terça-feira, 22 de março de 2011
Coalizão ataca base da Marinha líbia perto de Trípoli
Uma base da marinha líbia situada 10 km a leste de Trípoli foi bombardeada nesta segunda-feira à noite, indicaram testemunhas que viram o local em chamas. A base naval de Boussetta foi atingida pouco depois das 19h GMT (16h de Brasília), segundo várias testemunhas. Esse é o terceiro dia de ataques das forças ocidentais contra alvos militares líbios na operação "Odisseia do Amanhecer".
A televisão estatal líbia anunciou nesta segunda-feira à noite que a coalizão internacional bombardeava Trípoli. Disparos da defesa anti-aérea seguidos de explosões foram ouvidos à noite no setor onde está localizada a residência do líder líbio Muamar Kadafi em Trípoli, de acordo com um jornalista da AFP
Segundo um porta-voz do governo líbio, a coalizão internacional, liderada por Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, bombardeou nesta segunda-feira a cidade de Sebha, 750 km ao sul de Trípoli, feudo da tribo Guededfa, de Muamar Kadafi. "Desde sábado, a coalizão inimiga realiza ataques com aviões e mísseis contra Trípoli, Zuara, Misrata, Syrte e Sebha, visando especialmente os aeroportos", declarou Mussa Ibrahim em entrevista coletiva.
"Sebha foi bombardeada hoje", disse Ibrahim sobre a data do ataque, que também atingiu um pequeno povoado de pescadores 27 km a oeste de Trípoli.
O porta-voz destacou que os ataques deixaram "numerosas vítimas" entre os civis, especialmente no aeroporto de Syrte, cidade natal de Kadhafi, 600 km a leste de Trípoli. Ibrahim revelou ainda que a cidade rebelde de Misrata, 200 km a leste de Trípoli, foi "libertada há três dias" pelas tropas de Khadafi, que ainda enfrentam alguns "elementos terroristas" na zona.
Ao menos 40 pessoas morreram e outras 300 ficaram feridas nesta segunda-feira em Misrata em meio à ofensiva das forças de Kadhafi contra os rebeldes, informou uma fonte médica. Segundo um médico do principal hospital de Misrata, o "número de mártires chega a 40 e há mais de 300 feridos".
Ataque líbio
A cidade de Zintan, no oeste da Líbia, foi alvo na segunda-feira de pesado bombardeio das forças leais a Hadafi, segundo testemunhas, o que forçou moradores a fugir, indo até para cavernas numa região montanhosa próxima. "Várias casas foram destruídas e um minarete de uma mesquita também foi derrubado", disse o morador Abdulrahmane Daw, por telefone, falando de Zintan. "Mais forças foram enviadas para sitiar a cidade. Há agora pelo menos 40 tanques no sopé das montanhas perto de Zintan."
O jornalista suíço Gaetan Vannay, também contatado por telefone, afirmou que o bombardeio foi o maior em três dias. "Hoje (segunda-feira) essa batalha muito forte começou na frente leste. Mulheres e crianças se esconderam nas cavernas nas florestas."
Daw disse que as forças rebeldes, má equipadas, conseguiram evitar que as tropas de kadafi entrassem na cidade, situada cerca de 140 quilômetros a sudoeste de Trípoli, a capital do país. "A cidade está sob ataque desde sexta-feira, depois que forças do governo ali chegaram, vindas de Shguiga, no leste, mas se retiraram", afirmou ele, referindo-se a um povoado próximo.
"No sábado eles dispararam contra nós e nos atacaram com tanques e armas pesadas. Hoje (segunda-feira), por volta de 10h ou 10h30, usaram tanques e explosivos."
Ele afirmou que o hospital estava mal equipado e pediu que forças internacionais intervenham na área.
O jornalista Vannay, que trabalha para a Rádio Televisão Suíça, descreveu uma feroz batalha no sábado, perdida pelas forças de kadafi na frente sudeste. O domingo foi mais calmo.
"Não há literalmente ninguém na cidade", disse ele. "Os civis, incluindo os jovens, são os que estão defendendo a cidade. Muitos foram levemente feridos e houve duas mortes, mas de combatentes. Há também mortes entre as forças de Kadafi. O poder de fogo de kadafi é muito superior ao dos rebeldes".
Custo
O primeiro dia de ataques dos EUA contra a Líbia custou mais de US$ 100 milhões, e sua parte na operação poderia superar US$ 1 bilhão, disse nesta segunda-feira a revista "National Journal". Segundo a publicação, a decisão do presidente Barack Obama de participar dos ataques contra as defesas antimísseis do governo de Trípoli já custaram aos contribuintes dos EUA "muito mais de US$ 100 milhões", apenas com o uso de mísseis.
