Deve ser duro ocupar Wall Street. O cara sái de casa, apanha da polícia, pode ser preso e, quando abre o jornal, é obrigado a ler que o protesto é bonito mas ele não apresentou uma saída para a crise. Piada.
Os protestos da Europa e dos Estados Unidos falam como as passeatas falam: com cartazes, palavras-de-ordem, formulas simplificadas. A rua é assim.
Mas quem sabe ler e ouvir já percebeu que as passeatas não colocam problemas que se
resolvem numa conversinha de gabinete nem num estalo acadêmico. Não por
culpa dos manifestantes mas em função do caráter profundo da crise dos países
desenvolvidos.
Os problemas exigem visão ampla e respostas dramáticas. Cobram, acima de tudo, coragem política. Poucas pessoas se atrevem a olhar para elas. Os mais medrosos são aqueles que repetem formulações padronizadas, dizendo que é preciso reduzir salários, piorar o consumo, aplicar planos de austeridade. Esses não entenderam nada.
No plano da teoria, Nouriel Roubini anda dizendo que a crise mostra que Karl Marx,
aquele que queria acabar com o capitalismo, “estava certo.” Roubini não é nenhum
revolucionário. É um consultor que cobrou caro para dar conselhos para grandes investidores que não querem perder um centavo com sugestões erradas. Nem sempre acerta. Tanto que sua consultoria acaba de pedir falencia.
Pois este sujeito afirma que o pai do comunismo tem mais a ensinar do que nossos sábios de visão convencional e fórmulas prontas. Deveria dar o que pensar, concorda?
O megainvestidor George Soros tem uma idéia que faz sentido. Ele chegou a conclusão de que os governos dos países desenvolvidos devem assumir a gestão do sistema financeiro, capitalizar instituições quebradas e reanimar a economia. Isso quer dizer: afastar os capitalistas para salvar o capitalismo. É uma medida mais dura do que se fez em 2008 mas tem sua razão de ser. A situação exige medidas de salvação nacional — ou global.
A América do Norte e o Velho Mundo estão naufragando. Seus trabalhadores não
tem mais emprego, o seguro-desemprego está sendo reduzido, as aposentadorias
serão diminuídas. O mais grave é que todos sabem que não há nenhuma luz no fim
de tanto sacrifício. Só mais pesadelo e falta de perspectiva.
Sem estimulo ao consumo, não haverá retorno do crescimento. Sem isso não
haverá criação de empregos nem receitas para pagar direitos históricos, como
saúde pública, escolas, aposentadorias.
As idéias estão aí. Os ativistas estão fazendo sua parte. Já deixaram claro o que
desejam e o que não desejam. Quem precisa oferecer propostas é quem assumiu
essa responsabilidade, pediu voto nas urnas e se apresenta como responsável
pelo destinos de seus povos. A crise tem origem na economia mas se tornou
política. Está na hora da resposta.
Texto de Paulo Moreira Leite
Fonte: http://colunas.epoca.globo.com