segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O que você aprende (de verdade) administrando seu dinheiro

Por Fábio Zugman  

Deixe-me dizer logo de cara: a maior parte desses livros considerados “Finanças Pessoais” não passa de auto-ajuda equivocada. Quanto mais popular a ideia, mais gente viu a oportunidade de escrever e dar conselhos sobre ações, opções, etc. sem ter um bom domínio do tema. Pior, sem experiência e risco suficiente investido ali.

O que quero dizer com isso? Comprei minhas primeiras ações quando a Vale abriu seu capital. Com o tempo, montei uma carteira e abandonei a passividade que costumamos ter com nosso dinheiro.

Eu poderia dizer que, financeiramente, isso é bom e assim por diante, mas esse não é o ponto. Aliás, um ponto que passa despercebido nessa onda de “fique rico sozinho” que vemos nas livrarias: investir de forma ativa me tornou um melhor administrador.

Quando você sai da caderneta de poupança e compra Letras do Tesouro, quando abandona um fundo que o administrador decide por você e passa a colocar o dinheiro em suas escolhas, está aprendendo a fazer análises, a tomar decisões e a se responsabilizar por elas.

Uma coisa é você ler uma análise (ou um livro) de alguém dizendo que o investimento XYZ é bom. Outra é você colocar o próprio dinheiro. O benefício não ocorre só quando você acerta e ganha mais dinheiro.

 Perder dinheiro assumindo responsabilidade pelas próprias decisões é uma bela lição. O famosos investidor Ken Fisher chama o mercado financeiro de “O Grande Humilhador”. E isso é bom. Se todas as pessoas com dicas certeiras para ficar ricas seguissem o que pregam, com o tempo muitas delas seriam humilhadas pelo mercado, e nada melhor que um pouco de humildade para esse tipo de arrogância.

Investir constrói caráter. Como assim? Lembro quando comecei a vender as ações que tinha da Petrobras. Me perguntaram, do outro lado da linha, se eu realmente tinha certeza, já que todas as corretoras recomendavam a empresa. Sim. Eu achava que o governo e a empresa não estavam sendo justos com pequenos acionistas como eu.

Vendi, as ações subiram mais um pouco (um período que me deixou meio triste por ter errado), mas então veio a conclusão: as ações despencaram. Uma coisa é dizer que alguma política é errônea. Outra é colocar o próprio dinheiro na linha de fogo com base na sua opinião.

E é isso que falta aos tais gurus de auto-ajuda financeira. Assumir responsabilidade pode não te deixar mais rico. Mas se você acha que a economia vai mal e continuar comprando ações, há um problema em sua postura. Se você diz que as empresas no Brasil dão lucros absurdos mas não compra ações, também está sendo contraditório. Fazer discursos é fácil, difícil é assumir responsabilidade pelos resultados disso.

No início do ano passado eu estava passando na Avenida Paulista quando vi uma turma daquelas que gostam de protestar: megafones, bandeiras e toda a panafernália usual. Lembro que gritavam contra os lucros dos bancos, o capitalismo, FMI e sei lá mais o quê. Após o protesto, foram todos em fila tomar um sorvete no McDonalds. Troquei de celular e infelizmente acho que a foto se perdeu, mas fiquei pensando na contradição: não só a ação da Itaúsa, controladora do Itaú na época custava menos de R$10,00, como o pessoal na fila não via a inconsistência entre seus discursos e atos. Se os bancos davam tanto dinheiro, porque não ficar sócio deles, baratinho?

Costumo dizer que o mundo dos investimentos é a melhor aula que você pode ter sobre administração. Você aprende a analisar, formar opiniões e melhor, assumir uma postura de “faça o que eu digo e faça o que eu faço”. É muito fácil dar opiniões, análises, inventar modelos sem se comprometer com o resultado (aliás, esse é o meu maior problema com a maioria dos que se dizem “consultores” - dão opinião mas não assumem risco nenhum, mas isso fica para outro texto).

Por isso, pegue aquele dinheiro que está estacionado em um fundo daqueles que você não sabe o que tem dentro, ou daquele curso que você está pensando em fazer, ou de qualquer canto, e comece a assumir responsabilidade por sua vida financeira. Talvez você tenha lucro, talvez não. Mas o aprendizado provavelmente será mais valioso que qualquer porcentagem em um extrato.

Por Fábio Zugman  - Fonte:  www.administradores.com.br  em 22 de fevereiro de 2013