais difícil justificar tecnicamente as sanções duríssimas de Washington e Bruxelas. Não é preciso chegar às questões humanitárias.

Vários especialistas alertam que o embargo às vendas de petróleo do Irã talvez seja mais prejudicial aos países importadores do que aos próprios iranianos. O risco é uma provável alta no preço do petróleo, num processo capaz de acabar com a recuperação econômica americana — bastante frágil — e afundar a Europa ainda mais. Enquanto isso, o Irã pode compensar a perda de clientes na Europa com um aumento nas vendas para a China e a Índia.

E aí vem a pergunta: em nome de que?

Numa campanha presidencial onde tenta compensar a decepção do eleitorado democrata com a conquista de eleitores republicanos pouco empolgados com os candidatos lamentáveis que o partido apresentou até o momento, Barack Obama tem interesse de manter o Irã sob pressão. Mas sabe que não irá ganhar votos caso o preço da gasolina comece a pesar no bolso dos eleitores.

O mesmo vale para governos franceses e alemães, que em breve terão de passar pelo teste das urnas. Sempre atenta para definir aonde estão os verdadeiros interesses de seus leitores, que formam a elite financeira dos países desenvolvidos, a revista The Economist alerta, em seu último número, que, em vez de tratar o Irã com porrete, também é hora do Ocidente oferecer cenouras.

É uma opinião sensata. A menos, claro, que se queira ir para a guerra de qualquer maneira. O que você acha?

Texto de Paulo Moreira Leite - http://colunas.revistaepoca.globo.com

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Hipócritas reclamam de “uso político”

Começo a ficar irritado com observadores e analistas que se declaram preocupados com o “uso político” de determinados acontecimentos. Pergunto a origem desse comportamento. Recentemente até políticos se pronunciaram contra o “uso político” do despejo de moradores do Pinheirinho.

Um número imenso se revela incomodado com o “uso político” das UPPs no Rio de Janeiro. Idem para a Cracolândia. Para a taxa de juros.

O Bolsa-Família já foi muito criticado por seu “uso político.” O argumento era assim: “a idéia não é ruim. O problema é o uso político.”

Com esse argumento, procura-se separar o eventual benefício de determinada proposta daqueles dividendos (ou prejuízos) que ela poderia gerar às autoridades. Faz sentido?

Numa sociedade democrática, é natural que erros e acertos produzam efeitos políticos. Isso porque as pessoas se informam, têm liberdade para julgar, dão opinião, tomam partido, discutem. Seria hipocrisia fingir que não é assim.

Ousaria até dizer que a grandes ações e propostas dos governantes do mundo inteiro nascem como idéias políticas que, cedo ou tarde, serão usadas politicamente. A favor, quando dão certo. Contra, quando dão errado. O jogo é esse.

Quando pode desfrutar de liberdades públicas, uma sociedade faz “uso político” de tudo, o tempo inteiro. Quando fala de um buraco na rua, do aumento da violencia, da queda no desemprego.

Mesmo quem procura apoio em análises de caráter técnico — que sempre são as melhores num debate produtivo — também não deixa de fazer uso político dessas informações.

As queixas contra o “uso político” são uma forma de “uso político” também. É um recurso para desqualificar o argumento do adversário como interesseiro, desinformado, panfletário e, simultaneamente, dar um verniz desinteressado, técnico e maduro para o próprio ponto de vista.

Com uma retórica paternal, ou professoral, ou ambas, encobre-se a própria opinião política para assumir a postura de quem está acima do debate dos simples mortais. É uma forma de sugerir um saber superior, inalcançável para o cidadão comum.

Texto de Paulo Moreira Leite - http://colunas.revistaepoca.globo.com

domingo, 29 de janeiro de 2012

Pinheirinhos e o "preço" da consciência moral

Os nazistas, para quem não sabe, eram ultra-organizados: todas as suas ações eram planejadas nos mínimos detalhes: desde a minuciosa pesquisa para saber dos ancestrais arianos dos candidatos às SS, ao fardamento negro impecável e suas reluzentes insígnias que ostentavam com orgulho. Até o corte de cabelo e das unhas era preconizado em regulamentos.

Quando o exército alemão invadiu e ocupou a Europa Oriental, os chamados "Grupos de Ação"(Einsatzgruppen) o seguiam para promover o que chamavam de "limpeza", ou seja, eliminação de todos os indesejáveis(judeus, ciganos, e comissários blocheviques, principalmente), tarefa já adrede preparada meses antes. Quando chegavam em uma comunidade já sabiam quantos judeus lá habitavam o que faziam.



Como esses "Grupos de Ação" não deram cabo do "serviço", merce dos assassinatos de mais de um milhão de judeus e eslavos, os metódicos nazistas recorreram aos fatídicos Campos de Concentração onde, de forma organizada e ordeira, exterminaram mais de três milhões de pessoas. Tudo claro, sob o amparo de ordens e regulamentos e em impecável sintonia com a ideologia malsã. As chamadas fábricas da morte nada deviam em termos de funcionalidade a qualquer empresa moderna.

Mas quem eram, qual o leitmotiv dos homens(e mulheres) executores desses crimes lesa-humanidade? Abaixo, transcrição de parte do interrogatório de um dos mais ferozes comandantes de Einsatgruppen) - Otto Ohlendorf -de profissão original professor e advogado antes do oficialato nas SS, no julgamento de Nuremberg:

Ohlendorf: "Sr. Promotor.......Eu considerava errada a ordem(de matar os indesejáveis, mas estava sob coação militar e a levei a cabo.......sabendo que........essas providências eram medidas de emergência, de autodefesa. Mesmo agora, considero que a ordem, em si, era errada, mas não me cabia examinar se ela era moral, porque um líder tem de responsabilizar-se pelos cumjprimento das ordens. Não posso examinar e não posso julgar; não tenho esse direito".

Promotor: "Você entregou sua consciência moral a Hitler, não foi?"

Ohlendorf: "Não. Mas entreguei a minha condição de soldado, uma peça relativamente desimportante da engrenagem de uma grande máquina. E o que fiz ali é o mesmo que se faz em qualquer outro exército. Como soldado, recebi uma ordem e a ela, obedeci como soldado".

Promotor: "Você se recusa a expressar um julgamento moral?"

Ohlendorf: "Sim".


Cada um que tire as suas conclusões e faça as suas ilações.

Por JB Costa - Bibliografia consultada: SS e Gestapo, de Roger Manvell.

Fonte: Blog do Nassif

Capitalismo em xeque no encontro de bilionários em Davos



A conferência organizada entre as empresas e países mais ricos do mundo, neste sábado em Davos, na Suíça, começou com um protesto no qual um grupo de ativistas ucranianas, conhecido como Femen, tirou a roupa contra o capitalismo e seus efeitos na sociedade moderna. “Somos pobres por culpa de vocês”, escreveu no torso nu uma das manifestantes, num recado ao sistema que, mundialmente, experimenta seus piores dias desde que foi idealizado, ainda na Revolução Industrial britânica, há quatro séculos.

Nos dias de hoje, o capitalismo tem futuro? Ainda serve à sociedade do século XXI? As perguntas cabem perfeitamente nas palavras de ordem dos movimentos de protesto que já ocuparam as praças e alamedas da pequena estação de esqui nos Alpes suíços, quando não tiram a roupa no frio abaixo de zero. Mas, na realidade, estão no centro do primeiro debate do Fórum Económico Mundial, que reúne desde os ministros das finanças dos países ricos aos grandes banqueiros, sobretudo norte-americanos, diante da herança de erros da crise financeira dos últimos anos. Mas poderá haver pouco tempo para reflectir sobre isso, com a Europa e o mundo em suspenso por causa de outra crise, a da dívida soberana.

A própria agenda encarregou-se de antecipar as principais preocupações. Dentre os 2,6 mil líderes políticos, empresariais e financeiros que se hospedaram, este ano, para o Fórum de Davos, foi a chanceler alemã Angela Merkel a escolhida para abrir o primeiro dos cinco dias do encontro. Com uma nova cúpula europeia já na próxima segunda-feira, os labirínticos corredores e os luxuosos hotéis de Davos servem de palco às discussões paralelas entre os líderes europeus, às voltas com a perspectiva de recessão na zona euro, com um difícil acordo para a reestruturação da dívida grega e com a necessidade de travar o contágio da crise às grandes economias da moeda única.

Enquanto isso, os organizadores do FEM ainda tentam, uma vez mais, elevar a discussão a outro patamar, em linha com o tema deste ano: A Grande Transformação: Dar Forma a Novos Modelos. Klaus Schwab, fundador do Fórum de Davos, foi o primeiro a atirar contra o modelo econômico que naufraga:

– O capitalismo, na sua forma atual, não se adequa ao mundo à nossa volta.
Declarações que cabem feito luva ao movimento Ocupar Wall Street e aos demais protestos que circundam o planeta, em Davos ecoam desde os luxuosos hotéis onde ocorrem as principais discussões do encontro de bilionários até os acampamentos de iglus dos manifestantes contrários ao sistema, na montanha suíça, a 1,5 mil metros de altura. As perguntas sem respostas, porém, encontram-se no momento com os “homens de Davos”. Ou seja, muitos dos banqueiros que tiveram de pedir a ajuda dos Estados, dos economistas que não previram a crise e dos líderes políticos que continuam sem dar uma resposta convincente aos problemas actuais.

Após um breve afastamento de Davos, entre 2009 e 2010, no início da crise do capitalismo mundial, e de um tímido regresso no ano passado, os banqueiros voltam este ano a afirmar a sua presença. Vikram Pandit, o diretor executivo do Citigroup, é um dos co-presidentes do Fórum, o primeiro de um banco norte-americano desde 2008. No momento em que as atenções se voltam para os bancos europeus, expostos à dívida grega e dependentes da ajuda do Banco Central Europeu (BCE), a história recente do Citigroup até passa despercebida: foi o banco norte-americano que mais pediu ajuda ao Estado assim que a crise mundial eclodiu e foi o que apresentou a pior performance aos acionistas na última década e Vikram Pandit. Desde o início de 2009, Pandit reduziu o seu salário a US$ 1 até o banco ultrapassar os seus problemas, mas já recebeu, no ano passado, um bónus de US$ 16 milhões.

Ao presidente do Citigroup junta-se uma delegação com os líderes dos maiores bancos, como o Bank of America e o JP Morgan Chase. São eles que, lado a lado com a classe empresarial de topo, com as dezenas de multimilionários e com cerca de 40 líderes políticos, ficaram com a espinhosa tarefa de discutir cenários de mudança e os modelos económicos que podem fazer essa transição do capitalismo para um outro sistema, que ainda não sabem qual, exatamente. E isto quando a confiança nos “homens de Davos” está mais frágil que nunca.

Esta semana, o barômetro Edelman, realizado no âmbito do FEM, revela um forte declínio na confiança pública nos governos e no setor empresarial. Outro estudo do Fórum, sobre os Riscos Mundiais em 2012, colocava o agravamento das desigualdades sociais no topo das preocupações de mais de 400 especialistas do mundo acadêmico, empresarial e governamental para a próxima década.

Depois da Primavera Árabe ter gerado uma onda revolucionária de protestos, o receio patente no relatório é que o crescimento do fosso entre ricos e pobres, o desemprego jovem e a falta de confiança no futuro possam plantar as “sementes da desordem” e abrir caminho à agitação social.

O aumento do desemprego, o abrandamento da economia mundial e o risco de protecionismo são algumas das questões no topo da agenda de Davos. Contudo, no meio das mais de 280 sessões oficiais – painéis, discursos eworkshops- há de tudo um pouco. Desde as descobertas científicas que deverão moldar o mundo este ano às diferenças entre uma sonata de Beethoven tocada em instrumentos musicais velhos ou modernos. Desde os discursos do presidente do BCE (Mario Draghi), da líder do FMI (Christine Lagarde) ou do secretário do Tesouro americano (Timothy Geithner) à presença dos líderes da Unilever e da General Electric. Tudo isto polvilhado com as famosas festas, que têm conferido a Davos uma aura de exclusividade, luxo e decadência.

