Barak Obama em seu discurso recente na 66ª Assembléia Geral da ONU ultrapassou o limite da arrogância e por que não dizer fora do rumo da história.
A paz da guerra necessária defendida por Obama, não interessa aos palestinos que desde 1948 sofrem todo tipo de humilhação, discriminação e agressão militar por parte de Israel com total apoio dos Estados Unidos.
Interessante é que os estadunidenses se apregoam como os defensores da liberdade e da democracia para todos os povos do mundo, mas negam no caso palestino. Por que esta parcialidade sempre em defesa de Israel? Será que o povo palestino mão merece a democracia tão apregoada por Obama?
Sim, os palestinos querem a democracia, mas não a democracia que os EUA levaram ao Iraque e à Líbia. Os palestinos querem ter seu estado, livre, soberano, democrático, com capital em Jerusalém e que seu povo tenha direito ao justo retorno.
Fica claro que Obama comete um retrocesso em sua política para o Oriente Médio esquecendo-se da Primavera Árabe, os anseios de transformação de toda a sociedade, de melhor forma de vida, trabalho, educação, bem estar e justiça social. Os EUA estão perdendo seus principais parceiros árabes como o Egito e possivelmente a Arábia Saudita. Até parece que Obama quer desencadear uma nova intervenção bélica na região.
A responsabilidade da comunidade internacional em acabar com as práticas expansionistas de Israel, apoiadas incondicionalmente pelos Estados Unidos que pode vetar no Conselho de Segurança da ONU de admissão da Palestina, com base nas fronteiras de 4 de junho de 1967, com Jerusalém Oiental como sua capital, como membro pleno das Nações Unidas. As discussões do Conselho de Segurança vão até o fim de outubro, e podem se estender até novembro.
A Limpeza Étnica
Os palestinos já romperam as barreiras do medo e do silêncio. Em suas Intifadas deixaram claro que a disposição em conquistar seus direitos é ilimitada.
A Intifada gerou um cenário único. Saíram às ruas com pedras contra um dos exércitos mais poderosos do mundo. Mostraram sua indignação ao sofrimento, humilhação coletiva de um sistema repressivo de um estado agressivo, expansionista que está sufocando todo um povo milenar através da limpeza étnica como bem define o historiador israelense Ilan Pappe.
Israel procura de todas as formas inverter a verdadeira história. Pappe em seu livro A Limpeza étnica na Palestina deixa muito claro como foi a partilha da Palestina promovida pela ONU que a dividiu em três regiões: a palestina com 818 mil palestinos e 10 mil judeus em 42% de suas terras; a judaica com 499 mil judeus e 438 mil árabes em 56% da terra e Jerusalém internacionalizada, com 200 mil de cada comunidade em 2% da terra. Os palestinos maior parte da população com 1.456.000, ficaram com 42% de suas terras e hoje somente com 22% e totalmente ocupados pelas forças israelenses.
O muro da vergonha
O muro de Israel que continua sendo construindo na Palestina tem mais de 700km e tem aproximadamente 9m de altura. O de Berlim, levantado em 1961, tinha em torno de 155 km e 3m de altura. É a brutalidade da história se multiplicando.
A Assembléia Geral da ONU decidiu, em dezembro de 2003, dirigir à Corte Internacional de Justiça a seguinte consulta: “Quais são as conseqüências legais da construção do muro que vem sendo construído por Israel, o poder ocupante, no Território Palestino Ocupado, incluindo Jerusalém Oriental e perímetro urbano, como descrito no relatório do Secretário Geral, considerando-se as regras e princípios da lei internacional, incluindo a Quarta Convenção de Genebra, de 1949, e as resoluções relevantes do Conselho Geral e da Assembléia?”
Ao ver o mapa da Palestina fica claro que o muro não cerca a Cisjordânia, mas é construído dentro do território ocupado. Os palestinos ficam confinados em verdadeiros bantustões com restrições de ir e vir violando totalmente sua liberdade como nação. O Muro, além dos checkpoints, separa os camponeses de suas terras férteis, as famílias são separadas, os estudantes impedidos de irem às escolas, os doentes, as mulheres grávidas chegam a morrer antes de chegar aos hospitais.