No que constitui praticamente a primeira guerra de Obama em um país muçulmano - as do Iraque e Afeganistão foram iniciadas por seu antecessor, George W. Bush -, os Estados Unidos injetaram milhões de dólares em ataques lançados por mar e ar e no desdobramento de recursos militares ao longo da costa líbia, indicou.
No primeiro dia de ataques, as tropas lideradas pelos Estados Unidos lançaram de navios no litoral um total de 112 mísseis de longo alcance Tomahawk, cujo custo por unidade oscila entre US$ 1 milhão e US$ 1,5 milhão, disse o artigo. Isso se traduz a um número entre US$ 112 milhões e US$ 168 milhões apenas no primeiro dia de ataques.
Desde os primeiros ataques, as forças militares dos EUA e Inglaterra lançaram, pelo menos, outros 12 mísseis Tomahawk. O custo "dos períodos iniciais" do ataque por parte das forças da coalizão poderiam oscilar entre US$ 400 milhões e US$ 800 milhões, indicou um relatório do Centro para Avaliações Estratégicas e Orçamentárias, citado pela revista em sua edição digital.
Zona de exclusão
A zona de exclusão aérea aprovada pela ONU sobre a Líbia será ampliada e logo terá uma cobertura de 1.000 quilômetros, quando chegarem à região novas aeronaves de países da coalizão, disse o chefe do comando dos EUA na África, general Carter Ham. Segundo Ham, a zona de exclusão aérea na Líbia se estenderá até a capital, Trípoli.
O general Carter Ham informou ao Pentágono que a coalizão de forças aéreas continua a realizar missões de voo para garantir a zona de exclusão aérea e que forças de solo líbias estavam se movimentando ao sul da capital rebelde de Benghazi, mostrando "pouca vontade ou capacidade" de operar. Em entrevista coletiva, Ham disse que desde o início das operações aliadas "não foi observada nenhuma atividade de aviões (militares) líbios".
As forças de Estados Unidos e Reino Unido fizeram 12 ataques com mísseis guiados Tomahawk, e embarcações militares de França, Espanha e Itália "patrulham a região para impedir os embarques ilegais de armamento em direção à Líbia", acrescentou.
O presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou nesta segunda-feira que o país defende a queda do líder líbio, Muamar Kadafi, mas que o esforço militar internacional tem o objetivo militar mais limitado de estabelecer uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia e proteger os civis contra massacres pelas forças leais ao ditador. Obama fez as afirmações no Palácio de La Moneda, ao lado do presidente do Chile, Sebástian Piñera, na segunda etapa de seu giro pela América Latina. "Estabeleci que a política americana é a de que Kadafi precisa ir embora", disse Obama.
Ataques a Kadafi
O chefe do Estado-Maior da defesa britânica, o general David Richards, negou nesta segunda-feira que o líder líbio, Muamar Kadafi, seja alvo militar da coalizão internacional que iniciou no sábado a operação "Odisseia do Amanhecer" para reduzir a força do líder líbio e estabelecer uma zona de exclusão aérea prevista em resolução aprovada na quinta-feira pelo Conselho de Segurança da ONU. A ofensiva, liderada por EUA, Reino Unido e França, conta também com a participação de Canadá, Catar, Espanha e Itália.
Questionado pela emissora "BBC" se os aliados tentaram matar Kadafi após o bombardeio em Trípoli de um edifício do palácio do coronel líbio, Richards contestou: "Não. A resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) não permite e não é algo que queremos falar mais."
As declarações do general foram feitas após o ministro da Defesa Liam Fox não ter descartado que Kadafi fosse um alvo legítimo dos bombardeios se previamente ao bombardeio se confirmasse que uma ação desse tipo não é um risco para civis. Por sua parte, o ministro de Relações Exteriores britânico, William Hague, declarou que não "especularia sobre os alvos". "Isso depende das circunstâncias em cada momento", afirmou.
Um oficial americano da coalizão internacional insistiu nesta segunda-feira que nem Kadafi ou sua residência eram alvos intencionais do bombardeio de domingo, que atingiu um prédio administrativo do complexo situado a cerca de 50 metros da tenda onde o líder líbio recebe geralmente seus convidados importantes. Mas o oficial - que falou sob condição de anonimato - disse que o local foi alvo por ser um centro de comando para as forças líbias.
Fonte: Último Segundo