Fonte: correiodobrasil

sábado, 28 de janeiro de 2012

Má notícia para os fanáticos do mercado

Em sua edição de 27 de janeiro, a reportagem de capa da Economist, leitura obrigatória da elite financeira mundial, ajuda a colocar o debate sobre os rumos da economia em seu devido lugar.
O titulo é bastante significativo: “O crescimento do capitalismo estatal – o novo modelo dos emergentes.”

Como sabem seus leitores, a Economist é uma publicação com idéias conservadoras em assuntos econômicos. Defende uma presença mínima do Estado na economia, costuma apoiar governos e candidatos de acordo com elas mas não é partidária de idéias irracionais nem fanáticas.

A vantagem para os leitores é que não confunde a realidade com seus desejos.

Diante da crise européia, a Economist tem sido uma das críticas mais duras da obsessão de Angela Merkel com a austeridade e defende programas de estímulo ao crescimento para tirar o Velho Mundo para o fundo do poço.

Em 2009, quando boa parte da imprensa brasileira preocupava-se em encontrar obstáculos na recuperação do país após a crise de Wall Street, a Economist saiu com uma capa que mudou o rumo da conversa: ”O Brasil decola.” Ali, lembrava aos leitores que o país havia entrado numa fase de prosperidade e que em breve estaria ocupando um lugar importante entre as maiores economias do planeta.

Essa forma não-provinciana de enxergar a realidade também aparece na reportagem especial de 14 páginas sobre capitalismo de estado.( link, em inglês: http://www.economist.com/node/21542931 )

Eu acho que essa reportagem merece reflexão de quem se interessa de verdade pelo conhecimento da economia e não pela divulgação de suas convicções e mesmo de seus preconceitos.

Para a revista, assiste-se a um momento em que a crise do “capitalismo liberal ocidental coincidiu com uma forma nova e poderosa do capitalismo de estado nos mercados emergentes.”

Fazendo um balanço histórico, a revista lembra que o papel do Estado na economia mundial cresceu entre 1900 e 1970. Naquele momento, o vento soprava nessa direção.

Depois disso, as idéias do mercado ganharam terreno com Ronald Reagan e Margareth Tatcher,as privatizações e a ruína da União Soviética e seus satélites.

A partir de 2008, depois da crise do Lehman Brothers e a crise das economias desenvolvidas, ”a era do triunfalismo do mercado foi interrompida.”

Avaliando as consequências desta situação, a revista afirma que a forma atual de “capitalismo de estado representa o mais formidável inimigo que o capitalismo liberal já enfrentou.”

Hoje, “o capitalismo de estado pode reivindicar os maiores sucessos econômicos do mundo para seu campo.” As empresas estatais representam 80% dos valores negociados no mercado de ações da China, 62% na Russia e 38% no Brasil.

Comparando taxas de crescimento, a revista recorda que estes países crescem 5,5% ano ano, contra 1,6% dos desenvolvidos. A revista também acredita em 2020 essas economias emergentes irão responder por metade do PIB mundial.

A influencia do capitalismo de estado deve prolongar-se por anos, diz a revista. Isso porque, em função de sucessos localizados e momentâneos, talvez seja necessário aguardar muito tempo até que ”as fraquezas do modelo se tornem evidentes.”

Partidária da visão de que a economia de mercado sempre será mais eficiente e mais aberta às inovações, a revista acredita que cedo ou tarde o capitalismo de estado acabará perdendo sua força e poder de atração.

Gostaria de comentar algumas idéias discutidas pela revista.

A revista associa mercado e democracia, estado e ditadura. Confesso que até hoje não entendi porque se costuma associar estes dois fenômenos, sempre desta maneira. Num país onde o Estado tem forte influencia na economia, esta atividade passa a sofrer forte influencia do sistema político. Se o regime for uma ditadura, será uma influencia autoritária.

Se for uma democracia, irá refletir, após muitos filtros e distorções, o pensamento do eleitor. Numa economia dominada pela iniciativa privada, a maior influencia sobre o Estado virá do mercado, ou seja, das empresas privadas e seus lobistas. Não virá do cidadão comum nem da classe média nem dos trabalhadores.

França, Inglaterra e Alemanha são paises que tiveram uma forte influencia do Estado na economia, ao longo do século XX, e não deixaram de ser democracias por causa disso. Nos anos Roosevelt, o Estado coordenou e até dirigiu boa parte do crescimento econômico americano. Seria autoritarismo?

As ideias ultraprivatizantes de Augusto Pinochet nunca o impediram de transformar o Chile numa ultraditadura. Há quem diga que a segunda foi condição para que pudesse realizar a primeira.

O nazismo de Adolf Hitler foi um produto direto da obsessão da centro-direita alemã com o mercado e sua recusa para criar medidas para enfrentar o desemprego e a falta de crescimento.

Outra afirmação é a seguinte: “o capitalismo de estado funciona direito quando dirigido por um estado competente.” A regra vale para tudo na vida, na verdade. Inclusive para o capitalismo de mercado.

Colapsos gigantescos como de 1929 e 2008 deveriam reforçar a modéstia dos que acreditam na competência instrínseca da iniciativa privada. Nos dois casos ela precisou ser salva pelos recursos do Estado, socializando imensas perdas depois de ter embolsado enormes prejuízos.

A ideia da eficiência natural do mercado esbarra em contradições importantes. Os mercados tem uma dificuldade imensa para lidar com a desigualdade social, problema que está na raiz das principais crises econômicas recentes.

Sem mercados para crescer, a economia cria sistemas de credito para emprestar dinheiro para quem pode consumir mas não tem renda de verdade para pagar a conta, montando uma bola de neve que produziu os derivativos que explodiram em 2008.

Texto de PAULO MOREIRA LEITE

Fonte: http://colunas.revistaepoca.globo.com

O desenvolvimentismo asiático

Salvo engano, foi Chalmers Johnson quem falou pela primeira vez do “desenvolvimentismo” asiático, no seu célebre livro sobre o “milagre econômico japonês”, publicado em 1982.

Depois dele, transformou-se num lugar comum dizer que o “estado desenvolvimentista” foi ator central do crescimento econômico acelerado da Coréia, Taiwan e Singapura, entre os anos 60 e 80; da China, a partir dos anos 90; e do Vietnã, no início do século XXI.

O próprio Johnson – que era economista, serviu na Guerra da Coréia, foi consultor da CIA para a Ásia, e lecionou nos Centros de Estudos do Japão e da China, da Universidade da Califórnia – voltou muitas vezes ao tema e acabou transformando-se num dos grandes especialistas norte-americanos em economia política asiática. E foi um dos principais responsáveis pela difusão e aprofundamento acadêmico da pesquisa e do debate que ganhou ressonância internacional, com a publicação do Banco Mundial, do “The East Asian Miracle: Economic Growth and Public Policy”, em 1993.

No seu tempo, o livro de Johnson surpreendeu o mundo acadêmico: segundo o autor, o “modelo econômico” japonês do pós-guerra não era original e vinha dos anos 20; e sua característica fundamental não era econômica, tinha a ver com a “intensidade” com que a sociedade e o governo japonês se dedicavam ao estabelecimento e cumprimento dos seus objetivos estratégicos.

Para Johnson esta “intensidade” se devia ao fato de que o “modelo” tinha sido concebido como um instrumento de guerra e de reconstrução, depois da guerra, e como instrumento de defesa da soberania japonesa, frente aos desafios do mundo e do contexto geopolítico asiático, na segunda metade do século XX.

Este contexto explicaria o nascimento e a força da ideologia nacionalista e das instituições japonesas responsáveis pela mobilização da sociedade e pela submissão do desenvolvimento econômico aos seus objetivos de longo prazo. Em 1989, a economista americana, Alice Amsden, publicou outra obra clássica – “Asia´s Next Giant” – sobre o “milagre econômico coreano” onde ela identificava características parecidas com o desenvolvimento japonês: o “modelo coreano” também vinha de antes da II Guerra, e havia sido forjado na luta anti-colonialista, contra o próprio Japão.

Depois de Johnson e Amsden, muitos outros pesquisadores e especialistas encontraram as mesmas características no desenvolvimento acelerado de Taiwan e Singapura, e de forma ainda mais gritante, no desenvolvimento da China e do Vietnã. O próprio Johnson identificou no nacionalismo camponês e revolucionário chinês, do início do século XX, a grande fonte originária da “energia desenvolvimentista” da China contemporânea.

Apressando o argumento, é possível extrair pelos menos quatro conclusões desta vasta literatura sobre o crescimento asiático:

I) a maioria dos estados nacionais asiáticos se constituiu na segunda metade do século XX, depois do fim do colonialismo europeu. Mas quase todos os novos estados mantiveram suas fronteiras tradicionais e civilizatórias, e sua relação milenar, dando origem, desde o início, a um sistema inter-estatal regional altamente competitivo.

II) em clave européia, a estratégia econômica destes países asiáticos esteve sempre mais próxima do mercantilismo de William Petty do que da economia política de Smith ou Marx; e muito mais próxima do nacionalismo econômico do alemão Friederich List, do que do liberalismo heterodoxo do inglês John Keynes: sua primeira prioridade foi sempre a construção do estado e a defesa da unidade territorial da sua sociedade e da sua civilização.

III) não há nenhuma instituição ou política que explique isoladamente o sucesso do crescimento asiático, e que possa ser transplantada para países que tenham se constituído ou estejam fora de sistemas de poder altamente competitivos. A simples condição de “latecomer” ou de “capitalismo tardio” não explica nada, nem é capaz de gerar um projeto e uma estratégia de alto crescimento.

VI) por fim, os asiáticos nunca se referiram a si mesmos como “desenvolvimentistas”, e sua estratégia econômica não tem nada a ver com o chamado “desenvolvimentismo latino-americano”. Sua política industrial, comercial e macro-econômica sempre esteve a serviço de sua “grande estratégia” social e nacional, e da sua luta pela conquista ou reconquista de uma posição internacional autônoma e preeminente.

Os asiáticos têm plena consciência de que a política econômica entregue a si mesma é cega e incapaz de gerar seus próprios objetivos. E muito menos ainda, de definir os objetivos de uma sociedade e de uma nação.

Texto de José Luís Fiori - cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Fonte: Correiodobrasil

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Sem Covas, a ida inapelável do PSDB paulista para a direita

É o horror. Nada mais precisa ser dito para descrever a operação de despejo de Pinheirinho, em São José dos Campos, e a ação policial contra os usuários de crack no centro da capital, na chamada Cracolândia. Mas existem muitas explicações para a truculência, a desumanidade, a destituição do direito de cidadania aos pobres pelo poder público paulista.

A primeira delas é tão clara que até enrubesce. Nos dois casos, trata-se de espantar o rebotalho urbano de terrenos cobiçados pela especulação imobiliária. O Projeto Nova Luz do prefeito Kassab, que vem a ser a privatização do centro para grandes incorporadoras, vai ser construído sob os escombros da Cracolândia, sem que nenhuma política social tenha sido feita para minorar a miséria ou dar uma opção séria para crianças, adolescentes e adultos que se consomem na droga.

O terreno desocupado com requintes de crueldade em São José dos Campos, de propriedade da massa falida do ex-mega-investidor Naji Nahas, que já era de fato um bairro, vai ser destinado a um grande investimento, certamente. O presente de Natal atrasado para essas populações pobres libera esses territórios antes que terminem os mandatos dos atuais prefeitos, e o mais longe possível do calendário eleitoral. Rapidamente, a prefeitura de São Paulo está derrubando imóveis; a prefeitura de São José não deve demorar para limpar o terrreno de Pinheirinho das casas - inclusive de alvernaria - das quais os moradores foram expulsos.

Até outubro, no mínimo devem ter feito uma limpeza na paisagem, o que atenua nas urnas, pelo menos para a classe média, a ação da polícia. A higienização justifica a truculência policial. A "Cidade Limpa" de Kassab, que começou com a proibição de layouts na cidade, termina com a proibição de exposição da pobreza e da miséria humana.

