sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Crise no Egito se agrava com pronunciamento de Mubarak

O presidente do Egito, Hosni Mubarak, afirmou nesta quinta-feira que se compromete com a Constituição do país até que ocorra a transferência do cargo ao vencedor em uma "eleição honesta".

O presidente fez um pronunciamento à nação em meio à forte pressão para que deixe o poder, que ocupa há 30 anos.Ele reiterou que não vai concorrer ao cargo nas próximas eleições e que o país caminha, dia após dia, para uma transferência de poder pacífica. Mubarak afirmou ainda que o diálogo com a oposição resultou num consenso preliminar para resolver a crise.

O presidente egípcio, Hosni Mubarak, delegou alguns poderes a seu vice-presidente e propôs reformas constitucionais, mas afirmou que a transição que colocará fim a seu regime de 30 anos durará até setembro.

A esperança era de que Mubarak fosse renunciar imediatamente, depois que a cúpula militar anunciou horas mais cedo que iria garantir a segurança do país e defenderia as demandas "legítimas" da população.Mas, no final de seu discurso, Mubarak permaneceu como presidente do país.O discurso não agradou aos manifestantes, que nas últimas duas semanas pediram o fim do regime Mubarak.

Os manifestantes reunidos na praça Tahrir, no centro do Cairo, reagiram furiosos, nesta quinta-feira, quando o presidente Hosni Mubarak anunciou que não deixará o poder imediatamente, e pediram que o exército se una a eles na rebelião.

Demonstrando decepção e ira, centenas de manifestantes tiraram os sapatos e os agitaram em frente aos telões pelos quais assistiam ao discurso de Mubarak, um gesto que é considerado um insulto em sociedades árabes.

O ar estava impregnado de agressividade na praça e começaram a se ouvir chamados de alguns que propunham ir ao palácio presidencial e retirar Mubarak dali à força, despertando o temor de uma escalada da violência.

Outros, ainda, pediram a convocação de uma greve geral e dirigindo-se ao exército, que mobilizou grande número de tropas no entorno do local do protesto, demandaram: "Exército egípcio, o momento da escolha é agora, o regime ou o povo!".

Reagindo à decisão do presidente egípcio, Hosni Mubarak, de permanecer no cargo, o opositor Mohamed ElBaradei advertiu na quinta-feira que o Egito explodirá e precisa ser resgatado pelo Exército.

"O Egito explodirá. O Exército deve salvar o país agora", afirmou o vencedor do prêmio Nobel da Paz e ex-diretor da agência nuclear da Organização das Nações Unidas (ONU) em mensagem no Twitter.

ElBaradei, entrevistado desde o Egito pela CNN, disse que "as pessoas estão muito irritadas". Ele acrescentou que caberá ao Exército "salvar o país de ir pelo ralo."

"Devemos ficar bastante preocupados", disse. "Eles (Mubarak e o vice-presidente Omar Suleiman) precisam se afastar. As pessoas perderam a confiança neles."

ElBaradei afirmou que Mubarak perdeu toda a legitimidade. Referindo-se à transferência de poderes de Mubarak a Suleiman, ele disse: "como você pode ser um presidente sem poder algum?"

A atual conjuntura política no Egito é muito instável, o que tem deixado o país a mercê das incertezas, pois tal instabilidade pode inflar uma guerra civil pelo poder, desestabilizando a organização do Estado e derrubando Mubarak, assim resultando em um novo foco de tensão no Oriente Médio que pode vir a afetar a economia na região e mesmo a estabilidade relativa que há entre Israel e os Estados Árabes que o circundam.

A revolução que tomou conta do Egito pode resultar em um novo governo democrático, como vem sendo o alvo das manifestações, bem como pode a qualquer momento resultar em um golpe de Estado por parte das forças armadas, que até então tem acompanhado a situação do país, sendo apoiadas a intervir na vida política do país por grandes nomes da política egípcia como ElBaradei.

A posição adotada por Mubarak em se manter no poder até as eleições de setembro não conseguiram atender aos anceios da população egípcia, que esperavam que o discurso em rede nacional fosse o pronunciamento da renuncia da presidencia e a implantação de um governo provisório até as eleições de setembro.

Israel e as demais nações acompanham de perto o desenrolar da crise no Egito, pois os caminhos que forem determinados pela revolução que tomou o Egito podem comprometer a integridade do Estado Israelense e reacender a insegurança nas fronteiras entre os dois Estados, que há décadas atrás travaram uma guerra que resultou na perda de territórios do Egito ao Estado de Israel. Outros governos árabes acompanham a crise egipcia e temem que as manifestações venham a atingir seus Estados com revoluções pró-democracia.

Angelo D. Nicolaci Editor - GeoPolítica Brasil