terça-feira, 16 de outubro de 2012

As avaliações de que o Brasil saiu do foco dos investidores


Não é muito difícil constatar a distância entre o discurso de analistas de bancos de investimentos globais sobre a situação da economia brasileira e as ações concretas, no Brasil, das casas financeiras. A conversa é a de que o Brasil saiu de moda para os investidores, que estão agora se voltando para o México. As ações efetivas mostram atividade febril no País, não só em fusões e aquisições, mas também na implantação de novos negócios no mercado brasileiro.

Dois argumentos recorrentes aparecem nas avaliações públicas de que o Brasil saiu do foco dos investidores. O primeiro é o baixo crescimento do momento. O outro é o estilo intervencionista do governo Dilma Rousseff. No miolo da análise, projeções comparativas do esperado desempenho favorável da economia mexicana ante hipóteses mais pessimistas para o Brasil, nos próximos dez anos.

Faz parte do conjunto teórico que dá adeus ao suposto outrora “queridinho” dos investidores, além desses itens mais insistentemente apontados, uma avaliação negativa da considerada excessiva dependência da economia brasileira aos humores da economia chinesa. A expectativa de uma desaceleração mais forte na China leva ao raciocínio de que o Brasil poderá enfrentar problemas no setor externo, com o previsível recuo nas cotações internacionais de commodities, segmento em que o País, exportador de primeira grandeza, colheu até agora importantes e robustos resultados.

É verdade que aumentou o grau de intervenção na economia brasileiro e, ao mesmo tempo, cresceu também o nível de protecionismo. Também é verdade que o aumento dos custos de produção industrial na China ajudou a tornar mais competitivas as exportações mexicanas de manufaturados, enquanto a perspectiva de queda nas cotações de commodities, sem dúvida, afeta, negativamente, o setor externo brasileiro. Em favor do México também é anotada a recuperação ainda fraca e lenta, mas visível, de setores da economia americana, vizinha e principal parceira dos mexicanos, para o bem e para o mal.

Tem só um probleminha nisso tudo. Os condutores das nuvens de gafanhotos financeiros, que zanzam pelos mercados à procura de ganhos gordos e com poucos riscos, se “esquecem” de incluir em suas análises alguns novos e cruciais elementos, mais recentemente introduzidos na economia brasileira. Caso da desvalorização cambial, do corte da taxa básica de juros a níveis reais muito mais próximos dos praticados nos demais mercados e dos controles de capitais por meio do Imposto de Operações Financeiras.

Com esses novos elementos, as aplicações típicas de mercado financeiro, no Brasil, perderam, é óbvio, muito das vantagens antes oferecidas a capitais externos. A bolsa de valores fica mais volátil e o fluxo de recursos de fora para a renda fixa se retrai. O mesmo, porém, não se pode dizer dos investimentos no setor produtivo, no qual alguns desses novos elementos, ao contrário, operam como evidentes fatores de atração. Com a moeda local mais desvalorizada, os ativos em reais ficam mais baratos e, com juros menores, o custo do capital, captado internamente, também se reduz.

No fim das contas, o número de fusões e aquisições, com participação de capital externo, em 2012, é recorde. De janeiro a agosto, já foram fechados negócios que representam 25% a mais do que o movimento de todo o ano anterior e o precedente. E é quase o dobro do número de negócios efetivados há seis anos. A indústria voltada para o mercado interno e o consumo de massas, ao lado dos serviços, continua exercendo atração merecida dos investidores em ativos reais.

Entre fatos e versões, o que na realidade ocorre, no momento, é uma explosão de investimentos estrangeiros diretos (IED), no Brasil. Com todas as adversidades listadas pelos oráculos das casas de investimento globais – aqueles mesmos que, na grande maioria, são craques em prever o passado, errar as projeções do futuro e permanecer perplexos com os acontecimentos do presente –, o volume de IED estimado para ingressar em 2012, em torno de US$ 60 bilhões, não dá sinais de que será diferente do que aportou em 2011 e, provavelmente, do que virá em 2013.

O Brasil continua, assim, nos primeiros postos da lista dos destinos preferenciais dos capitais externos, entre as economias emergentes. Deixar de ser o “queridinho” dos investimentos mais especulativos, nessas circunstâncias, é um bom negócio.

Texto de José Paulo Kupfer -  Do Estadão