A segunda é de ordem ideológica. Desde a morte de Mário Covas, que ainda conseguia erguer um muro de contenção para o PSDB paulista não guinar completamente à direita, não existe dentro do partido nenhuma resistência ao conservadorismo. Quando Geraldo Alckmin reassumiu o governo do Estado, em janeiro de 2011, muitas análises foram feitas sobre se ele, por força da briga por espaço político com José Serra dentro do partido, iria trazer o seu governo mais para o centro. A referência tomada foi o comando da Segurança Pública, já que em seu mandato anterior a truculência do então secretário, Saulo de Castro Abreu Filho, virou até denúncia contra o governo de São Paulo junto à Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos.

O fato de ter mantido Castro fora da Segurança e se aproximado do governo federal, incorporando alguns programas sociais federais, e uma relação nada íntima com o prefeito da capital, deram a impressão, no primeiro ano de governo, que Alckmin havia sido empurrado para o centro. O que não deixava de ser uma ironia: um político que nunca escondeu seu conservadorismo foi deslocado dessa posição por um adversário interno no partido, José Serra, que, vindo da esquerda, tornou-se a expressão máxima do conservadorismo nacional.

Isso não deixa de ser uma lição para a história. Superado o embate interno pela derrota incondicional de José Serra, que desde a sua derrota vinha perdendo terreno no partido e foi relegado à geladeira, depois da publicação de "Privataria Tucana", do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, Alckmin volta ao leito. O governador é conservador; o PSDB tornou-se orgânicamente conservador, depois de oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) e oito anos de posição neoudenista. A polícia é truculenta - e organicamente truculenta, já que traz o modelo militar da ditadura e foi mais do que estimulada nos últimos governos a manter a lei, a ordem e esconder a miséria debaixo do tapete.

O nome de quem faz a gestão da Segurança Pública não interessa: está mais do que claro que passou pelo governador a ordem das invasões na Cracolândia e em Pinheirinho.

Outra análise que deve ser feita é a da banalização da desumanidade. Conforme a sociedade brasileira foi se polarizando politicamente entre PSDB e PT, a questão dos direitos humanos passou a ser tratada como um assunto partidário. O conservadorismo despiu-se de qualquer prurido de defender a ação policial truculenta, de tomar como justiça um Judiciário que, nos recantos do país, tem reiterado um literal apoio à propriedade privada, um total desprezo ao uso social da propriedade e legitimado a ação da polícia contra populações pobres (com nobres exceções, esclareça-se).

Para os porta-vozes desses setores, a polícia, armada, "reage" com inofensivas balas de borracha à agressão dos moradores que jogam pedras perigosíssimas contra escudos enormes da tropa de choque. No caso de Pinheirinho, a repórter Lúcia Rodrigues, que estava na ocupação, na sexta-feira, foi ela própria alvo de duas balas letais, vindas da pistola de um policial municipal. Ela não foi atingida, mas duvida, pela violência que presenciou, das informações de que tenha saído apenas uma pessoa gravemente ferida daquele cenário de guerra.


Por Maria Inês Nassif Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.

Fonte: blo do Nassif

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Dilma enfrenta o surrealismo crítico

O sucesso de Dilma nas pesquisas começa a produzir comentários surrealistas por parte de seus críticos. Como se sabe, entre todos os presidentes eleitos por voto direto, Dilma conseguiu os maiores índices de popularidade para os primeiros doze meses de mandato. Eu acho isso normal. Ela herdou uma economia em boa situação, soube dar respostas necessárias para solavancos do meio do caminho e evitou medidas excessivamente recessivas sugeridas pela oposição. Teve grande firmeza para reduzir os juros enquanto adversários caiam no ridículo ao denunciar um suposto aparelhamento do Banco Central.

Basicamente, Dilma manteve a opção que herdou de Lula, de manter o país no ritmo de crescimento possível. Lula não para de elogiar seu governo e isso também pesa. Em seu devido tempo, Lula não tinha outro Lula com igual popularidade para apoiá-lo, certo?

Jânio de Freitas faz uma observação lúcida:

A aprovação de Dilma Rousseff é a negação do marquetismo como fator básico e decisivo para o êxito na opinião pública. A conduta de Dilma Rousseff ficou aquém, em tudo, do mínimo recomendável pelo marketing político. Nada de artifícios para criar eventos e situações que levem a demoradas e comentadas aparições nos telejornais, com bis nas primeiras páginas do dia seguinte.”

Mas há reações estranhas. Leia uma crítica em tom de lamento: “a presidente não anunciou medidas de impacto, não patrocinou reformas, não apresentou um plano de governo.”

É engraçado ler, em tom próximo ao desânimo, o que deveria ter sido uma observação em tom elogioso: ”Medidas de estímulo à economia evitaram reflexos mais graves no consumo e na taxa de desemprego.” Lamenta-se ainda que, depois da posse, Dilma “precisou apenas corrigir rumos. Beneficiou-se do crescimento econômico acumulado nos anos anteriores e da ligação estreita com o padrinho eleitoral.”

Por fim, uma observação final: a boa avaliação era “previsível”. Como é?

Não sou advogado de Dilma e tenho críticas ao primeiro ano de governo. A principal é que o Planalto perdeu uma grande oportunidade para encontrar uma solução definitiva para o financiamento da saúde pública, o que teria sido possível com a maioria que possui no Congresso e aquele sopro de tolerância que acompanha todo mandato O km.

Considero que, como regra geral, o espírito crítico e a independência são recursos indispensáveis para toda avaliação política séria.
Mas eu acho que os analistas deveriam ter aprendido uma boa lição dos cursos básicos de Ciência Política — a disposição para não perder contato com a realidade, única forma de evitar que ela seja confundida com nossos desejos. A critica exagerada, muitas vezes, transforma-se em pedantismo.

O espírito crítico inclui a capacidade de autocrítica, também. E independência deve valer para todo tipo de pressão que pode desviar um trabalho honesto de avaliação e julgamento.

Se uma presidente consegue ter a maior aprovação da história “sem medidas de impacto,” sem patrocinar “reformas,” sem apresentar “um plano de governo” é porque, talvez, quem sabe, não houvesse necessidade tão urgente assim de “medidas de impacto”, nem de “reformas” nem de um “plano de governo”.

Quem fala que a presidente apenas “corrigiu rumos” e assim mesmo chegou aos 59% de aprovação parece admitir, sem perceber, que talvez não houvesse necessidade de inventar muita coisa no primeiro ano de governo.

Minha impressão é que Dilma fez um governo do tamanho certo para ela, para o país e para a herança que recebeu. Num capítulo em que muitos anunciavam uma postura desastrosa, deu as respostas necessárias ao afastar ministros que não podiam permanecer no governo.

A julgar pelo que se disse e se pensou sobre Dilma, há um ano, talvez fosse o caso de constatar que, para seus críticos, seu governo é uma decepção positiva. Concorda?

texto de Paulo Moreira Leite

Fonte: olunas.revistaepoca.globo.com

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Fomos embrulhados no saco plástico…

Em 25 de abril do ano passado, depois que a Câmara de Vereadores aprovou a lei que proibe o uso do saco plástico — mas não obrigou os supermercados a cuidar da embalagem de suas mercadorias — publiquei uma nota sobre a novidade. Considerando que no dia 25 essa novidade entrará em vigor em São Paulo, decidi republicar aquele texto. Confira:

“Confesso que fico incomodado com um aspecto da lei do saco plástico, aprovada pela Câmara de Vereadores de São Paulo e sancionada pelo prefeito Gilberto Kassab. Como ocorre em várias cidades brasileiras, e também na Europa e nos EUA, a lei proibe os supermercados de usar saco plástico para embrulhar as mercadorias dos clientes.

Não vou discutir a importancia de se preserver o meio ambiente e evitar agressões à natureza. Já li a cartilha. Tenho duas sacolas para fazer compras. Uma, de lona. A outra, artesanal, foi feita de palha. Gosto de usá-las. Você pode dizer que este blogueiro faz sua parte.

Mas eu acho que a lei do saco plástico aprovada em São Paulo transfere para nós — consumidores — uma obrigação que sempre foi dos supermercados. Como cidadão, isso me deixa incomodado.

Desde que entrei num Peg Pag que funcionava décadas atrás, na Joaquim Floriano, no Itaim, os supermercados sempre trabalharam assim: você escolhe os produtos, empurra o carrinho e paga no caixa. Cabe ao supermercado entregar o pacote com as mercadorias. Antes, o pacote era de papel. Depois (será que isso tem a ver com as campanhas para não derrrubar árvores? Ou eram os custos?) vieram os sacos de plástico.

Mas vamos combinar: embrulhar a mercadoria não era meu problema nem seu. Era do supermercado. Ninguém precisava ocupar um minuto de seus neuronios com isso. Não era preciso escrever na agenda mental: é dia de supermercado, não esquecer de levar a sacola na hora de sair de casa.

Com a nova lei, o embrulho virou nosso problema. A partir do momento em que a lei entrar em vigor, seremos convocados a sair de casa com nossa sacolinha embaixo do braço. Caso contrário, podemos pedir ao supermercado que nos ofereça caixas e caixotes para transportar nossa mercadoria.

Como é fácil imaginar que sempre teremos consumidores do que caixas de papelão, boa parte dos clientes será obrigada a colocar a mão no bolso e acrescentar um novo item à compra: sacolas. No Pão de Açucar, elas são vendidas a R$ 6,99.

Em bairros da periferia, os comerciantes já transformaram o saco plástico numa forma de ganhar dinheiro. Eles não podem doá-los aos consumidores. Mas começaram a vendê-los. Num supermercado de um bairro distante, cada unidade é vendida por R$ 0,16. Parece pouco mas não é. Conforme a quantidade, um atacadista pode comprar o saco plástico a R$ 0,03. Faça as contas e conclua por você mesmo.

Custo a acreditar que a lei do saco plástico tenha sido inventada para nos tungar 7 reais de vez em quando. Não foi assim. A idéia criou uma nova oportunidade, um nicho de consumo, que o comércio não deixa de aproveitar. Mas estima-se que os saquinhos representavam um gasto de R$ 50 milhões por ano aos supermercados de São Paulo. Com a proibição, eles tiveram um respeitável abatimento em seus custos.

Fico incomodado com a forma pela qual a lei foi pensada e será aplicada, como um tipico de exercício de marketing por nossa conta.

Num esforço para cortejar o eleitor com preocupações verdes, nossos representantes municipais decidem proibir o saco de plástico. Mas como ninguém quer se confrontar com os donos de supermercado joga-se a questão para o consumidor. Como a lei proibe os sacos plásticos mas não cria novas obrigações, os supermercados poderão economizar alguns milhões por ano. Alguns estabelecimentos podem até levar algum.Bonito, não?

Claro que nossa vida pública anda tão desanimadora que muitas pessoas consideram que a melhor forma de participação política é sair de casa com sua sacolinha embaixo do braço. Vamos combinar: quando se olha para muitos de nossos políticos, dá muita vontade de proteger os animais, não é mesmo?

Quando fui fazer compras, ontem, uma dona de casa me disse: a partir de agora, vou deixar uma ou duas sacolas no carro, para não esquecer. Pergunto: e quem anda de ônibus?

Mas a questão principal não é essa. Nossos direitos como consumidores ficaram diminuídos com a nova lei. Fomos delicadamente embrulhados. Curiosamente, ninguém acha ruim.”

Fonte: por PAULO MOREIRA LEITE http://colunas.revistaepoca.globo.com

domingo, 22 de janeiro de 2012

A guerra letal em torno da energia atômica

Na década de 70 do século passado, o Brasil desenvolvia secretamente seu programa nuclear para fins militares. Para assegurar-lhe recursos financeiros, estabelecera parceria com o Iraque, que bancava os elevados investimentos necessários em troca de acesso aos conhecimentos tecnológicos brasileiros. O responsável pelo programa na Aeronáutica era o tenente-coronel aviador José Alberto Albano do Amarante, engenheiro eletrônico formado pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica).

