domingo, 8 de maio de 2011

Uma década feita de história


Os atentados de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, marcaram o primeiro ano do século XXI. Provavelmente 2011 terá a marca "da morte do líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden".

O violento fim daquele que é considerado o maior terrorista da história também nos lembra quão diferente é a nossa realidade em comparação ao ano em que as torres do World Trade Center desabaram. Não que os ataques da Al-Qaeda tenham mudado o mundo, como muitos disseram na época. Os atentados de certa forma apenas ajudaram a nos avisar que o mundo estava mudando.

O aparecimento de novas tecnologias, em especial a internet, o avanço de regiões antes confinadas ao chamado Terceiro Mundo e uma nova percepção do poder e da influência dos Estados Unidos eram processos que já vinham em curso, mesmo que de forma latente. Olhando para trás, é possível concluir que o 11 de Setembro foi apenas um indicativo do tamanho das mudanças que estavam por vir.

As transformações dos últimos anos não estiveram ligadas apenas às novas preocupações com a segurança. A distribuição de poder político e econômico e o próprio meio ambiente do planeta que habitamos são hoje bem distintos.

Os atentados de 2001 levaram Washington a invadir o Afeganistão para tirar o Talebã do poder e tentar capturar Bin Laden, numa ação sancionada pela ONU. Menos de dois anos depois, a ganância militar que levou os americanos a operação semelhante no Iraque, dessa vez sem o apoio explícito das Nações Unidas, reforçou a percepção de que os Estados Unidos eram na verdade mais fracos do que se pensava.

Não conseguiram vencer duas guerras em países pobres, contra inimigos armados principalmente com explosivos improvisados. Se os iraquianos acabaram se cansando de lutar, os afegãos do Talebã ainda mostram-se um inimigo muito mais difícil de subjugar, em um conflito ainda ativo dez anos depois.

No início de 2011, os vários movimentos populares no mundo árabe deram razão a parte do argumento em favor da guerra no Iraque, o de que a região estava preparada para a democracia. Mas, diferentemente do que imaginavam os neo-conservadores americanos, uma nova ordem democrática não seria imposta militarmente, por meio de uma invasão estrangeira.

Na Tunísia, no Egito, na Líbia, no Iêmen ou na Síria, os pedidos de democracia vêm de dentro para fora. Além disso, o questionamento do poder dos ditadores não tem sido feito com base em plataformas religiosas. A ideia de que o Ocidente precisa apoiar regimes autoritários para impedir que a região seja governada por Bin Ladens tem caído por terra, pelo menos de acordo com os primeiros meses de revoluções, marcadas pela defesa da democracia e da instalação de regimes civis e laicos.

Em 1979, no Irã, os democratas do movimento que derrubou o xá acabaram calados pelo fundamentalismo xiita do aiatolá Khomeini. Nada até agora indica que as revoluções árabes tenham o mesmo destino.

Na economia, o mundo pode não ter virado de cabeça para baixo, mas chegou perto. O liberalismo extremo surgido na era Reagan/Thatcher foi quase nocauteado, vítima dos excessos inerentes à sua sede de expansão. Ao mesmo tempo, os emergentes consolidaram-se como forças industriais ou fornecedores de commodities, em um mundo impulsionado pelo avanço chinês.

O cenário desse embate foi, inicialmente, a Organização Mundial do Comércio, onde já no início do milênio o Brasil e outros começaram a acumular vitórias contra as antigas potências comerciais. Contrariando muitas previsões iniciais, a OMC, que começou a operar em 1995, tornou-se importante arma para nações emergentes, como o Brasil.

O governo brasileiro foi fundamental na vitória, em 2003, em favor do acesso por países pobres a medicamentos genéricos contra a Aids e outras doenças. Mais um sinal das grandes mudanças que estavam a caminho.

A comunidade internacional não conseguiu chegar a um entendimento sobre regras comerciais, em torno da chamada Rodada Doha, lançada em 2001. Mas, mesmo sem um acordo, o mundo seguiu em frente, de uma forma que parece ter beneficiado muito mais as nações emergentes do que as potências tradicionais.

O Brasil passou a ter a China como seu maior parceiro comercial e integra o grupo BRICS, que começou como uma palavra simpática cunhada pelo economista Jim O’Neill e transformou-se em uma referência deste mundo novo.

Os Estados Unidos e a Europa continuam lutando para superar os efeitos da crise econômica iniciada em 2007, com os americanos rasgando boa parte do livro didático do FMI sobre como conduzir as finanças de um país. Para tirar a nação do atoleiro, as autoridades americanas seguem inflando o mercado de dólares, elevando a pressão inflacionária sobre outros países, como o Brasil. Em vez de liberalismo econômico ortodoxo, o momento é de salve-se quem puder.

Fonte: BBC Brasil e Angelo D. Nicolaci ( texto com algumas adaptações)