quinta-feira, 28 de julho de 2011

Política - Para entender a estratégia Lula-Dilma na atualidade

Apesar de surpreender a gregos e troianos, a estratégia política de Lula-Dilma Rousseff é relativamente fácil de desvendar.

A primeira peça do jogo é não imaginar Dilma dissociada de Lula. Não existe hipótese para ciumeiras, rompimentos. A diferença de estilo entre ambos não é semente para futuras disputas, mas peça essencial na sua estratégia.

Primeiro, vamos às afinidades políticas e à continuidade de ambos os governos:

1. Ambos são sociais-democratas. Não se exija perfil revolucionário, nem mesmo estatizante, embora estejam longe de se constituir em neoliberais.

2. São políticos focados em resultados sociais, como peça central de legitimação política, Dilma dando mais atenção à gestão, Lula à política (mesmo porque tinha Dilma para cuidar da gerência).

3. Na política econômica, a prioridade absoluta é o controle da inflação. Câmbio, desindustrialização, juros, é resto. E resto é resto. Embora Dilma tenha formação desenvolvimentista, a realpolitik se sobrepôs às demais prioridades. Se a crise internacional piorar, pode criar vulnerabilidades nessa parte da estratégia.

4. No plano político, a lógica não é do confronto, mas da soma. Dilma aprendeu com Lula a dividir os contrários em dois grupos: os adversários e os inimigos. O primeiro grupo é para ser cativado ou cooptado.

Diferenças periféricas
As diferenças de estilo entre Lula e o Dilma são periféricas, embora importantes na montagem da estratégia política. No plano econômico e ideológico, são governos de continuidade.

Muitos analistas, à direita e à esquerda, tomam a nuvem por Juno, as diferenças periféricas pelas essenciais. E acabam se confundindo na análise do governo Dilma e de sua estratégia política.

Os fatores utilizados pela velha mídia para desgastar Lula (fazendo muito barulho, embora influenciando apenas 5% do eleitorado) são desimportantes e nada tem a ver com as peças centrais de sua política.

No plano político, nos últimos anos desenterrou fantasmas da guerra fria que se supunham extintos desde os anos 60. Na diplomacia, a questão iraniana. Na política interna, o pesado véu de preconceito contra Lula e o enfrentamento nos últimos anos.
As críticas contra as políticas sociais foram devidamente enterradas pelos fatos.

Ao assumir, sem comprometer os pontos centrais de sua política, Dilma definiu um estilo diferente de Lula na forma, embora muito similar no conteúdo – inclusive surpreendendo os que supunham que partiria para um confronto direto com adversários.

Colocou a questão dos direitos humanos como foco da diplomacia, deu atenção a FHC, compareceu ao aniversário da Folha, nos últimos dias convidou jornalistas brasilienses para conversas no Palácio, respondeu rapidamente às denúncias consistentes.

Completa-se assim a estratégia. Dilma se incumbe do establishment, que rejeita Lula. No plano midiático, blogosfera para ela é como a Telebrás, serve apenas para ajudar a regular a mídia. O mesmo ocorre com movimentos sociais e sindicatos.

Já Lula garante os movimentos populares, o sindicalismo, a blogosfera e a ala esquerda. E estende sua sombra sobre os adversários. Se endurecerem muito com Dilma, entra na briga. Se Dilma não se sair bem no governo, ele volta.

Perto dessa estratégia, a oposição só tem perna de pau: um guru que ensarilhou as armas,FHC; um político esperto mas sem ideias, Aécio Neves; e um desatinado,José Serra.

Cumprir-se-á o vaticínio do sábio José Sarney, de que a nova oposição sairá das entranhas do governo.

Fonte: advivo.com.br/blog/luisnassif