Em outubro de 1981, Amarante foi atacado por uma leucemia arrasadora, que o matou em menos de duas semanas. Sua família tem como certo que o cientista foi morto pelos serviços secretos dos EUA e de Israel, com o objetivo de impedir a capacitação brasileira à produção de armas atômicas. Dando força às suspeitas, foi identificado um agente israelense do Mossad, de nome Samuel Giliad, atuando à época em São José dos Campos, e que fugiu do país logo após a misteriosa morte do oficial brasileiro.

O episódio dá bem o tom da virulência empregada pelos EUA e Israel para bloquear a entrada de outros países no fechado clube nuclear. Não por coincidência, apenas quatro meses antes da suposta ação em território brasileiro, Israel desfechara devastador ataque aéreo ao reator nuclear de Osirak, no Iraque, que vinha sendo construído pelos franceses.

Tais fatos dão credibilidade às reiteradas denúncias do governo iraniano de que seus cientistas estão sendo alvo de atentados por parte dos serviços secretos estadunidense, britânico e israelense. Somente em 2010, foram mortos os físicos Masud Ali Mohamadi e Majid Shariari, que atuavam no desenvolvimento de reatores nucleares, ambos vítimas de explosões de bombas em seus próprios automóveis, enquanto o chefe da Organização de Energia Atômica do Irã, Abbasi-Davanina, escapava por pouco da detonação de um carro-bomba, conforme ele próprio denunciou durante a conferência anual da Agência Internacional de Energia Atômica, em setembro último. Em julho de 2011, o físico Daryush Rezaei, 35 anos, foi morto a tiros em frente a sua casa, em ataque que também feriu sua esposa. Esses são alguns dos muitos casos de assassinatos e desaparecimentos de cientistas e chefes militares iranianos nos últimos anos.

Os crimes se dão em paralelo às intensas pressões do governo dos EUA para que a comunidade internacional aplique severas sanções ao Irã sob o argumento de que o país descumpre o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP).

Criado pela ONU em 1968, o acordo tem três objetivos principais: coibir o uso de tecnologia nuclear para produção de armas, eliminar os armamentos nucleares existentes e regular o uso de energia nuclear para fins pacíficos. Convenientemente, as grandes potências interpretam o acordo segundo seus próprios interesses: bloqueiam o desenvolvimento da pesquisa dos países não detentores de armas atômicas, mesmo quando para fins pacíficos, e fazem letra morta dos dispositivos do tratado que determinam o desarmamento.

Como previa o embaixador do Brasil na ONU, em 1968, José Augusto Araújo de Castro, quando atuou para impedir a adesão do Brasil ao TNP, o tratado é apenas um instrumento para perpetuar o poder das grandes potências.

Documentos divulgados pelo Wikileaks deixam clara a disposição dos EUA em não reduzir o número de ogivas nucleares instaladas na Europa. Por outro lado, enquanto todos os países do Oriente Médio fazem parte do TNP, Israel, único detentor de armas nucleares na região, nega-se a aderir ao acordo e repudiou as censuras de que foi alvo no relatório final da última reunião quinquenal do TNP, em 2010, gerando a ameaça dos demais governos vizinhos de abandonar o tratado na próxima reunião, marcada para 2012.

As guerras contra o Afeganistão, Iraque e Líbia, mais as ameaças contra a Síria, Coreia e Irã, parecem evidenciar que somente a capacidade de retaliação atômica intimida o império, já que a assimetria das forças alimenta aventuras dos Estados Unidos e de seus sócios de rapina, todos em busca de conflitos bélicos, seja para assegurar domínios seja para encobrir seus graves problemas domésticos.

A conjuntura estratégica do Oriente Médio indica que, para sua sobrevivência, o Irã não tem outra alternativa que a de construir sua bomba e, nesse sentido, corre contra o tempo, dado o cerco que se fecha contra o país.

Como analisa o cientista político paquistanês Tariq Ali, não é despropositado considerar que o surgimento de outra potência nuclear no Oriente Médio possa propiciar estabilidade política à região e ao mundo, por contraditório que possa parecer.



Texto de Sued Lima, Coronel Aviador reformado e pesquisador do Observatório das Nacionalidades

Os BRIC mudaram o mundo - a grande transformação geopolítica ocorrida na nossa geração

Breve história da vida de um acrónimo que se transformou em um clube político. Começou com quatro membros todos diferentes mas todos iguais na trajetória de deitarem fora a etiqueta de Terceiro Mundo ou de superpotência falhada.

É provavelmente o acrónimo com mais sucesso da última década", diz-nos Joaquim Ramos Silva, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão, autor de "Portugal/Brasil: Uma Década de Expansão das Relações Económicas, 1992-2002".

Jim O'Neill cunhou o acrónimo BRIC em novembro de 2001 num artigo para a série de Economia Global da consultora Goldman Sachs, referindo-se a quatro economias: Brasil, Rússia, Índia e China. "Pensei que a economia global nas décadas seguintes seria impelida pelo crescimento destes quatro países populosos e economicamente ambiciosos", afirma o "pai" do conceito, no seu mais recente livro "The Growth Map - Economic Opportunity in the BRICs and Beyond", publicado pela Portfolio/Penguin no final de 2011, uma década depois do célebre artigo.


Mudança de perceção a nível subliminar
O acrónimo BRIC acabou por suscitar paixões e críticas frontais. Algumas das críticas vêm do próprio seio de economistas e consultores desses países que fazem parte do acrónimo.

O vice-diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o economista indiano Harsha Vardhana Singh, é um entusiasta: "O conceito foi introduzido na mesma altura que as negociações da Ronda de Desenvolvimento de Doha foram lançadas pela OMC e que a China ingressou na organização. Foi um conceito muito útil de diversas maneiras, inclusive na mudança de perceção a um nível subliminar.

Alertou as pessoas para a importância crescente e para a presença de países que não pertenciam à OCDE, e, em geral, assinalou o potencial imenso dos países em desenvolvimento. A perceção dos investidores em relação a estas economias melhorou". Mesmo do ponto de vista da OMC, este economista doutorado em Oxford salienta que "a construção de uma coligação deste tão diversificado grupo permitiu alcançar os objetivos, inclusive nas negociações na OMC e no trabalho diário".

A principal conclusão que qualquer cidadão do mundo tira é, certamente, idêntica à do economista e consultor brasileiro Ricardo Amorim: "O acrónimo foi muito útil para chamar a atenção para um processo de transformação brutal que está a acontecer na economia mundial, onde países emergentes e, em particular, os BRIC, estão ganhando cada vez mais importância". Por seu lado, Constantino Xavier, um investigador português na Universidade Johns Hopkins, em Washington DC, que viveu na Índia, adianta que "o conceito foi de facto útil para o Ocidente debater o 'ascenso do resto' depois do fim da Guerra Fria".

As duas mais impressionantes histórias; China e Brasil
Desde 2001, vários trabalhos de equipas da Goldman Sachs foram atualizando as previsões em que cada uma das quatro economias ultrapassaria economias ricas do G7.

A realidade acabaria por surpreender com a subida da China ao segundo lugar antes de 2015 e a ultrapassagem da Itália e do Reino Unido pelo Brasil muito antes de 2025. A China é, desde 2010, o número dois, e o Brasil é, desde 2011, o número seis. O'Neill considera os dois casos as duas mais impressionantes histórias da última década.

A Índia e a Rússia estão, ainda, em 9º e 10º lugar, a uma distância de 300 mil milhões a 350 mil milhões de dólares da Itália e do Reino Unido, mas provavelmente não precisarão de chegar a 2015 ou 2020 para ultrapassarem esses dois países europeus. O analista Shubrah Gupta, no The Indian Express, referiu recentemente que "o futuro está a chegar mais cedo do que antecipado".

Entretanto, as quatro economias são responsáveis, desde 2003, por 65% do crescimento anual da economia mundial. O empurrão que deram no comércio mundial pode ser apreciado por estes números impressionantes para o período de 1990 a 2009: as exportações de bens e serviços cresceram 86% na Rússia, 176% no Brasil, 738% na Índia e 1993% na China. Essa dinâmica exportadora vai manter-se, ainda que arrefecida, no período de 2010 a 2016, segundo as previsões: 34,7% na Rússia, 79,6% no Brasil, 171% na Índia e 178% na China.

O calcanhar de Aquiles político
No entanto, para o economista russo Constantin Gurdgiev, o conceito "é uma amalgama de realidades completamente distintas no plano político, cultural, institucional e económico". Em termos de PIB per capita, ou de riqueza média, é um grupo com extremos, com a Índia na base e a Rússia no topo desta pirâmide.

Por um lado, temos economias dependentes da exportação de mercadorias e ancoradas regionalmente, como a Rússia e o Brasil, misturadas com uma potência comercial mundial, a fábrica do mundo, a China, e com um líder num nicho de serviços internacionais, a Índia. Há um fosso financeiro enorme entre a China, que é o segundo maior credor líquido do mundo (depois do Japão), e o Brasil, que é o quarto maior devedor líquido do mundo, depois dos EUA, Espanha e Austrália.
Michael Pettis, um americano que é professor de mercados financeiros na Universidade de Beijing, é mais cáustico ainda: "Como ferramenta de marketing para fundos à procura de mobilizarem capital foi muito útil. Mas não penso que signifique muito mais do que isso. Sou muito cético sobre o crescimento 'inexorável' dos BRIC".

Para Ricardo Amorim, que é também apresentador do Manhattan Connection da Globo News, "os BRIC têm interesses comuns mas também grandes divergências de interesses, resultantes das suas diferenças económicas e políticas. No campo comercial, por exemplo, é difícil vê-los atuando em conjunto, enquanto a Índia e a China forem grandes importadores de matérias-primas e o Brasil e a Rússia forem grandes exportadores". O economista brasileiro considera inclusive que, no caso do seu país, "não tem tamanho suficiente para definir tendências globais, mas, apenas, para influenciá-las marginalmente".

O investigador português Constantino Xavier vai mais longe na crítica ao conceito: "É impossível divorciar a sustentabilidade do crescimento económico dos temas políticos e de governação democrática. Isto pode parecer menos aparente hoje em dia quando o Ocidente está mergulhado na recessão e precisamos que os BRIC cresçam o mais rápido possível". E vaticina: "Mas mais tarde ou mais cedo, haverá desafios importantes contra os modelos autoritários da Rússia e da China e movimentos populares e reclamações democráticas - contra a corrupção e a desigualdade dos rendimentos - na Índia ou no Brasil".

A grande transformação
Apesar das críticas, a visão de O'Neill e da sua equipa na Goldman Sachs provocou três consequências devastadoras na perceção que havia do mundo há uma década atrás.

Recorde-se que o conceito de BRIC surgiu no mesmo momento em que muitos analistas pretenderam passar a ideia de que os ataques terroristas de 11 de setembro nos Estados Unidos haviam sido um ponto de viragem. "O mundo mudou", dizia-se, então. A que se associou um renascimento inexorável da superpotência "solteira".

Mas, na realidade, o mundo já mudara radicalmente há anos atrás. O episódio terrorista era, apenas, mais um sinal da grande transformação ocorrida em que os principais protagonistas nada têm a ver com redes terroristas ou com estados-falhados.

Essa grande transformação geoeconómica e geopolítica pode ser observada por três ângulos.
Primeiro: tudo indica que com a revolução capitalista na China desencadeada por Deng Xiaoping no final dos anos 1970 e depois com a queda do Muro de Berlim no final dos anos 1980 se abriu uma nova vaga de globalização. Esses momentos fraturantes colocaram um ponto final à primeira vaga iniciada pelos portugueses no século XV e que veria uma sucessão de impérios europeus ou de matriz europeia dominar o mundo (os cinco ciclos de potência, com Portugal, Holanda, Reino Unido que bisou, e Estados Unidos) ou tentando dominá-lo, mas falhando (Espanha Filipina, França Napoleónica, Alemanha Guilhermina e depois Hitleriana, e URSS a partir do projeto de grande potência baseada no "socialismo num só país" de Estaline).

