Num país em que os diretores executivos das empresas ganham 185 vezes a mais que seus trabalhadores, a mensagem da ocupação atrai muita gente. Joanne Quinn viajou do outro lado do país – Seattle, Washington – para participar do protesto.
Ela trabalha como enfermeira e explicou que, depois de anos vendo que seus pacientes estão perdendo o seguro saúde por não poder trabalhar, estava farta com o sistema.
O movimento de protesto que começou em Wall Street chegou à capital dos Estados Unidos. Centenas de pessoas de diferentes idades estão acampando na Praça Liberdade – entre a Casa Branca e o Capitólio – clamando por uma mudança na política e na economia do país.
Organizaram-se em zonas distintas da praça para preparar e servir comida, pintar cartazes e construir bonecos, tocar tambores, dar informação aos meios de comunicação e administrar os primeiros socorros aos feridos. Muitas pessoas dormem cada noite na praça em barracas ou sacos de dormir. E, a cada dia, os participantes realizam uma assembleia geral na qual discutem quais são suas demandas e como vão conseguir a mudança que querem.
Na primeira noite de protesto, 6 de outubro, o escritor e colunista Tim Rall disse à multidão que nada menos que uma revolução é aceitável.
“Não estou falando de ‘revolução’ entre aspas. Estou falando da revolução verdadeira”, gritou. “Sempre me dizem que o sistema é grande e poderoso demais para ser enfrentado. ‘Eles podem escutar sua conversa, assassiná-lo onde você esteja. Você tem o maior estado policial do mundo”. Mas eu respondo: “Em todas as revoluções na história foi batalhada por um povo mais débil e com menos gente que o Estado que derrubou”.
As ocupações estão crescendo em centenas de cidades ao longo dos Estados Unidos, de São Francisco, Califórnia, a Boston, Massachussets. A multidão em D.C. – que inclui veteranos de guerra, sindicalistas, pobres e profissionais liberais – está voltanda contra a influência das corporações sobre as eleições. Mas assim como o protesto em Wall Street, fala-se também da ganância corporativa, do aquecimento global e da desigualdade social.
Num país em que os diretores executivos das empresas ganham 185 vezes a mais que seus trabalhadores, a mensagem da ocupação atrai muita gente. Joanne Quinn viajou do outro lado do país – Seattle, Washington – para participar do protesto. Ela trabalha como enfermeira e explicou que, depois de anos vendo que seus pacientes estão perdendo o seguro saúde por não poder trabalhar, estava farta com o sistema:
– É uma grande injustiça o que se passa nos EUA. Estamos muito obedientes, aqui, mas temos de começar a ser desobedientes.
Apesar da imagem popular das ocupações ser de jovens, Quinn e sua geração estão muito bem envolvidas.
– Tenho visto décadas de desemprego, velhos que não conseguem se aposentar, e por isso esta manifestação me atraiu – contou.
Shane Dillingham, que nasceu em Whashington, D.C., tem 30 anos e está de acordo com que o movimento se junte a um grupo diverso.
– Tem uma crítica muito interessante: que somos 99% e eles são 1%. Creio que esta mensagem está ressoando nas pessoas – constata.
Dillingham, que trabalha como camareiro, chegou a Praça 6 de outubro – um dia antes do décimo aniversário da guerra contra o Afeganistão. Ele vê uma conexão muito forte entre o movimento contra a guerra e o movimento contra a pobreza.
– Quando estamos falando da crise econômica, ninguém fala das guerras, das ocupações e de todo o gasto militar em todo o mundo. Por isso estamos nos mobilizando em torno desse assunto – acrescentou.
Dillingham trabalhou em campanhas progressistas por muitos anos, mas agora está sofrendo um desencanto com o sistema político.
– Há muito pouco apoio popular para as reformas, mas não escutamos nada [a seu respeito] na discussão política atual. Não temos políticos nem partidos que estejam trabalhando com sinceridade para impor essas reformas. Portanto, penso que as pessoas estão experimentando uma nova maneira de participação – ocupando espaços públicos – porque a maneira tradicional, de votar, não está funcionando. Os dois partidos aqui têm mais em comum – defender seus interesses – que (têm em comum) com a maioria dos norte-americanos – afirmou.
Quinn concorda. “Nós perdemos nossa democracia”, disse.
O colunista progressista Chris Hedges, do site Truthdig.com descreveu os problemas atuais da sociedade estadunidense:
“As leis são mentiras. Vivemos um golpe corporativo. Os pobres e a classe trabalhadora sofrem desemprego e fome. A guerra é o único negócio do estado”.
Os moradores de Washington D.C. sentem fortemente a escassez de democracia em suas avidas – porque o distrito não tem os mesmos direitos dos estados. Embora os seus cidadãos paguem impostos, D.C. não tem representação no Congresso Federal, e a cidade não tem controle sobre suas próprias leis nem orçamento. Muita gente se queixa, dizendo que se trata de uma “colônia moderna”.
Dillingham disse que, crescer em Washington – especialmente durante a presidência de George W. Bush – foi uma experiência “formadora”. Mas via que muitos ativistas estavam mais cínicos. Por isso está muito emocionada, vendo o oposto do cinismo nas ruas de sua cidade.
Quinn também está muito feliz, observando o ânimo na Praça Liberdade.
– Sou velha o bastante para recordar dos protestos contra a guerra no Vietnã e me parece que agora há muita apatia. Há muitas coisas que nos distraem. As corporações querem que estejamos distraídos. Levamos tempo demais para chegar a este ponto, de montar um protesto na Praça Liberdade ou em Wall Street. Mas oxalá que ele esteja ganhando velocidade – disse.
Muita gente disse que o país está vivendo um momento crítico – enfrentando o poder corporativo sem precedentes, os ataques contra os direitos civis e a destruição do meio ambiente. Nestes tempos, é impossível assumir uma posição neutra.
Quando pegou o microfone, o escritor Hedges deu um ultimato à multidão:
– Vocês são rebeldes ou escravos?!.
Fonte: correiodobrasil