No gabinete docente da Esefap (sala destinada aos professores para que pesquisem, discutam a condição acadêmica e orientem seus alunos), há um quadro na parede com a seguinte frase: Feliz aquele que transmite o que sabe e aprende o que ensina. Feliz a poetisa Cora Coralina que, a meu ver, sintetizou numa pequena frase a natureza docente.
A frase carregada de poesia, hoje em dia, vale mais do que nunca. O cenário que se apresenta, repleto de obstáculos de toda ordem, faz com que o professor que consegue concluir o conteúdo ao final da aula sinta-se um felizardo.
A tragédia é conhecida: implantação de sistemas de ensino avançados sem considerar a necessária adaptação do professor, do próprio aluno e sua família; desvalorização da profissão em razão, principalmente, dos baixos salários, configurando-se em desestímulo ao ingresso na profissão. Tal realidade, que não apenas atinge, mas define principalmente o ensino básico, é tensionada por outro grave componente: uma geração de crianças cujo individualismo e competitividade são expressos numa agressividade cotidiana, e não apenas entre seus colegas. Uma geração que parece ameaçar pais e professores.
Dois ótimos filmes refletem bem esta agressividade da infância e da juventude atuais: A Onda e O Dia da Saia. Não à toa, o primeiro é uma produção alemã e, o segundo, francesa. Esta situação é globalizada, pois se vê no mundo todo. Ambos produzidos em 2008 provocaram acaloradas discussões nos meios políticos e educacionais europeus.
Filmes que, obrigatoriamente, devem constar na videoteca de todo professor! As duas produções ajudam a refletir sobre os riscos inerentes à condição docente no século 21. Na realidade, A Onda, baseado em fato real, apresenta um professor de história explicando o nazi-fascismo a seus alunos. Para isso, reproduz em sala de aula a atmosfera da época, e nessa experiência pedagógica arriscada... Bem, é melhor você assistir ao filme. Mas observe como a condição humana está à flor da pele dos estudantes.
Em O Dia da Saia, com a belíssima atriz Isabele Adjani como professora de uma turma de adolescentes, os riscos, a violência, a agressividade verbal não são provocados, pois já compõem seu dia a dia com aqueles jovens. Esse filme é trágico e absurdo, belo e sensível, tão verdadeiro que se aproxima de um documentário.
A professora Sônia Bergerac, esgotada por vivenciar cotidianamente aquela situação tensa, depara-se com um fato inusitado: ao discutir com um aluno, uma arma cai ao chão. E é na arma que Sônia se apoia para recompor sua autoridade frente à turma. Em meio a passagens trágicas, a professora levanta questões como autoritarismo, preconceito (a turma é composta por negros, mulheres, árabes, judeus), violência e, claro, educação: Vocês são marginalizados pela sociedade e a única saída que têm para vencer esta condição é estudando, diz, atônita, ao ver que o universo humano se refletia nas disputas de poder, condições de gênero, raça e de religião naquela sala.
Sônia, que vê na arma a única saída para exercer seu ofício, é o contrassenso em pessoa. Mas se O Dia da Saia parece nos dizer que a condição humana é um páreo duro à condição docente, valoriza ainda mais o seu papel: sem a presença do professor, seríamos mais animalescos, selvagens, incivilizados.
Texto de Robinson Ricci, diretor-geral e de Comunicação Institucional das Faculdades Esefap, de Tupã (SP).