Com a água suja do banho, desapareceu o Terceiro Mundo que Alfred Sauvy nos anos 1950 via como "terceiro estado" alternativo a um mundo baseado no equilíbrio do terror e na luta ideológica e de posições entre dois sistemas, o capitalista e o do "socialismo real".

Segundo: o "modelo de sucesso" dos anos 1990, o dos "tigres" (do Pacífico ou da Europa) de alta densidade demográfica e pequenas áreas, deu lugar à pujança das "economias-baleia", em que a noção de "grandes espaços" como fonte de poder regressa à geoeconomia e à geopolítica, sublinha André Martin, professor de Geografia Política na Universidade de São Paulo. Para Joaquim Ramos Silva, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), em Lisboa, a emergência destas "baleias" influencia muito mais o meio ambiente do que os "pequenos peixes".

O entusiasmo sobre os "tigres" viria a dar lugar a outras histórias económicas ainda mais surpreendentes, as dos BRIC, e particularmente de dois casos: China e Brasil. Para Jim O'Neill são as duas grandes histórias da nossa geração.

Terceiro: os BRIC, e inclusive outras economias emergentes de menor dimensão, surgiram como investidores nas economias avançadas. "Desde meados dos anos 1990 que assistimos a uma internacionalização sem precedentes dos fluxos de investimento globais e dos portefólios, bem como ao desenvolvimento de um comércio robusto entre os países do 'Sul' e a uma dinâmica de fluxos de investimento entre as economias emergentes e de rendimento médio. Este processo consolidou-se a ponto de que os anteriores recetores líquidos do capital financeiro das economias avançadas se tornaram paradoxalmente em novos investidores essenciais nas economias avançadas", sublinha Constantin Gurdgiev.

Algo surpreendente surgiu. Um estudo do McKinsey Global Institute sobre os mercados financeiros em 2011 constatava: "Ao contrário da perceção popular de que os fluxos de capital para os mercados emergentes são altamente voláteis, o que verificamos é que os fluxos entre países desenvolvidos são muito mais voláteis. Quando ajustados à dimensão média, os fluxos de capital para os países desenvolvidos são 20% mais voláteis do que os fluxos para os mercados emergentes". Se em 2000, os investimentos no estrangeiro por parte das economias emergentes eram apenas 6% do total, uma década depois já somavam 20%. Um dos elementos centrais desta dinâmica - que representa 61% - é a aquisição de títulos de dívida estrangeiros por parte de bancos centrais dos países emergentes.

Crise gera grande oportunidade ou mera moda?
Entretanto estoirou a crise financeira de 2008 e depois aprofundou-se a recessão internacional e muitos decretaram a sentença de morte dos BRIC. "Houve momentos em que eu também me preocupei [com a sobrevivência do acrónimo]", confessa O'Neill. Mas os quatro países revelaram dois ingredientes: resiliência à Grande Recessão e espírito de "coopetição", o que em gestão significa cooperar e competir.

Para Peter Drysdale, professor na Universidade da Austrália em Camberra, "tem ficado claro que coletivamente estes países podem resistir às imposições ocidentais no âmbito multilateral". "As divergências entre eles são muito mais pequenas do que com o Ocidente. É essa co-dependência que fornece a argamassa dos BRIC", conclui.

A crise traria, no entanto, uma inesperada oportunidade para os BRIC. "A sua afirmação política pode ser datada da reunião que fizeram em Ekaterimburgo, na Rússia, em junho de 2009", acrescenta Drysdale. O acrónimo de Jim O'Neill sofreu uma mutação radical: passou a um clube político.

A foto de mãos dadas dos presidentes do Brasil, Rússia e China com o primeiro-ministro indiano correu mundo. "Quer no sentido de alcançarem os seus objetivos internos como os mais amplos a nível internacional, os BRIC evoluirão para um clube político ainda mais forte no futuro. Contudo, o conjunto dos associados será certamente flexível, com diferentes permutações que se julguem necessárias", afirma-nos Harsha Singh.

Face à emergência deste clube, as opiniões de alguns economistas ouvidos são de um enorme ceticismo. Michael Pettis arrisca que o clube dos BRIC poderá revelar-se uma moda passageira. "Noutras alturas de fraqueza económica, ouvimos falar com grande excitação de novos agrupamentos políticos internacionais. Nos anos 1970, por exemplo, ouvimos falar do poderio crescente do bloco árabe, depois do Movimento dos Não Alinhados, depois da ressuscitação da América Latina, e por aí adiante. Mas politicamente todos eles tinham poucos interesses em comum, para além do desejo de uma maior presença na cena mundial. E todos murcharam", conclui.Ashutosh Sheshabalaya, autor de "Made in India" ("Rising Elephant", na edição inglesa), é da mesma opinião.

Por seu lado, Joaquim Ramos Silva, do ISEG, acha que "há diferenças dentro do grupo que realmente contam", e prossegue: "Cada um deles tem a sua especialização e prosseguiu o seu próprio caminho de integração na economia mundial, por isso chegar a um consenso entre eles não é tarefa fácil. Também parecem relutantes, cada um por si ou em grupo, em assumir responsabilidades do potencial de hegemonia que têm e em desafiar abertamente os incumbentes. Por isso, no futuro próximo, avançarão passo a passo, e provavelmente nem sempre como um grupo".

Também Constantino Xavier torce o nariz à eficácia do grupo: "É pouco provável que se transforme em cooperação efetiva. A China e a Índia são rivais e nenhum dos membros do clube está interessado em se juntar contra o hegemonista incumbente, os EUA".

O grupo acabaria por cooptar mais um membro, a África do Sul, no final de dezembro de 2010. Foi a vez de o acrónimo mudar para BRICS, adicionando o "S" de South Africa, uma economia que nem sequer está incluída no que Jim O'Neill batizou como os "Próximos 11" que misturam economias de crescimento com economias emergentes. "É para mim difícil pensar a África do Sul como um genuíno BRIC ou mesmo como uma economia de crescimento. É metade da dimensão económica de uma Indonésia ou de uma Turquia", escreve no livro "The Growth Map". Decididamente, o acrónimo libertou-se definitivamente do "pai".

A cooptação da África do Sul gera, de facto, muitas reflexões. No plano geopolítico, o consultor indiano Ashutosh Sheshabalaya desenha uma tese: "Face às métricas usadas, o clube secundariza a Índia, tornando-a um parceiro júnior face à China. A Índia bateu-se por um outro agrupamento, o IBSA, como contrapeso, agregando a Índia, o Brasil e a África do Sul. Aliás, foi por isso que a China correu a puxar a África do Sul para o clube e se apressou a rebatizar o grupo de BRICS no final de dezembro de 2010". Por seu lado, o professor brasileiro André Martin defende: "Como brasileiro, prefiro afirmar que o Brasil, Índia, África do Sul e Austrália possuem uma condição comum de líderes regionais que se perfilam como as potências emergentes do hemisfério Sul.

Entendo por 'Sul' não um espaço estritamente geográfico, mas geopolítico referindo-me aos países colonizados e que não são ainda reconhecidos como potências mundiais pela ONU". A uma tríade desenhada por O'Neill - os "ricos" em declínio (inclusive com uma progressiva periferização do Japão e da Europa); as novas "economias-baleia" de crescimento (os BRIC); e o resto -, o professor de geopolítica prefere um "modelo binário" verdadeiramente fraturado entre "Norte" e "Sul".


Por Jorge Nascimento Rodrigues http://www.administradores.com.br

sábado, 21 de janeiro de 2012

BBB12: a Globo, um apresentador idiota e o suposto estupro, enquanto a Luíza estava no Canadá

A 12ª edição do Big Brother Brasil (BBB12) foi o tiro no pé da Globo, que por conta de uma história mal contada, acelera a ruína de um império do finado Roberto Marinho, construído sobre o castelo de cartas das concessões públicas de TV, entulho do regime de exceção que ainda aflige o país, há mais de meio século.

Um novo meio de comunicação, mais ágil, independente, sério quando precisa e brincalhão o suficiente para eleger Luíza, que estava no Canadá, a nova musa do verão da Paraíba, começa a desbancar a velharia que insiste em sobreviver agarrada aos faustões da vida, lucianos hucks, BBBs tarados e apresentadores de jornais metidos à besta.

Um deles, do SBT – rebotalho da antiga TV Tupi, desmontada pelo generalato ditatorial para agradar ao camelô de coturnos do Baú da Felicidade, até se achou no direito de passar uma descompostura na nação e dizer que o brasileiro é, antes de tudo, um idiota. Mal sabe o coitado que “o maior prazer de um homem inteligente é bancar o idiota diante do idiota que quer bancar o inteligente”, já dizia o velho Confúcio.

O que o moço também não percebe, porque fala o que lhe mandam falar diante das câmeras e, se fosse diferente, ficaria na mesma, é a qualidade da informação que circula pela internet brasileira, uma das mais abrangentes do mundo, com um tempo de uso por pessoa de deixar qualquer gringo de queixo caído.

No laptop, no desktop, no celular, no tablet que vai a qualquer canto, os brasileiros souberam avaliar a idiotice imensa que é o BBB12 e, de quebra, os demais 90% do conteúdo produzido pela TV nacional.

O país acompanhou as notícias sobre o crime que – horas após supostamente cometido – foi desvendado e traduzido aos brasileiros como uma armação errada da Vênus encardida do Jardim Botânico. Muito errada, diga-se de passagem. Tanto, a ponto de lhe valer um contravapor, caso a seriedade que falta à emissora exista no setor governamental responsável por julgar tais infrações.

Se os mais de 40 milhões de internautas brasileiros resolveram criar o maior fenômeno de marketing dos últimos tempos, numa brincadeira com o pai da Luíza (aquela que estava no Canadá), coisa bem típica de quem tem bom humor, também souberam apontar para o canal de TV líder de audiência no país e dizer-lhe, com todas as letras, que desta vez passou dos limites.

Não é lícito mostrar para crianças, em horário próprio para 12 anos, as cenas reais – em tempo real – de um sujeito embaixo do edredom, fazendo os diabos com a moça que mais parecia uma boneca de pano. “Estupro!”, gritaram de imediato os afoitos. Bateu até polícia na porta da Rede Globo. Pegaram calcinhas e lençóis. Abriram um Boletim de Ocorrência. Tomaram depoimentos. O que para os pombinhos atochados debaixo do cobertor não passava de uma fantasia erótica, apresentou aos brasileiros a realidade de um sistema de comunicação social construído sobre o lixão da ditadura.

Este episódio do BBB12, no final das contas, chegou em boa hora. Bem a tempo de se promover, no Congresso, uma reforma objetiva na legislação que regula os meios de comunicação no país. Sem essa de que a democracia ou a estabilidade política do Brasil estarão ameaçadas e, por isso, o escritório da CIA, na Avenida Paulista, telefonará ao Pentágono e pedirá a presença da IV Frota nas costas brasileiras, em cima da camada pré-sal.

Os veículos que integram o Partido da Imprensa Golpista (PIG), certamente, aproveitarão o mote. Em outros tempos, teriam músculos suficientes para dizer que a Vila (Militar, de Deodoro, na Zona Norte do Rio) iria descer (para o Palácio do Catete, onde se consumou o golpe militar de 1964). Outros tempos. A Vila hoje, aquela que faz samba, desce mesmo é a avenida, na folia de Momo. Os militares brasileiros aprenderam que o respeito à Constituição é a melhor arma contra quaisquer aventureiros.

Agora a internet brasileira está crescida, parruda, com o conjunto de jornais independentes, e o Correio do Brasil em suas fileiras, na companhia dos blogueiros sujos, os limpinhos e os irreverentes, mostrou para a Globo, o SBT, afiliadas, cúmplices e adereços que a realidade mudou. O velho esquema, montado durante os Anos de Chumbo, foi também derrotado nas últimas eleições presidenciais, quando tentava disseminar uma miríade de infâmias contra a presidenta Dilma Rousseff.

A alta patente da direita tupiniquim, descrita no best seller Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Jr., encontra-se diante de uma possível Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) capaz de lavar a alma dos brasileiros. Ganha força incontestável a proposta para se corrigir o desvio causado durante o apagão de democracia, e redimensionar os olhos e ouvidos da Opinião Pública, com uma nova plataforma no setor de Telecomunicações.

