segunda-feira, 6 de junho de 2011
O cinismo ocidental e Muamar Kaddafi
O que se passa na Líbia e ao redor dela mostra convincentemente que a comunidade internacional movimenta-se a uma reconstrução dos antigos métodos fascistas de conduzir os assuntos e processos internacionais, e isso de uma maneira sem precedentes e limites. Nunca na história da humanidade a idéia das normas dos direitos humanos se virou contra ela própria. Apresentar bombardeios aniquiladores como ação humanitária é cinismo. Os antecedentes da história, a adoção e a aplicação da resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU, é alge e cúmulo do que pode ser entendido por cinismo. Em vez de garantir apoio à comunidade dos povos, o Conselho de Segurança (e já não é a primeira vez) sanciona o armamento de bandidos, redistribui propriedade nacional em favor de companhias e bancos ocidentais, aniquila a soberanidade de uma nação e bombardeia, num exercício de exterminação, o próprio povo que ele diz querer salvar de males piores.
A comunidade mundial tem o direito de na Assembléia Geral da ONU levantar a questão da legalidade ou criminalidade das ações do Conselho de Segurança. O levantamento dessas questões pode basear-se em:
1): O artigo 2 da Carta Magna da ONU diz: -“Nada dentro da presente Carta autoriza as Nações Unidas intervir em casos que estejam essencialmente dentro da jurisdição nacional de cada Estado, nada há que requeira os Membros das Nações Unidas a subjugar esses aspectos nacionais à ONU, baseando-se na presente Carta; mas esse princípio que não prejudique a aplicação ou enforcamento de medidas abaixo do capítulo VII”, o qual estabelece muito claramente que o Conselho de Segurança não tem absolutamente nenhum direito de nem mesmo falar de sanções contra a Líbia. Tudo o que o Conselho de Segurança poderia fazer sem ultrapassar os limites dos direitos autorizados seria sondar a possibilidade de intervir na situação criada pelos revoltosos na Líbia. Portanto, os membros do Conselho de Segurança que tomaram parte em preparar e passar a Resolução 1973 deveriam ser responsabilizados por excederem sua autoridade e isso onde havia finalidades criminosas. Em concordância com o fato deveriam enfrentar justiça em Corte Criminal internacional.
(2): Mesmo a extensão da ilegal Resolução 1973 é limitada à imposição de uma zona de trafego aéreo proibido, “no-fly zone”, o que de maneira alguma dá autorização a fazer a infra-estrutura civil do país, as forças armadas, ou grupos residenciais de Kadafi como alvo de ataque. A Resolução 1973 também não autoriza o apoiar militarmente a oposição armada da Líbia. Conseqüentemente, os atuais passos da OTAN, a justo título, merecem uma investigação criminal.
3): O Conselho de Segurança tem uma Comissão Militar própria, que é suposta de organizar as ações militares da ONU. Ela deveria analisar as situações em que a ONU tem intenção de intervir, planejar os aspectos técnicos da operação e sugerir a emissão de um mandato para uma eventual missão. Porque os Estados Unidos e a OTAN tomam a si mesmos o monopólio de interpretar realizar ou implementar a Resolução do Conselho de Segurança? Só isso já constitui um crime contra o Direito Internacional.
Nas ações do Conselho de Segurança e da OTAN manifesta-se uma finalidade criminosa contra os direitos humanos. O próprio Conselho de Segurança assim como a OTAN deveriam cair abaixo da jurisdição “Organização de Crimes Contra a Humanidade.” Cairia bem organizar um novo processo do tipo do processo de Nuremberg num futuro próximo. Seria muito possível e desejável. Hitler e seu círculo começaram suas atividades no desassossego junto ao Tratado de Versailles, as quais foram seguidas nas agitações contra as normas dos direitos humanos e culminaram nos históricos crimes contra a humanidade. A lição deveria nos ter ensinado que atrás de cada pessoa morta, seja essa um soldado, um oficial, um elemento da oposição ou um cidadão qualquer do mundo, o culpado tem que se submeter à processo criminal e responder perante a ele.
Os americanos organizaram o processo contra S. Milosevic [Slobodan] e Saddam Hussein e a conseqüência foi à execução dos dois. O do segundo mencionado foi um ato aberto, o do primeiro, um ato às penumbras. Entretanto, em primeiro lugar não se apresentaram provas jurídicas convincentes quanto às alegações de culpa e em segundo lugar aquilo a que foram acusados nem de longe chega aos pés dos massivos crimes perpetuados pelos Estados Unidos e a OTAN.
