sexta-feira, 22 de julho de 2011
Segundo resgate da Grécia tenta salvar euro
Os líderes dos 17 países da Zona Euro anunciaram quinta-feira um segundo plano de resgate à Grécia, para impedir a sua bancarrota e tentar deter o efeito de contágio que, depois da Irlanda e de Portugal, ameaçava já atingir Espanha e Itália, pondo em risco a subsistência do próprio euro.
Depois de o primeiro empréstimo à Grécia se ter demonstrado insuficiente, já que a brutal austeridade imposta mergulhou o país numa profunda recessão e impediu-o de cumprir as metas previstas, este segundo resgate envolve empréstimos de 109 bilhões de euros oriundos da Europa e do FMI. Os bancos privados credores darão uma “contribuição voluntária” de 37 bilhões, e prevê-se que farão recompra de dívida no mercado, no valor de 12,6 bilhões.
Por outro lado, as taxas de juros dos empréstimos do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) foram reduzidas para até 3,5% e o prazo de pagamento alargado de 7,5 anos para 15 anos – uma medida que abrange também Portugal e Irlanda.
“Fundo Monetário Europeu”
O FEEF, que dispõe de 450 bilhões de euros e já começa a ser considerado como uma espécie de “Fundo Monetário Europeu”, passa a poder comprar dívida pública dos países em dificuldades e e a refinanciar as instituições financeiras, bem como a garantir as dívidas dos países resgatados e a oferecer créditos preventivos a países que entrem na mira especulativa dos chamados “mercados” – como a Espanha e a Itália.
O presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, que durante muito tempo se opôs a uma participação dos bancos privados no novo resgate, por este poder ser encarado como um incumprimento parcial (default) por parte da Grécia, acabou por concordar com o plano, sublinhando que a participação do sector privado fica limitada à Grécia, sendo explicitamente recusada para os outros países sob intervenção (por enquanto, Irlanda e Portugal).
A chefe do governo alemão, Angela Merkel, sublinhou a importância de se defender a moeda única:
“A União Europeia é a base para o bem estar e a paz, e os esforços que estamos a fazer nestes dias em prol da Europa e do euro serão recompensados de forma múltipla, são investimentos no bem estar do nosso país e dos seus cidadãos”, disse. Antes da cúpula, Merkel dissera que não haveria “avanços espectaculares de repente”.
Críticas
Num primeiro comentário ainda antes de o plano final ter sido divulgado, e baseado num esboço, o economista e Prêmio Nobel da Economia Paul Krugman chamou a atenção para que o plano inclui a obrigação de todos os países-membros da UE reduzirem o seu défice para 3% até 2013, ao mesmo tempo que o BCE está a aumentar as taxas de juros. “OK, vamos pedir dura austeridade para os países que enfrentam crises com as suas dívidas; e, entretanto, vamos também ter austeridade nos países que não têm crise de dívida”, constata o economista no seu blog no The New York Times. “Assim, a procura ficará deprimida tanto nas economias em crise quanto nas que não estão; isto vai levar a uma vigorosa retomada através... o quê?” E conclui: “As pessoas sérias estão determinadas a destruir todas as economias avançadas em nome da prudência.”
Wolfgang Munchau, um dos principais analistas do Financial Times, escreveu que a questão fundamental que os líderes europeus têm pela frente não é a crise da Grécia, mas saber tomar decisões de forma a que “Itália e Espanha, e todos os outros também, possam manter-se dentro da zona euro numa base sustentável.” Para isso, observa, o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira deveria dispor do dobro ou do triplo dos 450 bilhões de euros de que dispõe hoje. “Com um segundo crédito à Grécia... e segundos programas para a Irlanda e Portugal bastante prováveis, o teto não será suficiente para a Espanha e muito menos para a Itália”, diz o analista, sublinhando que o plano fica muito aquém das necessidades.