Em bem a tempo da Luíza, que estava no Canadá, brincar o carnaval com a família, lá em João Pessoa.

Por Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do Correio do Brasil.

Fonte: Correio do Brasil

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

China torna-se um país urbano

Em meio ao anúncio de que a economia chinesa cresceu no quarto trimestre de 2011 a um ritmo anualizado de 8,9% - ligeiramente superior à previsão de 8,7% de analistas, mas no menor patamar em dez trimestres -, outra informação bem mais importante foi divulgada ontem pelo Escritório Nacional de Estatísticas, sem chamar atenção: em 2011, pela primeira vez em sua história, a população urbana da China superou a rural. O país, de 1,347 bilhão de habitantes, entra em 2012 com 690,7 milhões de chineses morando em áreas urbanas (51,2%) e 656,5 milhões em áreas rurais.

Não é um fenômeno espontâneo, mas induzido pelo governo de Pequim, que já percebeu que o futuro da sua economia só estará garantido se o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) for de fato sustentável.

Para isso, a China precisa reduzir sua enorme dependência das exportações (que hoje têm um peso de 38% no PIB) e dos investimentos públicos e privados (outros 35% do PIB) e apostar mais na criação de um sólido mercado consumidor doméstico. Desde o início da implementação das reformas econômicas na China, na década de 80, o governo de Pequim estimulou a migração controlada de sua população rural para os centros de forma a criar uma massa trabalhadora barata (e passiva), um fenômeno que justificou a transferência de milhares de fábricas de vários países para o território chinês nos últimos anos. De lá, as exportações chinesas - a maioria de empresas estrangeiras ali instaladas - ganharam o mundo.
Crescimento garante estabilidade política

Para os camponeses chineses, acostumados a trabalhar de sol a sol numa lavoura que mal lhes dá a chance de sobreviver com dignidade, um salário mensal de US$50 por uma jornada de 12 horas numa fábrica de cacarecos na grande cidade virou um belo projeto de vida, sobretudo entre os mais jovens e menos instruídos. O benefício da migração controlada foi a criação de uma classe média urbana e consumidora estimada em cerca de 250 milhões de pessoas (18,5% da população).

Mas há percalços para este projeto de consolidação do mercado doméstico chinês. A começar pela natureza do governo, que de comunista hoje tem muito pouco. Como não há um sistema universal gratuito de saúde e as aposentadorias estão restritas ao funcionalismo público federal, às grandes estatais e às maiores empresas do setor privado, os chineses - empresas e famílias - poupam ferozmente para se garantir num futuro duvidoso. A taxa de poupança das famílias chega a 30% do PIB, enquanto as empresas poupam o equivalente a 26% do PIB.

Desde a década de 90, o Politburo do Partido Comunista Chinês (PCC) vem discutindo uma saída para este impasse, sempre preocupado com a garantia do crescimento econômico. Afinal, o presidente Hu Jintao, o primeiro-ministro Wen Jiabao e suas bases de apoio sabem que, numa ditadura política que prende até blogueiros que criticam o governo, o desenvolvimento econômico é uma maneira de legitimizar a permanência do PCC no comando do país. Se o crescimento do PIB cai muito abaixo dos 8% ao ano, para os comunistas chineses, a estabilidade política corre riscos.

Mas analistas preveem que o choque global oriundo da turbulência na zona do euro - e seus efeitos nas exportações chinesas - deve empurrar o PIB chinês para um patamar abaixo de 8% nos próximos meses. Segundo o "Financial Times", alguns chegam a apostar numa expansão de 7,5%. Esse quadro pressiona o governo a afrouxar as medidas de aperto adotadas no início de 2011 para conter a inflação anualizada, que caiu de 6,5% em julho para 4,1%, em dezembro. A meta do governo é 4% ao ano. A inflação acelerou depois que o governo ampliou os investimentos para estimular a economia, na crise financeira de 2008. Em todo o ano de 2011, a economia do país cresceu 9,2%, ante 10,4%, em 2010.

E há as consequências da urbanização. Com a alta progressiva dos salários e presença maior das multinacionais, os chineses passaram a exigir remunerações ainda maiores e mais benefícios. Tanto que muitas empresas já decidiram expandir suas fábricas da China para países periféricos, como Vietnã ou Camboja.

Por Erick M Do O Globo

Fonte: blog do nassif

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A falta de visão de futuro do Brasil

Alguns analistas julgam que se superestima o papel do câmbio na economia de um país. Algum tempo atrás, um deles escreveu um livro sobre o milagre britânico do Século 18, que acabou transformando o país em uma potência imperial. Destacou aspectos ligados à legislação, à inventividade do inglês, aos investimentos em ensino, que permitiram ao país comandar a primeira revolução industrial.

Todos esses aspectos são importantes para o desenvolvimento do país.

Mas a chama que incendiou o imaginário do país abriu espaço para o florescimento de manufaturas sem fim e, depois, criou o clima adequado para as demais reformas, foi o câmbio desvalorizado, barateando os produtos ingleses em relação aos concorrentes.

Depois, uma estratégia comercial que consistia em comprar matéria-prima dos países emergentes e vender produtos acabados.

Em seu histórico A era das revoluções, o historiador inglês Eric Hobsbawn anota que "qualquer que tenha sido a razão do avanço britânico, ele não se deveu à superioridade científica e tecnológica".

A França era superior na matemática e na física, enquanto na Inglaterra eram vistas como ciências suspeitas. Os franceses desenvolveram inventos mais originais, como o tear de Jacquard, em 1804, e tinham melhores navios. As escolas inglesas eram uma piada e as duas únicas universidades inglesas intelectualmente nulas, compensadas apenas pelas escolas do interior e pelas universidades da Escócia calvinista. Por temor social, não era encorajada a educação dos mais pobres e a alfabetização em massa só ocorreria em princípio do Século 19, com a revolução industrial já em curso -- pressionando por mão de obra mais especializada.

As invenções técnicas, que comandaram a revolução industrial, eram bastante modestas: a lançadeira, o tear e a fiadeira automática, ao alcance dos carpinteiros, moleiros e serralheiros.

A grande invenção inglesa do Século 18, a máquina a vapor rotativa de James Watt (de 1784), só ganhou estabilidade e utilização ampla a partir de 1820. Com exceção da indústria química, as demais inovações industriais -- na expressão de Hobsbawn -- "se fizeram por si" -- isto é, foram desenvolvidas no dia a dia, sem grandes investimentos tecnológicos.

Um dos grandes avanços britânicos foi no campo, eliminando o antigo sistema de propriedades herdadas por empresários com espírito comercial, que passaram a articular cadeias produtivas -- arrendando terras para camponeses sem terra ou pequenos agricultores e direcionando as atividades agrícolas para o mercado. E as manufaturas tinham se espalhado pelo interior não dominado pelo feudalismo.

Com isso, a agricultura cumpriu suas três funções em uma era de industrialização acelerada: aumentar a produção e a produtividade para alimentar uma população cada vez menos agrícola; fornecer mão de obra para as novas atividades industriais, por intermédio do êxodo rural; e garantir capital que foi aplicado em setores mais modernos da economia.

Paralelamente, o país investia na construção de uma frotra mercante e de estradas e infraestrutura adequada.

Até então a atividade empresarial mais lucrativa era a de comerciante, comprando mais barato e vendendo mais caro. A revolução industrial muda este paradigma e passa a deixar a melhor parte do bolo para o industrial.

Mercado mundial
Política cambial, acordos comerciais, domínio dos mares, abriram um mercado sem precedentes para seus industriais. Por meio de inovações simples e baratas, os industriais conseguiam taxas de retorno extraordinárias. No início, lã para abastecer o mundo. Quando o algodão substituiu a lã, compra de algodão dos países emergentes -- basicamente Estados Unidos e América do Sul -- e venda de tecidos para eles.

América Latina como comprador
Entre 1750 e 1760, as exportações inglesas de tecidos de algodão aumentaram dez vezes, sempre com apoio agressivo do governo nacional. E aí, toca enfiar produtos na América Latina -- como a China está fazendo hoje em dia. Por volta de 1840, o continente consumia quase metade do consumo europeu de tecidos de algodão ingleses. Indústrias eram criadas e, da noite para o dia, tornavam-se gigantes.

Puxando o resto
Com o mercado internacional à disposição, a indústria do algodão lubrificou todos os demais setores relevantes da Inglaterra, máquinas, inovações químicas, setor elétrico, frota mercante, etc. Ou seja, primeiro criou-se o mercado, depois o mercado abriu um mundo inédito de possibilidades para os empreendedores que, com pouco capital e pouca inovação, tinham condições de saltos expressivos. Não é muito diferente do que ocorre na China.

Salto chinês
Tempos atrás viajei com um importador brasileiro de lâmpadas led. Ele importava de um pequeno fabricante chinês, que adquiria os insumos da Alemanha, processava e vendia mais barato. Depois, o industrial resolveu comprar máquinas para fabricar ele próprio os insumos. Em dois anos, tinha 35 mil metros quadrados de instalações. Guardadas as proporções de época, apenas repetia o fenômeno da Inglaterra do Século 18.

Brasil na contramão
No caso do Brasil, o desabrochar do mercado interno criou as primeiras condições para o salto da indústria. Mas o câmbio está matando o deslanche. Cada vez mais, o crescimento do mercado interno está sendo apropriado pela manufatura chinesa; e cada vez mais o Brasil se firma como mero fornecedor de matéria-prima. Chega uma hora que nem o mercado interno garantirá mais o crescimento da economia.

Falta de visão
Essa falta de visão sobre o salto futuro é disseminada no país. No governo federal, lançam-se planos ditos de desenvolvimento sem concatenação com a política macroeconômica.

AUTORIA: Luis Nassif - Jornalista econômico, Editor do site www.advivo.com.br/luisnassif
E-mail: lnassif2011@bol.com.br

Fonte: Agrosolf Jornal

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Gaddafi estaria vivo e pronto a organizar resistência na Líbia, dizem agências

Informes de agências de notícias que circularam nesta segunda-feira na Líbia, na Sérvia e na Rússia relatam a primeira aparição do coronel Muammar Gaddafi após a notícia de sua morte, durante os conflitos ocorridos naquele país, ano passado.

De acordo com a agência internacional de notícias RicTV, Gaddafi teria falado aos líbios na transmissão da uma rádio argelina.

O líder líbio, que teve sua morte atestada por meios oficiais do novo governo daquele país, estaria vivo, na verdade, e refugiado no país vizinho, de onde articularia uma reação à tomada do poder por tribos rebeldes que contaram com o apoio das forças da Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan).

Estas mesmas fontes garantem que o homem confundido pelos rebeldes era um primo distante de Gaddafi, chamado Ali Madzid Al Andalus. O sósia era famoso em Sirte, onde vivia e morreu, por sua aparência similar à do então governante. Ouvida pela agência RicTV, a família dele confirma sua morte em 20 de outubro do ano passado, mesma data atribuída ao assassinato de Gaddafi. Fontes independentes também confirmaram aos jornalistas que o dirigente líbio estava distante de Sirte em 20 de outubro.

– A proclamação da resistência e um grande apoio moral está circulando nestes dias. Coube aos colonos a violência contra a Líbia. Tudo se fez em nome de uma falsa revolução. A todos os filhos da honesta Líbia, os filhos dos Mujahideens (guerreiros) e os filhos dos comandantes Mujahideens, o sol brilhará depois de uma longa noite e o que se necessita saber por agora é que a vitoria está próxima. A libertação está próxima – assinala a transmissão atribuída a Gaddafi.