Que é que se poderia acrescentar quanto a não envolvimentos em assuntos internos de outros países? Quanto à criminalidade da instigação à violência e resistência às autoridades poderíamos por ex. perguntar-nos como reagiriam as autoridades americanas se Kadafi assediasse os manifestantes em Visconsin, estado norte-americano onde não há muito tempo iam demonstrações massivas contra o governo, e através de seus representantes oficiais líbios oferece-se aos revoltosos financiamento e armas para serem usadas contra Washington.
De que é que Kadafi é acusado? De ter regido a Líbia por mais de 40 anos? De ter usado de violência contra insurgentes armados, entre os quais se encontravam Al-Qaeda membros, alguns traidores agora contratados, assim como representantes da polícia secreta do bloco ocidental? A autodenominada maior democracia do mundo- América, já há muito é governada, e isso de forma absoluta, por oligarquias do grande capital, muitos, verdadeiros mafiosos.
Quanto a isso se podia ler já no tempo de Kennedy, que foi assassinado conquanto tentando tirar da Reserva Federal (que se constitui por 12 bancos particulares da Wall Street) o direito do monopólio na impressão do dólar. Nessa ocasião ele também olhava em seu meio à procura de apoio para seu projeto para a construção de um sistema mínimo de controle das atividades dos bancos e comunidades bancárias.
Também podemos lembrar-nos aqui que mafiosos saqueiam e pilham não só outros povos, mas a sua própria sociedade e caso se queira levar o princípio da democracia ocidental sem limites a todos com mais de vários decênios de anos no poder, então é de urgência começar com as monarquias da Europa e Oriente Médio. Uma tal proposta iria provavelmente causar uma imensa confusão na Inglaterra. Na Jordânia uma proposta semelhante é só para esquecer, já para não se mencionar outras mais.
Em seu longo termo no poder Kadafi levou a nação à não dependência na esfera da politica-economia- e finanças, assim como trabalhou para colocar os recursos do país à favor de seus cidadãos, com a finalidade de desenvolvê-lo para bem de todos.
Hoje a Líbia é o país mais próspero do norte da África. No seu testamento, datado 5 de abril 2011, Moamar Kadafi fala sobre o porquê dos representantes dos interesses ocidentais quererem matá-lo:- “Eles compreendem que nosso país, independente e livre não está abaixo das rédeas coloniais, que a minha visão, a minha revolução foi e continua sendo clara para o meu povo. E eu lhes asseguro que vou lutar até meu ultimo suspiro para a nossa independência. Então nos ajudem todos que confiem no justo e na liberdade.”
Ve-se que a democracia liberal não tem por onde acusar o líder da Líbia pelo que ele fez para seu país, que tornou o mais próspero do continente africano, com excelente gratuito serviço de saúde, um sistema de grandes subvenções com muitos elementos gratuitos na área da habitação, alta segurança social, um elevado numero de cidadãos abastados ou vivendo confortavelmente. Pode-se dizer que a Europa ou os Estados Unidos supera essa abastança para a maioria dos seus cidadãos?
Falando dos seus oponentes internos Kadafi diz que “relacionando-se com americanos e visitantes de outros países eles podem falar que se precisa de “liberdade” e “democracia.” O que absolutamente não é compreendido é que estariam frente à lei da selva, onde todos são sujeitos aos mais fortes… Kadafi aponta para o fato que muitos ainda não compreenderam que na América não haveria serviço médico de qualidade que fosse gratuito, que não haveria hospitais que fossem gratuitos e que estivessem abertos para eles, que também não haveria educação que fosse gratuita, nem habitação que se pudesse conseguir sem muito dinheiro, assim como não haveria segurança social digna do nome” E continuando Kadafi apontou também para o fato que “fazia o que podia para seus irmãos africanos, que ele fazia pelos países da União Africana tudo que estava em seu poder para ajudar as pessoas compreenderem a idéia de uma verdadeira democracia onde, como em seu país, quem tinha o poder de governar era a organização popular.”
