domingo, 31 de julho de 2011
Reflexões sobre a propaganda política
A essência geral deste artigo está na reflexão sobre a propaganda política como uma das estratégias de marketing.
A propaganda vende ideias; e a publicidade, produtos. O que há de comum entre as duas é o desejo de vender alguma coisa a alguém, ou seja, oferecer um benefício que está implícito em ambas as mensagens.
Uma vende o candidato (ideia); a outra, um produto (valor). Em Propaganda e consciência popular, de Chomsky (2003), podemos observar que a propaganda é um ato sobre a mente individual, sobre grupos com características comuns e que tem por objetivo a mudança de atitude. “Nós podemos dizer que a propaganda é a produção de efeito para aumentar os efeitos nos meios”.
Dois exemplos interessantes encontrados na literatura especializada atribuídos a Lenin e Hitler dão-nos a dimensão do efeito persuasivo da propaganda política.
O primeiro percebeu que a propaganda penetra em todas as camadas sociais, não apenas pelos meios, ou seja, ela contamina, se espalha e agrega as pessoas em torno de uma ideologia.
O segundo atribuiu à propaganda a tarefa de conservação do poder e a oportunidade de “conquistar o mundo”. É muito comum encontrar, nos feitos de Hitler e seu ex-ministro Goebbels, atribuições que levam à “recriação” da própria propaganda política. Na verdade, o que se observa é que eles aperfeiçoaram a forma de midiatizar os discursos.
Descobriram que é possível pensar em “um controle” valendo-se dos meios para produzir a crença de que ela leva à servidão voluntária, à adesão a “uma causa” e ao despertar da fé.
Hoje em dia, com a evolução dos meios digitais, há a intensificação da manipulação de ideias pela facilidade de ampliar o registro comunicativo em rede. Mas é preciso analisar com muita cautela esse “uso”.
Não dá para comparar ditaduras, partidos e ideologias do século passado e aplicá-los na propaganda política atual. Mesmo porque a própria ideia de “controle” descola das realidades e características digitais. Mas, grosso modo, alguns conceitos ainda resistem e podem ser vistos nas propagandas dos blocos partidários, mesmo com a variedade encontrada no sistema democrático.
Divisões de classe, proletário x burguesia, a ideia de que determinado lado cuida melhor deste ou daquele, de que o partido X é melhor que o Y são conceitos herdados que podem ser identificadas em Lenin e Hitler e estão em pleno uso hoje. As massas, na maioria das vezes, continuam, até hoje, sendo usadas como meio de manipulação ideológica.
Importante resgatar essa maquinaria teórica para discutir a propaganda política atual e perceber que o discurso na era do ciberespaço nos leva a diferentes direções. É preciso pensar além do projeto que está na cabeça do candidato ou do gestor de marketing. Apenas dizer por dizer tem sido uma prática constante na maioria dos discursos políticos – o que tem entediado o eleitor. Faz-se necessário obter certo sentido daquilo que se diz e definir o que se pretende colocar em prática. Isso facilita a “venda” do candidato, já que a essência da propaganda está na transmissão à sociedade de uma relação comercial. Quem compra algo precisa perceber sua utilidade.
Texto de Didi Pasqualini - Diógenes (Didi) Pasqualini é Jornalista, Especialista em Marketing Político e Propaganda Eleitoral e Mestre em Comunicação e Semiótica.
Fonte: Canalrioclaro