Segundo a agência de notícias, com base na Espanha, a mensagem foi dirigida às “unidades de segurança internacionais, unidades de segurança de tribos, aos soldados dos batalhões, ao Batalhão 32 e aos líbios Mujahideens e livres”. Ainda segundo as transmissões, confirmadas pela agência argelina de notícia Algeria ISP, a resistência deverá ser lançada em operações em todas as regiões, “de leste a oeste”. Gaddafi também teria pedido aos líbios para se unirem aos combatentes da resistência e para lançar ataques, “até pedras”, contra os insurgentes. Ele também teria pedido aos combatentes de regiões distantes para intensificar as operações “contra os traidores que venderam a Líbia”.

segundo o informe
– ainda não confirmado por fontes independentes – teria nomeado o filho, Saif al-Islam, como “um membro da resistencia que nos motivará para a libertação de Líbia”. Gaddafi teria encerrado seu pronunciamento com a garantia de que nunca dividirá a Líbia.

– A Líbia nunca se converterá em um emirado de Qatar ou nos Emirados Árabes Unidos, nem em uma colônia da França ou de outros países ocidentais – ressalta o comunicado atribuído a Gaddafi.
Além dos integrantes do exército leal ao então regime de Gaddafi, o líder líbio também convocou “as tribos de todas as regiões, os argelinos, tunisianos, iraquianos e os sírios a permanecerem contra os ratos e seus mercenários”.

Em relato similar, publicado no sítio da Algeria ISP logo após a divulgação da morte de Gaddafi, uma outra versão de que ele estaria vivo e bem e saúde.

Fonte: Correio do Brasil

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A análise russa sobre a capacidade militar do Irã

O Irã desempenha um papel crítico no Golfo Pérsico e, com a sua geografia estratégica, domina totalmente o Norte do golfo e o Estreito de Ormuz. Mas será que tem recursos suficientes para bloquear e reter aquela rota estratégica no caso de conflito militar?


Política de guerra assimétrica


O Irã é uma potência militar relativamente bem inferior em comparação com os EUA e outros países NATO, mas tem a capacidade de proporcionar grandes golpes que para forças convencionais maiores são difíceis de conter.

O editor chefe da revista Defesa Nacional, Igor Korotchenko, acredita que a força militar do Irã não é capaz de alcançar uma vitória contra os EUA numa confrontação directa.

"No caso de um conflito militar global direto com o Irã, os EUA certamente assegurarão uma vitória", disse ele. "Mas a questão é: a que custo?".

Devido a medidas assimétrica que o Irã pode por em ação num conflito, o preço da vitória poderia ser inaceitável para os EUA, disse Korotchenko.

"O Irã pode atacar bases e instalações militares estado-unidenses na região", disse Korotchenko. "Eles podem utilizar elementos do Hamas e do Hezbollah, bem como outros movimentos radicais que estão prontos a apoiar o Irã. Podem desestabilizar a situação no Iraque. Estas seriam medidas assimétricas".

Tendo ativos limitados em mãos, o Irã tem de desenvolver uma estratégia de guerra assimétrica. Portanto a guerra do Irã está orientada para a utilização do seu armamento em modos não convencionais e para a capitalização da geografia favorável do país.

A liderança do Irã adapta uma "doutrina do não primeiro ataque" e portanto o Irã não tem lançado guerras na historia moderna. A constituição iraniana proíbe o estabelecimento de quaisquer bases militares estrangeiras no país, mesmo para finalidades pacíficas.

A seguir à Revolução Islâmica de 1979, o Irã dividiu as suas forças armadas nos componentes regular e revolucionário. Isto significa que o Irã tem dois exércitos ativos: o Exército da República Islâmica do Irão (exército regular) e o Exército dos Guardas da Revolução Islâmica (Guardas Revolucionários, IRGC).

O IRGC é uma força de armas combinadas com as suas próprias forças de terra, Marinha (IRGCN), Força Aeroespacial (IRGC-AF), Inteligência e Forças Especiais. Considerando que os militares regulares defendem as fronteiras do Irão e mantêm a ordem interna, os Guardas Revolucionários são destinados a proteger o sistema islâmico do país. Ambas as forças operam em paralelo e partilham instalações militares, mas o IRGC tem um estatuto mais elevado e uma preferência na recepção de material moderno.

A estratégia assimétrica demonstrou-se eficiente durante a Guerra Irão-Iraque (1980-1988). O Irã efetuou operações bate-e-foge com êxito utilizando grupos de pequenos botes contra navios que passavam através do Estreito de Ormuz. Combinada com a vasta colocação de minas no estreito, as táticas de guerrilha permitiram ao Irã afundar mais de 500 navios durante a guerra.

Contudo, numa confrontação direta com uma frota estado-unidense depois de uma mina iraniana ter danificado uma fragata dos EUA, a Marinha iraniana foi esmagada.

Hoje a IRGCN opera mais de 1500 pequenos botes, os quais podem ser facilmente escondidos na zona costeira e não precisam de um grande porto para serem abastecidos. A maior parte destes botes pode estar o já está equipada com mísseis de alcance curto e com minas. Um ataque inesperado de um grupo destes botes pode deitar abaixo quase qualquer navio que ouse entrar em águas iranianas.

As forças do Irã são cobertas por uma rede vasta de mísseis anti-navios baseados na costa e por sistemas de defesa aérea. Sendo bastante vulnerável a uma campanha aérea séria, o Irã descentralizou sua estrutura de comando, melhorando portanto a resiliência das suas forças após um ataque inicial.

Eficiência inferior em batalha?
O Irã tende a manter o seu equipamento militar em boas condições, pronto para ser utilizado onde e quando necessário. Isto foi confirmado durante exercícios navais regulares do Irã. Em muitos casos o Irã utilizou ensaios para testar seus novos armamentos, tais como o novo míssil balístico de médio alcance Chadr.

O êxito deste último em testes de lançamento dia 3 de Janeiro fez o chefe da Marinha iraniana, almirante Habibollah Sayyari, declarar que a partir dali o Estreito de Ormuz estaria completamente sob o controle do Irão.

O Ghadr-110 é um míssil balístico de médio alcance concebido, desenvolvido e fabricado totalmente no Irã. É uma versão melhorada do míssil Shahab-3 com a manobrabilidade mais alta e um tempo de preparação mais curto, de apenas 30 minutos. O míssil tem um alcance de cerca de 2.100 quilómetros. Ele foi lançado em teste com êxito durante os últimos exercícios militares Velayat-90 entre 24/Dezembro/2011 e 03/Janeiro/2012.

O objetivo dos exercícios navais do Irã é não apenas flexionar seus músculos frente ao mundo mas também melhorar seu treino e proficiência militar e afinar a estratégia de conduzir operações dentro das suas águas territoriais.

Os militares do Irã tem uma quantidade significativa de hardware militar produzindo pelo ocidente, alguns com mais de 30 anos de idade, o qual é difícil fazer manutenção sob o embargo.

A frota do Irã consiste de navios de concepção estado-unidense, francesa e britânica. Os três maiores submarianos do Irã, os quais foram fornecidos pela Rússia, têm mais de 15 anos e não há relatos de qualquer grande revisão de manutenção a ser feita. A base da sua força aérea é constituída por jactos MiG-29 e SU-24 russos, e F-6 e J-7 chineses.

O Irã substitui ativamente o hardware estrangeiro descomissionado por armamento produzido internamente e aumenta constantemente sua eficiência militar.

Indústria militar
Após a revolução, o Irã encontrou-se gravemente isolado devido a sanções económicas e a um embargo de armamento que lhe foi imposto pelos Estados Unidos, e teve de confiar principalmente na sua indústria interna de armas. O IRGC foi encarregado de criar a moderna indústria militar iraniana.

Hoje o Irã é capaz de produzir um vasto conjunto de armamento desde aviões com asas fixas, helicópteros, botes e submarinos bem como sistemas de radar e sistemas de defesa aérea refinados. Contudo, os sistemas que os EUA fornecem a aliados seus no golfo são muito mais avançados do que a tecnologia militar iraniana.

O Irã tem-se centrado no desenvolvimento de munições inteligentes, embarcações leves de ataque, minas e mísseis balísticos para neutralizar outras potência militares.

O Irã dedicou um bocado de esforço ao desenvolvimento dos seus próprios mísseis balísticos. Em anos recentes desenvolveu armas tais como os mísseis balísticos de médio alcance Fajr-3 e Kowsar, os quais tornaram-se a coluna dorsal do seu stock de mísseis estratégicos.

Para a sua força submarina, o Irã desenvolveu o torpedo de super-cavitação Hoot, alegadamente uma engenharia reversa do russo VA-111 Shkval.

O Irã fabrica localmente os sistemas de mísseis de defesa aérea Shahin e Mersad, os quais são versões melhoradas do sistema estado-unidense MIM-23-Hawk da década de 1960. O Irã também sabe produzir e operar drones não manejados, os quais são utilizados para vigilância.

Força Aérea do Irã
A Força Aérea do Irã opera cerca de 200 aviões de combate, uns 120 de transporte e mais de 500 helicópteros. A lista de bases e aeroportos operados pelos militares do Irão inclui 14 bases táticas da força aérea, 18 campos de pouso militares e 22 aeroportos civis que podem ser utilizados para finalidades militares.

A força aérea do Irã é constituída principalmente por aviões soviéticos e chineses, bem como aviões ex-iraquianos postos em serviço. Alguns dos aviões mais antigos são americanos, os quais a Força Aérea tem conseguido manter em serviço.

O Irã é capaz de produzir caças a jacto de um só lugar Azarakhsh e Saeqeh de segunda geração, derivados do Northrop F-5 americano. Oficiais iranianos afirmam que o Saegeh é semelhante ao McDonnell Douglas F/A-18 Hornet de construção americana. Segundo relatos recentes o Irã tem cerca de 30 destes aparelhos em operação.

Todos os aviões iranianos são equipados com mísseis de fabricação local e não dependem de fornecimentos estrangeiros.

Força naval iraniana
Segundo fontes abertas as forças navais do Irã têm um total de cerca de 26 submarinos, 4 fragatas, 3 corvetas, 24 embarcações de patrulha com mísseis, 7 navios lança-minas e mais de 270 embarcações de patrulha costeira.

Três dos submarinos do Irã são russos da classe Kilo, diesel-eléctrico, destinados principalmente a operações anti-navio e anti-submarinas nas águas relativamente rasas do golfo.

O Irão também tem cerca de 17 pequenos submarinos produzidos internamente da classe Ghadir, capazes de disparar o torpedos Hoot de super-cavitação, os quais são uma ameaça significativa para navios e submarinos hostis.

O Ghadir é uma classe de mini submarinos construídos pelo Irã especificamente para navegar dentro das águas rasas do Golfo Pérsico. O submarino está equipado com o equipamento militar e tecnológico mais recente e acredita-se que as suas capacidades seja iguais às de tipos estrangeiros. Os submarinos da classe Ghadir são capazes de disparar rocket-torpedos Hoot de super-cavitação. Os submarinos Chadir também podem ser utilizados para instalar diversas operações especiais, tais como lançamento de minas.

Considerando que o Estreito de Ormuz é bastante raso e tem apenas dois estreitos canais navegáveis, não seria de modo algum um desafio bloquear a passagem estratégica, especialmente com a experiência do Irão em operações de lançamento de minas, afirma Korotchenko.

"Operações de lançamento de mina podem ser executadas de modo bastante encoberto e depois disso o Irã pode anunciar que o Estreito de Ormuz está bloqueado", disse ele. "Além disso, o Irã é capaz de atingir petroleiros e outros navios dentro do estreito com mísseis anti-navio e disparados de botes velozes ou diretamente da costa".

Programas balísticos e nucleares
A principal preocupação do ocidente são os programas de mísseis balísticos e nuclear iranianos. O Irã criou forças de mísseis balísticos armados que são capazes de atingir quaisquer aliados dos EUA e bases estado-unidenses na região.

Afirma-se que o Irã acumulou vários milhares de mísseis balísticos móveis de alcance curto e médio. Os mísseis balísticos do Irã também poderiam ser configurados para transportar ogivas nucleares se o Irã puder desenvolvê-las.

O Irã ainda afirma que o seu programa nuclear é pacífico, mas muitos na comunidade mundial acreditam que é destinado a produzir armas nucleares. Segundo um de tais gurus, Anthony H. Cordesman do Center for Strategic and International Studies, é bastante possível que o Irã possa adquirir armas nucleares operacionais (deliverable) dentro dos próximos cinco anos.