Acrescentou que na Líbia a democracia tinha se realizado com órgãos como os Conselhos e as Confederações onde os chefes das tribos e as pessoas podiam discutir e decidir as grandes decisões para o país. Por ex. ressaltou que todas as pessoas podiam tomar parte na discussão da realização do mais grandioso projeto no continente africano. Projeto esse que foi desenvolvido para dar à sociedade da Líbia água proveniente de lagos subterrâneo. Apesar da realidade do caráter do território do país e do calor do clima africano, na Líbia não há falta d água. Vias de transporte, portos, terminais, aeroportos são modernos e efetivos. Acrescentou que, no entanto para os Estados Unidos isso não seria visto como democracia porque o que gostariam de ver seria uma democracia à americana.
Democracia à americana sendo o imenso sistema capitalista, esse modelo fascista de governo de povos e processos, onde os mais ricos pegam todos os principais- internos e externos- postos de decisão e onde os presidentes e parlamentos são como marionetes, dando a impressão de que falam e agem pelo país, mas na realidade não tem esse poder real, porque o poder real está nas mãos de quem controla o dinheiro, ou em outras palavras no círculo da Wall Street.
O que é que Obama prometeu aos eleitores se não o acabar com as guerras? Mas, o presidente não pode conduzir o país contrariamente as decisões tomadas atrás das culissas. As decisões tomadas nas culissas determinam o caminho a ser tomado e essas decisões, elas sim vêem do poder real, dos que para começar agiram para que ele, Obama, se tornasse presidente e incondicionalmente e em primeiro lugar, defendesse os interesses deles mesmos. [Obama, assim como todos os outros antes dele, foi por assim dizer escolhido de antemão e, depois de provas de fogo, promovido ao posto.]
Por outras palavras quem manda é a coerção que controla o dinheiro. A divisa “o que é bom para a General Motors também é bom para a América” à já muito tempo cedeu lugar ao moto o que é bom para “Goldman Sachs” também é bom para a América. É a crença que pensam adequadas, mas não se contentam em tê-la só para a América. Estão determinados a forçá-la a toda humanidade. [A divisa “da General Motors” refere-se à economia baseada na produção industrial que hoje, por assim dizer, já não existe na América. A divisa “Goldman Sachs” refere-se à especulação financeira, que hoje é à base da economia americana, sendo o ex. maior do sistema de especulação financeira o que levou ao colapso de 2008.]
O que é com Kadafi que enraivece tanto a oligarquia financeira colonial-imperialista? Em primeiro lugar a sua independência, assim como a da Líbia. Num mundo unipolar isso não poderia acontecer, e se acontece não poderia ser aceito, porque isso faria que a realidade já não seria unipolar, com um único centro de poder absoluto, ou seja, o colonial-imperialista.
Em segundo lugar está a realização e desenvolvimento da idéia socialista. Até mesmo a denominada “Dzjamaria,” o socialismo líbio, os oligarcas do mundo vêem como um perigo e uma idéia inaceitável, e esse perigo para eles é duplo. Toda a África do Norte e o Oriente Médio. Todo o mundo Islâmico parece estar à procura de um modelo para desenvolvimento e Líbia como um país Islâmico de grande prosperidade pode ser visto como um atraente e ótimo modelo a ser seguido. Principalmente se ela se mostrar à altura de vencer as admoestações do bloco colonial-imperialista na região. Daí se compreende todos os esforços e gastos para desacreditar e liquidar os resultados socialistas da Líbia.
Em terceiro lugar, o líder líbio no ano passado trabalhou muito ativamente na União Africana e entre os países pertencentes à OPEC (na sigla inglesa, os países produtores de petróleo) para persuadi-los a promover o “ouro-negro” ou o “dinheiro-ouro”. Uma forma de pagamentos e trocas em ouro por ouro. Por ex. ouro por petróleo.
Tudo isso leva o bloco colonial-imperialista à decisão de “democratizar” a Líbia. Sem nos aprofundarmos no assunto do padrão concreto da democracia nos países árabes, compreendemos que tudo isso leva ao modelo de “democratização” tipo ao do empregando no Iraque. Democratizar, quer dizer, liquidar a Líbia. Na arena mundial “a democratização” é para ser continuada com a Síria, Irã, com os escombros do Iraque, com o Paquistão, com a construção Curda, com o Yemem, na Caucásia e na Ásia Central. Todos na lista como potenciais alvos de “democratização.” E isso ainda não é tudo…
Fonte: Patria Latina