Natanyahu ainda se julga no direito de culpar os palestinos por não quererem negociar. Negociar o quê, se já lhes foi tirado tudo? Agora vem com esta conversa que os palestinos têm que aceitar o Estado Judeu e que Israel continuará implantando novos assentamentos na Cisjordânia.
Os governantes israelenses dizem que os palestinos não querem a paz, mas são eles que ocuparam 78% das terras palestinas, violaram todas as leis internacionais, construindo assentamentos, anexando as Colinas de Golã a Região de Shibhaa do Líbano e o pior Jerusalém Oriental. Hoje, a Palestina virou um grande Campo de Concentração a céu aberto sob constante repressão do exército de Israel onde os direitos humanos são violados diariamente. Israel confisca a água palestina, degrada o meio ambiente, pratica a demolição de casas, escolas e hospitais. Devemos lembrar que O Estado de Israel teve um início conturbado, uma vez que os colonos sionistas passaram a colonizar a Palestina a partir dos anos 30.
ABBAS na ONU
Em seu discurso na 66ª Assembléia Geral da ONU , o presidente palestino Mahmoud Abbas reforçou a disposição palestina em negociar em todos os momentos aceitando as Resoluções da ONU, mas que são desconstruídas sistematicamente por Israel intensificando-se após os Acordos de Oslo.
Os relatórios das missões das Nações Unidas, bem como de várias instituições israelenses e das sociedades civis, transmitem uma imagem terrível sobre o tamanho da campanha de colonização, da qual o governo israelense não hesita em se gabar e que continua a executar por meio do confisco sistemático de terras palestinas e da construção de milhares de unidades de novas colônias em diversas áreas da Cisjordânia, especialmente em Jerusalém oriental, e da construção acelerada do Muro de anexação, que consome grandes extensões da nossa terra, dividindo-a em ilhas separadas e isoladas e cantões, destruindo a vida familiar, as comunidades e os meios de subsistência de dezenas de milhares de famílias.
A potência ocupante também continua suas incursões em áreas da Autoridade Nacional Palestina por meio de ataques, prisões e assassinatos nos checkpoints. Nos últimos anos, as ações criminosas das milícias de colonos armados, que gozam da proteção especial do exército de ocupação, intensificou-se com a perpetração de ataques freqüentes contra nosso povo, tendo como alvo casas, escolas, universidades, mesquitas, campos, plantações e árvores. Apesar de nossas repetidas advertências, a potência ocupante não agiu para conter esses ataques, e nós a consideramos totalmente responsável pelos crimes dos colonos.
O pronunciamento da presidente Dilma, primeira mulher a fazer a abertura solene da Assembléia Geral da ONU, sem dúvida fortaleceu o apoio internacional.
É bom lembrar sempre os ensinamentos de Edward Said, em um de seus brilhantes artigos “nenhuma cultura ou civilização existe isolada das outras, nenhuma entende estes conceitos de individualidade e de iluminismo como sendo completamente exclusivos. Nenhuma, existe sem os atributos humanos fundamentais que são a comunidade, o amor, a valorização da vida e de todo o resto”.
A Paz para a Palestina significa também a paz para Israel, razão pela qual Israel e os EUA deveriam ser os primeiros a apoiar a criação do Estado da Palestina.
Israel não está entendendo o que acontece,
Israel não quer a Paz.
Obama não quer a Paz.
Querem a guerra e seus vultuosos lucros.
Querem continuar a limpeza étnica do Povo Palestino. Israel em um momento histórico responde com insanidade e desprezo ao mundo desrespeitando a comunidade internacional e avisa que construirá mais 1.100 casas em Jerusalém Oriental, ocupada militarmente.
Texto de Ali El-Khatib, este é sociólogo, superintendente do Ponto de Cultura Árabe - Instituto Jerusalém do Brasil e coordena o NEAF – Núcleo de Estudos e Pesquisa Árabes da FACAMP.
Fonte: caros amigos