Igor Korotchenko acredita que o Irã utilizaria seu poder balístico sem hesitação se exigido. A única questão que permanece é quão efctivamente isto funcionaria do lado da engenharia.

"Os mísseis balísticos Shahab-3 e os mísseis mais recentes baseados naquela tecnologia são de fato mísseis semi-estratégicos", disse ele. "É possível atacar instalações militares na região com aqueles mísseis, numa certa extensão. A questão é quão efetivamente o Irã utilizará suas unidades de mísseis".

"As unidades de mísseis são controladas pelos Guardas Revolucionários e estão incluídas na sua estrutura operacional", acrescentou Korotchenko. "Portanto podemos esperar que pelo menos no contexto da prontidão moral, os homens dos mísseis iranianos cumprirão o seu dever profissional".

Fonte: blog do Nassif - do Russia Today

domingo, 15 de janeiro de 2012

Mercado sem desenvolvimento: a causa da crise. Artigo inédito de Karl Marx

O texto abaixo é um dos achados do projeto Mega – Marx-Engels GesamtAusgabe, que, a partir dos arquivos de Karl Marx, está organizando a sua imensa obra ainda inédita: 114 volumes, o último dos quais será publicado em 2020.

Para entender em que mundo vivemos e viveremos, este artigo jamais lido do Capital, parece ter sido escrito hoje.

Eis o texto.
A enorme quantidade e variedade de mercadorias disponíveis no mercado não dependem apenas da quantidade e da variedade de produtos, mas são, em parte, determinadas pela entidade da parte de produtos produzidos como mercadorias, que deverão, portanto, ser inseridos no mercado para a venda na qualidade de mercadorias.

A grandeza dessa parte das mercadorias vai depender, por sua vez, do grau de desenvolvimento do modo de produção capitalista que produz os seus próprios produtos apenas como mercadorias, e do grau em que tal modo de produção domina em todas as esferas da produção.

Deriva daí um grande desequilíbrio no intercâmbio entre países capitalistas desenvolvidos, como aInglaterra, por exemplo, e países como a Índia ou a China. Esse desequilíbrio é uma das causas da crise.

Causa totalmente negligenciada pelos burros que se contentam em estudar a fase do intercâmbio de um produto por outro produto e que esquecem que o produto não é, portanto, em caso algum, mercadoria intercambiável enquanto tal. Isso constitui também a pedra no sapato que leva os ingleses, dentre outros, a querer subverter o modo de produção tradicional existente na China, na Índia etc., para transformá-lo em uma produção de mercadorias e, em particular, em uma produção baseada na divisão internacional do trabalho (ou seja, na forma de produção capitalista).

Eles conseguem, em parte, esse intento, por exemplo, quando prejudicam os fiadores de lã ou de algodão vendendo seus produtos a um preço inferior ou arruinar o seu modo de produção tradicional, que não é capaz de competir com o modo de produção capitalista ou com o modo capitalista de inserir as mercadorias no mercado.

Embora o capital produtivo, por sua própria natureza, esteja disponível no mercado, isto é, oferecido à venda, o capitalista pode (por um período de tempo longo ou curto, de acordo com a natureza das mercadorias) mantê-lo longe do mercado se as condições não lhe forem favoráveis ou com o fim de especular, ou outro.

O capitalista pode subtrair o capital produtivo do mercado das mercadorias, mas, em um momento posterior, será obrigado a reinseri-lo. Isso não tem efeitos sobre a definição do conceito, mas é importante para a observação da concorrência.

A esfera da circulação das mercadorias, o mercado, é, enquanto tal, diferente também fisicamente da esfera da produção, exatamente como são diferentes temporalmente o processo de circulação e o efetivo processo de produção. As mercadorias agora prontas ficam depositadas nos armazéns e nos depósitos dos capitalistas que as produziram (exceto no caso de serem vendidas diretamente), quase sempre só de modo passageiro, antes de serem expedidas para outros mercados.

Para as mercadorias, trata-se de uma estação de preparação a partir da qual serão inseridas na efetiva esfera de circulação, exatamente como os fatores da produção disponíveis permanecem à espera, em uma fase preparatória, antes de serem transportados para o efetivo processo de produção.

A distância física entre os mercados (considerados do ponto de vista da sua localização) e o lugar do processo de produção das mercadorias dentro de um mesmo país, e sucessivamente fora dele, constitui um elemento importante, porque é justamente a produção capitalista que faz com que, para uma boa parte dos seus produtos, o mercado seja constituído pelo mercado mundial. (As mercadorias também podem ser adquiridas para serem retiradas imediatamente do mercado, mas esse elemento deveria ser examinado em outros lugares, assim como a menção anterior às mercadorias que os produtores mantêm longe do mercado).

Consequentemente, é preciso que o mercado se expanda continuamente. Além disso, em todas as esferas individuais da produção, todo capitalista produz de acordo com o capital que lhe é oferecido, independentemente do que fizerem os outros capitalistas. No entanto, não será o seu produto, mas sim o produto total do capital investido nessa particular esfera de produção que irá constituir o capital produtivo, que oferece à venda esta e qualquer outra esfera individual de produção.

É um dado empírico que, embora a dilatação da produção capitalista leve a um incremento, a uma multiplicação do número de esferas de produção, ou seja, de esferas de investimento do capital, nos países de produção capitalista avançada, essa variação jamais mantêm o mesmo ritmo que o acúmulo do próprio capital.

O texto foi publicado no jornal La Repubblica, 08-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: blog do Nassif - Do IHU Online

sábado, 14 de janeiro de 2012

Guerra dos EUA e Israel contra o Irã já começou, avaliam especialistas



Especialistas militares avaliaram, nesta quinta-feira, que a guerra entre o Irã e os EUA já começou, a julgar pelo movimento de tropas na região e os últimos acontecimentos no cenário montado pelas nações ocidentais no Golfo Pérsico.

Fontes ouvidas pela agência espanhola de notícias RicTV atestam que, agora, “é apenas uma questão de horas para o início do conflito armado”. A morte do cientista iraniano em um atentado foi, segundo analistas, um ponto decisivo para o agravamento do quadro de confronto entre as forças norte-americanas, israelenses e do Irã.

A morte de Mostafa Ahmadi Roshan, de 32 anos, engenheiro nuclear iraniano, em um atentado a bomba, nesta quarta-feira, provocou uma onda de revolta em Teerã contra Israel, o principal suspeito, e contra os Estados Unidos, que afirmaram não ter qualquer ligação com o atentado. A edição desta quinta-feira dos principais jornais iranianos pede represálias imediatas contra ambos os países.

“Sob a lei internacional é legal executar represálias com o assassinato do cientista nuclear”, afirma o jornal iraniano Keyhan, em um editorial. “A República Islâmica conquistou muita experiência em 32 anos. Portanto, é possível assassinar autoridades e militares israelenses”, completa o texto. O assassinato domina o noticiário naquele país e muitos criticaram o que chamaram de silêncio do Ocidente sobre as mortes. Os jornais mais radicais pedem, inclusive, uma ação secreta contra Israel.

Ainda prudente em seus pronunciamentos, o governo iraniano disfarça a irritação com o episódio mas garante que obteve provas de que “interesses estrangeiros” estavam por trás da morte do cientista Roshan, subdiretor da central de enriquecimento de urânio de Natanz. Ele morreu quando dois homens, em uma motocicleta, pararam ao lado do automóvel do cientista, retido em um engarrafamento em Teerã, e colocaram uma bomba magnética na porta, após o que se ouviu uma forte explosão.

A bomba também matou o motorista e o segurança de Ahmadi Roshan, enquanto um terceiro ocupante do carro, um modelo Peugeot 405, ficou ferido. O ataque foi similar a outros quatro que aconteceram em Teerã nos últimos dois anos. Três cientistas, incluindo dois que também trabalhavam no programa nuclear iraniano, morreram, enquanto outro – que agora dirige a Agência de Energia Atômica do Irã – escapou por pouco tempo de um atentado.

Capitalismo em declínio
Pomo da discórdia entre o Irã, Israel e os EUA, a energia nuclear foi o tema central dos pronunciamentos realizados em Havana, na noite passada, durante a recepção ao presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad promovida pelo presidente cubano, Raúl Castro. Ambos defenderam o direito de todos os países ao uso pacífico da energia nuclear, no clímax da escalada militar em curso na região do Golfo Pérsico.

Os dois governantes “ratificaram o compromisso dos dois países na defesa da paz, do direito internacional e dos princípios da Carta das Nações Unidas, assim como do direito de todos os Estados ao uso pacífico da energia nuclear”, afirma um comunicado oficial.

O apoio cubano ao programa nuclear iraniano foi anunciado na mesma semana em que os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Nicarágua, Daniel Ortega, fizeram o mesmo. De acordo com a nota oficial, durante o encontro no Palácio da Revolução de Havana, Raúl Castro e Ahmadinejad conversaram sobre “o excelente estado das relações bilaterais e temas do âmbito internacional”.

– Estamos observando que o sistema capitalista está em decadência, em diferentes cenários, como em um beco sem saída, e é necessária uma nova ordem, uma nova visão, que respeite todos os seres humanos, um pensamento baseado na justiça. Quando já lhe falta lógica recorrem às armas para matar e destruir. Hoje em dia a única opção que restou ao sistema capitalista é matar – disse Ahmadinejad, em uma conferência na Universidade de Havana, onde recebeu o título Doutor Honoris Causa em Ciências Políticas.

Ahmadinejad reivindicou uma nova ordem mundial baseada na justiça e que respeite todos os seres humanos e encorajou Cuba e seus universitários a trabalharem ao lado de seu país para criá-la.
– Temos que estar alertas. Se nós não planejamos a nova ordem no mundo, serão os herdeiros dos donos de escravos e os capitalistas a controlar e impor o novo sistema – afirmou.

Questão de horas
Enquanto Ahmadinejad se movimenta pela América Latina, em busca de uma sólida aliança com países socialistas da região, o porta-aviões da classe Nimitz, modernizado e com armas mais letais se posiciona próximo ao Estreito de Ormuz. Nos últimos dias, os EUA trasladaram um grupo de militares especializados em desembarque e um batalhão inteiro de marines.

A tropa segue embarcada nos navios anfíbios Makin Island, New Orleans e Pearl Harbor. Soma-se à força naval uma esquadrilha reforçada de helicópteros e um batalhão de retaguarda. As informações foram divulgadas, nesta manhã, pela RicTV.

A agência acrescenta que o serviço de comunicações da Armada norte-americana comunicou que a principal função do novo grupo de combate, encabeçado pelo super porta-aviões é apoiar o exército em suas operações no Afeganistão e participar de manobras internacionais na região.

Especialistas ouvidos, no entanto, advertem que o aumento no número de embarcações dos EUA nas costas do Irã é um fator marcante para o aumento da tensão entre os dois países, com desfecho previsto em questão de horas. Fernando Bazán, um dos analistas internacionais, em entrevista aos jornalistas, aponta a escalada do poderio armamentista dos EUA no Mar Arábico.

– De um lado, Washington envia cada vez mais navios de guerra para a região por sua preocupação com o avanço da produção nuclear iraniana, ainda mais depois que Teerã confirmou a produção de urânio enriquecido a 20% em uma instalação subterrânea. De outra parte, o Irã é um dos países mais importantes na política regional e pode influir na maioria dos processos em curso no Oriente Médio, com apoio aos grupos xiitas – afirmou Bazán.

Além do USS Nimitz, o vespeiro em que se encontra o Estreito de Ormuz contará, nos próximos dias, com a presença de um grupo de combate da V Frota Marítima, encabeçado pelo porta-aviões Carl Vinson, com aeronaves a bordo. Estes equipamentos se somam a um outro grupo de navios de guerra estacionado na região desde dezembro último. Estas belonaves já haviam passado pelo Estreito de Ormuz, na divisa entre o Mar de Omán e o Golfo de Áden, por onde circulam 40% do tráfego mundial de petróleo.

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