domingo, 27 de novembro de 2011

Redução de Juros necessidade e hipocrisia da Grande mídia

No dia 31 de agosto, os sábios de nosso pensamento econômico acusaram o Banco Central de ter cortado os juros em 0,5% apenas para atender a pressões políticas da presidente Dilma Rousseff e do ministro da Fazenda Guido Mantega.

Se você for aos arquivos dos jornais, irá ler vários comentários em tom fúnebre, anunciando o fim da autonomia do Banco Central. Dá vontade de chorar de pena.

Hoje, se você voltar a estes mesmos observadores, irá encontrar duas reações. A maioria tenta fingir que não disse o que disse. Outra parcela tem a humildade de admitir que não enxergou a realidade.

Se você voltar ao que escrevi neste blogue 48 horas depois do anuncio do corte de juros, verá que eu disse a coisa certa. Não sou adivinho e procuro fazer este trabalho da forma mais isenta possível. Também não fui o único, claro.

Numa coluna que seria publicada um pouco depois, e que tem muito mais relevância do que as notas deste blogueiro, o ex-ministro Delfim Netto fez uma defesa da decisão do BC. (Eu comentei esse artigo do Delfim por aqui).

Mas é razoável perguntar por que escrevi que havia fundamento na decisão de reduzir os juros, quando o mundo formou um coro para afirmar o contrário.

Acho que é uma questão de método.
A maioria dos comentaristas econômicos não faz muita força para separar a realidade de sua opinião política. Confunde o que vê com aquilo que gostaria de ver. Estão convencidos de que as idéias da equipe econômica do governo Dilma sempre darão errado. São incapazes de dar uma chance à realidade e admitir, ao menos uma vez, que os adversários podem ter razão.

Poderiam perguntar, conferir, checar. Se procurassem entender as origens da decisão do Banco Central, iriam descobrir que ela não se baseava em nenhuma bruxaria – mas em cálculos econômicos complicados e coerentes, que eu não tenho a menor condição de explicar aqui até porque me falta cultura matemática para tanto. Também se baseavam, como foi dito deste o início, no colapso da economia europeia.

Essa é a questão. O dogmatismo é uma forma pedante de arrogância que só atrapalha o pensamento. Deixa a suspeita de que se usa a análise econômica como parte da luta política – e não como forma de conhecimento. É claro que muitos analistas erraram porque torcem contra — há muito tempo.

É um direito de todo mundo. Só não vale confundir as coisas.

Durante o milagre econômico da ditadura militar, muitos economistas da oposição diziam que não haveria crescimento porque o regime concentrava renda. Havia concentração de renda, sim. Mas a economia chegou a crescer 10% e só não via isso quem não queria ver.

A convicção de que o crescimento economico era impossível levou muita gente a apostar que o regime militar entraria num colapso profundo e seria um adversário fácil de vencer. Esta visão errada da situação econômica está na origem, inclusive, da opção de muitas organizações pela luta armada.

Em 2011 a Europa desabou e foi essa visão que levou o Banco Central a mudar a política de juros. Bastava ler os jornais e ter a humildade de enxergar o que ocorria com Grécia, com a Irlanda, com a Espanha.

Fonte:http://colunas.epoca.globo.com/paulomoreiraleite