quinta-feira, 7 de junho de 2012

A nova classe média vai às compras



Em dez anos, algumas mudanças econômicas colocaram o Brasil num patamar evolutivo. Muitos brasileiros, antes considerados de baixa renda, conseguiram acesso ao crédito através de empregos formais que contribuíram para o aumento da renda familiar. Essa rede de mudanças permitiu a este cidadão dar boas vindas a um estilo de vida mais consumista. Os sonhos são hoje possíveis de serem concretizados.

O que esse brasileiro percebeu é que pode tornar a sua vida mais confortável através de bens de consumo que podem ser adquiridos de imediato sem torrar todo seu orçamento. O crédito possibilitou essa virada e consolidou o que chamamos de Nova Classe Média Brasileira.

Também conhecida por Classe C, a Nova Classe Média (NCM) representa a maioria de consumidores em todas as categorias de consumo: móveis e eletrodomésticos, alimentação e bebidas, roupas e calçados, entre outros.

O acesso a serviços também tem a liderança deste novo consumidor, que pode agora ser visto em ambientes nunca antes frequentados, como nos saguões dos aeroportos, shoppings, cinemas e academias. E essa presença impactante de consumidores com códigos diferentes contribuiu não apenas para movimentar a economia do país, mas para gerar incômodo da antiga classe média (Classes A e B) que viu seu espaço, antes exclusivo, invadido por uma superpopulação que antes “não existia” na prática.

Além do preconceito causado pelo aumento do número de pessoas em lugares antes restritos, a elite também demonstra preconceito em relação às diferenças cognitivas existentes entre as classes sociais.

Realizamos uma pesquisa online no segundo trimestre de 2011 que comprova isto: 55,3% da elite afirmou que deveria haver produtos diferenciados para ricos e pobres e 48,4% acredita que a qualidade dos serviços piorou com o maior acesso a população.

E esta mesma fatia social que repudia a chegada da classe C é aquela que está à frente das grandes empresas e agências de publicidade, o que torna mais difícil ainda atingir este público, pois para isto é preciso ter humildade e quebrar esta barreira.

Os empresários precisam enxergar que há tempos a classe C deixou de ser um nicho de mercado e olhar pra ela com outros olhos, até porque ela representa 53,9% da população brasileira. São 104 milhões de consumidores ignorados, sendo que os próprios comerciais de tevê são destinados para o público A/B.
O grande erro é achar que a Nova Classe Média deseja ser como a elite. Esse cara deseja sim melhorar de vida, mas não se espelha no rico, que considera perdulário, e sim no vizinho, que acabou de comprar um carro, por exemplo.

Outro equívoco é querer empurrar produto baratinho e vagabundo para este consumidor.

A Nova Classe Média valoriza cada vez mais a qualidade dos produtos que consome e não se importa de pagar um pouco a mais para garantir isto. É um mercado que trabalha muito bem com a relação de custo benefício, até porque, na hora de lavar a roupa suja, o que conta não é o preço do sabão em pó, mas a sua eficácia e durabilidade, e isso a dona de casa da Classe C sabe muito bem.

Estes aspectos comportamentais fazem toda a diferença para elaborar estratégias acertadas de negócios, e por isso acredito que é preciso descer do pedestal e entrar em contato com a realidade desse público, que nós aqui do instituto Data Popular chamamos de Brasil de Verdade.

*Renato Meirelles, novo colunista do site de CartaCapital, é sócio-Diretor do Data Popular, que completou em 2011 dez anos em pesquisa e consultoria nas classes C, D e E. Comunicólogo com MBA em gestão de negócios pela ESPM, foi colaborador do livro Varejo para Baixa Renda, publicado pela Fundação Getúlio Vargas e  autor do livro Um jeito fácil de levar a vida – O Guia para Enfrentar Situações Novas Sem Medo, publicado pela editora Saraiva. É colunista de diversas revistas e editor do site brasildeverdade.com.

*No Data Popular, conduziu mais de 200 estudos sobre o comportamento do consumidor de baixa renda no Brasil, desenvolvendo projetos de pesquisa, posicionamento de marca e inovação para empresas como: C&A, Itaú, P&G, Gol, Positivo Informática, Rede Globo,  Rede Record, Banco Ibi, Living Construtora, Pernambucanas, Casas Bahia, portal Terra, Febraban, Sadia,  Camargo Corrêa, entre outros.

Por Marco Antonio L.  da Carta Capital

Fonte: blog luisnassif, Renato Meirelles