segunda-feira, 9 de maio de 2011

A falta que faz um Obama estadista, e um informante para receber US$ 25 milhões por Osama


Muito já foi dito sobre a morte de Osama Bin Laden, e muito mais se dirá em infindáveis teorias da conspiração, alimentadas por declarações e atitudes contraditórias do governo dos EUA, incluindo o desaparecimento do corpo.

Mas um ponto crucial e preocupante tem sido ignorado. Se eu fosse cidadão estadunidense, estaria seriamente preocupado com a falta de um delator para receber a recompensa de US$ 25 milhões para quem fosse informante do paradeiro. E a preocupação não é material em saber quem seria o "novo rico", e sim por razões da própria segurança.


Logo após o 11 de setembro, os EUA espalharam ao mundo e ao Afeganistão invadido, a recompensa milionária para quem trouxesse informações que levasse à captura ou eliminação de Bin Laden.

Acreditavam no poder do dinheiro, que compra tudo no ocidente, e que alguém próximo do saudita se corromperia, em questão de horas, dias, ou semanas.

Nove anos se passaram e, que se saiba, ninguém próximo a Bin Laden se corrompeu.

A delação seria uma derrota moral maior do que a própria morte do líder (que já encontrava-se isolado), porque seria uma deserção ou uma rendição (pelo menos parcial, no mínimo do delator).

Muito se especula na imprensa sobre paquistaneses, sejam do serviço secreto, sejam de uma academia militar nas vizinhanças da casa, sejam populares, saberem e não terem entregue Bin Laden.

É questionável se isso é verdade. O próprio EUA demorou mais de uma década caçando o "Unabomber", um cidadão estadunidense, vivendo dentro dos EUA.

Mas se for verdade, é um mau sinal para os EUA. Significaria que existe mais gente do que se pensa do lado de Bin Laden, com convicções firmes a ponto de não se seduzirem nem por US$ 25 milhões.

A falta de um delator mostra que a chamada "guerra ao terror" (segundo os EUA) ou "guerra santa" (segundo a Al Qaeda) ainda está longe de acabar.

Via de regra, uma guerra só acaba de uma das três formas:
1) dizimando totalmente o adversário;
2) obtendo a rendição;
3) ou fazendo um acordo de paz;

A primeira opção é a mais difícil de atingir neste caso, em que o inimigo não tem território, não tem quartéis com endereços fixos, e está espalhado em células em qualquer lugar do mundo.

As duas últimas opções de acabar uma guerra são as melhores, porque poupa derramamento de sangue, mas é coisa para estadistas. Obama seria estadista se capturasse Bin Laden vivo, e fizesse do processo e julgamento, um debate honesto e convincente para obter a condenação não apenas da pessoa, mas do próprio extremismo radical. Isso sim, seria uma conquista para desarmar o ímpeto daqueles levados à ações terroristas.

Teria um trunfo nas mãos, para buscar gradualmente uma rendição honrosa ou um acordo de paz, por mais incoveniente que fosse um julgamento e o arquivo vivo dos tempos em que Bin Laden era apoiado pelos EUA a guerrear para levar os Talibãs ao poder no Afeganistão.

Os EUA tem tecnologia suficiente para capturar vivo qualquer um, em operações de surpresa, com armas não letais que imobilizam ou adormecem (como gases ou tranquilizantes). Saddam Hussein foi capturado sem conseguir reagir, utilizando granada eletrônica que emite sons, luzes, fumaça e gases que atordoa os sentidos, deixando a pessoa desorientada e sem reação.

Mas Obama, de olho no calendário eleitoral de 2012, preferiu pensar na província (não de forma humilde, mas de forma arrogante, inerente ao imperialismo), em vez de pensar na paz mundial.

Por mais que os EUA sejam um super-império, existe um pensamento dominante provinciano, no sentido de só ter olhos para os 300 milhões de estadunidenses num mundo de 7 bilhões de pessoas. Preferiu eliminar Bin Laden (assim como atua na tentativa de eliminação de Khadafi). Gerou catarse nas ruas dos EUA, mas afastou a paz do horizonte, na chamada "guerra ao terror".

Fonte: GeoPolítica do Brasil e Correio Brasil