domingo, 10 de abril de 2011

China avança rumo ao status de superpotência


A presidente Dilma Rousseff chega nesta segunda-feira a Pequim para a reunião do Bric, grupo que reúne os emergentes Brasil, Rússia, China e Índia e que passa a incluir também a África do Sul.

Mas, apesar do potencial crescente da nova entidade, os anfitriões já são muito maiores do que qualquer outro "Bric", vêm aumentando sua influência ao redor do mundo em um ritmo mais rápido do que se previa e caminham para assumir um papel de superpotência global.

Os indicadores econômicos são impressionantes. A China é hoje o país do mundo que mais exporta (após ultrapassar a Alemanha) e é o segundo que mais importa (ainda atrás dos Estados Unidos). Tem o maior superávit comercial e de conta corrente do mundo e detém um terço das reservas globais em moeda estrangeira (US$ 2,85 trilhões até o fim de 2010).

Tornou-se o principal parceiro comercial não apenas do Brasil, em 2009, como também de uma série de países e tem investimentos crescentes em mais de 80 nações que chegaram a US$ 59 bilhões em 2010.

O poder econômico do “Império do Meio” se tornou incontestável nos últimos anos, e as projeções são quase unânimes em apontar uma mudança do eixo econômico mundial para a Ásia, resultado do chamado “efeito China”.

Com a mudança histórica, cresce a expectativa de que o país vá também exercer um papel de liderança além da esfera econômica. Em busca de sinais sobre que tipo de liderança será essa, as ações de Pequim são observadas com lupa, e uma nova postura chinesa, constantemente classificada de assertiva, tem preocupado alguns setores em diversos países.

Para o diretor do Centro de Pesquisas Econômicas da Universidade de Pequim, Yang Yao, a ascensão da China já foi bem vinda no Ocidente. Desde a crise financeira global, no entanto, o país passou a ser visto como uma nação em busca de dominação.

“A chamada assertividade da China é resultado do poder econômico e não de uma mudança estratégica que vá desafiar a ordem mundial”, disse ele à BBC Brasil.

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Novo modelo

Apesar de não parecer haver uma estratégia clara sobre a liderança a ser assumida pela China, esse papel será uma consequência natural para o país nos próximos anos, segundo Eric Vanden Busche, sinólogo e pesquisador da Universidade de Taiwan. A China, entretanto, não vai seguir o mesmo modelo adotado pelos Estados Unidos.

“A China vai introduzir um novo modelo de ser potência. Você não vai ver uma China tentando controlar o mundo. Um dos princípios que regem a diplomacia chinesa é o da não-interferência. Mas veremos uma potência que lutará para se infiltrar economicamente principalmente em países fornecedores de matérias-primas”, disse à BBC Brasil o sinólogo formado pela Universidade de São Paulo (USP).

O economista britânico baseado em Pequim Duncan Innes-Kerr, analista da consultoria Economist Intelligence Unit, concorda que a China não tentará usar sua influência para defender seus interesses no palco internacional da maneira que fazem os Estados Unidos.

“No palco internacional, a China não vai tentar empurrar suas prioridades da forma como fazem os países desenvolvidos. Não vai defender a governabilidade na África ou a democratização do Oriente Médio. Não terá um papel ativo em temas como esses nos próximos anos”, acrescentou, esclarecendo que a China está mais preocupada com questões domésticas e tenta, na verdade, escapar da liderança que os países desenvolvidos lhe tentam impor.

'Falta muito'

Mas analisar a liderança da China ainda está no campo da especulação, para especialistas como o ex-diplomata indiano Vinod C. Khanna, autor de um livro sobre as relações entre Índia e China.

Para ele, o país ainda está longe de poder ser classificado como uma superpotência, além do sentido puramente econômico do conceito.

“Falta muito. Militarmente, a China tem uma pequena fração do poder que têm os Estados Unidos”, afirma. Apesar de minimizar o tamanho da influência chinesa, ele reconhece que o tema preocupa setores em diversos países, incluindo a Índia.

“A Índia tem uma longa disputa territorial com a China. Para muitos, é uma oportunidade de crescimento em parceria. O que tem preocupado alguns setores mais recentemente é a percepção de uma política externa mais assertiva por parte da China”, acrescentou.

Segundo Vanden Busche, essa assertividade também está relacionada à emergência do que classifica de um nacionalismo mais radical em certos setores da sociedade e que pode ser fonte de problemas para o resto do mundo.

“Existe hoje na China um crescente nacionalismo, radical, que tenta exercer uma pressão sobre o governo para que tenha uma linha mais dura, especialmente em relação ao Japão e aos Estados Unidos. Esse nacionalismo está crescendo principalmente entre os mais jovens."

Controvérsias

Para Innes-Kerr, a China tem também uma grande dificuldade de se comunicar com o mundo, o que é outra fonte de possíveis tensões em um momento em que o país ganha peso em várias frentes.

Segundo ele, a China dá menos valor ao Ministério das Relações Internacionais do que outros países.

“Na China, o ministro do Exterior nem é membro do Politburo (diretório político do comitê central do Partido Comunista). No ranking do poder, fica por volta da quinquagésima posição. Com isso, o governo tende a cair em controvérsias políticas que poderiam ser evitadas se alguém estivesse pensando nas repercussões internacionais do que é dito.”

“Provavelmente, mais problemas surgirão nesta frente. As posições adotadas pela China hoje têm repercussões inevitavelmente. E a China não está se preocupando adequadamente com isso”, disse.

'Soft power'


Além da falta de prioridade apontada na relação com o resto do mundo, Eric Vanden Busche chama atenção para outro elemento fundamental na expansão do poder de uma superpotência: o chamado soft power.

“A China não sabe criar uma imagem simpática, não tem carisma. Não tem como competir com os Estados Unidos nisso. Além disso, será sempre alvo de críticas da comunidade internacional e dos formadores de opinião por conta dos abusos de direitos humanos e do autoritarismo do governo”, disse, acrescentando que a postura mais agressiva no cenário externo manifestada recentemente também tem relação com a história do país.

“Nas aulas de história, os chineses aprendem que, desde a Guerra do Ópio, em 1840, até 1949, a China foi submetida ao que chamam de 'século de humilhação', quando sucumbiu ao imperialismo ocidental."

"A partir de 1949, expulsaram os estrangeiros e estão se reerguendo. Eles acreditam que o século 21 será da China”, resume Vanden Busche.

'Nação panda'

A menção ao contexto histórico da ascensão da China é frequente quando se conversa sobre o assunto com chineses.

A maioria insiste que as intenções do país são pacíficas e que o mundo não deve temer a emergência da China.

“O símbolo dos Estados Unidos é uma águia. O da Rússia é um urso. O símbolo da nova China é o panda. Somos uma nação panda, pacífica, não queremos problema com ninguém”, brincou o jovem da província de Hebei Nie Zhicai, de 22 anos, enquanto passava o feriado chinês com amigos de escola em Pequim.

Eles visitavam uma fábrica de armamentos recentemente transformada em um grande centro cultural, com lojas, restaurantes e espaço para exposições de arte.

Fonte: BBC Brasil e http://brasilnicolaci.blogspot.com/ e