sábado, 29 de janeiro de 2011
Analistas comparam protestos no Oriente Médio
Logo depois da derrubada do presidente da Tunísia Zine El Abidine Ben Ali, observadores traçaram paralelos entre os protestos tunisianos e os que ocorrem em outros países da região.
Existe especulação a respeito de um possível efeito dominó, parecido com o que levou ao colapso de governos comunistas na Europa Oriental a partir de 1989.
Em vários países do Oriente Médio ou do norte da África, populações jovens que aumentam cada vez mais enfrentam problemas como o aumento dos preços do alimentos, altos índices de desemprego e falta de representação política. Alguns países são liderados por autocratas envelhecidos que também enfrentam problemas de sucessão.
A BBC analisa abaixo os países envolvidos e a real possibilidade de mudança em cada um deles.
EGITO
O Egito tem muitas semelhanças com a Tunísia: dificuldades econômicas, corrupção no governo e pouca oportunidade para seus cidadãos expressarem insatisfação com o sistema político. O presidente Hosni Mubarak, de 82 anos, tem o monopólio quase completo do poder e ocupa a Presidência nas últimas três décadas, além de buscar a reeleição em 2011.
Foram relatados vários casos de autoimolação no Egito em janeiro, em aparentes tentativas de imitar as ações do jovem tunisiano Mohamed Bouazizi, que ateou fogo ao corpo em dezembro e morreu dias depois no hospital, desencadeando o protesto que acabou resultando na derrubada do presidente Ben Ali.
No dia 25 de janeiro, a profunda frustração de egípcios comuns foi parar nas ruas do Cairo. Manifestantes, muitos com bandeiras tunisianas e egípcias, foram às ruas em grande números, algo que não era visto desde a década de 70. Grupos de oposição exigiram a renúncia do presidente Mubarak e pediram o fim da pobreza, corrupção, desemprego e de abusos da polícia.
A polícia foi pega de surpresa pelo tamanho e força das demonstrações, de acordo com o correspondente da BBC no Cairo Jon Leyne.
Mas, a mudança não virá tão facilmente para o Egito. O país é oito vezes maior que a Tunísia, a população tem menos educação e menos acesso à internet. Os sindicatos não são tão poderosos e o forte aparato de segurança de Mubarak é bem equipado e mais experiente no combate a dissidentes.
IÊMEN
O Iêmen teve vários dias de protestos. O país é um dos mais pobres do mundo árabe e metade da população vive com menos de US$ 2 (cerca R$ 3,30) por dia.
Jovens e grupos de oposição tomaram as ruas da capital, Sanaa, e a cidade de Áden, no sul do país, exigindo a renúncia do presidente Ali Abdullah Saleh, no poder há quase 32 anos.
Para tentar diminuir os protestos, Saleh anunciou no dia 23 de janeiro que tinha ordenado um corte pela metade no imposto de renda e dado instruções ao governo para controlar os preços de mercadorias básicas. Ele também negou acusações de que estava planejando entregar o poder a seu filho, Ahmed.
O governo do Iêmen também libertou 36 pessoas presas por participarem dos protestos, incluindo a ativista Tawakul Karman, famosa por defender os direitos humanos no país.
Mas, ao mesmo tempo, o presidente aumentou os salários de funcionários públicos e funcionários das Forças Armadas, uma medida que visa, aparentemente, manter a lealdade destes empregados. E também enviou a tropa de choque e soldados para áreas importantes do Iêmen.
ARGÉLIA
Enquanto os protestos aumentavam na Tunísia, o vizinho do oeste, a Argélia, também teve grandes números de jovens tomando as ruas. Assim como na Tunísia, os problemas econômicos parecem ter sido o gatilho que desencadeou os protestos, particularmente os grandes aumentos nos preços de alimentos.
O país vive em estado de emergência desde 1992 e demonstrações em público na capital, Argel, foram proibidas. Mas há protestos repentinos regularmente em outros lugares do país.
Nas últimas semanas, estes protestos ocorreram simultaneamente em toda a Argélia pela primeira vez, incluindo em Argel.
No entanto, os protestos não aumentaram de intensidade como na Tunísia, algo que analistas afirmam ser consequência da reação mais contida das forças de segurança, além da intervenção do governo para limitar os aumentos de preços.
O governo da Argélia tem uma riqueza considerável, vinda da exportação de petróleo e gás, e está tentando enfrentar as demandas econômicas e sociais com um grande programa de gasto público. Mas as reclamações continuam, incluindo a insatisfação da população com desemprego, corrupção, burocracia e falta de reformas políticas.
A tumultuada história recente da Argélia contrasta com a da Tunísia. O país teve a abertura do sistema político em 1988, que resultou no relaxamento de restrições à imprensa e eleições multipartidárias. Por sua vez, isto levou a um conflito sangrento entre forças de segurança e rebeldes islâmicos.
LÍBIA
A reação do líder líbio, Muamar Khadafi, no sábado, à queda do presidente Ben Ali, da Tunísia, parece refletir seu nervosismo em relação a um possível efeito dominó na região.
"Não há ninguém melhor que Zine para governar a Tunísia. A Tunísia agora vive com medo", disse o líbio.
Depois de 41 anos no poder, Khadafi é o líder que está no poder há mais tempo na África e no Oriente Médio, e também o mais autocrático.
Protestos de qualquer tipo são proibidos no país, mas há informações de que houve manifestações na cidade de al-Bayda. No entanto, a população da Líbia é muito menor e o país tem muitas riquezas advindas do petróleo.
JORDÂNIA
Milhares participaram de manifestações na Jordânia em um chamado "dia de fúria" no sábado, protestando contra o aumento do preço dos alimentos e o desemprego. Alguns exigiram a renúncia do primeiro-ministro Samir Rifai.
O governo diminuiu os preços de certos alimentos e de combustíveis, mas manifestantes afirmam que é preciso fazer mais para enfrentar a pobreza causada pela inflação.
A Jordânia é uma monarquia e algumas partes da sociedade são leais à família real. O rei Abdullah 2º, que ocupa o trono desde 1999, parece ter escapado à maior parte da fúria dos manifestantes.
E, até agora, os protestos foram pacíficos e não ocorreram prisões.
MARROCOS
Como a Tunísia, o Marrocos está enfrentando problemas econômicos e acusações de corrupção no poder.
A reputação do governo do Marrocos foi atingida depois que o site Wikileaks revelou acusações de crescente corrupção, principalmente nos negócios da família real e também da "espantosa ambição" de pessoas próximas ao rei Mohammed 6º.
Fonte: BBC Brasil